Autoria de Lu Dias Carvalho
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Eu caminhava pela estrada com dois amigos. O sol estava se pondo. De repente, o céu ficou vermelho-sangue. Exaurido, eu me recostei na balaustrada e fiquei ali parado, tremendo de medo, enquanto meus amigos seguiam caminhando. Eu senti um grito agudo e interminável atravessar a paisagem. (E. Munch)
Ele se impressionava ao ver os animais sendo abatidos e o lamento dos pacientes do hospintal. (Sue Priedeaux)
A composição expressionista O Grito, obra do norueguês Edvard Munch, foi inspirada num ataque de pânico sofrido pelo artista, enquanto caminhava com dois amigos. Nela estão explícitos os tormentos psicológicos do pintor. Munch tinha o costume de fazer várias versões de seus quadros. E com O Grito não foi diferente. Existem quatro versões da composição que apresentam mínimas mudanças, mas em todas está presente este sentimento universal, que tanto abala a humanidade – a angústia. É por isso que o personagem principal não apresenta sexo, idade ou identidade. A figura maior, aqui exposta, é a mais conhecida de todas as versões.
O Grito traz-nos a impressão de que produz som através das ondas de choque à direita. E o som é tão agudo que o personagem tapa os ouvidos, fica com o corpo desvirtuado e grita. Atrás dele caminham calmamente outros dois personagens que não apresentam nenhuma mudança física ou comportamental, totalmente alheios aos acontecimentos vivenciados pela figura principal. Conclui-se, portanto, que o grito agudo e assustador do personagem central é ocasionado apenas por sua mente, sem nenhuma correlação com o espaço físico. O pavor vivenciado por ele é tão grande que seu copo físico sofre uma repentina mudança: torna-se alongado e o rosto toma a forma de uma caveira, com os olhos saltados e a boca aberta. Seus olhos encaram o observador que também é envolvido pelo terror.
A cena ocorre num golfo estreito e profundo de Oslo, na Noruega, entre montanhas altas. Próximo dali estava um matadouro e um hospício onde estava internada a irmã do pintor. As linhas onduladas do golfo e do céu contrastam com a diagonal com forte declive da estrada e com um pôr do sol perturbador em cores quentes, contrastando com o azul do rio, cor fria, que ultrapassa a linha do horizonte. Tudo resulta num efeito vertiginoso, torto, excetuando a ponte e as duas personagens ao fundo, o que leva muitos críticos a sugerir que Munch tenha tido um ataque de agorafobia. Ele criou outras obras semelhantes, nas quais ficam visíveis a representação simbólica da morte e da solidão, temas sempre presentes em sua vida. Ao longe na baía veem-se pequenos barcos à vela. É como se a natureza se condoesse com o grito do personagem central e com ele interagisse.
O Grito demonstra o medo e a solidão do Homem, mesmo em meio a um cenário natural que não representa nenhum perigo para ele. E esse grito, ainda que mudo, ecoa desde a baía até o céu, numa violência dinâmica de linhas. Munch acabou por pintar quatro versões de seu quadro, para substituir as cópias que ia vendendo. Ele o pintou quando a psicanálise começava a ficar no auge e, por isso, a pintura logo passou a simbolizar as agruras da alma e, com os desacertos da vida moderna passou também a representar desde o estresss do cotidiano às fobias ecológicas, passando a traduzir qualquer forma de aflição. Para alguns críticos, O Grito é a mais forte representação visual da sensação de receio e apreensão, sem motivo aparente, na história da arte. Encontra-se entre as pinturas mais conhecidas em todo o mundo.
Curiosidades sobre a obra
• A composição O Grito tornou-se tão forte na história da arte, que ganhou espaço na cultura pop. Pode ser vista no cartaz do filme Esqueceram de Mim e na máscara do assassino da série de terror denominada Pânico.
• Em 2012, segundo noticiário em todo o mundo, a quarta versão original dessa obra, que se encontrava em mãos de certo proprietário particular, chegou num leilão à cifra estupenda de 119,9 milhões de dólares, tornando-se O Grito o maior recordista de preço num leilão de arte.
• A obra de Munch, O Grito, em versões diferentes, foi roubada duas vezes de museus da Noruega em 1944 e 2004, trazendo comoção e mais fama ao trabalho do artista norueguês.
• O sucesso desta obra, enquanto ícone cultural, teve início após a Segunda Guerra Mundial. Com sua popularização O Grito tornou-se um dos quadros mais reproduzidos tanto em pôsteres como em objetos.
• Foi capa da revista Time em 1961, ilustrando os temas sobre culpa e ansiedade.
• O artista pop Andy Warhol em 1980 também usou a obra, ao dedicar-lhe uma série de trabalhos.
• O personagem Hortelino no filme Looney Tunes de Volta à Ação, faz uma expressão semelhante à do quadro numa cena.
