Autoria de Lu Dias Carvalho
Quando eu entro nas casas de vidro (jardins botânicos em Paris) e vejo as plantas estranhas de terras exóticas, parece-me que eu entro em um sonho. (Rousseau)
A composição A Encantadora de Serpente é uma obra-prima do pintor autodidata (naïf) francês Henri Rousseau, criada após ser descoberto pela vanguarda francesa. É tida como uma das mais famosas criações do artista. Foi encomendada pelo pintor Robert Delaunay, seu grande admirador, para sua mãe, Berthe Comtesse de Delaunay, uma influente mecenas que levou o pintor alemão e colecionador de arte Wilhelm Uhde, assim como Max Weber, a conhecer as obras de Rousseau. Tal publicidade contribuiu para que grandes nomes da arte adquirissem obras do artista francês. O mundo fantástico desta composição assimétrica, com cores brilhantes repassa a sensação de ser bidimensional. O pintor faz uso de inúmeros tons de verde e anuncia o Surrealismo — um novo estilo.
Uma personagem feminina curvilínea, vista contra a luz de uma lua cheia que desenha sua silhueta e intensifica o brilho de seus olhos, trazendo mais mistério à cena, posiciona-se de frente para o observador, numa selva exótica em meio a alguns animais, na mais perfeita harmonia. Seus olhos brilhantes intensificam o mistério do cenário. Ela se encontra nua, possui cabelos compridos, jogados para trás, que vão até a dobradura dos joelhos. Toca uma flauta de madeira. Em torno de seu pescoço, descendo pelo tronco, contornando os seios, está uma imensa cobra. Outro ofídio, enrolado num tronco de uma árvore, à direita, ergue seu corpo volumoso e paira sua cabeça acima da mulher. Um flamingo, próximo a duas cobras que dançam, também parece hipnotizado pela música que emana do instrumento musical.
A natureza exuberante — apesar de apresentar uma intensa harmonia com a encantadora de serpente — repassa uma atmosfera de tensão, sem qualquer vestígio de idílio. Três tufos de uma mesma planta em primeiro plano, à esquerda, parecem chamegar. Atrás da mulher está um rio e, mais adiante, ao fundo, a continuidade da mata. Uma lua esbranquiçada e redonda paira no céu claro, mas fosco, refletindo-se nas águas do rio que banha a selva. A lua é também responsável por permitir que o observador possa enxergar a cena, ainda que essa se mostre obscurecida pela noite.
O artista usou vários tons de verde com o objetivo de expressar profundidade e espaço na sua obra. A pintura é feita em camadas. Os padrões entrelaçados de folhas e flores também trazem profundidade, mesmo sem a presença de uma perspectiva linear tradicional. Ele pintou ondulações horizontais na água a fim de intensificar a sensação fantasiosa de imobilidade.
Os artistas acadêmicos Félix Auguste Clément e Jean-Léon Gérôme aconselharam Rousseau a permitir que sua única mestra fosse a natureza, tamanho era o encanto que sentiam por suas obras.
Ficha técnica
Ano: 1907
Técnica: óleo sobre tela
Dimensões: 169 x 189,5 cm
Localização: Museu d’Orsay, Paris, França
Fontes de pesquisa
Rousseau/ Editora Taschen
Tudo sobre arte/ Editora Sextante
http://www.rivagedeboheme.fr/pages/arts/oeuvres/rousseau-la-charmeuse-de-serpents-1907.html
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Lu
“A Encantadora de Serpente” é uma obra belíssima desse ícone da arte naif – Henri Rosseau. Ele utiliza cores vivas e elementos decorativos para compor o ambiente natural com muita vivacidade. Consegue captar a essência da natureza com muita propriedade, mesmo nunca ter vivenciado uma floresta de verdade. Ele utilizava os jardins de Paris como laboratório para criar sua floresta em suas composições. A arte tem a capacidade de transcender, assim como o artista tem a capacidade de materializar os elementos da natureza com muita beleza e harmonia.
Adevaldo
Esta é sem dúvida a obra mais bonita desse artista e autodidata francês. Como você escreveu:
“A arte tem a capacidade de transcender, assim como o artista tem a capacidade de materializar os elementos da natureza com muita beleza e harmonia.”
Abraços,
Lu
Lu
Bonita obra de Henry Rousseau mostrando todo o seu perfil de artista “nïfe” retratando animais, florestas e flores com suas corres peculiares. Sua expressão artística chamada de arte primitiva moderna é permeada por imagens do cotidiano, retratados de modo a lembrar os desenhos infantis, dada a espontaneidade e pureza, o que remete a uma “aura” de ingenuidade.
Adevaldo
A obra em estudo mostra o porquê de Henry Rousseau ter conquistado muitos dos artistas da época. Sua obra é um encantamento só.
Abraços,
Lu