Arquivo da categoria: Corpo e Mente

Filosofias e conjunto de práticas físicas, psíquicas e ritualísticas que buscam um estado de harmonia e equilíbrio físico e mental.

CONHECENDO A CROMOTERAPIA

Autoria do Prof. Hermógenes

O Professor Hermógenes, um dos precursores da ioga no Brasil, escreveu mais de 30 livros sobre a saúde física e mental.  Neste texto retirado de seu livro “Yoga para Nervosos”*, ele nos fala sobre o agir das cores em nosso corpo.

Ninguém pode negar que a cor de um ambiente afeta o ânimo que o torna mais ou menos agradável, calmante, desagradável, excitante… Poucos, a não ser os que tenham dedicado um pouco de atenção ao estudo da cromoterapia, poderão, no entanto, avaliar o quanto somos sujeitos à ação das várias taxas de vibrações que nos envolvem a cada instante.

A luz solar é formada por ondas vibratórias de variados comprimentos, cada uma das quais preenche seu papel na manutenção do equilíbrio energético do planeta e consequentemente da vida. Dessas ondas, as que têm comprimento acima de 410 e abaixo de 718 são captadas por nossos olhos e as chamamos de cores. Elas constituem, portanto, a parte visível do espectro e se dispõem na seguinte sequência; violeta, anil, azul, verde, amarelo, laranja e vermelho. São as cores principais do arco-íris.

Além desta parte visível, outro mundo vibratório que os olhos não captam, atinge-nos. Algumas ondas são absorvidas e utilizadas na própria epiderme, outras vão a camadas mais profundas da pele; para outras, o sangue ou um determinado plexo nervoso são receptores específicos. Há finalmente aquelas às quais somos como que transparentes, pois nos atravessam como se fôssemos de vidro. Existem raios que liquidam com bactérias patogênicas. Outros, como os raios ultravioletas, incidindo sobre gorduras naturais da pele, produzem agentes antirraquíticos (vitamina D). Outros tostam a epiderme, enquanto alguns são apenas térmicos, como os infravermelhos.

As radiações visíveis ou cores são as que nos interessam, assim mesmo tanto quanto contribuam para a saúde mental e psicossomática. A cromoterapia é a ciência que, se aproveitando das técnicas de decomposição da luz branca solar, toma uma ou mais delas como agentes terapêuticos específicos. As cores são utilizadas segundo várias técnicas tais como:

  • banhos de cores puras (com auxílio de lâmpadas ou emprego de vidros coloridos, ou panos estendidos, ou prismas);
  • b) água irradiada (seja utilizando garrafas coloridas, irradiação com vidros. . . )
  • c) pintura de ambientes e uso na indumentária.

Por razões óbvias restringir-nos-emos apenas aos últimos recursos. É pouco dizer que o vermelho é cor “quente e excitante”, que o azul é “frio e calmante”, que o amarelo é “alegre”… Vamo-nos aproveitar de um estudo de Iglesias Janeiro (Auto Superacion Integral) e ganharmos um pouco mais de conhecimento sobre a influência do mundo colorido sobre o organismo, sobre a mente, bem como sobre nossos níveis espirituais. Do que aprendermos, podemos tomar providência no sentido de evitar a cor malfazeja ou procurar a que nos convém, segundo nosso caso particular, segundo o que desejamos que ela faça em nosso benefício. Nesta magia das cores, portanto, é indispensável que conheçamos o que cada uma vale para o organismo e para o plano psíquico-espiritual.

Os conhecimentos sobre a influência das cores em nossa vida, não os encontrei na literatura propriamente ligada ao Yoga ou aos Vedas. Minha conclusão é a de que, os Mestres da Índia, muitos dos quais, por extrema pobreza e indiferença pelos aspectos exteriores, usam vestes sumárias, despreocupados com seu matiz. Contudo, não podemos nós, já que estamos pretendendo por todos os meios evitar ou corrigir distúrbios nervosos, desprezar as experiências feitas pela ciência ocidental. Não devemos também desconhecer que a ritualística religiosa de qualquer tempo e em todos os templos explorou a sensibilidade psíquica às cores.

