Autoria de Lu Dias Carvalho
Os jovens, além de numerosos, são a geração mais bem instruída da história, e a tecnologia lhes permite saber o que está acontecendo, distribuir informação e organizar respostas coletivas. A falta de emprego para os jovens de hoje pode jogar o mundo numa radicalização parecida como a que agitou a década de 60. (Don Tapscott).
A existência da rede Avaaz é uma prova inquestionável de que a internet é a maior responsável pela colaboração entre as pessoas das mais diversas partes do planeta, numa rapidez impensável, impossível de ser imaginada até há pouco tempo atrás.
Para quem não sabe, a comunidade Avaaz (que significa “voz” e “canção” em várias línguas) é composta por pessoas comuns, sendo também financiada por elas. Não aceita financiamento de governos ou empresas. É uma rede de campanhas globais, mobilizada para garantir que os valores e visões da sociedade civil global influenciem políticas internacionais. Será que sem a existência da internet, comunidades como a Avaaz poderiam existir? Presumo que sim, mas sem garantir o sucesso de sua empreitada, que mobiliza o planeta em questão de horas.
O escritor canadense Don Tapscott atinge a essência da nova tecnologia ao dizer que não vivemos na era da informação, mas na era da colaboração e da inteligência conectada, função principal da rede que vem revolucionando a história humana, numa velocidade impossível de ser prevista. É possível ver isso, ainda que numa escala menor, na história da invenção da prensa móvel de Gutenberg que fez com que o conhecimento, antes privilégio dos oligopólios, fosse democratizado. Acontecimento que mexeu com a estrutura da Igreja Católica, monarquias e outros poderes da época.
Antes da prensa móvel de Gutenberg, muito conhecimento já havia sido produzido e registrado, mas era privilégio de uma minoria. A imprensa chega e dá as chaves do acesso a ele. A internet, porém, faz muito mais do que isso, pois além de nos transformar em editores, ela nos dá acesso ao conhecimento fresquinho, contido na mente de outras pessoas, não importando que língua elas falem ou em que parte do mundo estejam. Esta é a mais fantástica de todas as revoluções vividas pela humanidade até os dias de hoje.
A característica central da sociedade industrial, diz Don Tapscott, é que as coisas começam sempre com um (aquele que domina o saber) e chega aos outros (que não dispõem do saber). Tudo é feito para a massa, mas sem a participação dela. A matemática usada é de um para o resto. Aquele que tem conhecimento faz e repassa para os outros que não têm. O professor tem conhecimento e repassa para os alunos que não o têm. O médico tem o conhecimento e os outros são pacientes porque não o têm. Os eleitores votam, mas apenas o seu escolhido governa, e assim por diante, com o fluxo sempre partindo de um para muitos.
Na sociedade pós-industrial, o conhecimento passa a ser transmitido de um para um ou de muitos para muitos. A massa não é mais passiva, ela interage, colabora e constrói, usando como veículo a inteligência da rede. O espírito capitalista, no qual as pessoas estão voltadas apenas para si, vai sendo minado com a internet que está demolindo o custo da colaboração, de modo a permitir que as pessoas colaborem umas com as outras com facilidade e sem ônus, derrubando o sistema tradicional de hierarquias. A Wikipédia é um exemplo das transformações que estão acontecendo no mundo. Ela não tem dono e é feita por um milhão de pessoas e traduzida em 190 línguas.
Segundo Don Tapscott, são cinco os princípios da nova economia: colaboração, abertura, compartilhamento de propriedade intelectual, interdependência e integridade. O que vem derrubar o modelo antigo em que a concentração de conhecimento e informação dava poder a uma pessoa sobre outras. No novo modelo pós-industrial, o poder é criado na interação entre as pessoas. E, com a colaboração em massa, as pessoas serão melhores eleitores, cidadãos ou consumidores, não resta dúvida.
Uma prova do poder da internet são as revoluções ocorridas recentemente no Oriente Médio, que modificaram o modelo de verticalidade, onde havia um líder e uma vanguarda. Agora, através da rede (principalmente das redes sociais), as pessoas unem-se horizontal e repentinamente, lutando por um mundo melhor e salvando vidas. E quando os regimes totalitários tentam impedir tal articulação, topam com o efeito colateral, que atinge seus próprios interesses. A Índia, por ser mais aberta e ter uma sociedade participativa tende a ultrapassar a China, por exemplo.
Nos dias de hoje, os jovens são maioria no planeta e vivem numa economia de desemprego, enquanto têm acesso a uma tecnologia de primeira. A junção de tais fatores diz-nos claramente que estamos caminhando para um choque de gerações. Não resta a menor dúvida de que a inteligência está na rede e que as mudanças serão cada vez mais profundas, sepultando modelos individualistas e arcaicos. A era da inteligência conectada repartirá responsabilidades, e dará oportunidade a todas as pessoas de se expressarem e lutarem por um mundo melhor. Agora, a omissão não terá mais desculpas, pois aumentando os nossos direitos, bem maiores serão os nossos deveres.
Nota: Imagem copiada de http://www.123rf.com/photo_
Fonte de pesquisa:
Revista Veja/ 13 de abril, 2011
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