ANTÔNIO MONIZ VIANNA – CRÍTICO DE CINEMA

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Autoria de Lu Dias Carvalho

Moniz
O cinema é uma arte industrial. Todas as artes estão se tornando ou comerciais ou industriais. Mas o fato de o cinema ser uma arte industrial não depõe muito contra ele. A arte pela arte não existe! Se existe, não prospera. O cinema teve que cumprir a trajetória de todas as outras artes. É claro que se baseando nelas também. O cinema se baseia na literatura. O cinema utiliza música. O cinema utiliza técnicas de teatro também. O cinema é uma arte! (Antônio Vianna Moniz)

O brasileiro Antonio Moniz Vianna (1924-2009) foi um importante crítico de cinema, trabalho iniciado aos 21 anos de idade. Desde muito cedo desenvolveu um grande apreço pelo cinema estadunidense, em especial pelo diretor John Ford. Aos 12 anos de idade, Moniz Vianna foi marcado pelo filme O Delator, e na adolescência por Longa Viagem de Volta e Vinhas da Ira, os três de John Ford. Também considerava o filme Aurora, obra de Wilhelm Murnau, maravilhoso, assim como Como Era Verde o Meu Vale (John Ford), que “quando termina a gente está chorando.”. Para ele, o cinema deve provocar emoção e reflexão, pois “Você não se emociona sem pensar. A emoção e a reflexão podem caminhar juntas. Sem pensar, você não consegue nada, não chega a lugar nenhum.”. Segundo dizia Moniz Vianna, a década de 30 foi a mais importante para o cinema, “quando foram criados todos os gêneros”.

Antonio Moniz Vianna foi entrevistado pelo jornalista Evaldo Mocarzel (críticos.com.br), três anos antes de sua morte em 2009. Na ocasião falou claramente sobre sua visão de Cinema. Abaixo, alguns trechos de suas respostas:

Advento do som no cinema – O advento do som atrapalhou o cinema inicialmente. Muito. Mas menos de dois anos depois, tudo isso já estava sendo superado. E foi sendo superado gradativamente. O som, praticamente, só dominou o cinema em 1929. Surgem os primeiros homens de cinema que transcendem essa barreira do som. No começo, foi aquela confusão, ninguém sabia como fazer o som. Aí vieram o Ernst Lubitsch, o Rouben Mamoulian, o Josef Von Sternberg e o Howard Hawks com Scarface. Vieram muitos. Veio o musical, que era impossível no cinema mudo e que não chegava a ser um gênero no começo do cinema falado, porque era só colocar a câmera diante do palco e filmar a dança. Depois veio o Busby Berkeley, que era um gênio! Então toda a linguagem, que se entende como a do cinema, até hoje, ela vem do cinema mudo, que, sobretudo nos últimos anos, estava no máximo. Não foi só Aurora, que é de 1927. Teve também O Sétimo Céu, os filmes de Sternberg, O Anjo Azul e vários outros. Tem o grande expressionismo alemão, que correu na década de 20 até o começo dos anos 30.

Cinema soviético – Eisenstein é um grande diretor. Mãe, do Pudovkin, é um grande filme. Dovjenko tem filmes bonitos, poéticos, sobretudo Terra. Até o primeiro filme de Eisenstein, Greve, eu acho muito bom, mas é muito pouco visto, pois todo mundo só fala de O Encouraçado Potemkin, Outubro e Ivan, o Terrível. As teorias de montagem de Eisenstein começam em Greve e chegam ao seu apogeu em O Encouraçado Potemkin e Outubro.

Expressionismo alemão – Foi um grande momento do cinema. Acho que influenciou muito o cinema. Um filme como A Última Gargalhada, de Murnau, é uma obra-prima mesmo. Há outras. Variété, de Ewald-André Dupont, por exemplo. Depois muitos expressionistas foram para Hollywood, como Murnau. Dupont foi também, fracassou, voltou e  nunca mais acertou a mão.

Cinema contemporâneo – Gostei muito de Pulp Fiction. Achei um filme bem interessante. Kill Bill eu detestei. Gosto muito de Woody Allen. O que eu mais gosto dele é Hannah e Suas Irmãs. Acho uma beleza de filme. Com todas as qualidades dele e mais ainda com todas as qualidades humanas que o filme tem. Também acho A Rosa Púrpura do Cairo um ótimo filme. Muito bom, embora se pareça muito com um filme de Buster Keaton, que foi um gênio do cinema.