Os prédios, os altares, os paramentos sacerdotais, através das cores e das formas, ao lado de outros estímulos, como a música e as essências aromáticas, atuam magicamente sobre as emoções e sentimentos dos crentes. Iglesias faz referência a uma técnica psiquiátrica que, segundo ele, foi usada na reedificação mental de soldados vítimas de shock (comoção de medo) nos campos de batalha da última guerra mundial. Chama-se aurorátono e consiste num “influxo da maravilha das cores e sons que comovem o ânimo do paciente”, com o que “sua psique revive as noções primárias vinculadas ao poder criador de quem vê e ouve, e pouco a pouco se sobrepõe à conturbação sofrida, terminando por olvidar o deprimente e os efeitos físicos e mentais que o acompanham”.

Vejam o valor e efeito de cada co no próximo texto.

Leia também: AS CORES E SEUS EFEITOS

*O livro “Yoga para Nervosos” encontra-se em PDF no Google.

Nota: imagem copiada de Dicas de Massagem

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SOFRIMENTO X FELICIDADE

Autoria do Prof. Hermógenes

O Professor Hermógenes, um dos precursores da ioga no Brasil, escreveu mais de 30 livros sobre a saúde física e mental.  Neste texto retirado de seu livro “Yoga para Nervosos”*, ele nos fala sobre sofrimento e felicidade.

Em relação ao problema sofrimento/felicidade, os filósofos se dividem em otimistas e pessimistas. Os primeiros afirmam ser a dor real, universal e existente por si mesma, enquanto o prazer ou a felicidade não passa de simples ausência dela. Os otimistas, ao contrário, acham ser a dor tão somente a falta da felicidade, tal como a sombra que só existe quando e onde falta a luz. Os primeiros veem o mundo com um desastrado desterro e o existir, em si mesmo, um sofrer incessante e sem esperança “neste vale de lágrimas”. Há muito mais pessimistas do que otimistas. O que mais se ouve são reclamações, lamentos e ais. Há muito mais rostos tristes do que sorridentes. Há muito menos indivíduos corajosos e afirmativos do que amedrontados e negativos. É raro encontrar quem tenha paz e seja autossuficiente em seu contentamento.

Não estou querendo catequizar ninguém para um otimismo piegas e enganoso. A filosofia yogui poderá até ser chamada pessimista, quando mostra ser este mundo maiávico (ilusório) feito de experiência dolorosa, concluindo que viver é conviver com a dor. A mesma filosofia pode ser chamada, no entanto, otimista ao ensinar um remédio para a dor da existência. Há não só uma salvação, mas também uma explicação para a dor. Tanto há um modo de amenizar, como de evitar o sofrimento. Yoga é, portanto, uma filosofia da Realidade: nem pessimista nem otimista. Afirma ser a Realidade, em sua manifestação ilusória, feita de opostos: luz e sombra; alegria e tristeza; riqueza e pobreza; fome e saciedade; altos e baixos; dias de sol e dias de chuva; rigor de inverno e de verão; umidade e secura; trigais e espinheiros; desertos e florestas; guerra e paz; harmonia e discórdia; berço e esquife; cair e levantar-se, crime e amor. . . São opostos e complementares. Um não existe sem o outro. Nos extremos de um, o outro nasce. Sucedem-se e coexistem. Estão aqui e além. Fora e dentro.

O yoguin é permanentemente sereno e equânime, isolado da dualidade, longe do alcance das fugazes manifestações do Real. Para ele, tudo é necessário e nada indispensável. Sabe conquistar o positivo, mas não se perturba, se o perde. Sabe evitar o negativo, mas não se apavora quando por ele é apanhado. Sabe gozar o dia quente e aproveitar a noite de chuva. Vê na dor não ameaça ou desgraça, mas um desafio ao próprio crescimento: à evolução. A angústia – este privilégio do bicho-homem – não é infelicidade em si, senão na medida em que o angustiado, por ignorância e autopiedade, enfrenta-a em mísero estado de medo e infelicidade. Para o yoguin, angústia é saudade da Perfeição, da Plenitude, do Amor Universal Onipresente. Sem o desafio e a convocação, representados pela angústia, o jiva (alma individual em evolução) se perderá, totalmente alienado, nesta existência maiávica (ilusória), onde os prazeres são muitos, mas decepcionantes. A vitória sobre a angústia, em última e definitiva instância, consiste em a alma individual em evolução (jiva) integrar-se à Alma Universal (Paramatman).