• A série de desenho Os Simpsons mostra o quadro duas vezes: em 1993 e 2005.
• O quadro aparece na série Os Feiticeiros de Waverly Place, do Disney Channel, etc.
Ficha técnica
Ano:1893
Técnica: óleo, têmpera e pastel em cartão
Dimensões: 91 x 73,5
Localização: Nasjonalgalleriet, Oslo, Noruega
Fontes de pesquisa
Os pintores mais influentes…/ Editora Girassol
Munch/ Editora Paisagem
Revista Veja/ 9-05-2012
http://pt.wikipedia.org/wiki/O_Grito_%28pintura%29
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No “Grito”, de Munch, e no “Os Amantes”, de Botero, se encontra, aos montes, as asas para voar, voar e ser acariciado e consolado pela doce compreensão do amor, que sofre só até os limites exato do suportamento, sem se deixar esgarçar jamais, para manter a devida tolerância pelas verdades que não foram reveladas, mas que são sons perturbadores, como a inexplicável ganância que corrói até o âmago os que foram seduzidos e o permanente conflito da concentração de bens e capitais; ou como os destinos traçados por justaposição (casuísmo) e não por aglutinação (arrebatamento avassalador), que mesmo sem ser paixão, o são nos momentos quentes do companheirismo que mitiga a solidão pela cumplicidade que obriga, pela admissão da paridade, cumprir o destino desprovido de encantos. Do seu artigo enriquecedor, que li com atenção e reli e tresli com o gosto dos apetites atiçados pelos manjares, sem dúvida que temos que retroagir à admissibilidade de que forças supra-humanas sempre nos mantiveram impotentes diante dos mistérios que operam na natureza, para amá-la pelos legados de suas lições, como a do peixe, uma das mais sublimes: quanto custa mesmo para nós tê-los em nossa alimentação? Quem cuida deles? De quê mesmo eles se alimentam? Fotossíntese e eis o plâncton. E mais, para se quedar boquiaberto: Como plantas e animais microscópicos conseguem nutrir animais marinhos que pesam toneladas? A respeito dos suicidas europeus talvez, em que pese toda nossa condolência e simultânea admiração, não tivessem como desfecho se oscularem a si próprios caso se desnudassem de si para se vestirem dos outros. Pois às vezes a missão não é necessariamente pelo ver dos nossos olhos e nem pelo ouvir dos nossos ouvidos, como bem você disse recentemente, egocêntricos. E quanto maior o transbordamento desse cálice, menos ele consome de sua capacidade infindável de transbordar. Ou seja, quanto mais se usa menos se gasta. E ao derramar-se, mais o amor aquece e inebria os corações, pelas ardentes lavas do seu fogo que queima sem jamais se consumir. Adorei conhecer você, Lu. Felicidades!
Braga
Seu comentário de beleza inimaginável, sensibilidade e verdades que exalam por todas as palavras, dispensa qualquer acréscimo.
Abraços,
Lu
Ju
Viver é estar sempre navegando contra o absurdo. Mas, segundo pesquisadores da história humana, nunca tivemos um período de tanta calmaria. Eles acham que o ser humano está melhorando, se comparado a outros tempos. Talvez porque a justiça, ainda capenga, é mais forte hoje. Que assim seja.
Interessante! Eu não tinha conhecimento do acontecido em 2007 na Escola Porto da Pedra. Muito criativo! Fantástico.
Você anda sumido, tenho sentido saudades suas.
Abraços,
Lu
Os últimos acontecimentos em nosso país, em nosso planeta, mostra-nos como “O GRITO” de Edvard Munch, que poderia ser nosso GRITO, é atual, e, ao que tudo indica, continuará sendo.
No carnaval de 2007, a escola PORTO DA PEDRA encerrou seu desfile com diversas cópias do quadro “O GRITO”,depois de gritar sua indignação contra a segregação racial do Apartheid, que, na verdade não é uma exclusividade da Mama África.
Belíssima postagem, belíssima interpretação.
Um abraço! Fique em paz!
Lu,
Seu texto, como sempre,explica tudo.
E, diante dos comentários, não há muito a acrescentar.
Munch soube colocar na tela toda a turbulência interior dos homens.
Abraços
Matê
Matê
É verdade!
Acho que nenhuma pintura carregou tanta sensibilidade e desconforto com o eu interior.
Abraços,
Lu
Este é um quadro de muita expressão. O mais impressionante é a forma como é pintado. O sentimento e a confusão estão presentes nas pinceladas lineares, paralelas. A paisagem é distorcida e claustrofóbica.
Munch era um pintor fenomenal. As suas obras carregam a emoção que sente e a tormenta que vive em seu âmago. Percebe-se o interior de Munch. É fácil ser tomado por algum incômodo, exatamente como ele queria que sentíssemos. Este é o grito que todo ser humano experimenta diante de alguma situação desesperadora, mesmo que esteja preso no peito, e então vem a ser concretizado. Antes de soltar sua voz, Munch grita usando as cores através dos pincéis nervosos.
