Autoria de Beto Pimentel
Ontem eu assisti à morte de uma árvore. Uma morte lenta. Primeiro cortaram os galhos superiores. Depois os localizados mais próximos do tronco. E por fim, ela jazia mutilada junto ao solo, vítima da ganância sem medida dos homens.
Deleitava-me todas as manhãs ao passar perto dela no outono, quando as suas folhas multicoloridas caiam pelo chão, voavam ao vento e nos forçava a meditar sobre a nossa existência no planeta Terra e que só temos uma certeza: tudo está em constante mudança.
As águas do rio que passam ligeiro nunca são as mesmas que tínhamos visto momentos antes. O ciclo eterno do mistério da vida é a nossa certeza.
No meu caminho existem centenas de árvores, mas a morte de uma delas afetou-me profundamente. O inverno passaria logo e começaria a primavera. As flores que dela brotavam, sinalizando a possibilidade de novas vidas, não brotariam mais. Não se ouviria o canto e o alvoroço dos pássaros que nela habitavam. Tudo substituído pelo vazio. De repente, senti um calafrio na espinha. Lembrei-me dos milhares de árvores nativas que são assassinadas todos os dias, transformando as nossas florestas em terra árida ou em reflorestamentos de uma só espécie de árvores exóticas, onde impera o silêncio causado pela quebra do equilíbrio com a fauna.
Naquela noite fiquei acordado madrugada adentro, ouvindo o pio melancólico da coruja. No dia seguinte, fui até um parque ecológico perto de casa. O administrador daquela área pública ficou atônito quando lhe pedi autorização para ficar o dia todo plantando árvores. Portava um saco com sementes e mudas. Exatamente da espécie da minha árvore assassinada.
Após eu muito insistir, o homem, incrédulo, autorizou-me a plantar. E não resistindo à tentação, ponderou:
– Mas senhor, essas sementes e mudas são de árvores que demoram mais de trinta anos para atingirem seis a oito metros de altura e só então gerarem flores e frutos.
Sem olhar para ele, continuava a abrir pequenas valas no solo onde colocava uma semente e a cobria com terra.
Muito incomodado, ele insistiu:
– O senhor falou que gostava muito dessa árvore que cortaram. Desculpe, mas nós temos mais de sessenta anos e quando as árvores plantadas estivem adultas, já estaremos mortos.
Continuando o meu trabalho, lhe respondi:
– Estou consciente disso meu amigo, mas para as próximas gerações faremos a diferença!
(*) Imagem copiada de gollnick.blog.terra.com.br
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Querido primo
Extraordinário texto.
Repleto de racionalidade, mas escrito com o coração.
Somos parte do universo e cada vez que notamos o homem desequilibrando o ambiente é entristecedor. Discursos racionais são importantes, é claro, fazendo-nos esclarecidos, mas acredito que nossos sentimentos fazem a diferença. Seu texto comove e nos mostra e muito como todos devemos agir, quando a humanidade está destruindo a natureza, enfim, a vida.
Lembro que ainda agora, dia 20 de agosto, como certamente você sabe, foi, conforme estudos da Rede Global da Pegada Ecológica, o Overshoot Day, considerado o dia da sobrecarga da Terra, ou seja, esgotamos, em termos mundiais, tudo que a natureza nos repõe, em termos de recursos naturais, mesmos os alimentos, as matérias primas, a capacidade de absorção do gás carbônico, o que você já nos ensinou como pegada ecológica.
O pior é que no ano passado o Overshoot Day caiu no dia 22 de agosto, ou seja, já perdemos um dia, na contagem da pegada ecológica,a considerar que 2012 foi bissexto.
Agora, estamos já no vermelho e somente um espírito tão voltado ao ambientalismo como o seu pode fazer a diferença. O seu texto emociona e leva-nos e à reflexão.Todos temos que agir, mesmo que seja um pouco, em direção a uma luta importante que é conseguir reverter a pegada ecológica, fazê-la regredir em nosso calendário, mesmo que seja anualmente, dia a dia de sacrifício e trabalho voltados à conservação de nossa natureza, de nossa vida.
Sinto muito orgulho do seu trabalho e de suas ideias.
Parabéns!
Querido primo,
Muito obrigado por seus comentários. O problema socioambiental em todo o planeta se agrava com velocidade assustadora. Já não há mais tempo hábil para medidas no médio e longo prazo. Devem ser imediatas.
Um grande abraço,
Beto
Beto
Fiquei extremamente comovida ao ler sua crônica.
A foto colocada por você é tocante.
Lembrei-me de um pé de eucalipto que derrubaram na frente de meu prédio, alegando que estava apodrecido por dentro.
Ainda não tive coragem de escrever sobre ele.
Temos que continuar denunciando.
Os empreendimentos mobiliários não podem sangrar a mãe natureza.
Abraços,
Lu
Lu,
Precisamos ficar atentos aos fabricantes de desertos. Nas cidades com poucas áreas verdes já ocorrem temperaturas mais altas ( 4 a 6 ºC), com relação aquelas que possuem áreas verdes de acordo com os critérios da OMS.
Abraços,
Beto