Autoria de Lu Dias Carvalho
As mulheres que não estavam em conformidade com as normas da sociedade puritana eram mais propensas a ser alvo de uma acusação, especialmente aquelas que eram solteiras ou não tinham filhos. (Roach, Marilynne K.)
Tornou-se célebre na América do Norte e em todo o mundo o julgamento das “bruxas de Salém” (Salem – atual Danvers, Massachusetts/Estados Unidos), expressão que ainda perdura na oratória política e na literatura. Ali, no final do século XVII, foram criados uma série de audiências e processos contra pessoas acusadas de bruxaria, sendo muitas delas executadas em nome da fé cristã.
A maioria (78%) dessas vítimas eram mulheres. A crença e a cultura puritana predominantes à época acreditavam que as mulheres já traziam em si o “germe do pecado”, sendo, portanto, mais suscetíveis a ele e, consequentemente, mais suscetíveis à condenação do que os homens. Acreditavam os fanáticos que o diabo apreciava mais as mulheres e, por isso, elas se tornavam mais desprotegidas em seus corpos fracos e vulneráveis. Criadas dentro deste contexto cruel, não nos causa surpresa o fato de que o número de mulheres que admitiam estar sendo tomadas pelo diabo fosse quatro vezes maior do que o dos homens. Todo tipo de fanatismo elimina a capacidade crítica da pessoa, tornando ela um joguete nas mãos dos espertalhões. Cuidado!
Naquele contexto de horror, quanto mais absurda fosse a prova atribuída à vítima, mais credibilidade recebia, sob a alegação de que o diabo era ardiloso, cheio de artimanhas, capaz de articular o inconcebível. Conta-se que um marido alegou que sua esposa não era uma bruxa, pois dormia com ele quando foi acusada de encontrar-se num sabá* das bruxas, mas recebeu dos inquisidores a resposta de que um demônio havia ocupado o lugar dela na cama, sendo ele (o marido) incapaz de reconhecer os poderes de simulação de Satã, ao simular ser a mulher. E mais, alegavam eles que inquisidores e torturadores, assim como os carrascos, cumpriam ordens de Deus, a fim de salvar as pobres almas e derrotar os demônios.
Tais acontecimentos alertam-nos para o perigo que é a união entre Religião e Estado. Neste casamento vil e amedrontador as maiores vítimas acabam sempre sendo as mulheres, tidas por diversos credos religiosos como inferiores aos homens e manipuláveis pelo diabo. Observe, leitor, a hierarquia das Igrejas e veja como o gênero feminino não é bem-vindo em cargos mais altos. As práticas abusivas direcionadas às mulheres são tidas como “altruístas”, com a finalidade de protegê-las disso ou daquilo, como se capacidade intelectual não tivessem. Os charlatões, entranhados no cerne de diversas religiões, apregoam agir em nome de Deus, cometendo os mais horrendos crimes. Seu Deus não passa de um garoto propaganda que lhes enche a burra, tornando-os cada vez mais ricos. Haja hipocrisia!
O episódio relativo às “bruxas de Salem” encontra-se entre o casos mais conhecidos de histeria em massa, tendo como fermento certo credo religioso na América Colonial. Acontecimento como esse são um alerta contra os perigos advindos do extremismo religioso e da união entre Estado e Igreja. De acordo com o historiador George Lincoln Burr, o assombroso caso sobre “a bruxaria de Salém” contribuiu para que a teocracia** fosse desmantelada no país. Ainda bem!
*O sabá, segundo o dicionário Aurélio, era um conciliábulo de bruxos que, segundo a superstição medieval, reunia-se no sábado à meia-noite, sob a presidência do diabo.
**Sistema de governo em que o poder político se encontra fundamentado no poder religioso.
Ilustração: O Sabá das Bruxas, 1797-1798, obra de Francisco Goya
Conheça a história das Bruxas de Salém acessando o site: https://socientifica.com.br/conheca-a-historia-da-caca-as-bruxas-de-salem/
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A luta ainda persiste, um substituto nesse ciclo da cadeira, uma sociedade absurdamente hipócrita e alienada, a insanidade do mais astuto manipulador; O caminho? Somente um? A justiça de Deus, que sempre vai prevalecer sob a vil raça humana.
Sandra
A maldade perpetrada contra as mulheres parece não ter fim, apesar de vivermos no século XXI. E pior, está presente em ambientes que deveriam combatê-la, como nos templos religiosos, mesmo sendo a presença em tais lugares majoritariamente feminina. Elas ali se tornam extremamente servis.
Abraços,
Lu