Autoria do Prof. Rodolpho Caniato
Logo nos primeiros anos de minha chegada a Campinas, em 1953, eu havia feito muitos amigos nessa cidade. Entre os amigos mais chegados estava o Carlão, como o chamavam os mais íntimos. Cantávamos juntos no grupo de baixos do Coral. Esse meu novo amigo era uma dessas pessoas de quem logo se fica íntimo: uma amizade que durou por toda a vida. Como morávamos em bairros próximos, eu sempre oferecia uma carona na volta de nossos ensaios no Coral. Muitas conversas de diferentes assuntos sempre povoaram nossas viagens na volta. Dessas conversas, entremeadas sempre por alguma anedota mais safada, uma para mim tinha sido muito surpreendente.
A esposa do Carlão era descendente de uma tradicional família paulista. Ela alimentava esperanças de ter uma suposta herança de terras na região chamada de “Amazônia Paulista”. Carlão muitas vezes havia estado naquela região, acompanhando o trabalho de demarcação de terras para definição de possíveis herdades da família. Muito ele me falou das matas virgens desse melhor pedaço do remanescente da Mata Atlântica do Brasil: terras muito pouco habitadas e cobertas por densa mata subtropical. As histórias dessas terras tinham como protagonistas bananeiras, palmito nativo, heranças, posseiros, onças e gado solto no mato, além das “ferozes” disputas pela “posse”.
Dentre as coisas que Carlão me contou dessa região, estavam as lendas que envolviam uma caverna “misteriosa” que havia sido descoberta pela expedição do naturalista Ricardo Krane em 1896. Seu descobridor a havia denominado “Gruta da Tapagem”, certamente por ser sua entrada envolta e tapada por densa mata, tornando a entrada pouco visível. Mas por esses tempos, a gruta já era chamada de “Caverna do Diabo” em função das muitas histórias e lendas urdidas a seu redor. Entre essas havia histórias de gente desaparecida e gado devorado por onças.
Tanto meu amigo me falou da caverna que despertou meu interesse para conhecê-la. Combinamos que iríamos num fim de semana. Convidei mais um amigo que se interessou: Prof. Roberto Storani. Em três, num fim de tarde de sexta feira, com minha “camionete” De Soto chegamos à pequena vila de Eldorado Paulista que ainda era conhecida por seu antigo nome de Xiririca.
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