Arquivo da categoria: Arte Cristã

Pinturas relativas ao cristianismo, abrangendo os mais diferentes pintores, estilos e épocas.

O BATISMO DO SINO “PEDRO” EM TIRADENTES

Autoria de Luiz Cruz

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O bronze da Matriz de Santo Antônio é um dos sinos mais bonitos de Tiradentes. Em seu lado frontal há uma custódia e no posterior uma cartela com os seguintes dizeres: NO ANNO DE 1784 OS OFESIAES DA IRMANDADE DO SS SACRAMENTO O MANDARAO FAZER. Foi fundido por José Antônio Estrada e recebeu o nome de “Jerônimo”. É o principal sino da Matriz e foi utilizado por longos anos. O som marcante chegava a todos os recantos da cidade. Mas na Festa do Senhor Bom Jesus dos Passos, de 1969, o bronze rachou. A dupla de sineiros que se encontrava na torre da Matriz era Antônio Trindade Veloso (1946) – conhecido como Zibica e Walter Ferreira (1948) – o Waltinho. Os outros sineiros que atuavam no período eram José Geraldo Ramalho (1938-1995) – o Juca e seu irmão João Ramalho (1936-2008). Quando uma dupla de sineiros, que estava na torre da Matriz, dobrando o sino, chamava, a outra dupla respondia da Capela de Nossa Senhora das Mercês, com o dobre pausado e doloroso.

Zibica conta que passou por duas situações muito difíceis como sineiro. Uma foi quando o balado do bronze soltou e caiu no adro, mas não atingiu ninguém, e a outra foi quando dobrava o “Jerônimo” e ele rachou. Hoje está aposentado. Foi funcionário do DAMAE, em São João del-Rei e lá também tocou os sinos da Capela de Nossa Senhora do Carmo, mas apenas substituindo o sineiro que estava com a perna quebrada. Zibica conta com orgulho suas histórias dos tempos em que atuava como sineiro. Waltinho também gosta de conversar sobre as aventuras nos campanários, especialmente como atravessava de uma torre para a outra. Lembra, ainda, que aprendeu muito com um sineiro antigo que atuou no Gaspar e era conhecido como Chiquito Matemática.

O mais importante sino da cidade ficou em silêncio por quase meio século e, apenas no ano passado, por iniciativa de José Trindade da Costa e Edson Lopes dos Santos, com apoio do professor e pesquisador André Dangelo, realizou-se campanha para recuperar o sino, ou melhor, fazer uma cópia do bronze. Tiradentinos, empresários e amigos da cidade contribuíram financeiramente para o pagamento das despesas do transporte e a cópia. O sino foi desmontado e a bacia enviada ao Arsenal da Marinha, no Rio de Janeiro, onde foi feito o molde e a fundição do novo sino. O “Jerônimo” ficará exposto abaixo do órgão da Matriz. O corpo original será colocado na cópia e brevemente instalado na torre da igreja.

A última cerimônia de batismo de sino em Tiradentes tinha sido em 1942, realizada pelo Padre José Bernardino Siqueira, do sino “São Sebastião”, da Capela de São Francisco de Paula. A cópia do velho bronze da Matriz foi batizada no dia 25 de fevereiro de 2016 e recebeu o nome de “Pedro” – a expressão batismo do sino é de domínio popular, a litúrgica é “Rito para Consagração do Sino”. A cerimônia foi coordenada pelo bispo diocesano Dom Célio de Oliveira Goulart, com a participação dos padres Ademir e Rogério. Para a realização da cerimônia, o sino foi colocado em uma posição elevada e teve próximo a ele o seguinte:

1. Mesa contendo:
a) Crucifixo ladeado por castiçais com velas acesas;
b) vaso com o óleo do Crisma;
c) vaso com algodão;
d) bacia e jarro com água e sabonete;

2. manustério (pequena tolha de linho branco para secar as mãos);
3. cadeira para o bispo;
4. turiferário (o mesmo que acólito);
5. turíbulo;
6. naveta com incenso e colherinha;
7. caldeirinha com água benta e hissope.

