Autoria de Lu Dias Carvalho
À parte das falsas aparências no palco, Degas mostra todas as fealdades reais, a precocidade doentia das moças de fisionomias envelhecidas, bem magras, bastante audazes ou sonhadoras demais, sobre membros infantis. (Paul Lafond)
A composição intitulada A Aula de Dança faz parte das obras-primas do pintor impressionista e de uma série de pinturas com o mesmo tema. Edgar Degas era encantado pelo balé. Assistia tanto aos ensaios como às suas representações. Pintou inúmeras telas sobre o tema, captando em minúcias expressões e poses de cada bailarina, resultando num conjunto bem elaborado e no seu perfeito entrosamento com o espaço, o que o transformou no mais importante pintor de bailarinas.
Ao pintor não importava retratar a beleza dos corpos. Ele gostava de captar sobretudo o esgotamento, o cansaço, a dor extenuante e as lágrimas advindos de muitas horas de ensaio. Podemos dizer que ele mostrava a outra face da moeda, aquela que não era observada durante as apresentações, embora também pintasse tais momentos. Não lhe importava a emoção dos artistas e público, mas o aspecto plástico, a união entre luzes, sombras e figuras humanas.
Na composição A Aula de Dança um grupo de bailarinas faz um semicírculo em volta do professor, enquanto esse dá explicações à aluna que se encontra à sua frente. O rosto da garota expressa seu estado de concentração, encontrando-se numa postura de balé clássico. As demais alunas aproveitam para descansar ou para treinar alguns passos. Elas usam faixas com cores vivas e fitas pretas no pescoço.
Degas traz a ilusão de movimento na pintura, ao individualizar as bailarinas que se encontram em diferentes posturas e gestos. É interessante notar a maestria do pintor, ao criar a ilusão de profundidade, como ao pintar tábuas diagonais com suas nítidas linhas pretas e as colunas verticais de mármore preto que criam fortes verticais e levam o olhar do observador para o fundo da tela, onde se encontra uma garota consertando o seu colar.
Um cãozinho terrier aparece cheirando as pernas da bailarina de laço verde e sapatilhas cor de rosa, postada em primeiro plano e de costas para o observador. À sua esquerda uma bailarina está assentada sobre o piano, coçando as costas, enquanto abaixo dela, quase oculta, outra ajeita seu brinco. Debaixo do piano encontra-se um regador verde-escuro, onde o pintor assinou seu nome. A presença de tal objeto na pintura lembra que ele é usado para umedecer as tábuas empoeiradas do salão. Cãozinho e regador dão um toque de leveza ao rigor da composição.
O coreógrafo que também usa sapatilhas encontra-se de pé no meio do salão, com os braços apoiados no seu bastão de madeira que serve para marcar o compasso. Ele é a figura central da composição. Trata-se do famoso bailarino e coreógrafo Jules Perrot. No fundo da sala um grupo embevecido de mães observa suas filhas, enquanto as garotas mostram-se à vontade nas mais diferenciadas posições.
Na composição o observador parece fazer parte da cena, assim como o pintor, mas sem ser notado. Ele apenas olha sem ser observado. As bailarinas estão voltadas para o mestre ou para si mesmas, enquanto as mães observam-nas.
Curiosidades
- Durante a Belle Époque a capital francesa fascinava os artistas impressionistas com a dança, sobretudo com o balé.
- Embora o balé fosse um tipo de dança muito apreciado naquela época, não se tratava de uma atividade respeitável, de modo que muitas bailarinas tornavam-se prostitutas, sendo cobiçadas pelos burgueses ricos. Como mudam as coisas!
Ficha técnica
Ano: 1873-1876
Técnica: óleo sobre tela
Dimensões: 85 x 75 cm
Localização: Museu D’Orsay, Paris, França
Fontes de pesquisa
Degas/ Coleção Folha
Degas/ Abril Coleções
Arte em Detalhes/ Publifolha
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Lu
Assim como o Renoir tinha fixação por guarda chuvas em em suas obras, o impressionista Edgar Degas tinha por bailarinas, inclusive tinha amizades com coreógrafos e todo o métier da dança em razão de sua admiração pelo ballet. Vale ressaltar que Degas também era fotógrafo, o que talvez tenha ajudado na sua técnica muito precisa de captar o momento da cena. Ele preferia pintar os movimentos do ballet no palco e nos intervalos, assim conseguia movimentos e trejeitos espontâneos, como podemos verificar nessa obra. Esta é uma característica ímpar do Impressionismo – captar o momento,como se fosse uma fotografia.
Hernando
Você anda cada vez mais afiado nos comentários relativos aos textos, trazendo sempre informações precisas e interessantes. A relação que faz sobre a criação das pinturas com a fotografia é muito interessante. Tem tudo a ver. Parabéns!
Abraços,
Lu
Lu
Os pincéis foram os bastões nas mãos de Edgar Degas para reger com maestria essa bela composição que impressiona com seu realismo em um cenário antigo, permitindo uma verdadeira interação com o público visual. O ritmo das cerdas desses pincéis foram os responsáveis pela perfeita união entre as expressões e emoções das bailarinas com as luzes, sombras e figuras humanas, mostrando o talento do artista, ao criar uma ilusão de profundidade com as demarcações das tábuas do piso em diagonal e colunas verticais com cores escuras.
Adevaldo
O que falar diante da descrição tão bonita e sensível que você fez dessa obra de Degas? A cada dia sua suscetibilidade em relação às obras de arte aumenta mais. Parabéns!
Abraços,
Lu