Autoria de Lu Dias Carvalho
Enviei uma coisa que havia feito em Le Havre, o sol nascente entre o nevoeiro e alguns mastros de barcos. Pediram-me um título para o catálogo, ao que sugeri: impressão. (Monet)
Meu único mérito foi o de ter pintado diretamente da natureza com o objetivo de exprimir minhas impressões diante dos efeitos mais fugidios. (Monet)
Não sou um grande pintor nem um grande poeta […]. Faço o que posso para expressar o que sinto diante da natureza e, com frequência, para traduzir o que sinto vivamente, esquecendo as regras da pintura, se alguma vez elas existiram. (Monet)
Os pintores impressionistas tinham grande predileção pela pintura em “plein air”, de modo que a pintura ao ar livre definia a estrutura e a imagem da obra. A execução do tema tinha que ser rápido, para captar um momento, em razão da mutabilidade do efeito luminoso. Pois uma paisagem adquire tons e formas diferentes de acordo com as diferentes horas do dia ou devido à variação das condições atmosféricas. Tudo isso contribuía para que o artista mostrasse a sua espontaneidade diante do tema escolhido. Sendo que as características do trabalho ao ar livre eram a liberdade na escolha dos temas, a luminosidade das cores e a aparente casualidade do corte.
Os críticos da época menosprezavam as obras dos impressionistas, pois julgavam que a técnica deles era banal, se comparada com as obras de conteúdo convencional, mesmo que, muitas vezes, essas se encontrassem fora da realidade. Alegavam que o trabalho era feito às pressas, e, que o tratamento livre, que os impressionistas davam aos objetos, dissolvia as formas, as cores, que eram muitas vezes invulgarmente fortes e claras, e não havia a utilização do claro-escuro modelador. Para serem aceitos pelo Salão de Paris, Monet e seus colegas deveriam se adaptar ao gosto conservador do júri, mas eles se recusaram a ser tão condescendentes. Então, continuaram sendo excluídos.
Os impressionistas também pintavam em seus estúdios, ou ali concluíam seus quadros iniciados ao ar livre, mas o que predominava era o anseio do artista em captar o momento, o máximo possível, usando a luz natural. E, não resta dúvida de que Claude Monet foi o pintor, que mais trabalhou, para captar em sua obra a fugacidade do tempo, vindo a torna-se um dos grandes nomes da pintura impressionista. Ele tinha o dom de colher com fidelidade todos os fenômenos da luz.
Monet não acreditava nas regras a que estava submetida a pintura. O que importava era o que existia entre ele e o tema, sem se ater a normas de espécie alguma. Sobretudo, o que mais lhe importava era captar a fugacidade da beleza encontrada num momento, por mais simples que pudesse parecer, pois nada é o que foi a uma pequena fração de tempo atrás. Para ficar mais próximo da natureza, Monet transformou um pequeno barco num ateliê flutuante.
Quando aconteceu a segunda exposição impressionista em Paris, o crítico Albert Wolff, jornal Le Figaro, apegado às normas do convencionalismo, não economizou adjetivos para destratar os artistas impressionistas. Alienados, doentes da loucura da ambição, eram alguns deles.
Na terceira exposição, Monet apresentou oito versões da estação parisiense de Saint-Lazare, dando início às suas obras em séries. Ficaram famosas as suas pinturas em série, onde ele tentava adaptar o mesmo tema em momentos diferentes, com variações na luz e nas formas, ou as criava de modo a harmonizarem entre si, como se fossem uma única obra. Saía para pintar com várias telas, punha-se diante do motivo escolhido e, a cada hora, trocava de tela, continuando o trabalho no dia seguinte, a fim de captar as sutis mudanças da luz.