Ao final, o bispo deu a primeira badalada no sino, em seguida os padres e o presidente da Irmandade do Santíssimo Sacramento badalaram-no. No batismo de “Pedro”, Dom Célio quebrou o protocolo e convidou a todos tiradentinos e turistas presentes para darem uma badalada no sino.

Lamentavelmente, na torre direita da Matriz de Santo Antônio tem um sino pequeno quebrado, há muitos anos. Em 2013, também, durante a Festa dos Passos, o sino grande da Capela de Nossa Senhora das Mercês quebrou porque foi tocado incorretamente, com dobre acelerado e atípico de Tiradentes. Agora, corre o risco de desprender sua aba, ou batente, e ainda provocar um grave acidente, pois pode cair sobre as pessoas que estiverem no adro. Por isso, não pode ser mais tocado. Esse sino tem em seu lado frontal o brazão mercedário encimado por coroa, ladeado pela inscrição “Omnium ora pro nob Regina Sanctorum” – “Rogai por nós Rainha de todos os Santos”. No lado posterior, uma cruz estilizada com ponteiras, em sua base, flores inseridas em quadrados. A inscrição da borda traz os seguintes dizeres: “Fundido por José Valentim Onofre por iniciativa dos mezarios irmãos e devotos a 25 de janeiro de 1881”.

Antigamente, os antigos sinos eram destruídos para se fazer novas cópias. Hoje, há reconhecimento de que são objetos históricos, impregnados de memória e considerados obra de arte. Os sinos são bens integrados aos monumentos, sendo alguns tombados individualmente ou tombados pelo conjunto arquitetônico e consecutivamente protegidos. O que tem ocorrido é o aproveitamento do corpo em madeira e seus componentes em ferro e feito uma cópia da bacia. A peça original fica em exposição. O acervo de sinos de Tiradentes é muito expressivo, não há nenhum igual ao outro e especialmente o desenho recortado do corpo em madeira, destaca-se pela criatividade.

No período da Quaresma, quando os sinos são muito tocados, o ideal é executar os toques tradicionais, especialmente o dobre pausado e doloroso, típico da cidade, assim os sinos continuarão a encantar-nos e comover-nos, como de sempre.

Nota: Cerimônia de batismo do sino “Pedro”, coordenada pelo bispo Dom Célio de Oliveira Goulart e o antigo sineiro Zibica, na segunda foto. Fotos: LC

Referência
CRUZ, Luiz Antonio da. e BOAVENTURA, Maria José. Manual de Técnicas de Preservação e Manutenção de Patrimônio. Tiradentes: IHGT, 2016.
CRUZ, Luiz Antonio da. e BOAVENTURA, Maria José. Glossário do Patrimônio de Tiradentes. Tiradentes: IHGT, 2016.
DANGELO, André Guilherme Dornelles. BRASILEIRO, Vanessa Borges. Sentinelas sonoras. Belo Horizonte: e.43, 2013.
Ritual de Bênção do Sino. Venerável Ordem Terceira de São Francisco de Assis. São João Del-Rei, 30 de novembro de 2014.

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OS SINOS NOS TEMPOS DE QUARESMA

Autoria de Luiz Cruz

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Quaresma é a designação do período de quarenta dias que antecede a principal celebração do cristianismo – a Páscoa, que começa na quarta-feira de Cinzas e termina no domingo de Ramos, anterior ao domingo de Páscoa. Para os cristãos, trata-se do período para refletir sobre o tempo que Jesus passou no deserto e o seu sofrimento na Cruz. O tempo quaresmal tem história muito antiga. No Oriente encontramos os primeiros sinais de um tempo pré-pascal, com a preparação espiritual à celebração do grande mistério da fé, através das “Cartas Pascais” de Santo Atanásio, entre os anos de 330 e 347. No ocidente, há informações sobre o período a partir do século IV, especialmente na Espanha e na Itália. A Quarema, segundo os cristãos, é o período para se preparar, através da reflexão e introspecção das ações e atitudes diante do próximo e do mundo e, enfim, chegar à Páscoa como um marco de renovação e libertação.