A dor em todas suas nuances e níveis é filha do pecado (erro) e neta da ignorância. A filosofia yogui diz igualmente que, por ignorância (avidya), o homem causa a si mesmo os piores danos, seus próprios sofrimentos. Esta é a chamada lei do karma, isto é, a lei da causalidade, segundo mesmo o bem ou o mal, a bem-aventurança ou a desgraça, como consequência dos atos que se praticar. O homem peca porque é ignorante. Ele ignora a Realidade de Deus. Ignora que ele e o Pai são um só. Ignora que ele e o próximo (e até mesmo seu inimigo) também são um só. Ignora a lei do karma e que ele, consequentemente, é o artífice de seu próprio destino.

O homem vive sob a convicção de ser um degradado, um cão sem dono, uma presa das enfermidades, mas achando ter o direito de vir a ser feliz de qualquer modo, até mesmo à custa do sofrimento dos “outros”. Por ignorância, crê num Deus antropomórfico a quem recorre somente nas horas de necessidade. Por ignorância já não acredita num Deus que não tem atendido as suas orações egoístas. Sendo ignorante, tem a ilusão de impunemente poder fazer todas as formas de maldades, desde que “ninguém fique sabendo que foi ele o autor”. Por ignorância, tem cometido, vem cometendo e cometerá toda sorte de violências contra a infalível lei do karma e, portanto, contra si mesmo, embora enganosamente queira ferir os outros. Por ignorância, cria para si mesmo as algemas de seus distúrbios neuróticos e os desesperos de sua alienação.

A filosofia do yoguin faculta-o a optar por ser bom ou ser mau, pelo viver enfermo ou sadio, pelo efêmero ou pelo Eterno, dedicar-se às coisas finitas ou ao Infinito. Dá-lhe sabedoria (vidya), com a qual pode, algum dia, deslumbrar-se na contemplação do Absoluto. A isto é que poderíamos chamar vidyaterapia ou a cura pela sabedoria. No ocidente, logoterapia. Estudando, meditando sobre e vivenciando no quotidiano e em toda a vida a libertadora Yoga Brahtna Vidya (Ciência Sintética do Absoluto), cada um de nós vai podendo evitar erros e consequentes sofrimentos. Ao mesmo tempo, sabedor das consequências kármicas de seus pensamentos, desejos e ações, o yoguin trata de semear na mente, no corpo e para o futuro, as sementes próprias à colheita de paz, alegria, serenidade, saúde, vitória, resistência…

A metafísica yogui desinteressa-se pela consideração do pecado. Não incute no homem que é pecador. Não se ocupa em falar sobre o mal. Ensina o caminho do bem. Não fala de castigos ao malvado. Anuncia promessas de libertação àquele que sofre.

*Esse livro é encontrado em PDF no Google.

Nota: Retrato do Dr. Gachet, obra de Van Gogh

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O NASCIMENTO DO HOMEM E A MORAL

Autoria do Prof. Hermógenes

Professor Hermógenes, um dos precursores da ioga no Brasil, escreveu mais de 30 livros sobre a saúde física e mental.  Neste texto retirado de seu livro “Yoga para Nervosos”*, ele nos ensina o que é a verdadeira “moral”.

No momento em que, no drama da criação, uma forma devida, ultrapassando o viver puramente instintivo, atingiu a capacidade de autodeterminação, nasceu o homem. O até então animal ganhou consciência e liberdade, mas em troca comprometeu-se com a lei universal, diante da qual passou a responder por seus atos. É ele em toda a natureza o único ser com capacidade de opção, o único a poder traçar seu destino e assim guiar-se ou para a luz ou para a treva, para o desastre ou para o êxito, para o sofrimento ou para a felicidade, para cima ou para baixo, para a neurose ou para a serenidade, para o medo ou para a segurança. O homem é, assim, o responsável por suas dores ou alegrias, grandezas ou indigências. Tudo isto quer dizer que é o único ser capacitado para a vida moral. Há quem diga o oposto.

Certas correntes de pensamento defendem para o homem inteira e irrestrita satisfação a seus impulsos, necessidades, tendências, desejos e interesses. Há quem defenda a tese da natureza amoral do ser humano. Tais escolas que reclamam a liberdade total, afirmam que só assim o ser humano será feliz e transcenderá seus próprios limites. Mas já se esvai o crédito que psicanalistas e materialistas mecanicistas puderam colher para suas absurdas conclusões acerca da inconveniência da chamada vida moral. Os movimentos mais avançados na ciência do homem ratificam o que sempre se acreditou, isto é, que o homem distanciado do bem adoece, fenece e perde-se em sofrimento.

