Recontada por Lu Dias Carvalho
Blandine era a esposa de um renomado barão do reino da Bretanha (atual Grã-Bretanha), na corte do rei Arthur. Ela não conseguia compreender os constantes desaparecimentos do marido, que tanto amava, o que a deixava muito nervosa. Nada havia que pudesse acalmá-la, nem mesmo o canto dos pássaros, que tanto admirava.
De uma feita, o barão Bisclavret ficou desaparecido durante três longos dias. Blandine debruçava-se na janela a todo o momento, esperando ver aparecer sua figura querida. E foi com alegria que ouviu a boa nova através dos criados. Ela correu para recebê-lo, mas ficou preocupada com seu rosto sofrido, os cabelos em desalinho e o cansaço irradiado por seu corpo, embora fosse um homem esbelto e forte.
Blandine perguntou ao marido o que estava acontecendo, e por que se ausentava por tanto tempo. Ele se recusou a responder. Ela então concluiu que se tratava de outra mulher. Bisclavret, ao vê-la triste, contou-lhe que era vítima da maldição de uma bruxa, presa por seu avô e queimada numa fogueira. E que, durante três dias e três noites na semana, ele se transformava num lobisomem. Ficava longe dela temendo lhe fazer algum mal. Sem as roupas, como fera, ele percorria as florestas. Quando voltava ao normal, vestia-se e retornava para casa. Havia um esconderijo onde punha sua vestimenta, pois sem ela continuaria sendo fera. E para mostrar sua confiança na esposa, acabou lhe contando o local onde escondia seus pertences, durante a transformação pela qual passava semanalmente.
A revelação do segredo à mulher, só fê-la ficar ainda mais amedrontada. E com o tempo, a esposa amorosa também passou a odiá-lo, pensando em livrar-se do marido. Foi buscar em Thibaut, mau caráter e seu eterno admirador, um cúmplice. Contou-lhe tudo, e fê-lo espionar o barão Bisclavret. Pediu-lhe para roubar a roupa do esposo logo após sua transformação em lobisomem. Essa era a única maneira de mantê-lo longe para sempre. E assim foi feito.
O rei Arthur, em caçada com seus cavaleiros, encontrou um grande lobo, que fugia com facilidade. Perseguiram-no durante um dia inteiro, até que o animal viu-se vencido pelo cansaço. Já estava cercado pela matilha e cavaleiros, quando pulou o cerco e foi lamber as botas do rei, deitando-se aos pés de seu cavalo, numa atitude de humildade. Impressionado com o acontecimento, o monarca adotou-o, levando-o para seu palácio.
Numa festa em seu castelo, o rei Arthur encontrava-se em seu trono, tendo aos pés o seu fiel lobo, tão pacífico quanto um cãozinho. Formou-se uma fila para saudá-lo, o que era de praxe. Na vez de Thibaut, o lobo pulou sobre ele, lutando os dois ferozmente. Apartados, o dito queria que o rei matasse o animal, não sendo atendido. Com raiva, foi-se embora rapidamente.
De uma feita, o rei Arthur resolveu passear por seu reino, acompanhado por um pequeno grupo. Atrás de seu cavalo ia o lobo. Cansados, pararam próximos ao castelo de Blandine. Essa foi visitar o rei, sendo reconhecida pelo lobo, que pulou sobre ela, arrancando-lhe o nariz. Antes que fosse morto, um dos cavaleiros alertou o monarca:
– Senhor, este animal não fez mal a nenhum de nós. Somente a esta mulher e seu esposo. Ela deve saber por que ele lhes dedica tanto ódio.
O casal foi conduzido à masmorra, onde confessou tudo. Contou, inclusive, onde estavam as roupas usadas pelo barão, no dia em que fora transformado em lobo. Logo depois, a fera foi levada ao aposento do rei, e ali deixada com suas antigas roupas. Depois de algumas horas, o rei Arthur ali voltou, e encontrou o barão Bisclavret adormecido em sua cama. Todos os seus bens foram devolvidos, sendo a cruel Blandine e Thibaut escorraçados da Bretanha para sempre.
Nota: imagem copiada de www.fundoswiki.com
Fonte de pesquisa:
Contos e Lendas da Europa Medieval/ Gilles Massardier
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