O DIABO NA IDADE MÉDIA

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Autoria de Lu Dias Carvalho

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O diabo e sua corte, tidos como seres reais para a imensa maioria do povo, eram bastante difundidos na Idade Média, conforme podem ser vistos nos registros de confissão, descrições de experiências místicas e crônicas biográficas da época. A Igreja propagava sua presença, espalhando que o ser humano estava rodeado por espíritos ruins. A ignorância era tamanha, que uma simples dor de dente, falta de apetite ou ressaca alcoólica era atribuída ao rei das trevas e sua corte. Até mesmo um ruído involuntário, como rir, suspirar ou soltar um pum era tido como coisa do demo comunicando-se com seus asseclas. Mas esse procedimento esdrúxulo vem ressuscitando nos nossos dias, com a esperteza de certos credos, que proliferam feito erva-daninha, com o fim de amedrontar o fiel e ganhar-lhe a fidelidade eterna, além de parte de seu parco salário.

Conta-se que certo monge, em 1487, deixou escrito que, enquanto se conduzia para sua cela, recebeu uma rasteira de um espírito do mal ou de uma alma do purgatório que queria pedir ajuda. Portanto, até o ato de tropeçar estava ligado ao mal. Pessoas contavam que recebiam golpes físicos dos espíritos da maldade, sem que esses se mostrassem visíveis. Noutras vezes, eles se mostravam em forma de animais como cães, gatos, ursos, camundongos, moscas e porcos. Coitados dos bichinhos! O fato de um cão arranhar uma porta à noite já era motivo de tomar tal ato como uma visita do demo. Fico imaginando o sofrimento daquele povo, numa época em que o número de ratos, por exemplo, era assustador, correndo pelos cantos da casa a noite toda, e sendo tidos como enviados das trevas.

Segundo relatos da época, as freiras, monges e sacerdotes, que acabavam de receber os votos de castidade, eram um prato cheio para os servos do diabo, que ficavam a tentá-los, como se fossem exuberantes figuras do sexo oposto, de modo a fazê-los cair na luxúria. Haja tentação e ignorância!

O temor era a mola mestra da fé, levando o homem a optar pelo bem ou pelo mal. Escolher o mal seria fazer um pacto com Satanás. Na Idade Média, asseguravam Estado e Igreja que esse pacto era selado com a união sexual. Diziam até que em certas partes do mundo, pessoas de ambos os sexos abriam mão da fé, para fornicar com o diabo. Isso que era escolha ruim! O pior é que, ainda hoje, mais de meia dúzia de séculos depois, pessoas ainda caem nessa lorotagem, tornando sua vida mais sofrida, ao abraçar crenças que relegam a ciência ao porão da mente. Penso eu, que os diabos humanos que incitam tal comportamento, deveriam responder processos, pois têm na exploração da força do mal unicamente a usura pelo dinheiro… grana… gaita… pecúnia.

Na Idade Média, os bruxos eram tidos como comparsas do diabo e, por isso, a Igreja exortava que esses homens e mulheres fossem caçados e mortos. Demoníaca ignorância! Havia até um manual, denominado “Malleus maleficarum”, de processos de inquéritos e sermões, compilados em três volumes, reproduzidos inúmeras vezes e espalhados mundo afora. Era o terror fazendo dos homens escravos cativos. Por isso, Satanás e seu séquito tinha um espaço bem maior dentro da Igreja, assim como hoje, do que Deus. E todo aquele que disso discordasse, ou não professasse tal fé, era tido como herege, pactuado com o demo e não conhecedor do “Senhor Jesus”. Hoje é tudo como dantes no quartel de Abrantes. Tudo não passando de invenção para aumentar o poder das centenas de credos espalhados pelo mundo cristão. Ig

Nota: a imagem acima é parte da obra de Bosch, denominada O Jardim das Delícias, presente aqui no nosso blog.

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12 comentaram em “O DIABO NA IDADE MÉDIA

    1. LuDiasBH Autor do post

      Márcio

      Max só se esqueceu de acrescentar que é a fonte de riqueza de seus pregadores, enquanto o povo naufraga no ópio das mentiras.

