Autoria de Lu Dias Carvalho
O ser humano foi programado para querer tudo. É por isso que nunca se mostra satisfeito com o que tem. Mal consegue realizar um desejo, outro maior se põe a caminho. Seus circuitos cerebrais foram programados para funcionar assim. O neurologista Wolfram Schultz realizou uma pesquisa com macacos que mostra que esses animais não são muito diferentes dos humanos no que diz respeito aos desejos. A princípio ele os recompensava com maçãs, mas seus neurônios, que antes percebiam essa fruta como uma iguaria, passaram a não mostrar nenhum sinal de contentamento. Os macacos passaram a querer passas, ou seja, eles queriam algo mais. O que prova que os desejos, uma vez realizados, passam a não mais dar prazer até mesmo aos bichos.
Se os símios não mais se sentiam contentes com as maçãs, imaginem o que acontece com o ser humano vivendo num mundo de infinitas tentações em que o dinheiro pode comprar praticamente tudo. Nunca se teve tanta facilidade para se resvalar para os excessos como nos dias de hoje nas sociedades mais ricas. Esta é a razão do aumento da obesidade mórbida em países ricos como os Estados Unidos, onde mais de 50% de sua população encontra-se bem acima do peso. Os chamados “fast-foods”, antes pedidos em tamanho médio, agora são comprados em tamanho gigante. O organismo dos obesos não mais se contenta com porções menores, acostumados que está às grandes. Embora passageiro, somente o excesso de alimento ocasiona prazer aos obesos, como podemos ver em programas como “Quilos Mortais” que mostram todo o drama da obesidade mórbida.
Sabedores de que fomos programados para obter mais e mais – ainda que a alegria promovida por um desejo realizado logo se dissipa – mais difícil se torna a vida das pessoas sem emprego ou com um mínimo de poder de compra. A mídia, principalmente a televisão, excita os desejos, lançando nos lares um sem conta de propaganda de produtos, na maioria das vezes sem utilidade ou nocivos à saúde, mas que despertam a vontade de obtê-los nos espectadores . Quanto menor for a capacidade de racionalizar da pessoa, mais se verá consumida pelo desejo de comprar mais e mais, sem levar em conta o fato de necessitar ou não daquele produto.
Quer dizer então que o ser humano é um escravo de seus desejos? Isso vai depender de como ele se comporta diante de tais impulsos. O biofísico Stefan Klein explica: “Não estamos atados aos desejos, basta adotarmos uma atitude um pouco mais crítica em relação ao nosso circuito de expectativa que é controlado pela dopamina. Ao contrário dos macacos, somos capazes disso. O desejo nem sempre conduz ao prazer. Desejar e gostar são duas coisas diferentes”.
Nota: imagem copiada de https://pixabay.com/pt/vectors/carrinho-de-compras-
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Lu
Seu texto é muito importante, trazendo luz para uma realidade incontestável: o ser humano é insaciável:
“O ser humano foi programado para querer tudo. É por isso que nunca se mostra satisfeito com o que tem. Mal consegue realizar um desejo, outro maior se põe a caminho. Seus circuitos cerebrais foram programados para funcionar assim”.
Você demonstrou que a racionalidade não nos impede de querer sempre mais e mais:
“Nunca se teve tanta facilidade para se resvalar para os excessos como nos dias de hoje nas sociedades mais ricas. Esta é a razão do aumento da obesidade mórbida em países ricos como os Estados Unidos, onde mais de 50% de sua população encontra-se bem acima do peso. O organismo dos obesos não mais se contenta com porções menores, acostumados que está às grandes. Embora passageiro, somente o excesso de alimento ocasiona prazer aos obesos, como podemos ver em programas como “Quilos Mortais” que mostram todo o drama da obesidade mórbida.”
A verdade é que, mesmo entendendo que comer desta forma pode levar à morte, continua a querer mais e mais. A programação de nossos circuitos cerebrais pode ser impedido, quando a racionalidade, o humanismo, o amor ao próximo, vence esse instinto primitivo. Se prevalecer a racionalidade, a inteligência, o humanismo e sentimentos como o amor, podemos falar “não” aos desejos impostos.
Por que a inteligência daqueles que poderiam vencer tais desejos não impõe outro proceder? Penso que a grande maioria adaptou-se ao ESTEREÓTIPO que faz de comportamentos ou características obedientes ao instinto, num mundo em que vale mais o dinheiro do que o que temos em nosso coração. O que os comanda é o sentimento primitivo de desejar e querer mais e mais. Há muitos exemplos por aí, não só na alimentação, mas relativos às roupas, comportamentos, aparência, o gostar de certas músicas e de idiotas que fazem tipos diferentes na TV ou mesmo na internet. O estereótipo, na maioria das vezes, é inconsciente. O duro é quando se queda para a intolerância, principalmente religiosa, para o ódio, racismo, xenofobia. Nem sabem mas, logo ali na esquina estão atirando contra estrangeiros pobres. Pode ser um psicopata ou sociopata, mas pode ser, como milhares de pessoas que consideramos normais – e são normais dentro da sociedade em que vivemos – mas ligados ao instinto primitivo e estereotipando, achando que tudo é normal.
