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Textos sobre variados tipos de arte

Largillière – A BELA DE ESTRASBURGO

Autoria de Lu Dias Carvalho

O pintor francês Nicolas de Largillière (1656 – 1746) foi para a Antuérpia ainda criança, onde estudou com Antoine Baoubau, pintor de naturezas-mortas, quando tinha 12 anos de idade. Ali estudou os grandes nomes da pintura, como Peter Paul Rubens, Anthony van Dyck, dentre outros. Ao morar em Londres, trabalhou com o flamengo Sir Peter Lely. Voltou a Paris, por causa das perseguições aos católicos, passando a fazer parte da Academia Real de Pintura e Escultura ao apresentar o retrato de Charles Le Brun como trabalho de admissão. Especializou-se em naturezas-mortas individuais e pinturas históricas e na feitura de grandes retratos de grupos, tornando-se um dos retratistas mais admirados de sua época, procurado pela corte e pela nobreza. Era dono de grande riqueza cromática e trabalhava os tecidos com maestria. Foi protetor de Jean-Baptiste Siméon Chardin.

A composição de estilo rococó intitulada A Bela de Estrasburgo é uma obra do artista. Não se conhece o nome da jovem retratada. O que realmente importa no retrato são as vestes da mulher, ou seja, o traje de Estrasburgo, pois essa era a verdadeira intenção do artista e não a pessoa da retratada. A habilidade de Largillière nesta pintura revela sua formação flamenga. Ainda assim, não se pode ignorar a beleza da mulher de rosto suave e postura elegante que traz nos braços um peludo cãozinho preto e branco – seu animal de estimação. Uma paisagem seve de fundo para a pintura.

A elegante mulher usa um chapéu preto, enfeitado com renda preta e roupas fantasticamente trabalhadas. Ela veste uma saia vermelha, da qual o observador vê apenas uma pequena parte à esquerda, pois se encontra coberta por um avental preto. Um corpete com passamanes envolve seu corpo delgado. É impossível não notar a destreza do artista na renda do xale e das mangas da roupa de baixo, assim como no arranjo das mangas pretas, largas em cima e apertadas no cotovelo, ornadas com fitas plissadas. Embora a parte de cima do traje seja excessivamente ornamentada, a de baixo é bem simples. No pescoço a mulher usa um belo colar de pérolas.

O extravagante chapéu preto de dois bicos, bem maior em sua envergadura do que os ombros da retratada, foi o motivo que levou o artista a fazer esta pintura, pois, ao ser anexada ao reino da França, a cidade imperial de Estrasburgo causou admiração pelos costumes, sobretudo pelo tipo de chapéu.

Ficha técnica
Ano: 1703
Técnica: óleo sobre tela
Dimensões: 138 x 106 cm
Localização: Museu de Belas Artes, Estrasburgo, França

Fontes de Pesquisa:
1000 obras-primas da pintura europeia/ Könemann
Rococó/ Editora Taschen
https://www.musees.strasbourg.eu/oeuvre-musee-des-beaux-arts/-/entity/id/220594
http://gitedestrasbourg.blogspot.com/2010/03/portrait-de-la-belle-strasbourgeoise

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Hunt – A DESCOBERTA DO SALVADOR…

Autoria de Lu Dias Carvalho


O pintor inglês William Holman Hunt (1827 – 1910) foi um dos fundadores da Irmandade Pré-Rafaelita – grupo formado por inúmeros artistas ingleses com a finalidade, de acordo com seus seguidores, de desafiar o vazio em que se encontrava a pintura e valorizar as obras de Rafael Sanzio – tendo Hunt permanecido fiel às suas ideias por toda a sua vida. Ele e seu grupo acreditavam piamente nas virtudes do mundo medieval, não aceitando as mudanças advindas da industrialização. Foi um pintor de cenas religiosas, cuja precisão de detalhes locais seguia a cartilha dos pré-rafaelitas.

A composição intitulada A Descoberta do Salvador no Templo é uma obra do artista. Hunt, a fim de ser o mais fiel possível, foi inúmeras vezes à Terra Santa para pesquisar os detalhes do templo, assim como seus ornamentos arquitetônicos de interior. Também usou as pessoas do lugar como modelos. A pintura acima representa a cena em que Jesus, aos 12 anos de idade, é encontrado no templo de Jerusalém por sua mãe e seu pai adotivo – a Virgem Maria e José – após três dias de procura, debatendo com os sábios. À época, esta obra transformou-se num grande sucesso popular.

