A ESCULTURA NA ARTE BIZANTINA

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Autoria do Prof. Pierre Santos

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No novo rito então recém-libertado, o construtor enfrentou sérias dificuldades para erguer seus templos, por desconhecimento de técnicas para tanto próprias. Entretanto, o passo decisivo para melhor caracterização estilística da arquitetura cristã seria dado no período seguinte, com o equacionamento da cúpula bizantina e das soluções neutralizantes das forças de gravidade. Este sistema de cobertura por domo não era original do estilo, o qual vinha sendo usado já havia algum tempo; todavia, era solucionado, grosso modo, através do emprego de cobertura por trompas, que consistia no aumento significativo dos muros de sustentação, resultando num interior sextavado, às vezes oitavado, e, continuando curvilineamente essas paredes, que delimitavam o espaço interior, seis ou oito trompas curvilíneas iam encontrar-se no pináculo do eixo vertical centralizado dessa cobertura. Sobre não permitir maiores arrojos no tamanho desses indivíduos arquitetônicos, o sistema também não lhes oferecia segurança, a saber que o peso da gravidade, ao exercer-se de encontro ao anteparo do teto, tendia a distribuir-se obliquamente, forçando a abertura lateral dos muros de sustentação e o consequente ruir do teto, não obstante os pesados contrafortes externos. O fato se devia a que o arquiteto de então ainda não sabia como alinhar uma cúpula circunférica a uma planta quadrangular, para melhor distribuir os pesos, motivo pelo qual raras vezes empregou antes o sistema, a ele preferindo o antigo, de escora e sustentação, como é o caso da Igreja basilical de Santo Apolinário o Novo, edificado na cidade italiana de Ravena antes da edificação de Santa Sofia de Istambul, mas já sob o governo de Constantino. Posteriormente, Justiniano mandaria cobrir as paredes da Igreja de Santo Apolinário com belos mosaicos fabricados em Istambul e para lá transportados de navio, junto com a especializada mão de obra então inexistente em Ravena.

Aquele antigo sistema construtivo não era o que pretendia o homem de Bizâncio. Antes, interessava-lhe, em primeiro lugar, ampliar as dimensões do templo, de modo a torná-lo condizente com a exuberância e a grandeza do Império, e, em segundo lugar, dar-lhe destinação e simbologia propícias a expressar a riqueza do conteúdo espiritual, que animava o novo culto, já agora extenso. Esse ideal fora atingido por intermédio da solução dada à cúpula, chamada sobre pechinas ou pendentes, o que se esclarecerá adiante. Consistia o novo método no abandono das plantas de cruz latina, de braços desiguais, e na adoção da planta em cruz grega, de braços equilaterais, que melhor se prestava à solução. Conseguia-se assim um amplo quadrilátero, no qual se inscrevia a idéia da cruz de braços equilateral, cujo eixo ou cruzeiro podia ser coberto por grande cúpula semiesférica, em altura jamais atingida.

O método em sua concepção era muito simples:

  1. assentavam-se nos ângulos do quadrilátero quatro poderosas colunas;estas eram unidas, duas a duas, a partir do capitel, por intermédio de quatro arcos de meia volta;
  2. nesses arcos apoiava-se um tambor circular; e
  3. sobre este se erguia, majestosa, a cúpula circunférica, simbolizando no seu côncavo o céu.

Os quatro triângulos curvilíneos formados pelos arcos que saíam de cada uma das colunas, sabendo-se que em cada uma se apoiavam dois deles, e se completavam ao encontro de cada quarto do tambor, constituíam as pechinas ou pendentes, citadas acima, que eram elementos de sustentação da cúpula, pois recebiam seu peso e o distribuíam pelas colunas. Mas, como a neutralização de peso se dava apenas no sentido vertical, o empuxo oblíquo da gravidade continuava a exercer-se, embora em intensidade arrefecida, não obstante o aumento de peso e, muitas vezes, comprometia a segurança do edifício. Para neutralizar, o arquiteto bizantino usou sistema semelhante ao antigo, mas com solução revolucionária, encostando à dada coluna duas grossas paredes no sentido dos arcos, de forma que o espaço interno do quadrilátero se visse completado, nesse prolongamento, pela idéia da cruz grega,cujos braços em algumas igrejas eram cobertos por meia cúpulas, as quais, amarrando-se nos arcos superiores, colaboravam na neutralização dos pesos e, em outras igrejas, por cúpulas menores que a central, radiando em torno desta.

Citem-se dois exemplos bem característicos desses estilos. Primeiro, a famosa Igreja de Santa Sofia de Constantinopla, construída no século VI, na fase de ouro da Arte Bizantina, estando no trono seu mais famoso Imperador, Justiniano, a qual significa, por assim dizer, uma síntese do estilo e constituía o motivo do orgulho máximo do Império, faustosamente decorada de mosaicos ao tempo de sua edificação, que desapareceram sob a cal muçulmana, apenas alguns escaparam. No Ocidente, temos a não menos famosa Catedral de São Marcos de Veneza, de construção posterior, coberta por cinco cúpulas e também toda decorada de mosaicos, embora os mais famosos mosaicos bizantinos encontrem-se na cidade italiana de Ravena, na Igreja de Santo Apolinário, o Novo e na Igreja de São Vital, esta construída também por Justiniano, edifício de interior oitavado, esplendidamente decorado. Leve-se em consideração que Santa Sofia de Constantinopla ficou bastante descaracterizada quando os árabes tomaram aquela cidade, transformaram a igreja em mesquita e passaram a chamá-la a partir de então de Santa Sofia de Istambul. Hoje, os próprios árabes reconhecem o erro de seus antepassados e procuram restaurar o templo, ao qual já devolveram um pouco da antiga magnificência.

Voltando ao equacionamento dos problemas arquitetônicos, observe-se que, embora seja extraordinária a solução dada ao sistema de cúpula, o mesmo não se pode dizer com referência à dada à neutralização dos empuxos. A multiplicação de grossos muros laterais e sua amarração a pesados contrafortes externos de reforço tornam o edifício muito pesado na parte inferior, em contraste com a superior, que dá idéia de leveza. Esta se vê ainda acentuada pela possibilidade de se abrirem janelas no tambor de apoio da cúpula, como no caso já referido de Santa Sofia, por onde penetra luz, indo refletir-se nas pedras vitrificadas dos mosaicos a cobrirem toda a cúpula e pechinas e paredes, dando a impressão de uma luz extraterrena a evidenciar a suntuosidade do templo. A ideia de solenidade é aumentada pela postura sempre hieratizada das figuras, como que captadas em eterno suspense.

Ilustração
Santa Sofia de Istambul, com sua grandiosa cúpula central e os quatro minaretes acrescentados pelos árabes.

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