Alvimar
Você nos brinda com um maravilhoso comentário sobre o pintor e sua obra.
É muito verdadeiro ao dizer que:
“Este é o grito que todo ser humano experimenta diante de alguma situação desesperadora, mesmo que esteja preso no peito…”
Ao tomar conhecimento da matança legalizada de jumentos no Nordeste, eu sinto este mesmo grito preso no meu peito.
Abraços,
Lu
Eu agradeço o elogio Lu. Sempre muito cordial. Quem nos brinda a todos com um conteúdo cultural rico e agradável neste blog ideal é você.
A matança de qualquer criatura sempre amarga um grito assim, como o de Munch, em nossas gargantas. Atualmente nos sentimos algemados em meio a tantas desventuras, tantas atrocidades… A esperança está em saber que existem ainda pessoas positivas, que se indignam e conservam um desconforto oriundo do querer bem. Toda revolução começa dentro dos que conservaram um caráter puro, e sentem fome por justiça.
Também fiquei triste em saber disso.
Um beijo em seu bom coração.
Alvimar
Macera-me o coração a indiferença do ser humano para com os animais, nossos irmãos de planeta. O ser humano é um animal prepotente e ganancioso. Destrói tudo que bota a mão, bem inferior aos demais.
Mais uma vez agradeço o seu carinho e a sua presença aqui no blog, que só o enriquece. E não suma!
Abraços,
Lu
Alvimar
Os elogios são verdadeiros e merecidos.
Gosto muito dos seus comentários, que sempre me ajudam a enriquecer os textos com sua visão aguçada.
E não suma!
Abraços,
Lu
LuDias
“Para alguns críticos, O Grito é a mais forte representação visual da sensação de receio e apreensão, sem motivo aparente, na história da arte.”
Esta obra de arte – acredito – mostra a sensação que estamos tendo diante deste mundo repleto de surpresas desastrosas que invadem o nosso cotidiano, e traz, no seu bojo, o sentimento de medo, que se transforma em pânico.
Impressiona-me as mãos na cabeça do personagem central do quadro, máxime ao cruzar a ponte, em um local de grande altura, tudo que nos mostra o quadro, ainda pintado com cores que carregam este êxtase, este arroubo de sentimento apavorante, o amedrontado em surto de desespero fóbico diante do horror. Parece que o personagem foge, buscando escapar deste envolvimento, como se o instinto lhe dissesse: Foge! É o retrato do grito diante do que para ele, o artista, e para os observadores, tem de uma tragédia a que assiste.
Excelente seu texto, como sempre.
Um forte abraço
Ed
A história do próprio artista é muito sofrida. Ele teve muitas perdas na família, num curto espaço de tempo. E tudo isso o levou a um medo extremo da morte. Sem falar que possuía uma personalidade muito introspectiva. Veja sua história aqui no blog.
O seu grito é o dos oprimidos, dos sem voz, dos desconsolados, dos esquecidos, dos impotentes, dos desolados, dos fracos… Talvez seja por isso que este quadro tenha se tornado tão importante na História da Arte, pois repassa um sentimento com uma intensidade nunca vista. A dor parece jorrar por todos os poros da tela. Não há como ficar indiferente.
Penso que a tragédia encontra-se dentro dele, que já não aguenta carregar mais seu fardo. Em todas as suas obras essa tragédia é visível. Quanto a nós, amante da generosidade e da Mãe Natureza como um todo, temos razão de sobra para soltar este grito.
Grande abraço,
Lu
Oi Lu,
gosto muito desta obra de arte. Retrata bem um sentimento retido.
Beijos
Pat
Há momentos em que temos vontade de, reunidas todas as forças, gritar contra certas situações que nos esmagam e contra as quais nos tornamos impotentes. Esse é o grito interior de um Munch muito sofrido, conforme é a sua história (presente aqui no blog).
Abraços,
Lu
Uma boa aula de história da arte. Lu, você é ótima pesquisadora.
Feliz 2015!
Beijo,
TT
TT
Não adianta colocar apenas o quadro, sem contar um pouco de sua história.
Abraços,
Lu
LuDias
A primeira versão (na minha opinião) é a melhor.
Loucura de dentro pra fora.
Abração
Mário Mendonça
Mário
Para mim também.
É incrível como esta obra tornou-se conhecida em todo o mundo.
Abraços,
Lu
Lu,
Esta é uma obra muito significativa para o universo da arte, o texto é rico em informações que ajudam a compreender a importância desta pintura.
Ótimo poder clicar e aumentar a pintura para apreciação.
Abraço,
Luiz Cruz
Luiz
É incrível a proporção que esta obra tomou em todo o mundo, sendo muitíssimo conhecida.
Você poderá clicar em todas as imagens dos textos que eles se ampliarão.
Abraços,
Lu