Raízes da MPB – JACOB DO BANDOLIM

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Autoria de Lu Dias Carvalho chiquinha1

Selecionar faixas dentro da discografia construída ao longo de duas décadas por Jacob é um desafio, pois sempre ficarão de fora gravações espetaculares. Trata-se da melhor discografia de um solista brasileiro de todos os tempos: numerosa, homogênea em qualidade e muito coerente em termos de repertório. (Henrique Cazes, músico, produtor, arranjador e escritor)

O compositor e instrumentista Jacob Pick Bittencourt nasceu na cidade do Rio de Janeiro/RJ, em 1918,era filho do farmacêutico capixaba Francisco Gomes Bittencourt e da polonesa Rachel Pick.

Na parte de baixo do sobrado em que moravam Jacob e sua família, vivia um francês que tocava violino, e que ficara cego na Primeira Guerra Mundial. O menino solitário deliciava-se com suas músicas. Ganhou um violino, mas não se adaptou com o arco do instrumento, partindo inúmeras cordas. Resolveu então mudar para um bandolim, aprendendo a tocar sozinho. Era um autodidata. E, como quem gosta de música está sempre com o ouvido em alerta, certo dia, quando vinha de uma festa, ouviu um choro solado pela clarinete de Luiz Americano. Em casa, tentou reproduzir a melodia que ouvira. A partir daí nasceu a paixão de Jacob pelo choro.

Quando tinha 15 anos de idade, Jacob fez sua estreia na Rádio Guanabara. E, ao sair vencedor do concurso Programa dos Novos, com o conjunto Jacob e sua Gente (Valério Farias, Roxinho, Osmar Menezes, Carlos Gil, Manoel Gil e Natalino Gil), passou a se dedicar totalmente à carreira de solista. Seu conjunto tocava em rádios, ganhando pequenos cachês. E, quando Osmar Menezes morreu, um dos integrantes do conjunto Jacob e Sua Gente, Benedito César Ramos de Faria, pai de Paulinho da Viola, entrou em seu lugar como violonista.

Ao resolver se casar com Adylia Freitas, Jacob teve que prometer ao pai da futura mulher que não dependeria da música como sustento de sua futura família. De modo que, paralelamente à profissão de artista, Jacob sempre exerceu outras atividades como vendedor, agente de seguros e títulos, prático de farmácia, etc. Chegou a ser dono de um laboratório e duas farmácias. Logo vieram os filhos Sérgio e Elena.

Quando gravou com Ataulfo Alves, em 1940, alguns sambas, incluindo o clássico Ai, que saudades de Amélia, sua genialidade começou a ser notada. Mesmo assim, Jacob fez um concurso público para escrivão da justiça, no qual trabalhou até se aposentar, cumprindo a promessa feita ao sogro.

Foi a esposa Adylia quem insistiu para que Jacob voltasse para a vida artística. Ele formou um novo grupo, composto por César Fria, Fernando Ribeiro, Pinguim e Luna, passando a gravar discos na gravadora Continental. Depois, transferiu-se para a RCA Victor. Ao deixar a gravadora Continental, um novo artista assumiu seu lugar, Waldir Azevedo, que já estreava o clássico Brasileirinho, vindo depois o baião Delicado e Pedacinhos do Céu, o que acabou mexendo com o ânimo de Jacob. Mas, ele não deixava de dar o melhor de si, aperfeiçoando-se em tudo que fazia. Além de começar a escrever suas próprias composições, também tinha a preocupação de anotar música de autores antigos, para que essas não viessem a se perder com o tempo.

Jacob foi responsável por trazer Ernesto Nazareth, sofisticado compositor, para o choro, ao gravar oito músicas de sua autoria, adaptando-as para o bandolim e conjunto regional. Daí para frente, os chorões sentiram mais facilidade para tocar as músicas do erudito compositor. Jacob também se preocupou em trazer para cena os chorões da velha guarda como Álvaro Sandim e Juca Kalut, entre outros, deixando um rico acervo para a música popular brasileira. Foi o criador do instrumento chamado “violinha”, responsável por enriquecer as canções mais românticas.

Jacob passou a trabalhar com o regional do Canhoto. Como sempre, sua produção era regular e de elevado nível de qualidade. Seu maior sucesso foi o choro Cariocas. E, para atender os diretores da RCA, alegando que a vendagem de seus discos era baixa, Jacob aceitou solar músicas de sucesso com o acompanhamento de uma orquestra, nascendo o LP Época de Ouro, que também viria a ser o nome de seu conjunto. Ele adorou o disco, apontando-o como o seu melhor trabalho, mesmo não trazendo choro, mas apenas sambas e valsas. Gravou depois, com orquestra, Valsa Brasileiras de Antigamente.

Quando Canhoto trocou de gravadora, Jacob montou o seu grupo, o inesquecível Conjunto Época de Ouro, composto por competentíssimos instrumentistas: César Faria, Carlinhos Leite, Horondino Silva, o Dinu, Jonas e Gilberto D’ávila. Tudo como ele queria, sendo sempre muito exigente em relação à qualidade do que fazia, sendo possível ver em Assanhado, em A Ginga do Mané e no Voo da Mosca, a preciosidade do seu trabalho.

Em 1964, Jacob gravou aquilo que considerava seu grande sonho: a Suíte Retratos para bandolim, regional e orquestra de corda, dedicada a ele pelo maestro Radamés Gnattali, em 1956. Cada movimento trazia homenagem a um pioneiro da música brasileira: Pixinguinha, Ernesto Nazareth, Anacleto Medeiros e Chiquinha Gonzaga. Embora não tivesse feito sucesso entre os chorões, Suíte Retratos iniciava as mudanças que o choro viveria muitos anos depois. Em 1967, gravou o disco Vibrações, tido pela crítica como o mais completo de sua carreira.

Jacob do Bandolim morreu em 1969, aos 51 anos, de seu segundo infarto, quando retornava da casa de seu amado Pixinguinha.

Nota
Cliquem no link abaixo para ouvirem a canção Assanhado:
http://www.youtube.com/watch?v=r_zmyeLgEG8

Fonte de pesquisa:
Raízes da Música Popular Brasileira/ Coleção Folha de São Paulo.

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