Autoria de Lu Dias Carvalho
O escritor francês Marc Boulet chega à Índia na época das monções, quando o sol castiga e o ar úmido torna-se difícil de ser respirado, colando na pele. Sem dúvida, uma época não muito auspiciosa para um europeu. A estação das chuvas é a mais dramática para os indianos miseráveis. Epidemias alastram-se. A população das favelas e a de desabrigados são as mais afetadas pelas doenças provocadas pelos excrementos de animais, pelo aumento de vírus da malária, pneumonia e tuberculose.
Homens maltrapilhos misturam-se às vacas nas calçadas, numa inusitada comunhão de corpos. Excrementos desses animais estão por todo lado. É impossível evitá-los, a menos que se opte por pisar nas pessoas deitadas. Dois medos estranhos apavoram o visitante: levar uma chifrada ou ser assaltado. Condutores de riquixás insistem para levar o escritor Marc Bolet e sua mulher Gloire ao destino. Mas os dois optam por caminhar.
À medida que o sol esquenta, enxames de moscas esparramam-se por todos os lados, à procura de lugares mais frescos, enquanto um fedor de latrina toma conta da atmosfera. É comum encontrar homens urinando, agachados ou de pé, geralmente perto de uma parede. Alguns fazem o serviço completo: urinam e evacuam. As fezes, misturadas ao líquido excrementício expelido pelos rins, fermentam-se deixando o ar irrespirável.
Em um modesto hotel, onde nada funciona, o casal aluga um quarto. Depois de descansar, parte para Benares (ou Varanasi), a mais sagrada das cidades do hinduísmo. Muitos a escolhem para morrer, pois ser cremado em Benares é garantia de ter acesso imediato ao paraíso, sem depender dos merecimentos acumulados em vida. Segundo o Bhagavad-Gita (um dos livros sagrados dos hindus):
“O que nasceu deve morrer e o que morreu deve renascer.”
O rio Ganges estende-se ao longo da cidade. Nele, é possível encontrar de tudo: desde resíduos de destilação de petróleo a cadáveres de humanos e animais. O escritor Mark Twain, ficou horrorizado ao ver o rio sagrado da mitologia hindu e personificação de uma deusa, Mãe Ganga, como um desaguadouro de esgotos, que corre a céu aberto, chegando a comentar:
“Acho que nenhum micróbio que se preze, viveria em uma água dessas.”
Marc Boulet e sua mulher escolhem morar em um bairro de Benares, onde alugam um apartamento calmo e íntimo, de modo a poder dar continuidade a sua metamorfose sem ser flagrado. Por perto, existem muitos casebres, colados uns nos outros, com telhados de plástico, segurados por pedras, onde as pessoas criam porcos e possuem muitos cães vira-latas.
Na Índia, o porco é visto como um animal impuro pelos hindus. Só os intocáveis comem de sua carne. Além de imundos, os dalits (ou intocáveis) também são vistos como beberrões. De modo que Marc Boulet foi advertido pelos vizinhos, para que não tivesse nenhum contato com “aquela gente”. Mas o francês não acata o conselho de passar o mais distante possível dos intocáveis (dalits). O contato com eles é o propósito maior das transformações pelas quais vem passando.
O escritor francês descobre que o bhang, espécie de haxixe, que se come, e a maconha são vendidos em lojas, publicamente. Ambos são produtos indígenas, extraídos do cânhamo indiano. Estão associados à religião hindu, assim como o vinho está para a Eucaristia, no catolicismo. Há clientes de todos os tipos: desde aqueles bem vestidos aos maltrapilhos. Não consideram como vício o consumo de tais drogas.
Aguardem o capítulo 3 a seguir…
Fonte de pesquisa:
Na Pele de um Dalit/ Marc Boulet/ Editora Bertrand Brasil
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Oi, Lu, tudo bem?
Adoro suas postagens, pois a arte é essencial no dia a dia, e deve ser vista e contada por todos ângulos.
Você ainda frequenta a livraria Leitura? Foi por lá que nos conhecemos… Até que enfim encontrei seu blog!
Compartilhei em minha rede social.
Abraços,
Tânia
Tânia
Quanto alegria em reencontrá-la aqui! Ganhei a noite!
Frequento, sim. Quem escreve precisa estar sempre atrás de coisas novas, ainda mais eu, que tenho aqui no blog mais de 30 categorias diferentes. Sempre que posso, dou uma chegadinha lá, onde encontro pessoas maravilhosas como você.
Agora que encontrou o Vírus da Arte & Cia. terá que me visitar todos os dias… risos. É também um prazer responder a seus comentários. Agradeço de coração o compartilhamento em sua rede social. É através de pessoas como você que este blog é acessado em todo o Brasil e em mais 160 países.
Beijos no coração,
Lu
Acho muito interessante a maneira como LuDiasBh comenta as diferentes partes do livro…que estou a ler de novo.É uma boa ajuda para apreciar melhor a leitura.
Maria
Achei o livro muito interessante.
Na época, passava a novela Caminhos para as Índias.
Escrevi mais de 100 artigos sobre aquele país (veja em JANELAS PARA O MUNDO).
Fico feliz por você ter gostado.
Obrigada por sua presença no blog.
Abraços,
Lu
Gostaria de saber se esse autor ou o livro que escreveu, Na Pele de um Dalit, foi proibido na Índia.
Maria
Confesso que não sei.
Mas o autor não contou nada que fosse mentira.
Ele viveu aquela realidade.
Penso que pouca coisa mudou em relação aos dalits, uma vez que o hinduísmo faz questão de conservar a separação.
Abraços,
Lu
Muito bom esse autor.
Maria
Ele também escreveu um livro sobre sobre como vivem os chineses (da época).
Mas não o encontrei no mercado ou em sebos.
Abraços,
Lu