As pessoas pouco raciocinam – seguem um tipo – que se tornou comum e faz o “status”, a posição privilegiada, dentro do instinto primitivo do ser humano. Acham que com isso têm mais prestígio e relevo na sociedade; muitos assim agem por ouvir opiniões alheias falsas e que tornam para eles, verdadeiras.
Edward
Vivemos num mundo de falsos heróis e de mitos questionáveis que estão sendo seguidos por todas as idades. Vemos isso principalmente na mídia televisiva e na internet. A música, sobretudo a brasileira, vem resvalando para o seu mais baixo nível, como se os termos obscenos fossem indicativos de protesto e liberdade. A mulher nunca foi tão “coisificada”. O mais triste é que um grande número delas, sobretudo as mais jovens e pobres, identifica-se com essa parada.
Concordo plenamente com a avaliação que faz.
Abraços,
Lu
Lu,
também comprei o livro “O tempo, este grande escultor”. Ocorre que numa das crônicas há uma menção sobre o outro livro dela: “A obra em negro”. Como eu disse antes, suspendi a leitura do tempo e comprei e estou lendo este último . As “Memórias de Adriano” também tenho, mas não li ainda.
À guisa de comentário final, certa vez ouvi que devemos ter muito cuidado com os rótulos dos vinhos, pois nem sempre o que está escrito é o que contém dentro. Nos livros ocorre a mesma coisa: comprei o último livro um pouco pelo título, dando credito à autora que é bem conhecida, sendo a primeira mulher a ser admitida na academia francesa (acho que em meados dos anos 80 ) .
Abraços
Cláudio
Ri sobre o que você falou sobre o vinho, pois acabara de ler sobre uma oferta da EVINO (site onde compro vinhos). Mas é isso mesmo, não podemos nos deixar enganar pela embalagem. Não li “Memórias de Adriano”, mas é um dos seus livros mais vendidos. Depois me conte se gostou. E por falar em autora, estou trabalhando em três livros meus (poesias, fábulas, contos) que espero lançar este ano. Fico fazendo correção de livros de amigos e parentes e acabo deixando os meus de lado. Quando eu publicar, deixarei na tela do computador.
Vejo que é um leitor voraz. Parabéns!
Abraços,
Lu
Lu
Pelo menos para mim, em alguns casos aplica-se perfeitamente . Em dezembro último, numa feira de livros, comprei pelo menos 10 livros, entre os quais Leonardo da Vinci ( obra completa ) e Caravaggio (um edição de luxo, importada) .
Bem, pensei , chega por enquanto , vamos lendo o que temos e o que comprei . Ledo e Ivo engano (como dizia o cronista mineiro Otto Lara Resende ) .
Sim, estou lendo , mas neste meio tempo, já comprei mais dois (da simone de Beauvoir e da Marguerite Yourcenar ), e enquanto leio os dois , vejo seu blog e ( libriano que sou , além de geek ) estou pensando no volume da 1.000 obras …
É de fato uma espiral sem fim , uma cornucópia às avessas . Tudo bem, adoro ler, mas também durante as leituras procuro conhecer mais um pouco do que está sendo escrito. Por fim, vejo-me plenamente como querendo mais e mais ! Fazer o quê ?!
Agora , há pouco, vendo uns vídeos “ engraçados “ , havia uma situação (em vídeo ) descrita nos quadros de Lucas Cranach, o Jovem, no qual dois homens velhos dançam ao redor de mulheres jovens (nos quadros também há mulheres velhas com homens jovens ).
Este processo vem , creio , desde o começo da humanidade . Em alguns , o vigor físico já decaído , em outros a lembrança de outrora . Em ambos , a vontade de não envelhecer . Em ambos , uma bolsa de dinheiro a comprar os prazeres .
Até mais!
Cláudio
No que diz respeito a livros sou igual a você. Temos aqui uma livraria outlet que resolveu vender livros no quilo em dezembro passado. Fiz a festa. Como me interesso por uma porção de assuntos, cheguei em casa carregada. Os de arte, como sempre, não entram. Mesmo assim encontrei uns dois bem fininhos.
Imagine, coincidentemente estou fazendo umas pesquisas no livro da Marguerite Yourcenar, chamado “O Tempo, esse Grande Escultor”. Você deve ter comprado “Memórias de Adriano”. Sobre Caravaggio e Leonardo da Vinci tenho muitos artigos no nosso site, dissecando algumas de suas obras. Tenho de ambos uma coleção da Folha e outra da Cultura. Imagino a beleza da coleção do Caravaggio que você comprou. Para mim é um dos mais fascinantes pintores e Leonardo o mais inteligente dos homens que já veio à Terra, penso eu.