Os sinos são instrumentos que compõem o universo litúrgico do cristianismo. São utilizados para anunciar as celebrações e, especialmente na Quaresma, lembrar-nos dos dias que Cristo passou se habilitando para momentos difíceis, de dor e sofrimento, mas que resultaram na renovação – a ressureição. Em Tiradentes, durante a Quaresma, nos dias de Via-Sacra e das tradicionais festas que antecedem a Semana Santa, os toques de sinos são significativos e expressivos. Os dobrados são lentos, cadenciados, marcantes e remetem-nos aos diversos momentos da Paixão de Cristo.

Toque Dobre da Festa do Senhor Bom Jesus dos Passos
Dobre apenas do sino grande, girando-o em torno de seu eixo – 360º, na média de 10 a 15 minutos, às 12, 15 e 18 h, deixando-o descair. Esse dobre produz sons cadenciados, lentos, dolorosos e marcantes. É executado na Festa de Passos, que acontece desde 1722 e promovida pela Venerável Irmandade do Senhor Bom Jesus dos Passos. Ele é tocado na Matriz de Santo Antônio, à saída da imagem de Nosso Senhor, fechado em velário roxo, para a Capela de Nossa Senhora das Mercês, que o recebe com o mesmo toque. Há um diálogo entre os sinos, o da Matriz chama e o das Mercês responde. É executado também na Capela de São João Evangelista, quando daí parte a imagem de Nossa Senhora das Dores para compor a procissão do Encontro. O dobre fúnebre é repetido durante a Rasoura dos Passos, pequena procissão de Nosso Senhor em torno da Capela de Nossa Senhora das Mercês, às 10h, após a realização da Missa Solene, e também na saída e chegada da Procissão do Encontro de Cristo e Nossa Senhora. A cerimônia do Encontro é realizada na Rua Direita, em frente à Capela de Nossa Senhora do Rosário e após o Sermão do Encontro, o sino da capela é dobrado.

Toque Dobre da Festa de Nossa Senhora das Dores
O sino grande é dobrado em seu eixo – 360º. O sino da Capela de São João Evangelista chama e é respondido pelo sino grande das Mercês, nos horários de 12, 15 e 18h, ao final do dobre, deixa o sino descair. É executado na Capela de São João Evangelista, onde se realiza o Setenário das Dores.

Toque Dobre de Via-Sacra
O sino grande é levado a pino e dobrado em seu eixo – 360º, lento e doloroso. É executado à saída e chegada da Via-Sacra, geralmente das capelas de São João Evangelista, Rosário, Mercês e Bom Jesus da Pobreza, nos horários de 12, 15 e 18h. A Via-Sacra é promovida pela Irmandade dos Passos.

Toque da Semana Santa
Repique festivo na saída e na chegada da Procissão de Ramos dá início à Semana Santa. O dobre doloroso é executado nos sinos da Matriz, Rosário e Mercês, às 12, 15 e 18h, descaindo ao final da sequência durante segunda, terça e quarta-feira Santas. Na sexta-feira da Paixão, o sino é substituído pelas matracas, que acompanham a Cerimônia de Adoração da Cruz e a Procissão do Enterro. Os sinos voltam a ser tocados no Sábado de Aleluia. No domingo de Passos, eles são repicados para a Procissão da Ressurreição de Cristo.

Os toques de sinos precisam ser executados conforme a tradição e respeitados como elementos litúrgicos, assim, serão devidamente protegidos e conservados, tanto os toques quanto os próprios sinos. Além de fazerem parte de uma arte que  vem se perpetuando através dos tempos e assim deve continuar.

Nota: Henrique Rohrmann dobrando o sino da Matriz de Santo Antônio. Fotografia: LC

Referência
CRUZ, Luiz Antonio da. e BOAVENTURA, Maria José. Manual de Técnicas e Manutenção de Patrimônio. Tiradentes: IHGT, 2016.

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CAPELA N. SRA. DAS MERCÊS – UM TEMPLO ROCOCÓ

Autoria de Luiz Cruz

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No tempo da escravidão/ Quando o senhor me batia/ Eu rezava para Nossa Senhora/ Meu Deus, como a chibata doía! (Cantiga de Congado)

O arquiteto e pesquisador Sylvio de Vasconcellos foi um dos pioneiros a estudar a ocupação do território que veio a ser Minas Gerais. Ele resumiu seus estudos em um esquema fácil para a compreensão, dividindo o período em etapas: 1ª: 1700/1720 – o estabelecimento de um arraial, ao longo de um caminho e em torno de uma capela; 2ª: 1710/1750 – a edificação da matriz e a elevação do arraial à categoria de vila; 3ª: 1750/1800 – a saída das irmandades da matriz para a construção ou ampliação de suas capelas; 4ª: 1800/( ? ) – o retorno das irmandades para a matriz devido a circunstâncias econômicas, principalmente em consequência da queda da produção de ouro.

