Vidas Secas – ESGARAVATANDO UMA MENTIRA (8)

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Autoria de Lu Dias Carvalho

cap baleia

Fabiano foi comprar sal, farinha, feijão, rapadura,
querosene e um corte de chita pra  Sinha Vitória.
Comprou tudo, menos o corte de fazenda, com
medo de ser logrado pelo comerciante do lugar.

Olhava os panos, regateava de olho na medida,
sem tirar o dinheiro da ponta do lenço sem alvura.
Foi procurar a bodega de Seu Inácio com o picuá,
querendo uma cachaça pra espantar a quentura.

Bebeu de um só trago, cuspiu e limpou os beiços.
Eis que um soldado amarelo bateu no seu ombro,
querendo jogar trinta e um, lá no fundo da botica.
Atentou no respeito à farda e obedeceu inseguro.

Só tinha feito obedecer na vida. Tinha muque e
sustância, mas jamais especulava, sujeitava-se.
Perdeu no jogo, e se ergueu puto e emburrado,
saiu trombudo, sem mesmo pra trás virar-se.

Ficou debaixo do jatobá, falando com Sinha Rita.
Matutava uma desculpa pra contar a Sinha Vitória.
Podia até inventar que roubaram o cobre da chita,
mas a ideia era fraca, faltava sabença pra mentira.

Não sabia explicar a  presença de Sinha Rita, ou
falar que o tinham pelado no trinta e um, ou contar
que o lenço das notas sumiu do bolso de seu gibão.
Sua mulher, bem atilada, notaria logo sua invenção.

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