      Abraços,

      Lu

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  1. Pedro Rui

    Pois temos é que acabar com o diabo no homem, porque é ele quem contamina o mundo com palavras e ações ruins.
    Os governantes de muitas nações, esses são o próprio diabo. Vemos povos a fugir da fome, da guerra e da escravidão. E quem provoca isto? É o homem. Nós devíamos ser um animal racional, mas na verdade não vejo essa racionalidade em muitas pessoas, é triste!

    Abraços

    Rui Pedro

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    1. LuDiasBH Autor do post

      Pedro

      O diabo é, na verdade, a maldade que muitos homens e mulheres carregam dentro de si, no trato com outros seres humanos, com os bichos e plantas, em suma, com outras formas de vida. Você cita o caso da fome, da guerra e da escravidão. Colocar tais agruras nas costas de um ser ficcional é um modo de de a espécie humana tirar de si o peso de sua própria maldade.

      Abraços,

      Lu

      Responder
  2. Adevaldo Rodrigues

    Lu,
    O diabo está presente em todas as fases das idades do mundo. Atualmente ele está presente em todos os segmentos da sociedade: na política e na polícia, nos governantes e na justiça, nos espertalhões e nos humildes, nos meios de comunicações e nos cidadãos Kane, no tesouro e nos ladrões, etc. etc…
    Cruz credo.

    Devas

    Responder
    1. LuDiasBH Autor do post

      Devas

      Vixe Maria!
      Já providenciei um colar de alho. Dizem que o diabo não gosta do cheiro. Ou será o lobisomem?

      Abraços,

      Lu

      Responder
  3. José Henrique

    Bom dia!
    As atrocidades que acontecem no mundo é de cunho humano, tudo, as guerras, o egocentrismo, a falta de amor ao próximo. O que não podemos fazer é colocar a nossa responsabilidade, e nossos erros e desalentos em um ser de pura maldade, é mais fácil colocar a culpa em alguém do que se responsabilizar pelos seus atos.

    Responder
    1. LuDiasBH Autor do post

      José Henrique

      Não resta dúvida de que é o homem o senhor de tudo. Onde ele bota a mão toda a inocência desaparece. Mas quem leva a culpa de tudo é um ser criado para se responsabilizar por todas as mazelas humanas. E é isso o que tem sido feito através dos tempos, até o dia de hoje.

      Um grande abraço,

      Lu

      Responder
  4. Patricia

    Lu,

    o homem em sua ignorância a cada dia dá força ao diabo. As religiões, que deveriam buscar um bem maior, lutam entre si para conquistar adeptos. Vejo uma total decadência do ser humano, a busca não é pela consciência ou evolução espiritual, mas pela inconsciência e compra da salvação. Logo, como você muito bem diz, a Idade Média se faz presente ainda hoje, o que é lamentável.

    Beijos

    Responder
    1. LuDiasBH Autor do post

      Pat

      O homem está comprometido apenas com o ter. Quanto mais bens materiais, maior tem sido a sua falsa glória. Assim sendo, fica difícil o acesso à iluminação interior.

      Excelente o seu comentário.

      Abraços,

      Lu

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  5. Marcos Antonio M. Vidinha

    Lu
    O título desse seu oportuno texto, bem que poderia ser “O DIABO NA IDADE MÉDIA E NA ÉPOCA ATUAL”, pois mudam-se os personagens mas a peça é a mesma. Continua em pleno século XXI a exploração do homem pelo homem, a exploração do inocente pelo esperto, a exploração do necessitado pelo bandido (na figura do bonzinho). A exploração da inocência, da dependência, da necessidade da pessoa que se encontra num processo de fragilidade é um abuso, que deveria sim, ser punido pela justiça.

    Enquanto não houver educação e justiça adequada para todos (sem exceção) esses absurdos perdurarão!
    Parabéns pelo texto, sob todos os aspectos!
    Que Deus te abençoe.

    Abraços
    Marcos Vidinha

    Responder
    1. LuDiasBH Autor do post

      Marcos

      O mais triste é notar que tais espertalhões usam Deus apenas como bandeira para suas atividades vergonhosas, que não passam de um abuso claro e notório dos desprovidos de pensamento crítico. Eles mesmos, os mestres da esperteza, não levam nada a sério do que pregam, pois Jesus tinha um grande amor pela Justiça e pelos pobres.

      Obrigada pelo seu comentário tão elucidativo.

      Grande abraço,

      Lu

      Responder

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