Autoria de Carlos Drummond de Andrade
Mineiro sou e mineiro continuarei, com a graça de Deus, em qualquer virada. Não me venham dizer que mineiro vivendo fora de Minas é um traidor. Viver aqui ou ali não passa de contingência, mas o essencial é ter nascido aqui e não ali ou em Singapura.
Não há nenhum mistério em ser mineiro. Há uma doce satisfação em estar ligado a paisagens, figuras humanas coisas e modos de ser, de agradável lembrança, como:
- as montanhas que sugerem cismas altas e purificação de espírito;
- o Rio São Francisco, que define o Brasil;
- o alferes Tiradentes, que define a liberdade;
- o iluminado Aleijadinho, pai geral dos artistas brasileiros;
- Marília inconsolada e Dona Beja exuberante;
- o místico Alphonsus de Guimaraens e o neo-jagunço Guimarães Rosa;
- seresteiros de Diamantina e Montes Claros;
- criadores de boi e de mula, pacientes e sóbrios;
- cultivadores de milho, símbolos de fartura da mesa universal;
- mineradores e garimpeiros antigos e modernos, que suam e sonham com o Eldorado;
- o calmo andar pelas ruas e a adaptação fácil a tempos de competição industrial;
- os crepúsculos inenarráveis de Belo Horizonte;
- o bolo de feijão bem apimentado, a cachacinha confiável, o café adoçado com rapadura, e tanta coisa mai
Mineiro é simples, não simplório. Quando há uma conspiração mundial contra a simplicidade, o mineiro parece esquisito. Não é não.
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