O Menino Jesus é abraçado por sua mãe que se mostra muito feliz ao encontrá-lo. Atrás dela está José, também com o semblante alegre. Eles são retratados como pessoas comuns – o que chocou os críticos da época. A roupa de Jesus destaca-o das outras figuras. O grupo de doutores da Lei judaica forma uma meia roda em torno do Menino. Da esquerda para a direita, encontra-se sentado o velho rabino, já cego, abraçado às escrituras sagradas judaicas. O pintor dividiu sua obra em duas partes principais. À esquerda estão os rabinos com os seus assistentes e, à direita, a Sagrada Família.A passagem ilustrada é do Evangelho de Lucas, 2:41.

 A pintura de Hunt apresenta muito simbolismo, como o edifício da Lei Antiga que está sendo edificado na parte externa do Templo, à direita, e o andaime formando uma cruz. O primeiro simboliza a construção de uma nova religião e a cruz diz respeito à morte de Jesus Cristo. O velho rabino – agarrado à Torá – simboliza o velho que não quer aceitar o novo, assim como todos aqueles que não aceitaram a vinda de Cristo – o Messias por quem esperavam – e também todos aqueles que não aceitam o cristianismo. Os sete rabinos, acompanhados do músico assistente, oferecem diferentes retratos psicológicos e físicos dos fariseus da época. Na calçada do templo está um homem sentado, aparentemente pedindo esmolas.

Ficha técnica
Ano: 1860
Técnica: óleo sobre tela
Dimensões: 141 x 85,7 cm
Localização: Museu e Galeria de Arte, Birmigham, Estados Unidos

Fontes de Pesquisa:
História da arte no ocidente/ Editora Rideel
https://en.wikipedia.org/wiki/The_Finding_of_the_Saviour_in_the_Temple
http://www.victorianweb.org/painting/whh/replete/finding2.html

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Girodet – O RETRATO DE JEAN-BAPTISTE…

Autoria de Lu Dias Carvalho

Jean-Baptiste Mars Balley, ao posar para o pintor francês Girodet de Roucy-Trison, já não era mais um escravo no Haiti, colônia francesa à época. Tudo indica que o retratado tenha nascido na ilha de Gorée, no Senegal, tendo sido sequestrado por caçadores de escravos quando ainda era bebê e enviado para a colônia francesa de Saint-Domingue (atualmente República do Haiti). Acabou comprando a sua liberdade com as economias feitas, depois de muitos anos sob o jugo impiedoso da escravidão.

Balley entrou nas forças armadas, servindo no contingente das forças negras e mulatas na luta contra os britânicos na Geórgia. Como capitão da infantaria, ele se feriu seis vezes. Veio depois a ser eleito para a Convenção Nacional Francesa pela região norte de Saint-Domingue. Foi o primeiro vice negro a conquistar um assento na Convenção, continuando a lutar contra o racismo vigente. Foi muito importante na luta pela igualdade de cor, sendo reconhecido por persuadir esse órgão no sentido de abolir a escravidão na França e em suas colônias. Participou da revolta dos africanos no Haiti, com o objetivo de derrubar o regime colonial francês.

O artista francês Anne-Louis Girodet de Roussy-Trioson (1767 – 1824), ex-aluno de Jacques-Louis David e famoso por seus retratos, foi o autor do retrato acima. Em sua obra é possível notar no rosto de Balley – que tinha à época 50 anos – as tensões que vivia. Ao ser exposto em Paris nos anos de 1797/1798, este retrato acabou despertando um grande encantamento no público de então. O fato de Balley, um africano, ter sido pintado num estilo aristocrático – já naquela época –  chamou muito a atenção, pois o negro dificilmente figurava numa pintura. O busto branco ao seu lado reforça ainda mais a sua negritude, assim como sua mão negra alongada sobre a calça clara.

O retratado está de pé, recostado ao pedestal onde se encontra o busto do filósofo Guillaume-Thomas Raynal – esculpido por Espercieux – um reformador anti escravista de sua época. Os cabelos de Balley já se mostram acinzentados. Seu rosto ósseo traz um grande sulco próximo ao nariz achatado. Seus olhos, voltados para cima, são grandes. Ele usa um uniforme de membro da Convenção, trazendo na cintura as três cores republicanas. Ao fundo vê-se uma paisagem tropical com o céu meio nublado. O artista, em sua pintura, retrata uma elevação na parte direita das calças de Balley, deixando perceptível um grande pênis e seus testículos, o que leva ao ideal estético clássico, embora Girodet fosse um dos primeiros pintores românticos da arte francesa.

