Recontada por Lu Dias Carvalho
O velho eremita há muito abandonara o contato com os homens, descontente com as maldades por eles praticadas, preferindo a companhia da natureza em sua pureza e ingenuidade. Dentre os animais presentes na floresta, uma cotovia tomara-o como companheiro de todas as horas. Mesmo nos intensos períodos de suas meditações ela ficava inerte sobre uma das pedras da caverna, fitando-o, como se fosse capaz de compreender o que lhe ia pela mente. Coisa alguma a fazia arredar pé do local, onde se encontrava o eremita.
De uma feita, o ermitão foi procurado pelos emissários de um nobre sob a alegação de que seu filho encontrava-se muito doente, tendo sua morte como certa. O homem solitário e a cotovia acompanharam os mensageiros na mesma hora, não tardando a chegar à mansão do nobre, onde o filho agonizava, rodeado por quatro impotentes médicos.
De pé na porta do quarto, o eremita só fazia observar a cotovia que se apoiara no peitoril da janela e fitava demoradamente o pequeno enfermo. Repentinamente ouviu-se a voz modulada do ermita, avisando à família do garoto que ele iria viver. Estupefatos, os médicos riram daquele camponês grotesco de barbas compridas, cabelos brancos e unhas enormes que queria se mostrar douto, superior a eles.
O doentinho abriu lentamente os olhos e fitou a diminuta ave na janela, abrindo um largo sorriso, pedindo algo para comer. Antes que todos se apercebessem, o eremita desapareceu, seguido de sua pequenina ave, embrenhando-se na escuridão da noite, que não tardaria em se fazer dia.
Uma semana depois, estando o garoto totalmente restabelecido, uma comitiva parou na entrada da gruta, onde vivia o homem solitário e sua ave. O nobre ofereceu ao ermitão inúmeros presentes, os quais ele prontamente recusou, dizendo que não fora o responsável pela cura do menino, mas, sim, a cotovia. E pacientemente explicou-lhe:
– A cotovia é um pássaro muito sensível e sábio. Ao ser colocada perto de um enfermo, se ela não o fitar, significa que não há esperanças para ele, mas, se o mirar, significa que esse irá se restabelecer. Poucos sabem que essa ave, através do poder de seu olhar, ajuda na cura das pessoas, assim como o fazem tantas outras. É uma pena que tais seres sirvam de alvo para homens insensíveis que desconhecem as inúmeras divindades que habitam a natureza e seus mistérios.
E assim falando, o ermitão pediu licença para mais uma vez retirar-se do convívio com os homens.
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Lu
Que interessante! Não conhecia a lenda! Agora à noite, uma pessoa estimada mandou-me uma mensagem falando de cotovia. Fui procurar a imagem do pássaro que desconhecia e caí nessa lenda. Gratidão por publicar. Achei interessante a parte que fala das divindades que habitam a natureza. Coincidentemente, nessa mesma manhã, recebi a visita de um beija-flor, enquanto regava o jardim. Senti como se ele me agradecesse e abençoasse. Dois pássaros no mesmo dia… Estou tentando entender!
Tamara
Nós temos lendas maravilhosas sobre a natureza. Fiquei emocionada com a visita recebida por você. É realmente um presente grandioso, ou melhor, dois presentes. Seu jardim deve ser maravilhoso, um lugar bem aconchegante para esses bichinhos.
Abraços,
Lu
Lu
Eu procurei pelo significado do que é, na verdade a Cotovia e seu Canto, Por quê? Durante três dias, acordo e perdura durante todo dia, uma voz, dizendo; “Ouça o Canto da Cotovia”, terá sua resposta… Isso estava me deixando atormentada, por que não sabia o que era a Cotovia. Agora entendi, o que estava sendo cobrado e o poder espiritual que me é concedido. Obrigada pela explicação.
Sônia
Que bom que encontrou uma explicação plausível para o seu sonho. Volte mais vezes.
Beijos,
Lu
Lu
Adorei este conto!
Adoro os animais e a sua inocência!
Os homens são péssimos!
Obrigada!
Linda
Este conto é mesmo muito lindo. Assim como você, amo mais a inocência dos animais do que os homens com as suas maldades e hipocrisias. Por esta razão, deixei de comer carne, pois não aceito que matem os bichinhos para me dar prazer. O planeta deveria pertencer a eles.
Agradeço sua visita e comentário.
Abraços,
Lu