A Catedral de Rouen foi o tema de sua terceira série. Pintou 28 versões da catedral, posicionando-se em três ângulos de visão diferentes, em vários momentos. O sucesso foi enorme. Tornou-se o tema mais comentado no mundo artístico parisiense, quer pela beleza quer pela exorbitância de seus preços. Monet realizou inúmeras viagens em busca de novos temas, sem se importar com as dificuldades que a natureza viesse a lhe apresentar. Seu biógrafo, Gustav Geffroy, escreveu:
Às vezes, as rajadas arrancam a paleta e os pincéis de suas mãos. Seu cavalete fica amarrado por cordas e pedras.
Monet trabalhava intensa e ardorosamente, tendo, muitas vezes, o cabelo que ser cortado enquanto pintava, mas nem sempre se sentia satisfeito com os resultados obtidos. Quando isso acontecia, ele se exasperava:
– Sigo a natureza sem poder captá-la.
A última fase do pintor foi dedicada, sobretudo, às ninfeias. Ele as pintou por mais de 25 anos. Monet comprou o terreno usado por ele e sua família em Giverny, e o transformou em um jardim, onde dedicava um grande espaço às ninfeias. Ali mesmo mandou construir um ateliê para trabalhar ao lado de suas flores. Produziu mais de 250 quadros individuais com suas divas. Com a ajuda de seu grande amigo, Georges Clemenceau, deu vida a uma série de murais sobre o tema. A série sobre as Ninfeias foi doada ao Estado francês e hoje se encontra exposta na Sala do Musée L`Orangerie.
Embora tivesse predileção pelas paisagens, Monet também pintou temas urbanos, assim como inseriu figuras humanas nas suas paisagens. Dentre as muitas obras do pintor podem ser citadas: Almoço campestre, As Quatro Árvores, O Terraço em Sainte-Adresse, O Passeio, Mulheres no Jardim, Regata em Argenteuil, As Papoulas, Camille e Jean na Colina, Os Perus, A Estação de Saint-Lazare, A Geada, A Catedral de Rouen, O Parlamento de Londres, As Ninfeias Azuis, etc.
Em sua última série de pinturas, ao trabalhar com a inconstância da luz, cor e atmosfera, Monet caminhou em direção ao abstracionismo. Sendo tido como o ponto de partida para a arte abstrata. Dessa forma, os impressionistas inauguraram uma nova postura de ver, em que o olho é dirigido pela mente.
Nota: Impressão, Sol Nascente tornou-se o quadro mais representativo do movimento impressionista. Um dos críticos da época usou o título da tela para debochar dos artistas impressionistas. A expressão agradou tanto os pintores, que converteram o sarcasmo dele em um nome para o novo movimento: Impressionismo.
O quadro, pintado de uma janela de hotel, que se descortinava para o porto de Le Havre, ao amanhecer, tem tons somente de duas cores complementares: azul e laranja, uma cor realçando a outra. A luz do sol nascente, representada por uma bola de cor laranja, reflete-se nas águas do mar. As figuras são apenas silhuetas nos barcos. Assim como a bruma, tudo ali é efêmero, trazendo ao observador a sensação de que logo toda a cena se diluirá diante de seus olhos.
Dados técnicos:
Ano: 1872
Técnica: óleo sobre tela
Dimensões: 48 x 63 cm
Localização: Museu Marmottan, Paris, França
Fonte de Pesquisa:
Claude Monet/ Coleção Folha
Grandes Mestres da Pintura/ Editora Abril
Monet/ Editora Taschen
Tudo sobre Arte/ Sextante
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Lu,
Em 2012, você já produziu um excelente texto sobre Monet e suas ninfeias. Lembro-me bem. Agora, temos um outro texto também muito bom sobre o mesmo Monet. A riqueza de detalhes preenche e abrilhanta a sua obra. Parabéns! Abraço, Alfredo Domingos.
Alf
Eu publiquei este texto no blog em que eu escrevia.
Agora, transponho-o para o nosso blog.
Trarei mais outros temas sobre o autor.
Penso que irá gostar.
Abraços,
Lu