Arquivo do Autor: Lu Dias Carvalho

Rousseau – A SELVA EQUATORIAL

Autoria de Lu Dias Carvalho

A composição A Selva Equatorial, também conhecida como Paisagem Exótica II, é uma obra do pintor francês Henri Rousseau, que traz como tema a selva. O artista criou um total de vinte e seis telas com temas relativos a florestas exóticas. É  interessante notar que, de um quadro para outro, a sua criatividade foi ficando cada vez mais aguçada. Este é um dos últimos trabalhos do pintor inspirados em tal temática.

Em sua pintura, Rousseau apresenta uma selva exótica, repleta de densa folhagem, cheia de bichos sempre à espreita de suas caças. Não é possível identificá-los, pois são produtos da imaginação criativa do pintor que, durante toda sua vida na cidade de Paris, conservou a ingenuidade de sua criação. Chama a atenção a sua maravilhosa assinatura na base inferior, à direita desta composição.

O artista que foi escarnecido, ridicularizado e servido de motivo de chacota no século XIX, passou a causar um grande sentimento de admiração na vanguarda artística, no início do século XX.

Ficha técnica
Ano: 1909
Técnica: óleo sobre tela
Dimensões: 68 x 91,5 cm
Localização: Galeria Nacional de Art, Washington, EUA

Fontes de pesquisa:
Enciclopédia dos Museus/ Mirador

O GRANDE “PIÃO” TERRESTRE (IV)

Autoria do Prof. Rodolpho Caniato  A Eclíptica

Você certamente sabe que uma bicicleta se equilibra mais facilmente em movimento que parada. Isso porque uma roda em rotação tende a manter a direção de seu eixo. É sabido também que se você atirar um disco, deve fazê-lo rodar: rodando ele tende a manter o plano em que está girando, independentemente de seu deslocamento. Isso tem a ver com as mesmas causas que fazem um pião manter-se de pé enquanto estiver rodando. Parado, ele cai. O pião, enquanto estiver rodando, vai fazer também aquele “bamboleio” característico de seu eixo.

Vale a pena voltar a um experimento clássico para entender a precessão.  Imagine uma roda de bicicleta com apenas um pedaço de eixo saliente para cada lado, de tal maneira que você possa segurar com cada uma de suas mãos cada uma das extremidades do eixo, mantendo a roda entre seus braços. Se a roda não estiver girando, você poderá deslocá-la em qualquer direção assim como mudar a direção do eixo. Imagine agora que a roda é posta a girar. Você poderá ir para frente, para trás, para cima e para baixo, sem que nada tenha mudado por conta da rotação da roda. Você também pode mudar a direção do eixo: “torcer” o eixo para qualquer outra direção. Enquanto você segura a roda pelas duas extremidades do eixo, peça a alguém que faça a roda girar com a maior velocidade possível. Repita os movimentos para frente, para trás, para cima e para baixo. Tudo será como quando a roda estava parada.

Agora, atenção! Com a roda ainda girando, tente mudar a direção do eixo… você agora vai notar que algo muito “diferente” acontece… o eixo “resistirá” e “reagirá” de forma diferente daquela de quando a roda estava parada.  Repita o experimento e notará que quando você o torce o eixo, ele “quer fazer” um “bamboleio”. É esse mesmo efeito que se aplica sobre a Terra, ou melhor, sobre o “pneu” de seu inchaço equatorial. Sem esse “inchaço” o eixo de nosso “pião” terrestre não ficaria sujeito a torção para “bambolear”.

A maior parte dessa torção é devida à maior força de atração exercida sobre a Terra que é a atração do Sol. Em menor escala, a da Lua também contribui para esse efeito. Se a Terra fosse perfeitamente esférica todas essas forças, mesmo existindo da mesma maneira, com a mesma intensidade, não teriam como fazer “torcer” o eixo da Terra. Assim seu eixo continuaria sempre na mesma direção. É o maior diâmetro equatorial da Terra, o seu “inchaço” equatorial, a condição que faz aparecer o torque que  produz o “bamboleio” de seu eixo . A parte mais importante desse “bamboleio” ou precessão é a  mudança lenta na direção do eixo  de nosso “pião” terrestre.  É essa lenta mudança na direção do eixo da Terra que, levando consigo seu equador, produz o deslocamento do encontro deste, equador, com o plano da órbita terrestre, a eclíptica.

