Autoria de Lu Dias Carvalho
Não se podem enfiar dois fios numa mesma agulha. (Provérbio árabe)
A poligamia na Antiguidade estava presente na maioria das culturas. O dicionário Aurélio define-a como a “união conjugal de um indivíduo com vários outros simultaneamente”. Embora este tipo de união esteja presente em muitas sociedades ainda nos dias de hoje, a monogamia (prática socialmente regulamentada segundo a qual uma pessoa, seja homem ou mulher, não pode ter mais de um cônjuge) costuma prevalecer em todas elas.
A prática da poligamia tem sido cada vez menor, pois países como a China e o Japão, em que tal costume era comum na forma de concubinato (união legalmente reconhecida, dotada de direitos e deveres, mas diferenciada do casamento), já caiu em desuso. A poligamia tem sido mais forte em meio aos povos africanos, entre os islâmicos, muitos dos quais seguem o decreto de Maomé que diz que um homem pode ter até quatro mulheres e entre a comunidade religiosa dos mórmons.
Embora a poligamia esteja presente em muitas culturas, a poliandria (união conjugal com mais de um homem) não é aceita, sob a alegação de que, ao gerar um filho, nenhum dos homens sabe quem é o pai (hoje já existe o exame de DNA). E não são poucos os provérbios populares mundo afora que reforçam tal ideia, através de uma linguagem metafórica que se refere ao útero e, muitas vezes, ao pênis, também: “Um bule pode servir cinco xícaras de chá. Mas onde já se viu uma xícara servir cinco bules?”; “Dois hipopótamos machos não podem viver no mesmo charco”; “Só pode haver um tigre em cada caverna”; “Dois ursos não passam o inverno na mesma gruta”; “A mulher de um homem não pode comer o arroz de dois homens”. E nos casos raríssimos em que a poliandria costuma acontecer, os filhos são vistos como pertencentes a todos os companheiros da mãe.
São abundantes em todo o mundo os provérbios populares que justificam a poligamia e incentivam-na: “Não te contentes com uma, se podes manter duas”; “Pode-se sempre acrescentar mais um prato de arroz”; “Até um lobo pode se casar duas vezes”; “Uma mulher aquece o coração, a outra a panela”; “Castiga a mulher má com uma nova mulher”. A escritora holandesa Mineke Schipper em seu livro mencionado em nossas fontes de pesquisa levanta alguns pontos alegados pelos polígamos:
- sentem-se mais atraídos por uma mulher mais nova do que a que possuem;
- desejam ter uma grande descendência, coisa que uma só mulher não lhes pode proporcionar;
- precisam suprir a falta de relações sexuais com a esposa durante a última fase da gravidez, depois do parto e durante a amamentação;
- fazem jus à própria “natureza” masculina;
- mostram prestígio ao sustentar várias mulheres;
- terem mais filhos é sinal de amparo na velhice e mais investimento;
- muitas mulheres significa maior ajuda em casa e no campo;
- se uma mulher morre, outra(s) cuidarão deles;
- é uma forma de castigar a mulher (ou mulheres) rebeldes;
- se uma das mulheres é estéril, as outras compensam.
Atualmente, com a globalização e as crises econômicas em praticamente todo o mundo, assim como a dificuldade em criar filhos, é provável que a poligamia tenda a diminuir cada vez mais, pois essas culturas são extremamente machistas, e não permitem que as mulheres trabalhem fora, para ajudar no orçamento familiar.
Ilustração: artesanato do Vale do Jequitinhonha.
Fontes de pesquisa:
Nunca se case com uma mulher de pés grandes/ Mineke Schipper
Livro dos provérbios, ditados, ditos populares e anexins/ Ciça Alves Pinto
Provérbios e ditos populares/ Pe. Paschoal Rangel
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Prezada Lu Dias
Poligamia é inerente às sociedades patriarcais. Mas a clonagem veio para nos informar que o macho não serve para nada. Porque tu achas que ela é proibida? No futuro, a mulher dominará o mundo e o macho será extinto! Viva o óvulo!
Mário
Você é sempre direto nos seus comentários, atingindo o cerne da questão. E tenha a certeza de que haverá de ser um mundo muito melhor… risos. E viva o óvulo!
Abraços,
Lu