Autoria de Lu Dias Carvalho
O velho homem, com seu corpo enrugado pelo sol e com as mãos e pés calejados pelo trabalho árduo na lavoura, aproveitou o sábado para ir à cidade comprar querosene para a lamparina e outras coisinhas necessárias para não morrer à míngua, pois o salário pago pelo fazendeiro era a metade do salário mínimo vigente no país, o que já era um miserê. Mas quem há de fiscalizar a vida dos pobres coitados no interior deste mundão de meu Deus, lá onde filho chora e mãe não ouve.
Já na cidade, o homem tomou umas biritas, certamente das mais ruinzinhas e baratas, uma vez que não podia dar a si nenhum outro prazer, tamanha era a vida miserável que levava, para se esquecer um pouco das mazelas que carregava consigo. Com o sol a pino, não foi difícil a danada subir-lhe pela cachola, dando nó em seus miolos.
Um fato paralelo acontecia na cidade: a visita do deputado estadual mais votado da região para inaugurar uma ponte de dois metros de comprimento. Que perda de tempo! Mas as eleições estavam próximas e era preciso se fazer presente, de modo a não ser esquecido nas urnas. A verborragia começou a encher o ar, saindo do palanque armado no início da ponte, enquanto aguardavam a chegada do político. Foi nesse exato momento que o pobre diabo fazia o caminho de volta para seu casebre.
O lavrador, numa falha da segurança, subiu no bendito palanque e desandou a falar, pondo para fora todo o desprezo com que fora tratado pelo poder público e pela vida. Embasbacados, nenhum dos presentes conseguia tomar qualquer atitude. Mas, quando o deputado chegou, o sujeito foi retirado a toque de caixa e a empurrões pelo delegado, pois a verdade não pode ser dita a quem deve escutá-la.
Como surgiu a expressão a toque de caixa? Quem já assistiu a algum filme épico romano, lembra-se das trombetas enchendo os ares nas proclamações disso ou daquilo. Trombetas essas que foram depois substituídas pelos tambores dos muçulmanos na Europa. De modo que em Portugal, segundo dizem, durante as cerimônias públicas os indivíduos indesejáveis eram expelidos do local ao som do tambor, ou seja, a toque de caixa. Existe também outra explicação que remete ao uso dos tambores nos costumes militares, ou seja, no comando das tropas, tendo a invenção chegado à Europa, através dos muçulmanos que usavam o tambor em seus ritos religiosos e encontros militares. A toque de caixa = rapidamente, a toda pressa…
Fontes de pesquisa:
Blog Brasil Escola
A casa da mãe Joana/ Reinaldo Pimenta
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Lu
Ficou ótimo seu texto sobre a expressão “a toque de caixa”. De uma coisa eu tenho certeza: existe a necessidade de tirar muita gente do poder nesse mundo afora a toque de caixa, principalmente no Brasil.
Adevaldo
E não é que eu concordo plenamente com você?! Que rufem todos os tambores!
Abraços,
Lu