Agora então, você pode entender que o eixo do inchaço da Terra, assim como o eixo da roda de bicicleta, sujeito ao torque (de torcer), faz um “bamboleio”, como e eixo de um pião. Fazendo esse “bamboleio” a Terra leva seu equador e, por isso, faz mudar o encontro deste com o plano da eclíptica. Você pode visualizar esse movimento espetando qualquer bolinha por uma agulha de tricô.  A agulha serve para materializar o eixo de sua “Terra”. Segurando as extremidades da agulha você pode reproduzir a “bamboleio” do eixo fazendo cada uma das extremidades descreva uma circunferência.

Hoje sabemos que a mudança de direção do eixo é um pouco maior (50´´/ano) que a encontrada por Hyparco (46´´/ano).  Isso significa que uma única volta desse “bamboleio” leva cerca de 26.000 anos para se completar. Mesmo passados os cerca de 2200 anos depois de Hyparco, o eixo de nosso “pião” terrestre mudou sua direção em menos de 1/12 da volta.  É esse deslocamento que fez o ponto equinocial recuar sobre a eclíptica, passando da constelação de Áries para Peixes, quase na constelação de Aquário. Voltando à sua agulha de tricô, você pode reproduzir esse efeito, rodando cada uma das extremidades de agulha. Assim você estará materializando o cone imaginário descrito pelo eixo, também imaginário, enquanto gira. O que quer dizer que o ponto vernal ou equinócio se moveu pouco menos que a amplitude de um “signo”, 1/12 da volta em pouco mais de 2.000 anos.

Weyden – RETRATO DE UMA SENHORA

Autoria de Lu Dias Carvalho

A composição denominada Retrato de uma Senhora, também conhecida como Retrato de uma Dama, é uma obra-prima do pintor nórdico Rogier van der Weyden. É tida como o melhor dos retratos feitos pelo artista, cuja maestria de retratar igualava à de Jan van Eyck. Foi executado após a volta do pintor de uma viagem à Itália, onde recebeu muitas influências. É um exemplo da elegância abstrata característica dos retratos tardios de Rogier. A modelo pode ter sido Marie de Valengin, filha “ilegítima” de Filipe, o Bom, Duque de Borgonha.

A jovem retratada, com suas características suaves e arredondas, apresenta-se diante de um fundo liso e escuro, o que lhe dá ainda mais projeção. Ela se mostra concentrada e sóbria. Não olha para o observador, mas mostra-se recolhida em seu próprio mundo, com os olhos voltados para baixo, denotando um caráter fechado. Os olhos cansados, os lábios unidos e os dedos tensos refletem a sua concentração mental. A postura firme de suas mãos é reminiscente dos retratos góticos germânicos.

A mulher usa um bem elaborado toucado branco e transparente na cabeça, que serve de modelagem e fundo para o rosto. Traz as mãos juntas, em forma de pirâmide, que se assemelha à pirâmide maior, composta por toda a sua figura. Na mão direita, apoiada sobre a esquerda, ela apresenta uma aliança de casada e no dedo mindinho da mão direita usa um anel com a marca de uma cruz. O enorme toucado que lhe cobre as orelhas, desce-lhe pelos ombros e costas. Seus cabelos estão arranjados para trás e sua testa longa, com os cabelos arrancados, é uma moda da época. As roupas são bem elaboradas. Um cinto vermelho com fivela de ouro trabalhada mostra se tratar de um membro da nobreza da corte de Borgonha.

Este retrato é bem parecido com outro feito pelo pintor, com uma mulher um pouco mais jovem, levando o quadro o mesmo título e ano, porém, sendo menos elaborado do que este. De maneira geral, os retratos de mulheres do Weyden são bem parecidos, tanto em conceito quanto em estrutura. Os traços fisionômicos das retratadas são sempre muito semelhantes.

