Autoria de Lu Dias Carvalho
Fabiano parecia o mártir da amargura.
Seus calcanhares trincados sangravam.
A embira das chinelas rasgava os dedos,
fazendo fundas e doídas rachaduras.
Acolá, viu o laivo dos juazeiros distantes,
porto de esperança pra ele e sua família.
Botou de lado a canseira e os ferimentos,
aligeirou o andar e esqueceu a fome.
Na dianteira da rota, viu um canto de cerca.
A família abandonou a margem do rio seco,
encarapitou na ladeira, beirando o cercado,
até chegar à sombra dos juazeiros.
Os guris arriaram-se como trouxas no chão;
Sinha Vitória encobriu-os com seus farrapos.
A cachorra Baleia enroscou-se com o maior,
e a sombra amainou a braba expiação.
Tudo ao redor estava morto pela estiagem.
Uma fazenda sem vida em total abandono:
casa, curral, pátio e o chiqueiro de cabras,
tudo arruinado, vazio e sem o dono.
O azulado do céu cegava e endoidecia.
Sua tampa anilada baixava e escurecia,
só quebrada pelo vermelhão do poente,
e isso entrava noite e saía dia.
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