A Rev. dos Bichos (6) – OS 7 MANDAMENTOS DO ANIMALISMO

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Autoria de Lu Dias Carvalho

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As revoluções costumam acontecer quando menos se espera. É certo que muitos sinais são vistos aqui e acolá, mas quem escraviza, inebriado pelo poder e sustentado pelas forças das armas, jamais imagina que algo lhe possa acontecer. Mas, como diz um velho ditado popular “Quem bate esquece, mas quem apanha, jamais.”. E é assim que os grandes ditadores são enxotados do cargo que ocupam, ainda que dure mais tempo do que os oprimidos esperam. Levando em conta que ver os opressores caídos é o que esperam os opressos, nada como a impermanência de nosso existir. E foi assim que se iniciou A Revolução dos Bichos da Granja do Solar.

Jones, embora fosse um patrão cruel, era hábil naquilo que fazia. Mas, em razão dos problemas inerentes à vida humana, aos quais todos estamos sujeitos, acabara perdendo muito dinheiro, motivo que o levou a se descambar para a bebida, pois não é qualquer indivíduo que tem força moral para não sucumbir à perda do vil metal que hipnotiza a maioria dos seres humanos. Assim, o granjeiro assava dias e dias bebendo, acompanhado por Moisés, o corvo de estimação, que ia comendo as cascas de pão molhadas na cerveja. Os peões, vendo o mau exemplo do patrão, pouco ou nada se importavam com a granja. Os animais estavam a passar fome, em consequência do acabrunhamento moral e bebedeira do dono. Como sempre acontece, os inocentes acabam pagando o pato.

Certo dia, Jones voltou mais bêbado da cidade do que de costume, trocando as pernas num cai aqui ou cai acolá, com o corpo e o espírito ávidos por uma cama. Os ajudantes, por sua vez, estavam a caçar lebres, sem ao menos terem alimentado os animais. E foi aí que a vaca foi para o brejo, ou seja, que o patrão levou a pior. Revoltada, uma das vacas, cujo nome não me foi dado a conhecer, arrebentou a porta de onde ficavam os alimentos e pôs-se a comer com os outros animais. Jones, que conseguiu se levantar a duras penas, e seus peões que tinham acabado de chegar, como castigo, começaram a chicotear os bichos, sem dó ou piedade, sem compreenderem que a fome pode transformar os conceitos morais e éticos de um homem ou de um bicho. Revoltados, os animais pressentiram que era preciso tomar uma decisão naquele instante, antes que fossem comida de chicote, embora continuassem famintos. Assim, puseram-se a revidar os maus-tratos de todas as formas que podiam: coices, chifradas, dentadas, unhadas, bicadas e coisa e tal. Surpresos, desorientados e machucados, os agressores saíram correndo, tendo a bicharada atrás. Os últimos a desertarem foram a mulher de Jones e o corvo Moisés, que sempre se julgou membro da família.

A Granja do Solar passou a pertencer somente aos animais, ora livres do jugo humano. Era preciso, portanto, eliminar os apetrechos malditos da servidão. Aproveitaram então para jogar freios, argolas de nariz, correntes de cachorro, facas de castrar porcos e cordeiros, tudo no fundo do poço, enquanto rédeas, cabrestos,  antolhos,  relhos,  bornais e até mesmo as fitas de Mimosa eram queimados na fogueira feita no pátio, pois, todos os animais deveriam andar nus e livres como nasceram, sem temer sol ou chuva, frio ou calor.

Napoleão e Bola de Neve, os dois porcos que assumiram o comando após a morte do Major, chamaram os camaradas para um novo encontro. Contaram-lhes que tinham aprendido a ler e escrever, depois de encontrarem no lixo uma cartilha dos filhos de Jones. E que, portanto, iriam escrever em uma das paredes da granja, agora Granja dos Animais, os sete mandamentos do Animalismo, que em hipótese alguma poderiam ser desobedecidos, para o bem de todos os bichos:

  1. Qualquer coisa que ande sobre duas pernas é inimigo.
  2. Qualquer coisa que ande sobre quatro pernas, ou tenha asas, é amigo.
  3. Nenhum animal usará roupas.
  4. Nenhum animal dormirá em cama.
  5. Nenhum animal beberá álcool.
  6. Nenhum animal matará outro animal.
  7. Todos os animais são iguais.

Após escreverem na parede os princípios da doutrina, os porcos foram ordenhar as vacas que já se encontravam incomodadas com seus úberes cheios. Cinco baldes de leite foram tirados, mas não foi explicado o que seria feito com eles. Enquanto Napoleão resolvia o que fazer com o leite, os demais animais rumaram para o campo para a colheita do feno. Agora seriam senhores de si, donos de suas próprias ações, trabalhando em conjunto para fazerem a granja prosperar. Mas seriam os bichos capazes de levar a revolução adiante? Isso é o que veremos nos próximos capítulos da história.

Fonte de pesquisa:
A Revolução dos Bichos/ George Orwell

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4 comentaram em “A Rev. dos Bichos (6) – OS 7 MANDAMENTOS DO ANIMALISMO

  1. Pedro Celestino

    Muito bom o estudo feito sobre o livro, extremamente cultural, tem uma dupla interpretação de sistemas econômicos que sobre o comando de irresponsáveis só produz descontentamento em uma sociedade.

    Obrigado!

    Responder
    1. LuDiasBH Autor do post

      Pedro Celestino

      Os sistemas econômicos dizem muito mais respeito aos homens que os direcionam do que à verborreia sobre tais sistemas. E, como você bem diz, “sobre o comando de irresponsáveis só produz descontentamento em uma sociedade”.

      Agradeço muitíssimo a sua visita e participação. Seria um prazer contar sempre com a sua presença.

      Abraços,

      Lu

      Responder
      1. Pedro Celestino

        Obrigado por sua gentileza de me agradecer,LU, sempre LU. Com certeza terei o maior prazer em estar sempre participando destas publicações que levam-nos a grandes conhecimentos culturais. Tenha uma ótima semana.

        Responder
        1. LuDiasBH Autor do post

          Pedro Celestino

          O leitor é a razão maior deste espaço! Mais uma vez agradeço o seu carinho e atenção.

          Abraços,

          Lu

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