Recontada por Lu Dias Carvalho
A mãe-da-lua possui muitos nomes, sendo o mais conhecido o de “urutau”, mas, qualquer que seja ele, lembra uma história muito triste de uma sertaneja, história essa passada há muitos anos, quando a humanidade achava que só a formosura física tinha razão de existir. Mas o fato é que essa criatura nasceu deserdada de qualquer traço de belezura. Tudo em seu corpo físico estava atrelado à fealdade. Ninguém fazia caso dela, embora fosse uma boa filha para seus pais idosos, e, para quem dela precisasse. Seus pais temiam que ela pudesse ficar desvalida no mundo. Tinha também uma inteligência superior à das outras sertanejas do povoado. Mas isso não contava. Todos só viam sua feiura e, por isso, desprezavam-na.
Assim como a maioria das donzelas daquela época, a nossa personagem sonhava em se casar com um bom moço, porém, todos a rejeitavam, alguns com cautela e outros com zombaria e judiação. Mas seu ser inocente não perdia a esperança. Até que, cansada de tanto esperar, resolveu tomar seu cachorro e a noite como companheiros. Parecia que todas as coisas da natureza ficavam cheias de contentamento com a presença dela, pois eram capazes de sentir a bondade de sua alma. Só quando o dia começava a clarear é que voltava para casa, para cuidar de seus pais.
Certa noite, quando a lua mal e mal rasgava a escuridão, ouviu o tropel de um cavalo. Dele desceu um jovem, que lhe pediu informações sobre certo lugar nas cercanias. E durante um tempo caminharam juntos. Ele se encantou com a voz e a inteligência da moça. Disse-lhe que era um príncipe e desejava se casar com ela. Mas mal um feixe de luz alumiou seu rosto, o homem alegou estar com pressa, dizendo que voltaria, o mais breve possível, para se casarem. Partiu a galope, sem olhar para trás.
A sertaneja voltava seguidamente ao lugar, na esperança de encontrar seu noivo. Tudo em vão. Passaram todas as fases da lua, e a moça continuou só, acompanhada apenas do cão, dos elementos da natureza e da esperança. Até que certa noite, ela se deparou com uma mulher estranha, a quem falou sobre sua longa espera pelo noivo. Disse-lhe que queria ser uma ave, para ir à procura do amado, pois ele poderia estar doente, precisando dela. Compadecida, a mulher, que era uma feiticeira, transformou-a numa ave, que voou, voou, voou, e voltou sem ter encontrado o tal príncipe.
A moça pediu à bruxa que a fizesse voltar à sua forma normal, mas a feiticeira havia se esquecido das palavras que usara para o encantamento. Assim, a rapariga ficou sendo uma ave para sempre, morando num oco de árvore, vivendo silenciosamente. Até hoje ela usa sua plumagem para camuflar-se num tronco ou galho de árvore, pois não gosta do convívio humano. Só quando a lua nasce é que grita: “Foi, foi, foi, foi”! Muitos dizem que, na verdade, ela quer dizer: Ele (o noivo) foi embora, foi, foi, foi! E foi assim que surgiu a mãe-da-lua ou urutau.
Nota: imagem copiada de redeglobo.globo.com
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