Ficha técnica
Ano: c.1460
Técnica: óleo sobre painel
Dimensões: 37 x 27 cm
Localização: Galeria Nacional de Art, Washington, EUA

Fontes de pesquisa:
Enciclopédia dos Museus/ Mirador

Ticiano – SÃO JERÔNIMO PENITENTE

Autoria de Lu Dias Carvalho

A composição São Jerônimo Penitente é uma obra do pintor italiano Ticiano Vecellio. O artista acrescentou, mais tarde, a parte recurva do painel, conforme mostram cópias da pintura. Na sua pintura, Ticiano opta pelo estilo monumental, sem preconceitos retóricos. Mostra uma liberdade lírica, dando ênfase à forte emoção visual. Essa obra tornou-se tão famosa, que numerosas cópias, réplicas e imitações dela foram feitas, podendo ser citada uma de Peter Paul Rubens e outra de Busasorzi. O pintor pintou outros quadros com o mesmo tema.

A pintura apresenta o asceta São Jerônimo,  seminu, meio ajoelhado numa clareira. O pôr do sol banha o local, iluminando as pedras e o corpo do santo que se flagela diante do crucifixo de Cristo, preso num tronco de árvore. Sua mão esquerda se segura numa rocha, enquanto a direita empunha uma pedra redonda, instrumento de seu suplício.

O asceta encontra-se vestido apenas com um pano vermelho, enrolado na cintura, que desce até o chão da clareira.  Deitado na parte direita inferior da tela está a parte dianteira do corpo  do leão que dorme tranquilamente, sendo ele um atributo do santo. Atrás de São Jerônimo, sobre as rochas, estão seus livros de oração, o que parece ser um cálice e uma caveira, símbolo da transitoriedade da vida.

Ficha técnica
Ano: c. 1560
Técnica: óleo em tela
Dimensões: 125 x 235 cm
Localização: Museu de Brera, Milão, Itália

 Fontes de pesquisa
1000 obras-primas da pintura europeia
Enciclopédia dos Museus/ Mirador

O GRANDE “PIÃO” TERRESTRE (III)

Autoria do Prof. Rodolpho Caniato

A Gravitação de Isaac Newton

Embora caiba a Hyparco a glória da descoberta da precessão dos equinócios, ainda permaneceria desconhecida por muitos séculos a causa para esse deslocamento. Isso só se tornaria possível depois da descoberta da Gravitação de Isaac Newton, em 1687. A partir daí toda “mecânica” dos corpos celestes passava a ser explicável com as mesmas leis que se aplicam aos fenômenos mecânicos conhecidos aqui na Terra: a mecânica agora funcionava “assim no céu como na Terra”. Entre os corpos celestes, agora muita coisa ficava explicada com a força da atração GRAVITACIONAL. A órbita quase circular da Terra ao redor do Sol ficava explicada pela força de atração gravitacional entre ambos, Terra e Sol. Com a, então nova, Gravitação também ficava previsível (embora ainda não medido), o maior diâmetro da Terra na região do seu equador.

A Terra então não deveria ser perfeitamente esférica mas um pouquinho achatada nos polos; seu diâmetro no  equador deveria ser um pouco maior que o diâmetro nos Polos. Esse achatamento nos Polos teria que acontecer devido à rotação da Terra, previsão já feita e justificada por Newton. As medidas um pouco mais tarde confirmaram aquilo que a Gravitação de Newton previra como efeito da rotação do nosso planeta. Logo que a Mecânica de Newton se refinou e avançou, especialmente pela contribuição de alguns grandes matemáticos franceses (Poisson, D´Alambert, Lagrange e Laplace), muitas outras coisas foram sendo descobertas, explicadas ou previstas: a mecânica das rotações, por exemplo.