O esquema proposto por Sylvio Vasconcelos coincide exatamente com a construção da Capela de N. Sr.ª. das Mercês, de Tiradentes, em meados do século XVIII. Ela se encontra no largo com o mesmo nome da padroeira do templo, sendo considerada um primor do rococó mineiro. A edificação está alocada no meio do terreno, cujo acesso dá-se através de pequena escada. A capela encerra a paisagem do largo. No adro, fechado por mureta e portão em ferro batido, há uma calçada em blocos irregulares de pedra xisto verde, e no entorno da capela está o cemitério da irmandade.

A fachada da capela é simples, com a porta principal em almofadas e quatro janelas rasgadas, numa delas está a sineira. O frontão possui pequeno óculo central e uma cornija linear, que termina em volutas, encimadas por dois pináculos. O centro é elevado com cruz ladeada por dois pináculos menores. No tímpano do frontão encontra-se o brasão mercedário em argamassa. A fachada frontal tem embasamento em grandes blocos de pedra arenítica e é divida pelos cunhais em três tramos. No conjunto destaca-se a seteira retangular, com alisar em pedra. Nas fachadas frontal e laterais há embasamento do mesmo material; na posterior, apenas no tramo central não foi utilizada a pedra e nesse pano há apenas uma seteira vertical. Ainda no embasamento estão as aberturas dos respiradouros. Nos cunhais frontais laterais foram instalados dois grandes lampiões em ferro fundido, cujo braço é formado por um corpo de dragão que lança enorme labareda. Seu corpo dilui-se formando rocalhas. O telhado é em blocos, um para a capela-mor e outro para a nave, ambos em duas águas, e seus beirais são em cachorros. Nas laterais, o telhado é em água única, com beiral em beira seveira.

A capela abriga o altar-mor decorado com talha rococó e pinturas. O douramento do entalhe, as pinturas artísticas e as decorativas são de autoria de Manuel Victor de Jesus (c. 1755/60 – 1828). O camarim é pintado com rocalhas robustas, movimentadas, coloridas, com ramalhetes e vasos florais, além de frisos. No trono está a policromada imagem de N. Srª das Mercês, com os braços abertos, segurando o manto. Lá também se encontra imagem de São Gonçalo do Amarante. O frontispício do altar-mor abriga dois nichos laterais com as imagens de São Pedro Nolasco e São Raimundo Nonato, fundadores da Ordem Mercedária. A mesa do altar foi decorada com entalhes dourados, pinturas florais e rocalhas pintadas com pó de ouro e tinta marrom para destacar o sombreado e a volumetria. Para o altar, o presbitério, que é mais elevado, três degraus em pedra xisto verde conectam os espaços da capela-mor. A talha dourada, colunas, caneluras, faiscados, florões, sacrário com o Cordeiro de Deus sobre nuvens e o escudo mercedário compõem o frontispício.

O forro da capela-mor é formado por caixotões apresentando cenas alusivas a N. Senhora. Intercalando os quadros emoldurados com frisos, pinhas e folhas douradas, criando contraste entre os tons fortes, o branco e o ouro. Nas laterais, o forro é arrematado por cimalha faiscada com rosáceas e folhas entalhadas e douradas, compondo a demarcação dos caixotões. O frontispício e o forro são iluminados por um par de óculos das laterais. Há um barrado em tom azul forte, descoberto durante a última obra de restauro, que se encontrava debaixo de várias camadas de tintas. O arco-cruzeiro é bem alto, decorado com marmorizados ou pedra de fingimento, frisos e caneluras douradas. No seu centro há um escudo bem ao gosto do estilo rococó.