Cinema brasileiro – Eu gosto de O Cangaceiro e acho o Lima Barreto um gênio, que não conseguiu se expressar pelo temperamento dele e pela situação do Brasil que não era boa para cinema. Glauber?! Terra em Transe é um filme de que não gosto nada! Eu gostei de Deus e o Diabo dentro do panorama do cinema brasileiro. É diferente. Humberto Mauro tem um papel importante no começo do cinema, tentando criar um cinema no Brasil. Não conseguiu. Ele fez aqueles filmes no começo da década de 20 e começo da década de 30 e depois parou. Mário Peixoto, eu o conheci muito, pois me dava muito com ele. Gosto de Limite. É uma experiência, uma daquelas coisas daquela época. Gosto também do Walter Hugo Khoury, tinha coisas boas. Eu gosto do cuidado que ele tinha com a produção, com o lado visual. Ele era um diretor cuidadoso.

Cinema novo – Palhaçada. Eles não tinham preparo para fazer cinema.

Lista de melhores filmes – Eu tenho verdadeiro horror a essa história de quais são os dez mais! Já me pediram várias vezes, mas eu, por uma questão de educação, respondi. No fim de vinte anos, eu fui olhar as minhas listas e nenhuma era igual à outra. Havia alguns filmes que figuravam em todas. Mas é muito difícil dizer que esse filme é melhor do que esse outro!

O cinema atualmente – O que é o cinema hoje? Está nos shoppings. Nos multiplexes, que são shoppings. Quer dizer: é uma loja onde tem um lugar reservado para vender pipoca. Nas cadeiras, há o lugar para você colocar o copo de coca-cola. E você está no shopping. Comprou ali uma camisa, um negócio qualquer. E agora vamos entrar nessa loja aqui que é um cinema. O filme escapar de tudo isso, e ainda ser bom, é muito difícil! Há pouco tempo eu vi um filme bom, embora dentro dessa coisa que a gente está falando, que foi O Pianista, de Roman Polanski. Um filme feito como um grande espetáculo perde muito na tela pequena. Mas os outros, não. Filmes intimistas não perdem nada em tela pequena. Ou perdem muito pouco.

Gênero de filmes – Há filmes que se ajustam a determinados gêneros. E há outros que não têm gênero. Por exemplo: Scarface é um filme de gangster, não é? Um Americano em Paris é um musical, não é? Mas Cidadão Kane, o que é? Qual é o gênero? Não tem. E não precisa ter. Documentário não é o meu gênero favorito. Não me atrai. Um documento histórico, educativo, isto sim. Mas documentário para fazer arte?! Vai fazer arte de outra forma! Documentário para informar, isso é perfeito! Para registrar, para informar, aí sim.

Tecnologia – Toda pessoa da minha idade tem resistência à tecnologia, ou melhor, aos excessos tecnológicos. Tudo digitável… Tenho uma enorme antipatia por isso! Daqui a pouco vou começar a achar o mundo inabitável. Por exemplo, você liga o telefone e não fala mais com ninguém. O elemento humano está desaparecendo. Você liga e aí vem uma voz que te diz para discar 1 para ver se a conta está atrasada… Disque 2 para… Até disque 7, porque não tem ninguém para falar com você. Isso causa enorme desemprego e toda essa balbúrdia social que a gente vive. E essa chateação terrível do disque 1, disque 2, disque 3, disque 4… E a falta de contato humano. Como é que você reclama uma coisa? Não consegue. Tenho celular e acho importante. Porque às vezes as pessoas precisam ser localizadas com certa urgência. Não é para conversar, não. Para marcar encontros. Para falar dois, três minutos. Celular é muito importante!

Resumo biográfico:
Antonio Muniz Vianna nasceu em Salvador, Bahia, em 1924 e mudou-se aos 11 anos para o Rio de Janeiro, onde viveu. Era médico, mas suas principais atividades sempre foram o jornalismo e o cinema. De 1946 a 1973, fez crítica no extinto Correio da Manhã (do qual foi redator-chefe em 1962-63), organizou grandes retrospectivas dos cinemas americano, francês, italiano, inglês e russo no MAM carioca (1958-62) e dirigiu as duas versões do Festival Internacional de Cinema do Rio (1965-1969). (Companhia das Letras)

Fontes de pesquisa
Criticos.com.br
Companhia das Letras

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