A psicocibernética, encabeçada por Maxwel Maltz, como também a moderna neurofisiologia, através de uma de suas eminências, o Dr. Paul Chauchard, demonstram a responsabilidade e a liberdade do homem na construção do seu destino. A neurofisiologia demonstra-o com o estudo evolutivo do cérebro e do sistema nervoso, pois a responsabilidade e a liberdade surgiram desde que desenvolveu o cérebro superior, ou, como diria Chardin, desde quando “o de dentro” alcançou a consciência de si mesmo. A iguais conclusões sobre a responsabilidade do homem na construção de seu destino chegou a mais moderna escola de psicologia que vê a mente como primorosa e admirável máquina cibernética a executar com fidelidade e onipotência aquilo que moralmente o homem é ou pensa ser.

O amoralismo de obsoletas e falsas bases científicas, com tantos males já realizados e com tantas ameaças em potencial, deveria aperceber-se dessas mais recentes conclusões, verdadeiramente científicas. Poderia ser que, assim, seus iludidos sequazes reconhecessem os erros que seus dogmas os têm feito cometer. Não se pode deixar de reconhecer que a moral tradicional, errada em suas bases e conclusões, tem sido muito mais forte de desequilíbrios e infelicidades do que o oposto.

A moral frustradora, geradora de recalques e remorsos mórbidos, tem merecido muitas das acusações que lhe têm sido feitas. “A verdade, porém, é que a moral não é desequilibrante, mas, sim, a caricatura legalista dela, que consiste em opor a Moral a falsos instintos naturais que são apenas preconceitos sociais. Pelo contrário, atualmente a Moral aparece cada vez mais como uma higiene de ordem superior, necessária para nosso equilíbrio e garantia de um funcionamento cerebral normal, que permite assim a verdadeira liberdade e vontade” (Chauchard, Paul; O Domínio de Si).

Aquela moral desequilibrante, hipócrita, desnaturada e geradora de tantos males está superada. Paul Chauchard fala de uma Moral nova que “não é senão um retorno à verdadeira Moral, a Moral do Cristo e de S. Paulo, moral dos princípios tradicionais, mas realizada de maneira equilibrada e humanizante. E isto pela recusa em aceitar um “legalismo” desencarnado, repleto de proibições e autorizações, mas pela afirmação de condições positivas do desdobramento humano, fora até de qualquer consideração religiosa. É paradoxal que se caricaturize como otimismo irrealista, por ignorar a natureza, aqueles que, como Teilhard de Chardin, insistem nesta Moral Positiva”.

*O livro “Yoga para Nervosos” encontra-se em PDF no Google.

Nota: Geopolítico, Criança Observando o Nascimento do Novo Homem, obra de Dalí.

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A FISIOTERAPIA YÓGUICA

Autoria do Prof. Hermógenes

O Professor Hermógenes, um dos precursores da ioga no Brasil, escreveu mais de 30 livros sobre a saúde física e mental.  Neste texto retirado de seu livro “Yoga para Nervosos”*, ele nos fala sobre as maravilhas da fisioterapia yóguica.  

A fisioterapia yóguica é muito eficaz e, praticamente, isenta de riscos. Pode-se, com ela, ativar um fígado lerdo, reduzir a superprodução de uma glândula ou, ao contrário, estimular outra a trabalhar mais. Um centro nervoso prejudicado pela fadiga ou mal condicionado pode vir a ser corrigido. Os males decorrentes de escassa oxigenação podem ser curados. A anômala irrigação de um centro nervoso pode vir a ser normalizada. O nervosismo dos portadores de bico-de-papagaio é superado facilmente quando, através de exercícios, se livram das dores. O tratamento yóguico fisioterápico, por outro lado, é válido também por cooperar com as outras frentes de tratamento.

