Herivelto Martins pertence a um tempo na música brasileira em que existiam dois nichos bem marcados de artistas: o bloco dos grandes cantores e o dos grandes compositores, que se orgulhavam de ter suas músicas gravadas por essas belas vozes. Havia poucas exceções como Ataulfo Alves e Dorival Caymmi – que já eram notórios e expressivos cantores e compositores. Herivelto ficava no meio termo, nunca sendo visto exatamente como um “cantor”. (Rodrigo Faour, jornalista e pesquisador musical)
O compositor, cantor e violonista Herivelto de Oliveira Martins nasceu em Engenheiro Paulo de Frontin/RJ, em 1932. Era filho do ferroviário e artista amador, Célio Bueno Martins e de Carlota de Oliveira Martins, sendo o mais velho dos seis irmãos. Mesmo a profissão de artista não sendo bem vista naquela época, seu pai incentivava-o a seguir a carreira musical. Aos 3 anos de idade, ele já recebia uns trocados por recitar versinhos.
Quando Herivelto tinha 5 anos, a família foi morar em Barra do Piraí, onde o pai fundou uma espécie de clube e teatro onde, segundo o próprio Herivelto, os membros da família trabalhavam como ajudantes diretos, pois, toda ela tinha tendência artística. Era obrigado a tocar diversos instrumentos e a aprender se conduzir pelo palco. Aos 10 anos de idade, já fazia paródias, imitando alguns tipos comuns e ainda ajudava a família, vendendo doces que a mãe fazia. Não completou o curso primário. Quando tinha 15 anos de idade, sua família foi morar em São Paulo, mas ele não se adaptou ao novo ambiente e, ao completar 18 anos, foi sozinho para o Rio de Janeiro, morar com seu irmão. Passou a dividir um quarto com sete pessoas, levando uma vida dos diabos.
No Rio, Herivelto Martins compôs as primeiras marchas de rancho, que fez para um bloco carnavalesco. Depois foi cantar de graça na Rádio Educadora, enquanto fazia testes em rádios. Chegou a desmaiar de fome na rua. Não estava fácil ganhar dinheiro no mundo musical. Sentiu que era preciso arranjar um emprego fora da área buscada. Foi trabalhar numa barbearia, contratado por um português, mal sabendo segurar uma navalha. O dinheiro dava para pagar o feijão com arroz da semana.
Herivelto passou a ser corista no conjunto do cantor J.B. de Carvalho, gravando nos estúdios da Victor. Acabou tendo sua primeira música comercial gravada. Como era muito hábil na criação de arranjos de coral nas canções, terminou como diretor de coro da Victor. Depois disso, fez par com o baiano Francisco Sena, na dupla Preto e Branco, gravando pela primeira vez como artista.
As músicas de Herivelto Martins passaram a ser gravadas por grandes cantores. O flautista e arranjador Benedito Lacerda tornou-se seu parceiro. Compuseram muitas músicas. Foram gravados até por Carmem Miranda. Época em que compôs seu grande clássico, Ave Maria no Morro, que se tornou o mais gravado de sua obra e um dos clássicos da MPB, sendo gravado pelos mais diferentes intérpretes, em várias línguas, inclusive em russo e esperanto.
Quando Francisco Sena, seu parceiro na dupla Preto e Branco, morreu, Herivelto ficou conhecendo Nilo Chagas, que iria substituí-lo, e acabou conhecendo Dalva de Oliveira. Os três passaram a trabalhar juntos, nascendo o Trio de Ouro. Dalva e Herivelto acabaram se casando. O cantor Pery Ribeiro foi o primeiro filho do casal e Ubiratan o segundo. Mas, Herivelto tinha outros dois filhos, Hélcio e Hélio, com Maria Aparecida, com quem teve um relacionamento logo após chegar ao Rio.
A vida de Herivelto e Dalva foi de muitas dificuldades no início, embora parecessem sempre muito elegantes. Com o tempo, a situação financeira foi melhorando e a família passou a viver muito bem. A casa vivia sempre cheia de visitas.
Herivelto Martins era muito genioso. Não aceitava ser contrariado, tanto é que recebeu o apelido de “galo garnisé”. E, como tanto ele quanto Dalva eram geniosos, as brigas começaram a acontecer. Ele era, sobretudo, um grande mulherengo, o que mais aguçava a desavença que chegava, muitas vezes, à violência física. Depois que Herivelto passou a ficar com a aeromoça Lurdes Torlly, com quem teve três filhos, o casamento degringolou de uma vez. Os dois meninos, Pery e Ubiratan, foram parar um colégio interno.
Quando casados, Herivelto era quem administrava as finanças do casal, ou seja, Dalva não via o dinheiro. Com a separação, ela se tornou a maior cantora do país, ganhando muito dinheiro, o que mexeu com a macheza de Herivelto, que partiu para os insultos, transformando a separação num escândalo, com as pessoas e a mídia tomando partido de um lado ou de outro. Sem falar nas trocas de farpas feitas através das canções, num bate-rebate.
Dalva de Oliveira e Chico Alves eram os dois grandes intérpretes das músicas de Herivelton Martins. Com a separação da primeira e a morte do segundo, Nelson Gonçalves passou a ser seu principal intérprete. Depois Ângela Maria entrou em cena e gravou sucessos seus.
E, como a vida dá muitas voltas, Dalva de Oliveira gravou Fracassamos, em seu último compacto, samba-canção enviado-lhe por Herivelto, através do filho Pery, como presente. E Lurdes, a nova mulher do ex-marido, tornou-se sua amiga, ajudando-a nos seus últimos dias de vida. Herivelto Martins morreu aos 80 anos de idade, em 1992, de complicações pulmonares.
Nota
Ouçam Ave Maria no Morro, através dos links, abaixo, com Dalva de Oliveira, Scorpions e Andrea Bocelli, respectivamente:
http://www.youtube.com/watch?v=nHkdnNK3wcs
http://www.youtube.com/watch?v=NyrUzqhx2aM
http://www.youtube.com/watch?v=10sc8Vhgfio
Fonte de pesquisa:
Raízes da Música Popular Brasileira/ Coleção Folhas
Views: 3