Você tem razão sobre o querer mais e mais: “É de fato uma espiral sem fim , uma cornucópia às avessas”. Eis aí uma excelente definição.
Abraços,
Lu
Lu
Vivemos num mundo onde as pessoas não estão satisfeitas com nada! Isso é verificado em todos os quisitos, porque é ditado pelo sistema que tem um poder extraordinário de entrar nas nossas mentes e manipular de tal forma que ficamos padronizados, tanto na forma de vestir, de comer, de relacionar, enfim, de viver.
A dinâmica desses novos tempos baseia-se em producao econômica, ou seja, em crescimento do pib e produção de riquezas. Infelizmente, o que acontece é concentração de riquezas para uma minoria em detrimento da grande maioria que vive com migalhas. Além de exaurir o planeta através de uma exploração insustentável, provocando crimes ambientais de proporção estratosférica,estimula um consumismo doentio para estimular aquisição de produtos que muitas vezes não tem serventia. Mas a nova ordem mundial dita que tem que ter para ser, uma incoerência tamanha.
Na verdade temos que ser conscientes das verdadeiras necessidades para termos apenas o necessário, principalmente uma vida digna e harmônica com o planeta Terra. Temos que nos ater em relação aos desejos, porque muitas vezes não são reais, mas produtos do ego inflado de mentiras, criadas para nos iludir. Ao invés de simplificarmos a vida, nós complicamos e deixamos de viver de uma forma verdadeira através da simplicidade, buscando no acúmulo de bens materiais e excessos para mascarar a tristeza, os conflitos, os vazios da alma, em suma, uma insatisfação generalizada, capaz de provocar várias patologias físicas e mentais.
Ressaltando a comparação feita entre o macaco e o homem em relação aos desejos, mostra que há uma relação na evolução da espécie e, que o humano possui cérebro capaz de formular conceitos e mãos capazes de processar, transformando o planeta e provocando destruição generalizada na sua estrutura, como a atmosfera com destruição da camada de ozônio pelo aquecimento global.
O homem ainda não soube administrar sua inteligência de uma forma racional, no sentido de construir um mundo melhor! Precisa reformular seus conceitos de vida para deixar pessoas melhores para cuidar do planeta em que vivemos para a preservação da espécie.
Hernando
Hernando
Nunca se viu um consumismo tão desenfreado como nos dias de hoje e, como o que não é visto não é desejado, como diz o dito popular, a mídia trata de construir belas imagens que penetram em nosso cérebro, contribuindo ainda mais para aguçar os nossos desejos que parecem um buraco negro. Só há forma de dar uma freada nesse exagero, conforme você ensina:
“O homem ainda não soube administrar sua inteligência de uma forma racional, no sentido de construir um mundo melhor! Precisa reformular seus conceitos de vida para deixar pessoas melhores para cuidar do planeta em que vivemos para a preservação da espécie”.
Sem esta conscientização, o planeta Terra definhará em pouquíssimo tempo, sem necessidade de que seja tragado por um meteorito ou coisa parecida. O homem (suposto animal mais inteligente) está a arrasá-lo sem lhe dar uma trégua.
Um abraço,
Lu
Hernando
Seu comentário é sempre muito sintético e de excelência. Finaliza com uma verdade incontestável:
“O homem ainda não soube administrar sua inteligência de uma forma racional, no sentido de construir um mundo melhor! Precisa reformular seus conceitos de vida para deixar pessoas melhores para cuidar do planeta em que vivemos para a preservação da espécie”.
Concordo plenamente. Já escrevi, embora levado pelo sentimentalismo, que ” A perpetuidade da vida está no equilíbrio da natureza, seja relativamente aos vegetais, seja no que diz respeito aos animais, entre eles, o que se considera o único racional, o ser humano. É fácil perceber que a vida humana depende de todas as demais, tamanha a interligação existente. E é nesse momento que começamos a perceber que esta vida que tentamos defender, pode um dia se extinguir.
A racionalidade não basta. Acredito e sempre acreditarei no que manda o coração. Os nossos sentimentos são os mais importantes instrumentos para que um dia, talvez, possamos ter a certeza de que a vida na Terra não irá ser extinta. Toda vida está inserida na raiz AM, que dizer união. De lá nasceu o mais importante sentimento humano, o amor. É com ele que podemos amar a rosa vermelha que abriu de um botão, os passarinhos que estão se alimentando no pé de mamão do quintal, o ar não poluído que respiramos lá no “baixão” da serra, a água pura que vem daquela mina, escondida da ganância do ser humano e, que está ainda está preservada, o sol que brilha longe das nuvens da poluição, ou ainda, aquelas abelhas que estão desaparecendo – fruto da aplicação de pesticidas – e que fazem povoar a natureza.
Poucos podem compreender, não só com a racionalidade, mas principalmente com a sensibilidade, que temos que manter o equilíbrio entre a vida vegetal e animal, pois é aí que se fundamenta a raiz de nossa existência.