Os exercícios mentais, como a meditação, serão profundamente facilitados quando o praticante consiga o “silêncio do corpo” isto é, levá-lo a um estado de arogya (saúde tranquila e positiva), quando os desconfortos orgânicos já não forem obstáculos ao aprofundamento da consciência, rumo à zona de maior felicidade no Reino Interno de cada um. Quem desfruta de arogya consegue ser espontaneamente bom. Quer bem a todos e a tudo, sem se esforçar para isto. Ao contrário, o irascível sofredor do fígado, infeliz em suas mazelas, presa da inveja, com facilidade se irrita, pode ser mesquinho, vingativo, estourado, exatamente por causa de suas condições de indigência orgânica. O homem sadio irradia sua paz, sua saúde, sua confiança e seu amor. Pureza, contentamento, sinceridade, liberalidade, coragem, alegria são naturais naqueles que têm arogya. Quem é sadio tem uma filosofia muito diversa de quem vive fustigado de incômodos, de carências, de disfunções, de anomalias orgânicas.

Temos observado radicais mudanças no psiquismo, no comportamento moral e na orientação filosófica de alunos nossos que, através de práticas ensinadas nas aulas ou em meus livros, atingiram um estado de saúde que antes não conheciam. As técnicas fisioterápicas do Yoga agrupam-se sob os nomes:

  • âsanas: posturas corporais que beneficiam órgãos, sistemas orgânicos, articulações, glândulas, centros nervosos, vísceras, músculos, podendo, assim, corrigir disfunções;
  • pranayamas: exercícios energéticos, que corrigem defeitos metabólicos, através principalmente de controle respiratório;
  • bandhas: automassagens, que atingem até mesmo as regiões mais profundas do corpo;
  • kriyas: técnicas de purificação orgânica.

Em seu aspecto fisioterápico, o Yoga (ou a Ioga) é facilmente confundido com a ginástica vulgar. Mas quem se aprofunda na comparação conclui tratar-se de um sistema de características inconfundíveis. Âsana, literalmente, significa, postura, pose. As âsanas mexem com músculos, articulações, órgãos, que raramente se movimentam (no sentido conveniente à saúde). Algumas, pressionando um conjunto de vísceras, provocam massagens naturais; outras, flexionando o que comumente é rígido e reto, constituem verdadeiras fontes de prazer (tão gostosas como verdadeiros espreguiçamentos), constituem farmacopeia mecânica, assegurando saúde, flexibilidade e o frescor característico do corpo jovem.

Ao iniciar o aprendizado, o praticante não consegue naturalmente movimentação harmônica, devido à rigidez do corpo, mas, mesmo que seja superficial e grotesca a execução, traz ao organismo, danificado pelo sedentarismo, imediatos e surpreendentes benefícios: Numa âsana bem feita:

  • a mente deve estar concentrada no que o corpo faz;
  • a execução é lenta e isenta de esforços e forçamentos, o que vale dizer, é presidida pela máxima suavidade;
  • é mantida, mas sem constrangimento, sem desconforto, sem violentar a natureza;
  • as partes anatômicas, principalmente os músculos, não envolvidos no movimento e na pose, conservam-se em relax;
  • é agradável, como um bom espreguiçamento.

Uma sessão fisioterápica, também chamada de “HathaYoga” ou de “Gathasya Yoga”, é composta de uma sequência inteligente e cientificamente organizada de âsanas, pranayamas, bandhas e kriyas. O critério na organização de uma sessão deve levar em conta muitos fatores tais como: as necessidades e limitações do praticante; a posologia; as contraindicações; a sequência conveniente e, finalmente, uma série de considerações muito severas, a fim de que aquilo que é buscado não se transforme em veneno. Em obras especializadas, ensino várias séries que longa experiência e criteriosa observação me indicaram como as mais produtivas e isentas de riscos. Neste livro (Yoga para Nervosos), especializado no tratamento de pessoas nervosas, limito-me a sugerir as que visam a melhorar os ritmos, a harmonia e as energias do corpo.

*O livro “Yoga para Nervosos” encontra-se em PDF no Google.

