Van Gogh – SUA SEDE DE AMOR

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Autoria de Lu Dias Carvalho

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Não posso, não é possível viver sem amor. Sou um apaixonado. Tenho de encontrar uma mulher, caso contrário ficarei congelado e me converterei em pedra. (Van Gogh)

O pintor holandês Vincent van Gogh em se tratando de amor era um romântico absoluto, levando em conta o seu mundo emocional. Não sentia nenhuma inibição ao tentar e querer viver o amor em toda a sua plenitude, embora fosse muito inexperiente na relação com as mulheres. Uma relação finda, que em qualquer outro não deixaria nenhuma marca, provocava no artista um enorme dano emocional. De modo que suas relações mal sucedidas com mulheres iriam no futuro destruir sua vida emocional. De um homem aberto e liberal, Van Gogh transformou-se num excêntrico e taciturno no contato com os seus semelhantes. Nunca alguém teve tanta sede de amor e foi tão pouco correspondido.

A primeira paixão de Van Gogh aconteceu em Londres, quando ali foi trabalhar. Enamorou-se da filha de sua senhoria, no local onde se hospedava, nutrindo por ela um amor oculto durante seis meses. Quando resolveu externar seus sentimentos, a garota não aceitou a sua proposta de casamento, pois já se encontrava com outro. Rejeitado, o moço teve a sua primeira desilusão amorosa, o que o deixou profundamente depressivo. Aqui já podemos notar o perfil afervorado do futuro pintor que encarava tudo com extremada paixão.

Aquela alma atormentada e solitária, e ao mesmo tempo sedenta de carinho, sofreu mais ainda ao ser, mais uma vez, rejeitado por uma prima viúva, por quem se enamorou. Ela passava alguns dias na casa dos pais do pintor, acompanhada de seu filho de quatro anos, quando ele ali também se encontrava. Ele se apaixonou pela prima e por seu filho, não se sentindo inibido em declarar seu amor. Contudo, a sua família sentiu-se constrangida com as declarações amorosas do pintor, alegando a recente viuvez da mulher. Van Gogh tudo fez para ganhar o amor da prima, mas ela preferiu guardar a memória do marido morto, a  casar-se com ele. Quando se viu rejeitado, o artista abriu-se para qualquer tipo de mulher que quisesse suprir sua sede de amor. Sobre sua decepção e a inaceitação dos fatos acontecidos, escreveu a Theo: Que a tua profissão seja uma profissão moderna e que possas ajudar a tua mulher a alcançar uma alma moderna, libertá-la dos preconceitos horrorosos que a algemam.

Ainda perseguindo o desejo incontrolável de encontrar um amor, Van Gogh conheceu outra mulher, Sien. Ela era mais velha do que ele, tinha uma filha e encontrava-se grávida. Há muitos anos trabalhava como prostituta. Ele a acolheu, juntamente com a filha, levando-as para morarem em seu ateliê. A relação com Sien fez muito bem ao artista, mas o dinheiro para o sustento dos três era minguado. Sobre ela, escreveu a Theo: Não é a primeira vez que sou incapaz de resistir ao sentimento de atração e amor pra com essas mulheres em especial a quem os pastores condenam tão veemente, condenando-as e desprezando-as do alto dos púlpitos. Se acordamos cedo e não estamos sozinhos, e vemos um ser humano ao nosso lado, então isso torna o mundo inteiro um lugar melhor para viver. Muito melhor do que os livros de devoções e as paredes caiadas de branco das igrejas de que os pastores tanto gostam.

A solidariedade devotada a Sien, tão maltratada pela vida, era muito mais forte para o coração generoso de Vincent do que as convenções religiosas que proibiam o contato com as mulheres “caídas em desgraça”. Com o nascimento do bebê de Sien, Van Gogh necessitava alimentar quatro bocas. Nesse ínterim ele conseguiu convencê-la a deixar a prostituição, diminuindo ainda mais as finanças da casa. A mesada enviada por Theo era insuficiente. O pintor trabalhava “desde manhã cedo até alta noite”, sem conseguir vender nada. Escreveu ao irmão: Não posso viver mais frugalmente do que já estamos a fazer; cortamos em tudo o que podíamos, mas há sempre mais trabalho para fazer, especialmente nestas últimas semanas, e quase não consigo aguentar – isto é, os custos que tudo implica.