Na nave, dois púlpitos em madeira, instalados frontalmente, receberam pinturinhas de autoria ignorada. Um pequeno cancelo torneado em jacarandá, em bolachas, separa a nave da capela-mor. O coro é desprovido de decoração, com apenas a balaustrada torneada, e duas janelas com caixilhos com vidros coloridos. Dele se tem acesso à sineira. O forro da nave traz pintura arquitetônica, de origem ítalo-portuguesa, simplificada com apenas um balcão, com protuberâncias nas quinas, onde se encontram figuras de anjos. Ainda no balcão aparecem figuras, vasos floridos, ramalhetes, rocalhas, guirlandas e até fragmentos de corrente. Nas seções menores do retângulo do forro, junto ao arco-cruzeir, está São Raimundo Nonato; junto ao coro está São Pedro Nolasco. No centro está a imagem de N. Srª das Mercês coroada, sobre bloco de nuvens, cercada por nuvens e anjos. Na base da moldura encontram-se cinco anjos de corpo inteiro, ladeados por cabeças de anjos, aladas. O forro em berço é arrematado por cimalha robusta em faiscado branco, azul e vermelho.

A nave é iluminada por dois pares de óculos, através dos quais podemos apreciar a solidez e largura dos muros da igreja, edificados em taipa de pilão. Na sacristia destacam-se um arcaz de madeira, com entalhes em rococó, sobre o qual um oratório abriga um crucifixo e um lavabo em pedra xisto, com arremate em argamassa. Há um conjunto de gravuras antigas, entre elas litografias de exímia qualidade. O forro é artesoado, embora simples e pintado com cores fortes.

A Irmandade de N. Srª das Mercês pertencia aos Pretos Crioulos, ou seja, aos pretos nascidos no Brasil e também aos mulatos. Até o presente, a irmandade mantém a tradição de acompanhar o cortejo fúnebre de seus irmãos e faz o dobre de sino. O paisagismo do cemitério foi projetado pelo artista Roberto Burle Marx na década de 1980.

O Projeto Educação Patrimonial – IHGT/BNDES – realizou visitas guiadas à Capela de N. Srª das Mercês, durante e após o restauro, fundamentais para a compreensão desse  monumento sacro, cultural e arquitetônico, e, para se ter ideia da complexidade do trabalho de restauro artístico que é oneroso e requer mão de obra altamente especializada. Foi restaurada através de projeto que teve a Oficina de Teatro Entre & Vista como proponente. A Paróquia Stº Antônio e o IPHAN acompanharam a obra com o apoio financeiro do BNDES. O restauro artístico coube à empresa Anima Conservação, Restauro e Arte, o arquitetônico com a Tempus Empreendimentos. Sua entrega ocorreu no dia 26/07/2015, com a participação de 16 ternos de congados das seguintes localidades: Tiradentes, Dores de Campos, Carandaí, Ouro Branco, Miguel Burnier (Ouro Preto), Congonhas, Senhora de Oliveira, Conceição da Barra de Minas, São João del-Rei, Santa Cruz de Minas, Santana do Jacaré, Raposos e Conselheiro Lafaiete, que integraram o 2º Encontro de Congados de Tiradentes.

Nota: fotos do autor do texto

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A IMPORTÂNCIA DA IGREJA CRISTÃ NA ARTE

Autoria de Lu Dias Carvalho

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A pintura pode fazer pelos analfabetos o que a escrita faz pelos que sabem ler. (Gregório Magno)

No ano 311 d.C., o imperador Constantino convencionou que a Igreja Cristã seria um poder no Estado. E, para isso, tornou-se necessário construir enormes espaços públicos para os cultos, diferentes dos templos pagãos. Foram erguidas as chamadas “basílicas”.

A maneira como as basílicas deveriam ser decoradas tornou-se um grande problema entre os cristãos que tinham diferentes pontos de vistas em relação às imagens. Alguns eram da opinião de que não deveria haver estátuas nos templos, pois essas poderiam ser confundidas com as dos ídolos pagãos que adornavam os antigos templos. Outros consideravam que as imagens eram importantes, pois, além de ajudarem no ensinamento dos temas bíblicos, uma vez que a imensa maioria dos cristãos não sabia ler e nem escrever, ainda mantinham vivos na memória dessa gente iletrada os episódios bíblicos, sendo de grande relevância para ensinar-lhes a nova fé.

