Autoria do Prof. Pierre Santos
Na iluminura do Evangelho de Lorsch, conservado numa das bibliotecas do Vaticano, São João é figurado num momento em que está escrevendo o seu Evangelho. Observemos a fisionomia do santo: ela é toda concentração e, num gesto automático, ele molha a pena de sua caneta num tinteiro apoiado em pequena coluna, a fim de dar vazão ao seu ofício.
O desenho é desenvolvido em superfície, pois no século VIII ainda se estava longe da descoberta da perspectiva científica, embora a espécie de poltrona onde João está sentado, bem ao estilo românico, já sugere de alguma forma um afastamento em profundidade. Mas não nos iludamos: trata-se tão somente da chamada perspectiva pressentida, ainda longe daquela matematicamente solucionada.
O autor pretendia representar o santo sentado numa almofada, mas isto não conseguiu sugerir, ficando dúbia sua posição — o que, diga-se de passagem, não tira em nada o encanto um tanto quanto ingênuo da representação. Empoleirada no suporte das cortinas, logo acima da cabeça do apóstolo, a águia — símbolo de São João — mostra-se plasticamente resolvida de maneira fantástica, tendo as asas abertas avultadas contra uma grande lua redonda, à qual se amolda. Nas laterais, duas colunas de mármore com capitel coríntio terminado em ábaco sustentam dois galhos de goivos estilizados — planta esta igualmente simbólica relativamente ao santo. Destaca-se neste desenho a precisão linear tão sabiamente conjugada com o colorido.
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Lu,
Vejo que os raios da lua, retratados em linhas brancas e suaves criam uma perspectiva de fundo.
Antônio
Resta-nos apenas apreciar o trabalho desses artistas fabuloso que faziam o próprio material para pintar. Nós não temos nenhum parâmetro que nos leve a julgá-los, se levarmos em conta a era em que viveram, mas apenas o de admirá-los. A perspectiva ainda levaria tempo para ser descoberta, como veremos aulas adiante.
Abraços,
Lu