Mit. – O HOMEM QUE DESPREZAVA OS DEUSES

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Recontado por Lu Dias Carvalho

Ceres

O mortal Erisíchton, além de nutrir um grande desdém pelos deuses do Olimpo, ainda agia de modo a ofendê-los. De uma feita, com o intuito de desacatá-los, tomou de seu machado e partiu para o bosque dedicado à deusa Ceres, onde havia um gigantesco carvalho que causava admiração a deuses e mortais. Servia também de depósito para as oferendas dedicadas à ninfa daquela majestosa árvore. E foi justamente essa maravilha que o arrogante e miserável humano pediu a seus servos que cortassem. Como esses fossem tementes aos deuses, além de nutrirem grande respeito pelo carvalho e sua moradora, mostraram-se temerosos de realizar tal empreitada. O homem impiedoso arrancou o machado das mãos de um deles, dizendo que ele mesmo poria abaixo aquela árvore.

Ao aproximar-se do frondoso carvalho com o machado em punho, todos que ali se encontravam, angustiados com tal ação, viram-no tremer e ouviram-no dar um gemido lancinante. Ainda assim, o homem não se amedrontou, já que não se apiedava de nada. A primeira machadada fez esvoaçar sangue pela ferida aberta no tronco. Um dos presentes tentou segurar o machado, mas foi morto pelo homem mau, que lhe decepou a cabeça. Nesse momento, a ninfa que morava na árvore, disse ao agressor que era amada pela deusa Ceres, sendo ali a sua morada, e, que ao matar o carvalho, ele também a mataria, mas, se isso acontecesse, seu castigo não tardaria a acontecer, pois nenhuma ação perversa dos humanos ficaria impune ante o olhar dos seres divinos.

Nem é preciso dizer que Erisíchton não deu a mínima para os dizeres da ninfa. O carvalho, depois de inúmeras machadadas, tombou esguichando sangue por todos os lados e esmigalhando grande parte do bosque, para sofrimento das dríades (ninfas associadas aos carvalhos), que viram uma companheira morrer sob uma mão impiedosa. Dirigiram-se à deusa Ceres, vestidas de luto, pedindo-lhe que castigasse o insolente. Essa prontamente aquiesceu. Castigaria o assassino entregando-o à deusa Fome. Como ela e tal deusa não pudessem se encontrar, por ordem das Parcas (Cloto, Láquesis e Átropos, responsáveis por tecer o fio do destino, cortando-o quando assim o desejassem), pediu a uma Oréade (as Óreades eram ninfas que habitavam e protegiam as montanhas, cavernas e grutas) que fosse à região gelada da Cítia, onde nada sobrevivia, em busca da Fome, que ali morava juntamente com o Frio, o Tremor e o Medo. Ela deveria apossar-se das entranhas do humano Erisíchton.

A deusa Fome tomou posse do corpo embrutecido do assassino, enquanto esse dormia, injetando o próprio veneno em suas veias. Mesmo em sonho, o criminoso angustiava-se por comida. Acordou varado de fome, mas nada lhe era suficiente. Quanto mais comia, mais faminto ficava. Passou a gastar todos os seus bens com comida, até que lhe sobrou apenas uma filha, que foi vendida para que obtivesse dinheiro para comprar comida.

O fato, meus caros leitores, é que o homem cruel, que destroçou o carvalho sem piedade alguma, como tantos outros humanos fazem com as árvores, para que essas lhes cedam o espaço que sempre pertenceu a elas, não mais tendo o que comer, passou a devorar seus próprios membros, ou seja, seu corpo passou a alimentar-se de si mesmo. Depois de muito sofrimento, somente a morte foi capaz de libertá-lo de tão cruel destino. Assim como carvalho, ele morreu esguichando sangue pelos membros que ainda restavam. Cumpriu-se o castigo da deusa Ceres. Vingou-se a morte da ninfa e do Carvalho. E assim aconteça a todos os homens impiedosos com a Mãe Natureza.

Nota: Ceres no Verão, obra do pintor francês francês Jean-Antoine Watteau.

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