AÇÚCAR x CÁRIES DENTÁRIAS

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Autoria de Fernando Carvalho*

       

Se a humanidade quiser erradicar esta que é a mais vergonhosa, disseminada e humilhante de todas as epidemias, a solução está ao alcance da mão. Se o objetivo é resolver definitivamente o problema, deveríamos optar pela eliminação total do açúcar. (Dr. Andrew Pacheco)

 O homem das cavernas, os esquimós da Groenlândia, os araucanos do Chile, os romanos do tempo de Júlio César, os ingleses do tempo do rei Henrique VIII, os pigmeus africanos, os franceses do tempo de Carlos Magno, os chineses da dinastia Ming depois que comiam ou iam descansar, ou fazer amor, ou fazer a guerra, enquanto os nômades iam procurar outro lugar para ficar. O homem contemporâneo depois que come fica paranoico. Precisa escovar os dentes e aciona a parafernália da higiene bucal. Nenhum dos povos mencionados escovava os dentes e tinham-nos perfeitos.

Há muito tempo que se desconfia da relação entre consumo de açúcar e formação de cárie. No Brasil colonial, por exemplo, Gilberto Freyre e cronistas estrangeiros já haviam notado que o pessoal da Casa Grande, que comia muitos doces, tinha péssimos dentes, enquanto os escravos das senzalas, que chupavam cana com os dentes, os tinham brancos e saudáveis. Silva Mello cita uma pesquisa motivada pela relação observada entre péssimos dentes, comuns entre empregados de confeitarias. Por essa pesquisa, realizada in vitro, empregou-se uma solução fermentada de açúcar sobre a coroa de um dente que foi capaz de atacar e tornar áspera (desmineralizar, digo eu) a superfície da coroa dentária em um período de apenas 17 horas. Silva Mello em Alimentação, instinto e cultura, diz que, segundo investigações feitas em crânios de poucos séculos atrás, em diversas regiões da Europa, as cáries são raríssimas, e isso apesar da diversidade de alimentação e da ausência de toda e qualquer utilização de higiene dentária. O médico americano Weston Price, autor de Nutrition and phisical degeneration, pesquisou e descobriu que o índice de cáries entre os povos primitivos é de 1%.

Hoje é científico, sabe-se que, sem sombra de dúvidas, a cárie dentária resulta da combinação dos fatores: dente + bactérias cariogênicas. A participação dos microrganismos ficou demonstrada por pesquisas em ratos nascidos por cesariana e criados em câmaras assépticas, portanto livres de germes. Nesses animais não se formava a cárie, embora recebessem dieta cariogênica rica em carboidratos. Se, entretanto, na saliva eram introduzidas bactérias, ao cabo de certo período apareciam indícios de cárie. Ficou constatado que a cárie não aparecia quando a dieta cariogênica era levada diretamente ao estômago dos animais através de sondas. Por meio dessas pesquisas chegou-se à brilhante conclusão de que a existência das cáries se deve ao binômio bactérias/carboidratos. O que faz com que os carboidratos sejam cariogênicos é a presença do açúcar refinado. A sacarose é a única molécula capaz de produzir a placa bacteriana.

A bactéria mais popular é a Streptococcus Mutans, tão generalizada na boca de todos, graças dieta açucarada que constitui a flora bacteriana bucal. Em colônias chamadas placas bacterianas, com a ajuda do açúcar, elas produzem ácidos que irão desmineralizar o esmalte dos dentes e depois furá-lo. Outras bactérias são atraídas para essa festa, aumentando a espessura da placa e conferindo-lhe consistência gelatinosa. O personagem principal é o açúcar – sem ele o espetáculo não acontece. Mas se você tiver uma boca cheia de dentes e de bactérias e não ingerir açúcar, as bactérias não conseguem produzir cárie. Sem açúcar na comida você pode se dar ao luxo de jantar e ir dormir sem necessidade de escovar os dentes. Você não pode comer também porcarias açucaradas tipo refrigerantes, sorvetes, bolos, balas, biscoitos recheados, doces, etc.

O açúcar é condição sine qua non para que a cárie seja produzida. A sacarose serve de substrato para que as bactérias se fixem na superfície dentária. Sendo altamente energética, a sacarose ajuda a Streptococcus Mutans a produzir mais ácidos que irão destruir o esmalte dos dentes. Você pode consumir quaisquer outros açúcares (frutose, glicose, galactose, maltose, lactose, etc.) que com eles a dona S. Mutans não conseguirá produzir cáries. É um caso pessoal, o parceiro dela é o açúcar refinado e fim de papo.

O doutor Andrew Pacheco explica: “Se não houver açúcar na dieta do bebê, os tipos de bactéria que vão iniciar a colonização sobre os dentes não são cariogênicos. Quanto mais tempo essas bactérias não cariogênicas puderem permanecer na boca, sem que as bactérias causadoras de cárie se estabeleçam, melhor. Os dentes vão se tornar mais fortes através de uma maior maturação do esmalte dentário. Os dentes, logo que erupcionam são mais passíveis de se cariarem. O tecido dentário é mais poroso nessa época, menos mineralizado, e, portanto, se logo ao nascerem já houver açúcar na alimentação, a cárie se instala rapidamente e destrói os dentes. As bactérias normais da flora bucal vão competir e tentar impedir que as bactérias cariogênicas se instalem, mas vão perder, graças ao açúcar”.

O açúcar é tão cariogênico que não precisa sequer tocar nos dentes para provocar cárie. Não nos esqueçamos também que a saúde começa pela boca e que a cárie dentária abre essa porta por onde passam muitas outras doenças. A bactéria cariogênica  Streptococcus mutans passou a colonizar a cavidade bucal depois da queda no pH promovida pela ração açucarada. Ela foi descoberta pela primeira vez na boca de um menino inglês no século XIX. A cárie é uma doença infecciosa crônico-degenerativa. O que faz com que ela se multiplique e seja promovida ao time das bactérias indígenas, passando a ser dominante na flora bucal é o “doce” ambiente proporcionado pela dieta açucarada moderna. Ou seja, o açúcar primeiro cria o exército inimigo e ainda oferece as armas para a produção da cárie dentária.

*Autor do livro “O Livro Negro do Açúcar”, presente no Google em PDF.

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2 comentaram em “AÇÚCAR x CÁRIES DENTÁRIAS

  1. Hernando Martins

    Fernando

    Excelente texto sobre o mal que o açúcar faz aos dentes e também à saude como um todo. No Brasil usa-se muito açúcar na dieta alimentar da população. É preciso conscientizar que o açúcar é muito prejudicial, devendo orientar as pessoas desde criança, prevenindo de problemas futuros. Em países desenvolvidos como a Suíça, usa-se pouco açúcar na dieta. Uma amiga esteve lá e foi num aniversario infantil e levou brigadeiro, mas as crianças de lá não comeram, eles degustaram fatias de pepino, que adoram! Achei isso incrível! Tudo é questão de hábito, “o hábito faz o monge”. Parabéns pelo texto!

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  2. Lu Dias Carvalho Autor do post

    Fernando

    Este texto é muito elucidativo no que diz respeito ao aparecimento das cáries. A explicação do Andrew Pacheco sobre o açúcar na alimentação dos bebês é de fundamental importância. Todas as mães deveriam ter conhecimento sobre o assunto. Parabéns pela clareza!

    Abraços,

    Lu

    Responder

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