Autoria de Lu Dias Carvalho
Não devemos acreditar nos muitos que dizem que só as pessoas livres devem ser educadas, devíamos antes acreditar nos filósofos que dizem que apenas as pessoas educadas são livres. (Epicteto).
Um escravo deve saber apenas obedecer ao seu senhor – deve cumprir as ordens. O conhecimento o estragaria. Aprender a ler o inutilizaria para sempre como escravo. (Capitão Hugh Auld)
Os livros são essenciais para compreender o mundo e participar de uma sociedade democrática. (Carl Sagan)
A escravidão (escravatura, escravismo, escravaria, escravagismo, etc.), esta prática social abjeta, através da qual um ser humano assume os direitos de propriedade sobre outro, quer seja através da violência física, moral ou econômica, é uma mancha monstruosa na história da humanidade e que ainda se perpetua mundo afora como se fosse algo totalmente normal. Mesmo em países em que o escravismo é tido como inconstitucional, muitas vezes observamos que foi mudada apenas a sua roupagem, pois agora os cativos servem principalmente no campo da industrialização, escondidos, muitas vezes, nas barbas da lei que os ignora ou nada faz.
A subjugação de outros seres humanos em tempos idos (e ainda hoje em inúmeros países) dava-se incutindo na cabeça dos escravos a ideia de que já nasciam submissos (ver dalits e o sistema de castas na Índia). Isso era dito nos púlpitos das igrejas, nos tribunais e em toda a sociedade. Passavam-lhes a noção de que essa era a “vontade de Deus” – garoto propaganda incumbido de justificar todos os desmandos humanos. Diferentes livros sagrados, contendo as normas de cada credo, também assim apregoavam. E não pensem que a Bíblia dos cristãos ficou de fora. É possível encontrar em muitas de suas páginas a clara aceitação da servidão e da sujeição humana.
O saber era vedado a homens, mulheres e crianças escravizados, a fim de que pudessem continuar aceitando o cativeiro, mas, para isso, fazia-se necessário mantê-los analfabetos. O sistema dominante tinha a clareza de que o saber levava ao pensamento crítico – única força libertária que quebra as correntes da ignorância e do jugo, seja ele qual for. Havia, à época, severas penalidades para quem ensinasse um escravo a ler. E os que o faziam, faziam-no às escondidas.
O conhecimento, admitia os adeptos da escravatura, abriria os olhos dos escravos em relação à submissão odiosa a que eram submetidos. Por isso, combatiam tenazmente o saber, pois esse ajudaria os cativos a pensar, encaminhando-os à liberdade. Portanto, era necessário manejar o que as pessoas ouviam, viam ou pensavam. Era preciso mantê-las fechadas no cárcere da ignorância, trancafiadas nos grilhões da estupidez mental. Os livros eram um inimigo do sistema escravagista, devendo ser combatidos.
O estadunidense Frederick Douglass Bailey (1818-1895), criado como escravo – um dos maiores oradores, escritores e líderes políticos na história norte-americana – deixou claro que a alfabetização, às escondidas, foi o caminho para a sua liberdade. E foi enfático ao dizer que “O sistema dominante achava que para criar um escravo satisfeito era necessário criá-lo estúpido. Seria necessário obscurecer a sua visão moral e intelectual e, na medida do possível, aniquilar o poder da razão”.
Não nos esqueçamos nunca de que os conservadores mesquinhos, dominadores e descompromissados com as mudanças sociais sempre viram na capacidade de ler e no conhecimento advindo dos livros (e hoje da mídia progressista) um inimigo extremamente perigoso, uma ameaça ao seu poder. Possuem a convicção de que saber ler, pensar, ter autocrítica ainda é o caminho mais eficaz em direção à liberdade – não estão errados, pois a educação é um fator de libertação.
Para reflexão, deixo abaixo o pensamento de Carl Sagan:
“As rodas dentadas da pobreza, ignorância, falta de esperança e baixa autoestima se engrenam para criar um tipo de máquina do fracasso perpétuo que esmigalha os sonhos de geração a geração. Nós todos pagamos o preço de mantê-la funcionando. O analfabetismo é a sua cavilha. Ainda que endureçamos os nossos corações diante da vergonha e da desgraça experimentadas pelas vítimas, o ônus do analfabetismo é muito alto para todos os demais – o custo das despesas médicas e hospitalizações, o custo do crime e prisões, o custo da produtividade perdida e inteligências potencialmente brilhantes que poderiam ajudar a solucionar os dilemas que nos perseguem.”
Ilustração: Frederick Douglass, cerca de 1874.
Fonte de pesquisa
O mundo assombrado pelos demônios/ Companhia de Bolso
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Estou preparando um tema de redação para meus alunos e me deparei com esse texto de Carl Sagan no Virus da Arte! Não conhecia esse texto. Ele me trouxe muitas inspirações para levar como reflexão aos estudantes!
Lourdes
É um prazer recebê-la neste espaço. Sou uma grande fã de Carl Sagan e tenho mais textos aqui relativos a ele. Também sou professora de Língua Portuguesa e revisora de textos. Seja sempre bem-vinda.
Abraços,
Lu
Lu
Usarei este material em sala de aula.
José Hugo
Alegra-me o fato de saber que este texto o ajudará em sala de aula. Existem outros textos inerentes ao brilhante Carl Sagan. Fale deste espaço para os seus alunos.
Abraços,
Lu