Alguns historiadores interpretam este retrato de Balley como uma tentativa do artista de reafirmar o princípio da igualdade, contudo, ao evidenciar as partes genitais do retratado, ele reforça a teoria clássica da selvageria e da barbárie que a população europeia da época tinha em relação aos negros, considerando-os pessoas inferiores. Era como se o artista tivesse feito o retrato de um incivilizado, o que viria a refletir a ideia do “bom selvagem”.

Ficha técnica
Ano: 1797
Técnica: óleo sobre tela
Dimensões: 150 x 111 cm
Localização: Château de Versailles, França

Fontes de Pesquisa:
História da arte no ocidente/ Editora Rideel
https://es.wikipedia.org/wiki/Jean-Baptiste_Belley
https://www.histoire-image.org/de/etudes/jean-baptiste-belley-depute-saint-doming

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Jacopo Bassano – A ÚLTIMA CEIA

Autoria de Lu Dias Carvalho

O pintor italiano Jacopo Bassano (c. 1517 – 1592), cujo nome de batismo era Giacomo Ponte, estava entre os mais famosos nomes de artistas no final da Renascença. Por ter nascido numa família de pintores, sendo ele o mais importante, estudou inicialmente com o pai Francesco Bassano, o Velho e depois com Bonifazio Veronese, em Veneza. O artista foi influenciado por Ticiano, Lorenzo Lotto, Tintoretto e também pelos pintores maneiristas, entre ouros. Suas obras destacam-se por uma grande luminosidade, exatidão nos detalhes e o uso de elementos narrativos simples.

A composição intitulada A Última Ceia é uma obra-prima do artista. Na cena Jesus Cristo está rodeado por seus apóstolos. Eles se mostram agitados, gesticulando energicamente após o aviso de que o Mestre seria traído por um deles. Contudo, o discípulo João, o mais novo de todos, parece dormir, sentado na frente de Cristo, em meio a toda aquela confusão. Enquanto alguns parecem ganhar grande espaço na tela, outros são mostrados numa perspectiva reduzida. Apesar de ser um tradicional tema religioso, elementos da pintura de gênero também são apresentados. Ao apontar para o pão partido, enquanto eleva os olhos para Jesus, o apóstolo sentado na extrema direita, faz uma alusão ao Redentor.

Jesus Cristo de pé  – evidenciado por raios de luz que saem de sua cabeça – divide a composição ao meio. Alguns apóstolos estão sentados, outros recostados na mesa e outros de pé. Uma toalha branca cobre a mesa retangular. Pés desnudos são vistos debaixo da mesa, inclusive os do Mestre, juntos, em meio ao do apóstolo dorminhoco.

A cena acontece no interior modesto de uma habitação. Os rudes pescadores descalços e com suas roupas grosseiras, muitos deles já com barbas brancas, discutem fervorosamente. Para dar mais realidade à cena doméstica, o pintor inseriu um gato na parte inferior, à direita, e um cãozinho no centro, dormindo perto de uma bacia com água e de um recipiente com vinho.  São muito intensos os tons vistos na tela: verdes, amarelos, vermelhos, etc.

Ficha técnica
Ano: c. 1547
Técnica: óleo sobre tela
Dimensões: 168 x 270 cm
Localização: Galleria Borghese, Roma, Itália

Fontes de pesquisa
Galleria Borghese/ Os Tesouros do Cardeal
1000 obras-primas da pintura europeia/ Köneman

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Hunt – O DESPERTAR DA CONSCIÊNCIA

Autoria de Lu Dias Carvalho

O pintor inglês William Holman Hunt (1827 – 1910) foi um dos fundadores da Irmandade Pré-Rafaelita – grupo formado por inúmeros artistas ingleses com a finalidade – segundo os seus seguidores – de desafiar o vazio em que se encontrava a pintura e de valorizar as obras de Rafael Sanzio, tendo Hunt permanecido fiel às suas ideias por toda a vida. O artista e seu grupo acreditavam piamente nas virtudes do mundo medieval, não aceitando as mudanças advindas da industrialização. Ele foi um pintor de cenas religiosas, cuja precisão de detalhes locais seguia a cartilha dos pré-rafaelitas.

A composição intitulada O Despertar da Consciência é uma obra do artista que exemplifica a popularidade deste tipo de quadro na Inglaterra vitoriana. Trata-se de uma pintura de gênero (uma cena de interior doméstico) que tem como tema uma mulher desonrada, ou seja, mostra a visão inglesa moralista e reprovadora da época. Inúmeros detalhes compõem a simbologia da obra.  Os temas moralizantes e piegas, pintados detalhadamente em quadros, tornaram-se também populares na Europa, onde havia muitos admiradores e colecionadores.