Diante da extrema pobreza, pois a família estava literalmente passando fome, Sien teve que voltar à sua antiga profissão. O pintor ficou inconsolável, sentindo-se responsável pelos seus entes amados. De modo que Theo, o único membro da família que ficou do lado de Vincent, cautelosamente levou o irmão a decidir pela separação, voltando-se a dedicar à sua arte, pois essa era a sua única saída. Van Gogh sofreu muito, sentindo-se impotente diante da vida, e com toda a intensidade entranhou-se na sua arte, como um animal ferido e solitário.

Em Nuenen, a filha de um vizinho apaixonou-se pelo pintor. Acompanhava-o sempre que saía para pintar. Ela acabou declarando a sua paixão, e ele, ainda que hesitante, acabou por aceitar. Havia uma diferença de dez anos entre eles. Decidiram se casar, mas os pais dos dois opuseram-se à união. A moça tentou se envenenar o que fez com que Van Gogh sofresse muito, sentido-se responsável.

Agostinha Segatori foi outra mulher com quem Van Gogh teve um curto e tumultuado relacionamento. Ela trabalhava no Café Du Tambourin e pousava como modelo para vários pintores. Ao se apaixonar por ela, o pintor holandês tornou-se um constante frequentador do local, onde a moça trabalhava. Embora o lugar fosse tido por alguns como de má fama, o certo é que Van Gogh, com sua presença, levou para lá grandes nomes do universo da arte parisiense. Chegou inclusive a expor no local parte de sua coleção de estampas japonesas, obras suas e de vários de seus amigos.

Outro relato envolvendo a vida amorosa de Van Gogh fala sobre uma vizinha quarentona e solteira que se apaixonou por ele, mas por quem ele não nutria nenhum interesse. E, por isso, acabou rejeitando a mulher que o queria de verdade, mas que seu coração não queria receber. Outro caso, supostamente afetivo, também envolveu a vida do artista. Uma jovem que servia de modelo para ele, apareceu grávida. O pintor foi acusado de ser o pai, mesmo não tendo absolutamente nada a ver com o caso. O pároco local chegou a proibir que seus fiéis pousassem para Van Gogh. Existem suposições de que tal moça seja aquela que se encontra de costas em seu quadro “Os Comedores de Batata”.

Van Gogh sempre foi um homem carente e extremamente apaixonado que não tinha pudores em confessar a grande falta que lhe fazia o amor de uma mulher. Todas as vezes em que começava um relacionamento, sua alma parecia encher-se de luz e seu corpo revigorava. Por ser extremamente frágil, sofria desesperadamente quando se sentia abandonado. Sua pintura era o escape para o desespero que carregava, e para a incompreensão das pessoas à sua volta. Suas tintas eram mais do que tudo, a mistura do grande amor contido em si, assim como a manifestação de sua paixão por tudo que o envolvia. Van Gogh falhou naquilo que mais desejava: constituir uma família. Contudo, suas obras são as sementes eternas de sua hereditariedade.

Ficha técnica
Agostina Segatori no Café du Tambourin (1987)
Data: 1987
Técnica: óleo sobre tela
Dimensões: 55,6 x 45,6 cm
Localização: Van Gogh Museum, Amsterdam, Holanda

Fontes de pesquisa:
Mestres da Pintura/ Editora Abril
Grandes Mestres da Pintura/ Coleção Folha
Van Gogh/ Editora Taschen

2 comentaram em “Van Gogh – SUA SEDE DE AMOR

    1. LuDiasBH Autor do post

      Marcos

      Toda a vida de Van Gogh foi muito atribulada: amorosa, artística, econômica…
      Dá pena saber que tenha passado por tanto sofrimento, tendo um espírito tão puro.

      Abraços,

      Lu

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