O fato é que permaneceu a segunda alternativa, principalmente na parte ocidental do Império Romano. Decisão de suma importância para a Arte. Mas não pense o leitor que estava tudo liberado, podendo o artista fazer uso de sua liberdade criativa. De jeito nenhum. Existiam regras severas a serem obedecidas. A história religiosa deveria ser representada com simplicidade e clareza, sem nada que pudesse desviar a atenção do sagrado. O artista deveria se pautar unicamente pelas regras preestabelecidas pela então poderosa Igreja. A criatividade era de somenos importância. O objetivo era ensinar a religião e ponto final. Quanta diferença da época das catacumbas!

A obra acima representada encontra-se inteiramente dentro dos princípios estipulados pelos mandatários do poder religioso cristão à época. Ela  ilustra um dos Evangelhos que tem como tema a multiplicação dos pães e dos peixes, para alimentar uma grande multidão que ouvia Jesus. Eram cinco pães e cinco peixes que, milagrosamente, alimentariam cinco mil pessoas.

Estudo da composição:

  • Trata-se de um mosaico em que cubos de pedra ou vidro foram reunidos pacientemente. O fundo da composição é elaborado com pequenos pedaços de vidro dourado, o que dá ao cenário um aspecto de esplendor e riqueza.
  • Jesus é representado por uma figura pálida, serena e imóvel, usando cabelos compridos e vestindo um manto de púrpura com faixas douradas, trazendo os braços abertos em postura de bênção, na parte central da composição, num lugar de destaque. Embora seu manto seja diferenciado dos usados pelos apóstolos, as sandálias são exatamente iguais. Jesus era assim imaginado pelos primeiros cristãos.
  • À direita e à esquerda do Mestre encontram-se dois apóstolos que lhe ofertam os pães e os peixes que serão usados no milagre da multiplicação. Os apóstolos trazem as mãos cobertas, embora segurem as dádivas, comportamento semelhante aos súditos da época, quando entregavam a seus senhores os impostos exigidos.

Embora a composição possa parecer desprovida de emoção, com suas figuras rígidas e sem expressão, em severa vista frontal, existem aspectos que comprovam o conhecimento do artista sobre a arte grega:

  1. o modo como envolve um manto em volta do corpo, dando visibilidade às principais articulações por debaixo das pregas;
  2. a mistura de pedras de diferentes tons no mosaico, reproduzindo as cores da carne ou da rocha;
  3. a presença no chão das sombras dos personagens;
  4. o escorço representado com facilidade (1. Art. Plást. desenho ou pintura que representa objeto de três dimensões em forma reduzida ou encurtada, segundo as regras da perspectiva).

Ficha técnica
Obra: O Milagre dos Pães e dos Peixes
Artista: desconhecido
Ano: c. 520 d.C.
Técnica: Mosaico
Localização: Basílica de Santo Apolinário, o Novo, Ravena

Fonte de pesquisa:
E. H. Gombrich

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MUSEU BOULIEU – CAMINHOS DA FÉ

Autoria de Roque Camêllo

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Cada peça traz a sua história, fazendo-nos viver aventuras pitorescas e espirituais, e conhecer pessoas de grande riqueza humana. (Maria Helena Boulieu)

O esplêndido conjunto caracteriza as irradiações no barroco do mundo, enfatizando o primado da visualidade nas expressões do estilo e a sua dimensão religiosa, voltada, por inteiro para a exaltação da fé católica. (Ângelo Oswaldo)

A Arquidiocese será eternamente grata aos Boulieu pela doação. Esta gratidão haverá de se expressar, sobretudo, no desvelo como fiel guardiã e zeladora, juntamente com o Instituto Cultural Divino Espírito Santo, deste tesouro, garantindo o cumprimento da vontade de seus doadores. (Dom Geraldo)

O casal franco-brasileiro, Jacques Boulieu e Maria Helena, assinou com Dom Geraldo Lyrio, o protocolo de doação de seu acervo de arte sacra à Arquidiocese de Mariana. São 1.200 peças brasileiras e de outros países. O conjunto é fruto de 50 anos de suas viagens pelo mundo. Os Boulieu decidiram pela doação para que os brasileiros conheçam, pela arte, os “Caminhos da Fé”.

