Raízes da MPB – ERNESTO DE NAZARETH

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Autoria de Lu Dias Carvalho chiquinha12

Sobrecarregado de trabalho, e em luta constante contra a falta de dinheiro, como Mozart; perdendo a audição de maneira progressiva, como Beethoven; sifilítico, como Schubert; e um final de vida no qual já não estava de plena posse de suas faculdades mentais, como Schumman: a existência de Ernesto de Nazareth foi marcada por episódios que parecem um catálogo dos lances mais trágicos dos compositores da escola austro-germânica. (Irineu Francisco Perpétuo, jornalista, professor e autor)

Nazareth era muito pobre, quase nada lucrava com suas músicas. Tímido por natureza, quase humilde, foi por isso explorado pelas editoras, vendendo suas composições a “dez reis de mel coado” mal cobrindo suas despesas diárias (Luiz Antônio de Almeida)

O pianista e compositor Ernesto Júlio de Nazareth nasceu na cidade do Rio de Janeiro/RJ, em 1863, no morro do Nheco. Era o segundo filho de um grupo de 5 irmãos, tendo por pai Vasco Lourenço da Silva de Nazareth, despachante aduaneiro, e por mãe Carolina Augusta Pereira da Cunha, que tocava piano.

Naquela época, o piano era um símbolo de status. Ainda não havia rádio ou discos e, para se ter música em casa, era preciso ter um instrumento. O piano era tão requisitado na capital federal do Rio de Janeiro, que a cidade chegou a receber o apelido de “a cidade dos pianos”. E foi no piano que Carolina iniciou os filhos no mundo musical. Mas, para a tristeza da família, ela morreu precoce e inesperadamente.

Quando a mãe faleceu, Ernesto estava com 10 anos de idade. Época em que iniciaram seus problemas auditivos, em consequência de uma queda de uma árvore, o que lhe causou uma hemorragia no ouvido direito. Problema que o acompanharia durante toda a vida, chegando à surdez.

A morte da mãe paralisou os estudos musicais de Ernesto e de seus irmãos. Em razão do luto, o pai proibiu até o uso do piano em casa. Mas o menino ficou numa tristeza tal, que a proibição foi revogada, sendo contratado Eduardo Madeira como seu professor de piano. E assim, aos 16 anos de idade, o adolescente já apresentava sua primeira composição para piano solo: a polca-lundu Você Bem Sabe, levada pelo professor e aluno ao virtuose português do teclado, Arthur Napoleão, que era também professor de Chiquinha Gonzaga. O fato é que a partitura foi posta à venda na firma Arthur Napoleão & Miguéz.

Ernesto compunha e publicava suas polcas (dança de salão de origem europeia). Apresentava-se em renomados clubes cariocas com sucesso. Foi então que seus tios, Júlio e Ludovina, começaram a ajuntar recursos para enviá-lo à Europa, a exemplo de Anacleto de Mesquita e Antônio Carlos Gomes. Contudo, E o rapazinho não conseguiu atingir os sonhos do tio, por falta de recursos financeiros, decepção que amargaria em certa fase de sua vida.

Ernesto de Nazareth casou-se com Theodora Amália Leal de Meirelles. Juntos tiveram seis filhos. Apesar da numerosa prole, já no final do século XIX, ele começou a dar espaço em seu catálogo para um novo gênero: o tango, chegando, inclusive, a receber o apelido de “O Rei do Tango”. Mas esse tipo de tango não trazia semelhança alguma como tango portenho. Com Brejeiro, composição dedicada a seu sobrinho Gilberto Nazareth, Ernesto tornou-se um dos grandes sucessos da música popular brasileira do século XIX. Recebeu, inclusive, letra do poeta, músico e compositor Catulo da Paixão Cearense. Mas a obra não lhe trouxe sucesso financeiro. Com as inúmeras dificuldades pelas quais passava, era tido como “pianeiro”, por ter que tocar em casas de venda de partituras, demonstrando-as para os compradores, o que para muitos era uma atividade menor.

Naquela época, em que a elite brasileira só considerava bom o que vinha da Europa, Ernesto de Nazareth foi um dos 30 compositores escolhidos pelo compositor Luciano Gallet, a ser tocado por seus alunos em um conserto. O que acabou motivando um grande escândalo, pois se tratava de um compositor popular, coisa que a elite rejeitava. Foi necessária a presença de uma força policial para  garantir a realização do evento. Mário de Andrade (autor de Macunaíma), amigo do compositor, no mesmo ano escreveu no “Ensaio sobre a música brasileira”:

“… todo artista brasileiro que no momento atual fizer arte brasileira é um ser eficiente com valor humano. O que fizer arte internacional ou estrangeira, se não for gênio, é um inútil, um nulo. É uma reverendíssima besta.”

Aos 63 anos de idade, em 1926, Ernesto de Nazareth deixou seu Estado pela primeira vez, em direção a São Paulo, já colhendo os frutos da Semana da Arte Moderna de 1922. A acolhida foi tão calorosa que o compositor ali permaneceu 11 meses, fazendo, inclusive, apresentações no interior do estado paulista.

Em 1929, Ernesto de Nazareth ficou viúvo e sua saúde continuou fraquejando. Fez uma turnê pelo Rio Grande do Sul e a esticou até Montevidéu, onde teve uma crise nervosa, tocando piano convulsivamente, tendo que ser retirado à força do bar onde tocava. Ao voltar ao Rio de Janeiro foi diagnosticado com sífilis, que já tinha atingido o seu cérebro, sem possibilidade de reversão. Acabou sendo internado num manicômio. Fugiu do local, um ano depois, e, quatro dias após a fuga, seu corpo foi achado em uma represa, perto do manicômio. Morreu aos 71 anos, em 1934.

Nota
Cliquem no link abaixo para ouvirem Brejeiro
http://www.kalamata.com.br/site/cds/quinteto-villa-lobos-ernesto-nazareth/

Fonte de pesquisa:
Raízes da Música Popular Brasileira/Coleção Folha de São Paulo

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2 comentaram em “Raízes da MPB – ERNESTO DE NAZARETH

  1. Edward Chaddad

    LuDias

    Realmente, o Brasil é pródigo em compositores musicais. Ernesto de Nazareth foi um deles, mas muito especial, pois contribui e demais para o aparecimento do chorinho no Brasil, além, é claro, de suas composições serem grandes clássicos de nossa música, quase que inigualáveis.

    Vibrei, no Youtube, com Brejeiro e Apanhei-te, cavaquinho. Vale a pena ouvir.

    https://www.youtube.com/watch?v=cT1y8Jh9ux4

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    1. LuDiasBH Autor do post

      Ed

      Nas minhas pesquisas, quem mais tocou meu coração foi Ernesto de Nazareth.
      Fico imaginando que legado nos teria deixado, se tivesse conseguido estudar na Europa.
      Simplesmente maravilhoso!

      Abraços,

      Lu

      Responder

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