Nota: imagem copiada de adunb.org.br

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O ESPORTE E AS EMOÇÕES

Autoria do Prof. Hermógenes

O Professor Hermógenes, um dos precursores da ioga no Brasil, escreveu mais de 30 livros sobre a saúde física e mental.  Neste texto retirado de seu livro “Yoga para Nervosos”*, ele nos fala sobre a posição de jogador e a de torcedor:

Nos esportes prefira, se puder, o papel de jogador ao de torcedor. Pratique as formas que:

– empreguem racionalmente os músculos;
– estimulem a circulação; deem prazer;
– eduquem o espírito;
– treinem a coragem;
– não sejam interessantes somente pela índole competitiva;
– levem-no ao ar livre, à luz do sol, finalmente à utilização inteligente de suas energias; – contribuam para aliviar tensões e inibições; ensinem a controlar a agressividade com o respeito às regras convencionadas;
– não concorra para gerar ansiedade, ultrapassar-se a si mesmo;
– não lhe esgotem os nervos e descontrolem o coração e a respiração; não transformem você num bruto;
– não lhe acentuem o sentido de rivalidade;
– não o deprimam nas chamadas “derrotas”, nem lhe alimentem orgulho e a vaidade nas chamadas “vitórias”;
– não lhe absorvam tanto a ponto de desequilibrar o emprego do tempo que a família e a profissão esperam de você.

Agora vamos considerar o esporte como fonte de emoção para quem está de fora. O torcedor é aquele sujeito encarapitado na arquibancada ou pregado junto ao transmissor (rádio ou televisão) a acompanhar os lances de seu time ou de seu competidor preferido. Identifica-se inteiramente com um ou outro e goza ou sofre intensamente com o que se passa. Já alguém disse que a competição desportiva é uma guerra “de faz de conta”, envolvendo milhões de seres humanos, não somente os contendores na área de luta.

O torcedor é um combatente que, empenhado na conquista da vitória, deixa-se tomar de profunda ansiedade e, na perspectiva da derrota, cai presa de raiva, ansiedade ou medo. Ansiedade, prazer, medo e desgosto se sucedem no psiquismo e nas vísceras de quem, como torcedor, assiste a uma partida. Enquanto os contendores, travando o combate na cancha ou no ringue, expressam-se fisicamente e exercitam-se no plano muscular, o infeliz do torcedor age somente com os nervos e glândulas. Sua condição é deplorável: exercício físico – nenhum; desgaste nervoso – tremendo. Imagine o que resulta daí…

Em muitos casos, até a morte por um ataque das coronárias tem acontecido. Milhares de pessoas perdem a calma, o gosto pela vida e até o autocontrole, pois tem havido casos de assassinatos por torcedores em pleno “sofrimento” da derrota de seu quadro. É de supor que milhares de úlceras tenham origem nos “sofrimentos” dos torcedores esportivos. O futebol já desencadeou uma guerra internacional.

Há uma infinidade de razões para que se desenvolvam as competições esportivas. Elas são eminentemente humanas. Os homens primitivos competiam. Os gregos criaram as olimpíadas. As disputas internacionais, se bem que acentuem sentimentos nacionalistas às vezes desmedidos, estabelecem vínculos de convivência, unindo os homens de todas as nações.

As lutas futebolísticas no Brasil, por exemplo, preenchem relevante papel social. O homem pobre que passa a semana num trabalho monótono e mal remunerado, cheio de problemas e dificuldades várias, na partida de domingo esquece as mágoas e descarrega algumas preocupações. No entanto, as pessoas excitadas, os ansiosos, os chamados nervosos agitados, os muito sensíveis, aqueles portadores de síndromes psicossomáticas, os que já tiveram infartes do miocárdio, os de fígado sensível, devem evitar as emoções do torcedor. Devem ficar à margem das lides desportivas.

Aos candidatos às vivências mais profundas e compensadoras do Yoga, a emocionalização industrializada é nociva. O praticante de Yoga tem a seu alcance emoções de alta sublimidade, onde o gozo é sereno e confortante. Não resta dúvida que os tipos portadores de monoideísmo e introspecção patológicos, isto é, as pessoas centradas em si mesmas, autistas, doentiamente ensimesmadas, lucrariam se comparecessem a tais espetáculos e se integrassem na atmosfera competitiva, se saíssem de si mesmas e compartilhassem do entusiasmo dos outros. Tais tipos, no entanto, são raros e recalcitrantes.

A maioria dos que lotam as arquibancadas no dia de jogo e, ainda nos dias subsequentes, desgastam-se em discussões iracundas, improdutivas e ruidosas, é constituída de pessoas a quem esta excitação ainda mais desarranja os nervos e agrava a ansiedade. A esta maioria, em nome de sua tranquilidade e consequente libertação de fenômenos psicossomáticos, eu diria que evitassem se apaixonar na torcida esportiva e que a substituíssem por divertimentos menos dopantes.

