Bosch – A CARROÇA DE FENO

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Autoria de Lu Dias Carvalho

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O mundo é uma carroça de feno e cada um pega o quanto pode. (Ditado flamengo)

Porque toda a carne é como a erva … secou o feno e caiu a flor, mas a palavra do Senhor permanece para sempre. (Epístola de S. Pedro)

A Carroça de Feno trata-se da obra central de um tríptico do pintor Hieronymus Bosch, sendo que na parte esquerda está representado o Paraíso e na direita o Inferno. Assim como toda a obra do pintor, esta é também incomum, contendo inúmeros personagens e objetos, muitas vezes sem nenhuma interação. Dentre os pecados tidos como mortais, a ambição, ou avareza, pelos bens materiais, parece ter sido a maior preocupação do pintor, sendo tratada em muitas de suas obras, embora os demais pecados também sejam apresentados nesta composição.

No centro da composição encontra-se uma carroça cheia de feno, puxada por seres estranhos, diabos. Sobre ela cresce uma touceira de mato, diante da qual se encontram três personagens em harmonia, um deles tocando um alaúde. Atrás deles, um casal está abraçado, sendo observado por alguém detrás da moita. As pessoas ali estão ladeadas pela figura de um anjo que olha para o céu, pois é o único a notar a presença divina, e de um diabo com cauda de pavão, a perturbar a música. Ambos representando o bem e o mal.

Acompanhando a carroça, estão o papa, o rei e o imperador, com seus séquitos, montados em seus cavalos, como se o feno pertencesse a eles por direito, sendo os donos de tudo, enquanto em volta da carroça, disputam homens e mulheres, usando escadas, garfos, ganchos e até mesmo as próprias mãos, para retirarem um pouco de feno para si, que, à época, era de fundamental importância no inverno. Alguns caem, em desespero, sob as rodas. Próximo aos diabos que conduzem a carroça é possível ver um monte de terra, com uma porta de madeira, de onde várias pessoas tentam sair. Com a presença do rei, papa e imperador, Bosch mostra que o poder terreno estava aliado ao espiritual.

A carroça está andando em direção ao Inferno, depois de ter deixado o reino da inocência, ou seja, o Paraíso, e os personagens irão pagar pelos pecados cometidos. Nem mesmo o trio de poderosos foi poupado por Bosch. Na parte superior da tela, em uma nuvem dourada, Cristo, mostrando suas feridas, olha para a humanidade com tristeza.

Na parte inferior da composição, há um grande número de personagens. Eles parecem alheios à passagem da carroça de feno. Estas pessoas estão envolvidas em enganar e roubar, sempre movidas pela ganância: um homem com um chapéu preto é um manipulador de marionetes, sendo que a criança próxima a ele pode ter sido roubada; uma cigana lê enganosamente a sorte de uma mulher, enquanto seu filho procura algo na saia dessa; um curandeiro causa sofrimento e trapaceia um cliente; uma freira busca pegar um demônio vestido de azul, que está tocando uma gaita de foles, que simboliza o pênis; três freiras enchem um enorme saco de feno pertencente a um monge bonachão, que tem um copo na mão, e rouba a Igreja. Atrás das cenas descritas, há muitas outras de assassinato.

Ao usar o feno como parte central da obra, o pintor El Bosco fez uma alusão às coisas mundanas, à efemeridade da vida e à tolice da ganância humana, diante de uma existência tão efêmera. Na sua pintura, o feno é usado pelos empregados de Satanás para corromper os homens arrogantes, avarentos e prepotentes, de modo a levá-los para o inferno. O feno também era tido, no século XVI, como o símbolo da falsidade e da fraude. Há duas versões dessa pintura.

Vejamos como Bosch demonstra os pecados mortais na sua tela:

  1. o papa, o rei e o imperador são os donos do carregamento de feno (Soberba);
  2. o homem de chapéu alto, acompanhado por uma criança, tendo às costas uma marionete, pode ser tido como um falso mendigo (Avareza);
  3. um curandeiro, diante de sua tenda com letreiros e frascos de pomadas, ludibria suas vítimas. Seu porta-moedas cheio de feno indica que ele é desonesto (Avareza);
  4. três freiras enchem um saco de feno, enquanto um frade, com sua barriga protuberante, bebe (Gula);
  5. o casal amoroso, de pé, no topo do monte de feno pode ser entendido como a representação da Luxúria;
  6. os dois homens brigando no centro da composição representam a Ira;
  7. o povo querendo pegar o feno, também pode representar a Inveja;
  8. um homem deitado debaixo das vestes de uma mulher com um bebê, pode significar a Luxúria, etc.

No Paraíso, visto à esquerda, são apresentadas cenas da criação: surgimento de Eva da costela de Adão, o pecado original e a expulsão do paraíso do casal. Os anjos indisciplinados, figuras pequenas semelhantes a insetos, na parte superior, também são expulsos. O pintor, em suas obras, criou para representar o diabo figuras híbridas, mistura de homem, animal e vegetal. No Inferno, visto à direita, o pintor apresenta o lugar com todos os seus horrores.

A temática principal de A carroça de Feno é a ganância humana. Desde os primórdios, tem sido essa a grande preocupação cristã, combatendo o triste paradoxo do excessivo amor aos bens materiais e o amor a Deus, coisa impossível de conciliar. Atualmente, o homem continua bem mais ávido pela riqueza, e pior, tenta tirar da natureza todos os seus tesouros, pois o feno não mais lhe interessa.

Ficha técnica
Ano: entre 1485 e 1500
Técnica: óleo sobre madeira
Painel central: 135 x 100 cm
Paineis laterais: 135 x 45 cm (cada um)
Localização: Museu do Prado, Madri, Espanha

Fonte de pesquisa
Los secretos de las obras de arte/ Taschen
1000 obras-primas da pintura europeia/ Könemann

Bosch/ Abril Coleções

Bosch/ Taschen

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2 comentaram em “Bosch – A CARROÇA DE FENO

    1. LuDiasBH Autor do post

      Acy

      Desde a época de Bosch que se tem pregado contra o capitalismo selvagem. Mas os poderosos vêm fazendo ouvidos moucos, mesmo assim ainda sonham como o “reino dos céus”.
      Agradeço a sua visita e comentário. Será sempre um prazer recebê-la.
      Abraços,

      Lu

      Responder

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