Logo depois da publicação das ideias da Gravitação de Isaac Newton (1686), com a ajuda de Edmund Halley, iniciou-se uma grande busca e muitos astrônomos passaram a procurar as consequências das então novas ideias. Destacou-se nessa ocasião o sucessor de Edmund Halley (na direção do Observatório Real de Greenwich, James Bradley (1693-1762). Ele buscava o que imaginava ser a primeira consequência imediata do deslocamento da Terra em sua órbita: a paralaxe anual das estrelas. Suas trabalhosas e demoradas buscas acabaram por encontrar outras coisas também importantes, ainda muito antes de se encontrar o que era o primeiro propósito da busca. Uma delas foi a chamada nutação: efeito combinado  do Sol e da Lua que provocam um efeito adicional ao “bamboleio” do eixo.

Enquanto vai fazendo a volta principal que gera o cone, o eixo faz também outros pequenos “balanços”: um para frente e para trás, combinado com outro para os lados. O pequeno balanço “para frente para trás  tem um período de 18,5 anos. Sua amplitude “para frente para trás” é de 18´´ e de 14´´ para os lados.   Esse pequeno movimento elíptico da extremidade de sua agulha de tricô, faz com que aquela superfície cônica que você imaginou fazendo a rotação das extremidades da agulha, se transforme  numa superfície cônica mas  levemente ondulada. Existem ainda outras componentes menores nesse complicado “bamboleio” do nosso grande “pião” terrestre em seu complexo movimento que nos leva a bordo, sem pressa, pelo espaço afora.

Hans Memling – O TRÍPTICO DONNE

Autoria de Lu Dias Carvalho

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A pintura denominada O Tríptico Donne, também conhecida como A Virgem e o Menino com Santos, é um tríptico do pintor alemão Hans Memling (c.1433 – 1494), cuja obra encontra-se no ponto de transição do Gótico para o Renascimento. Presume-se que ele possa ter sido aluno de Rogier vander Weyden. O artista foi dono de um estilo próprio, onde se destacaram suas figuras graciosas, cores ricas e detalhes minuciosamente trabalhados.

A Virgem e seu Menino encontram-se na parte central do tríptico, rodeados por dois anjos e duas santas. Maria está sentada sobre um trono, coberto com um dossel vermelho, trazendo o Menino Jesus sentado em seu colo, nu, com uma mãozinha no seu livro de orações, e a outra levantada em forma de bênção (ou para pegar a fruta que lhe oferece o anjo). As santas Catarina e Bárbara estão de pé, ladeando a Virgem e o pequeno Jesus, assim como dois anjos músicos com suas asas azuis.

Diante do trono, ajoelhado, juntamente com sua esposa Elizabete e filha, está o doador da obra – Sir John Donne. Ele usa roupas escuras, enquanto sua esposa usa um vestido de cor púrpura, adornado com um colar com um medalhão. A família ostenta riqueza. Santa Catarina apresenta Sir John à Virgem, enquanto santa Bárbara apresenta Lady Donne e sua filha Anne, a mais velha do casal.

No painel, à esquerda, está São João Batista com um cordeirinho branco (símbolo da Paixão de Cristo) no braço esquerdo, enquanto aponta para ele com a mão direita. Ao fundo vê-se uma figura com um gorro vermelho, é a do próprio pintor, responsável pela obra. No painel, à direita, está São João Evangelista, segurando um cálice. Os dois santos são intercessores do doador.

O reverso dos dois painéis que compõem a pintura central também é decorado com estátuas simuladas dos Santos Cristóvão e Antão Abade, o que indica que eram usados tanto abertos quanto fechados. Uma bela paisagem é vista no fundo da pintura da parte central e da pintura das asas do tríptico: um homem montado em um cavalo, um moleiro descarregando um saco de trigo de seu jumento, uma roda d’água de um moinho (atributo de Santa Catarina), uma torre (atributo de Santa Bárbara), árvores, etc.

Ficha técnica
Ano: c. 1475-80
Técnica: óleo sobre madeira
Dimensões: 71 x 68 cm (painel central)/ 71 x30 (painéis laterais)
Localização: Galeria Nacional, Londres, Grã-Bretanha

Fonte de pesquisa
Enciclopédia dos Museus/ Mirador
1000 obras-primas da pintura europeia/ Könemann
https://www.nationalgallery.org.uk/paintings/hans-memling-the-donne-triptych