O território arquidiocesano de Mariana (79 municípios) detém mais da metade do patrimônio barroco e rococó do Brasil. O novo acervo integrará o sistema arquidiocesano de Museus sob a diretriz da Fundação Cultural e Educacional da Arquidiocese (FUNDARQ), e contará com a responsabilidade técnica e museológica do Instituto Cultural Brasileiro do Divino Espírito Santo. Participa do projeto a Prefeitura de Ouro Preto, que se comprometeu a ceder espaço para sua implantação.

Os Boulieu começaram esta história de amor às artes no início de 1960, visitando China, Índia, Indonésia, Filipinas, Peru, Bolívia, México, Itália, França, Espanha e América Central. O acervo retrata a expansão da fé cristã. Diferencia-se dos Museus de Arte Sacra de Mariana e do Aleijadinho, cujo foco principal é a arte sacra brasileira, com proeminência de obras de Athayde, Aleijadinho, Vieira Servas e outros dos séculos 18 e 19.

O “Museu Boulieu – Caminhos da Fé” reunirá arte colonial, escultura, pintura e prataria provenientes daqueles diferentes países visitados. Em sua sensibilidade, Maria Helena Boulieu nos deixa sua visão: “Cada peça traz a sua história, fazendo-nos viver aventuras pitorescas e espirituais e conhecer pessoas de grande riqueza humana.”.

A generosidade do casal, dispondo de um patrimônio de valor incalculável, revela seu alto grau de desprendimento e enlevo espiritual e seu compromisso de tornar patente e perene a História da Igreja na missão de evangelizar os povos.

Disse o Secretário Ângelo Oswaldo: “O esplêndido conjunto caracteriza as irradiações no barroco do mundo, enfatizando o primado da visualidade nas expressões do estilo e a sua dimensão religiosa, voltada, por inteiro para a exaltação da fé católica”.

Dom Geraldo afirmou: “A Arquidiocese será eternamente grata aos Boulieu pela doação. Esta gratidão haverá de se expressar, sobretudo, no desvelo como fiel guardiã e zeladora, juntamente com o Instituto Cultural Divino Espírito Santo, deste tesouro, garantindo o cumprimento da vontade de seus doadores”

Algo tão valioso e de complexas características contou com a boa vontade de pessoas muitas, entre as quais o prof. José Anchieta da Silva, que elaborou todos os documentos indispensáveis à transação, praticando com esmero a advocacia “pro bono”.

Assim se deve construir o mundo com generosidade e amor, superando o egoísmo e incompreensões. Todos os envolvidos no projeto “Caminhos da Fé”, a começar pelos Boulieu, principais protagonistas, estão imbuídos deste compromisso para o bem da Humanidade. São exemplo a ser seguido. O Brasil agradece!

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Dierick Bouts – A ANUNCIAÇÃO

Autoria de Lu Dias Carvalho

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Este painel sobre a Anunciação faz parte do Retábulo da Virgem, obra do pintor Dierick Bouts, o Velho.

A Virgem Maria encontra-se em seu quarto, ajoelhada próxima a um banco, onde está seu livro de orações, quando recebe a visita de um anjo, que vem anunciar que ela será a mãe de Jesus, o Salvador. O quarto simboliza o mistério da noite de núpcias.

A Virgem usa vestes escuras que se espalham pelo chão. Seu corpo volta-se levemente para o anjo, enquanto ela ouve o anúncio que ele lhe traz.

O quarto da Virgem é muito bem arrumado, mostrando que a sua família goza de algumas posses. Uma bonita cama, com travesseiros e colcha vermelhos, destaca-se ao fundo. À direita, um armário traz alguns objetos em cima. Duas lamparinas descem do teto. Duas janelas apresentam-se no quarto, enquanto uma porta dá passagem para outro aposento. Pequenas esculturas ornamentam o portal que conduz ao quarto.

O anjo está ricamente vestido. Suas enormes asas ultrapassam sua cabeça. Com a mão direita, ele aponta para a Virgem e com a esquerda segura o próprio manto.

Ficha técnica:
Data: c. 1445
Técnica: óleo sobre madeira
Dimensões: 80 x 56 cm
Localização: Museo del Prado, Madrid

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