Autoria de Lu Dias Carvalho
Depois desta imagem fica a dúvida: “Será que somos mesmos racionais”?
Durante uma tourada, o toureiro sentiu-se mal, teve tonturas e precisou se sentar. Antes que alguém interferisse, o touro, que estava sendo agredido pelo toureiro no horrível espetáculo, apiedou-se do homem, parou diante dele e, para surpresa geral, simplesmente ficou a olhar para ele como que sentindo o seu drama. O animal foi solidário e ficou ao lado do sujeito, fitando-o, sem nenhuma ação violenta. Normalmente um ser humano, numa situação dessas, teria reagido de forma diferente. Observem que o animal já tinha diversas “banderillas” cravadas no seu dorso (recebido via e-mail).
Mesmo convivendo com os animais, ditos irracionais, e vendo as diferentes gradações de emoção que repassam seus olhos, as pessoas, na sua grande maioria, não têm por eles o menor apreço. Tratam-nos com escárnio e debochada crueldade, como se os bichos fossem alheios à dor. O mesmo homem que, ao sentir o menor desconforto físico, empanturra-se de anestésicos, é capaz de quebrar a perna de um cãozinho, jogar água fervente num gato, matar a pedradas um passarinho, chicotear um cavalo, escadeirar um burro com um peso inconcebível para sua força, ou matar um touro na arena por mera exibição. Assim é o homem que se diz cristão, imbuído dos valores humanísticos e fiel aos ensinamentos do Cristo, senhor de toda a criação. Imaginem se fosse o contrário.
Recebi um e-mail que me remeteu aos perversos toureiros, que a serviço da atrocidade e da selvageria que em certos lugares assumem o nome de “diversão”, comprazem-se em torturar e matar inocentes animais, sob o grito de guerra do “Olé!”, ainda que os jornais estampem notícias de toureiros em “estado grave”, feridos por touros. Recentemente, certo “Matador” teve o chifre do animal torturado penetrando-lhe o pescoço e atravessando boca e língua, em Madri. É menos um que, se conseguir viver, jamais voltará bestializado à arena das touradas. Imagine o leitor que tal apresentação acontecia em comemoração ao Festival de San Isidoro. Não conheço tal santo, mas tenho a certeza de que deve ter atendido os rogos de São Francisco, para que acabasse com a barbaridade imposta ao inocente animal.
Todos nós temos conhecimento dos festivais romanos, onde homens e animais eram colocados na arena para se enfrentarem. Era matar ou morrer. Não havia escapatória. Mas ver tais costumes acontecendo em pleno século XXI é um contra senso jamais visto nas sociedades primitivas, pois essas matavam animais e humanos durante as guerras ou como sacrifícios feitos a seus deuses, não para satisfazer à volúpia do bestial prazer. Fiquei orgulhosa do povo de meu país quando, por ocasião da Copa na Espanha, os brasileiros surpreenderam os espanhóis ao torcerem pelo touro e não pelo toureiro. A cada avanço do animal em cima do carrasco, a nossa torcida gritava: Olé! (Para o touro, é claro).
O fato, meu amigo, é que ser algum, em sã consciência, pode aceitar que a crueldade para com os animais possa ser vista como uma forma de prazer, a menos que se trate de uma mente doentia e maquiavélica, que deve ser enclausurada num hospital para maníacos. E, em se tratando de países, podemos dizer que ainda estão atrelados à maldade dos imperadores e da turba da Roma Antiga, pois a dor infligida a qualquer ser, meramente pelo aprazimento, nada mais é que o masoquismo levado às raias da loucura. Que tipo de altruísmo possuem aqueles, que pagam ingressos para assistirem a tão lamentável circo de horrores? Eu não lhes confiaria um fio de cabelo, tamanha é a perversidade que carregam.
Quando se critica a Espanha (e países afins) pela crueldade das touradas, seus governantes colocam como contraponto o fato de que o país é autônomo e que se trata de sua cultura. Mas não nos ensina a filosofia que ser autônomo é ter capacidade de se autogovernar? E tal capacidade não deve estar imbuída de sensatez e sabedoria, convergindo para o bem universal? Do contrário, nenhum país poderia enfiar o bedelho na vida do outro. Mais do que realizar o bem, a humanidade precisa estar ciente de que precisa agir de conformidade com o que é correto e humano, indiferente de qual seja a cultura. Caso contrário, o Coliseu ainda estaria em franca atividade. E, como um país pode falar em moralidade, quando limita ou ignora os direitos de outras espécies de vida?
Cada vez torna-se mais difícil negar que cada ação, mesmo perpetrada contra o menor dos seres, traz consequências iguais ou superiores a ela para o planeta como um todo. E mesmo que a humanidade não tivesse nenhum código de ética para ser seguido, ainda assim poderia contar com a sensibilidade, o entendimento e a razão, nascidos do conhecimento empírico, para nortear-lhe os passos. Não é preciso ser um intelectual para ter consciência do mundo. Nossa sensibilidade é a maior de todas as mestras. Portanto, abaixo as touradas!
Observação: A tourada é tradicional em Portugal, Espanha e França, bem como em alguns países da América Latina: México, Colômbia, Peru, Venezuela e Guatemala.
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Lu
Isso ainda existe no nosso mundo com uma defesa dos animais tão atuante? Existe a morte cruel de animais nas arenas de touradas? Uma maldade exibicionista, grande palhaçada. Ver um animal ser morto sem oferecer nenhuma resistência. Patético! Olhar cada uma das pessoas que se aglomeram em grande multidão e ver que não há nenhuma expressão de piedade na cara! Gente que apoia a crueldade imposta a esses animais. Decepcionante!
Jam
Assim como você, sinto-me terrivelmente chocada com esse tipo de gente. Minha vó dizia que devemos nos afastar de quem não gosta de animais, ou seja, não têm pena deles, pois são pessoas capazes de tudo. E são mesmo!
Abraços,
Lu
Lu
Texto bem escrito. Parabéns!
Lamentável existir este tipo de “entretenimento” macabro. Que Deus ajude a população a amar mais o próximo e as criaturas.
João Paulo
Enquanto houver no mundo quem pense como nós, os animais, nossos irmãos de planeta, terão quem os defenda, embora esta bandeira seja extremamente árdua, pois a sensibilidade habita apenas o coração da minoria da humanidade. O importante é que continuemos soltando a nossa indignação do jeito que pudermos.
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Abraços,
Lu