Autoria de Lu Dias Carvalho
Eram poucas as angústias vividas pelas pessoas da época do Império Romano em relação às aflições existenciais, uma vez que filosofia, devoção e religião não tinham muito sentido para elas. Questões como “Quem sou? De onde vim e para onde vou?”, que nos trazem desassossego e perturbação, não eram comuns àquela gente, pois tais indagações nasceram com o advento do cristianismo. A filosofia hoje, além de ser ensinada na escola, é parte de nossa cultura. E cada religião traz consigo exercícios espirituais e ensinamentos de regras de vida. A ideia da vida pós-morte, nos dias de hoje, varia de acordo com a doutrina de cada uma. Ou seja, há credos para todos os gostos, bem diferente do que se vivia no Império Romano.
Os povos antigos não atrelavam à religião os preceitos de vida e os exercícios espirituais, mas tinham-nos como parte daquilo que podemos chamar de “filosofia”. A religião encontrava-se mais ou menos separada dos conceitos sobre morte e além. Mesmo as seitas existentes traziam apenas um caráter filosófico. Elas tinham por objetivo ensinar normas de vida a quem as quisesse. Se o indivíduo optava por ser epicurista (epicurismo: doutrina de Epicuro, filósofo materialista grego) ou estoico (estoicismo: designação comum às doutrinas dos filósofos gregos Zenão de Cício e seus seguidores), por exemplo, ele seguia as convicções de sua seita.
A preocupação com o além-túmulo, envolvendo a imortalidade da alma, inexistia no Império Romano. Isso não era um sofrimento existencial para aquela gente. As seitas epicurista e estoica não acreditavam na eternidade. A religião pagã tampouco interferia em tal ponto de vista na tentativa de anulá-lo. Os que acreditavam no além constituíam um grupo separado, dividido em pequenas seitas. A opinião mais disseminada era a de que “a morte era um nada”, “um sono eterno” e que o mundo das Sombras não passava de uma fábula. Nenhuma doutrina apregoava a existência de uma vida após a morte. Portanto, pelo fato de não ter uma doutrina comum, tais indagações não faziam parte da vida da imensa maioria dos romanos, e, como consequência, eles não criam em nada. O que importava era a vida terrena.
Os romanos, de modo geral, tinham a morte como um local de descanso após uma jornada na Terra. A imagem de um navio ou cavalo encontrado em sarcófagos não alude a uma viagem à eternidade, mas à viagem constituída pelo caminhar durante a permanência na vida terrena. Embora eles tivessem uma semana no mês de fevereiro para celebrar seus mortos, levando-lhes oferendas, não acreditavam que eles se alimentassem com elas. Tal procedimento não passava de um mero ritual.
Nota: Mosaico encontrado em Pompeia. Representa “Gozemos enquanto é tempo.”. O esquadro, instrumento de medida apresentado, mostra que a morte é igual para todos e dá a verdadeira medida de tudo. (Nápoles, Museu Arqueológico)
Fonte de pesquisa
História da Vida Privada I / Comp. das Letras
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