Destrinchando a simbologia da obra:

O relógio à esquerda, sobre um piano de madeira talhada, está envolto pela figura da Castidade que prende o Cupido – deus do amor – indicando que o cavalheiro presente não concretizará seu desejo. Por trás do relógio vê-se um quadro na parede que relata a história bíblica da adúltera. E à esquerda está um vaso com flores de ipomeia (planta trepadeira das regiões quentes) que, pelo fato de misturar-se a outras plantas, diz respeito às relações complexas da mulher. Aos pés do piano e no meio do tapete estão meadas de lã, misturadas, que reforçam a mesma simbologia.

A mulher traz seis anéis nos dedos, excetuando aquele onde deveria estar um anel de casamento, o que mostra que é dependente do homem (seu amante) ali presente. Ela usa roupas de baixo, sendo a bainha de renda parte de sua anágua. O modo como a jovem encontra-se no colo do homem indica que ela se prepara para levantar-se, como se tivesse tomado consciência de que seu comportamento está errado. Seus grandes olhos estão direcionados para cima. A luva suja jogada no chão, à sua frente, simboliza o seu futuro, caso não mude sua vida.

O homem festivo, esparramado na cadeira, traz uma mão nas teclas do piano e outra no colo da moça, enquanto canta, sem notar que uma nova atitude brota no rosto de sua amante. Vê-se pela sua vestimenta que ele é um jovem rico em visita à sua amásia na casa mantida por ele, como mostra o seu chapéu sobre a mesa, ao lado de um livro encadernado. No chão, sobre um pano azul, está uma partitura enrolada. Refere-se a “Lágrimas, Inúteis Lágrimas”, adaptação de Edward Lear (pintor e escritor inglês) para um poema de Alfred Tennyson (poeta inglês) com a mesma temática da pintura. Bem próximas à partitura estão as iniciais do pintor e a data de feitura da obra.

Um gato sob a mesa – logo atrás da cadeira do cavalheiro vitoriano – brinca com um pássaro. É possível que o gato represente o homem e a ave a mulher. Ele é o caçador e ela a presa. A fuga da ave, já de costas para o gato que olha para cima, pode sugerir que a vida da jovem ainda pode ser mudada. A presença de um raio de luz sobre o pé do piano também simboliza vida nova para a mulher, assim como o seu olhar direcionado para fora da janela, em direção ao jardim que se reflete no grande espelho às suas costas, assim como parte do rosto do homem e as costas da mulher. A luz simboliza Cristo como a “Luz do Mundo” (título de outra pintura que fazia par com esta). As rosas brancas no jardim representam a pureza.

Obs.: A modelo da pintura é Annie Miller, namorada do pintor à época.

Ficha técnica
Ano: 1853
Técnica: óleo sobre tela
Dimensões: 76 x 56 cm
Localização: Tate Gallery, Londres, Grá-Bretanha

Fonte de pesquisa
A arte em detalhes/ Robert Cumming

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Barbieri – VÊNUS, MARTE E CUPIDO

Autoria de Lu Dias Carvalho

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O pintor italiano Giovanni Francesco Barbieri (1591 – 1666), conhecido por Guercino ou Il Guercino, foi um famoso mestre da escola de Bolonha, chegando a dirigir a academia da cidade, como sucessor de Guido Reni. Começou como aprendiz de pintor já aos 16 anos de idade, tendo estudado em Veneza e Florença. Sofreu grande influência dos pintores Ludovico Carracci e Bartolomeo Schedoni.

A composição mitológica denominada Vênus, Marte e Cupido é uma obra do artista em que predominam os contrastes de luz e sombra. Foi encomendada pelo Duque de Modena.

Vênus (Afrodite), deusa da beleza e do amor, tem a seu lado o filho Cupido (Eros), deus do amor, que lhe ensina como atirar a seta, usando o arco. Ao lado dos dois encontra-se Marte (Ares) – o deus romano da guerra – usando sua armadura escura e um manto vermelho. Ele ocupa grande parte da tela. É também o pai do pequeno Cupido que é fruto de uma relação fora do casamento, pois a deusa é casada com Vulcano (Hefesto).

Vênus aponta para o observador, fazendo com que Cupido direcione sua flecha para a mesma direção, ou seja, para o dono da obra, que traz o seu selo representado por uma águia na chaleira. Sua mão esquerda encontra-se apoiada na aljava. Marte, com seu semblante sério, traz os olhos voltados para o filho.

Ficha técnica
Ano: 1633
Técnica: óleo sobre tela
Dimensões: 139 x 161 cm
Localização: Galeria Estense, Modena, Itália

Fontes de pesquisa
1000 obras-primas da pintura europeia/ Könemann
Mitologia/ Thomas Bulfinch
Mitologia/ LM

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