*O livro “Yoga para Nervosos” encontra-se em PDF no Google.

Nota:

Nota: O Futebol, obra de José Ramón

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O QUE É SER NORMAL?

Prof. Hermógenes

O Professor Hermógenes, um dos precursores da ioga no Brasil, escreveu mais de 30 livros sobre a saúde física e mental.  Neste texto retirado de seu livro “Yoga para Nervosos”*, ele nos fala sobre o que realmente é ser normal.

Se você responder que sua cura é voltar a ser normal, eu ainda lhe pediria que meditasse um pouco sobre o que é ser normal. O que você chama de normal?

Esta pergunta não tem recebido resposta plenamente satisfatória. Ninguém pode dizer com infalibilidade o que é ser normal ou quem é normal. O critério considerado mais científico é o estático, segundo o qual o normal é tudo aquilo que está dentro da norma, isto é, da faixa do mais frequente numa coletividade ou numa coleção. O anormal é o oposto, isto é, o menos frequente. Na loura Finlândia, por exemplo, um negro é uma anomalia. Nas selvas da Nigéria, um louro também o é.  Jesus, Sócrates, Gandhi, Luther King, por exemplo, foram “marginais” ou anormais nos ambientes e nos tempos em que viveram. Todo marginal cria problema: sejam os de baixo (delinquentes) sejam os anormais de cima, isto é, os santos e os sábios.

Aquele que é normal é geralmente bem ajustado à coletividade, pois se acomoda à mesmice dominante; afina-se pela vulgaridade; tem o mesmo comportamento, os mesmos interesses, as mesmas limitações, os mesmos defeitos, os mesmos gostos da maioria e até mesmo os mesmos ideais.

É ponto pacífico em ciência dizer-se que, em maior ou menor grau, somos todos neuróticos. Assim, o comportamento neurótico, pode-se concluir, é normal na sociedade. Não lhe cause isto alarma ou protestos, pois, na verdade, quanto mais econômica, técnica e politicamente desenvolvida uma sociedade, mais grave sua condição neurótica. Em “Psicanálise da Sociedade Contemporânea”. Erich From começa por demonstrar, estatisticamente, ser a frequência de suicídios, homicídios e alcoolismo, bem maior (normal, diríamos) nos países como os EE. UU., altamente desenvolvidos em tecnologia e cujo padrão de vida do povo é muito alto. Para ele, a sociedade contemporânea está doente e todo indivíduo bem ajustado a ela não deixa de, consequentemente, ser um doente. Seu livro é um tratado sobre a patologia da normalidade.

Ao dizer tudo isto, pretendi fazer você deixar de lamentar-se por sentir-se anormal. Problemas psíquicos e orgânicos não são privilégios seus. Seus contemporâneos, seus familiares, seus colegas de escritório, o homem da rua e até possivelmente seu conselheiro espiritual, pelo fato de viverem na mesma cultura, porque não passam de meros seres humanos, também são tíbios e vulneráveis a assaltos de angústia, sofrem de carências e imperfeições, cometem erros e deslizes, têm certas fobias, padecem desgostos e algumas vezes fracassam. Esta é a norma. O normal é a instabilidade da saúde orgânica, o desajuste e insatisfação psíquica e o sofrimento moral.

O que tem tirado sua coragem, sua vontade, a esperança e o respeito por si mesmo pode ser um estado de espírito, um vício que, embora você não saiba, é normal entre os seus companheiros de humanidade. Não ligue para quem (inclusive você mesmo) farisaicamente lhe apontar o dedo duro, acusando-o de fraco, pecador, neurótico, errado, desajustado…

Todos, dentro de certos limites, somos frutos do meio em que vivemos. É preciso ser muito vigilante, hábil e corajoso para conseguir salvar-se da normalidade enfermiça, isto é, da mesmice niveladora e tiranizante. Quando a sociedade elevar o padrão de suas normalidades, então seremos por ela ajudados a evoluir em nós mesmos. Mas esta sociedade sã, infelizmente, ainda é utopia.  Por enquanto, o que nos convém mesmo é acautelarmo-nos contra um ajustamento exato e automático, cômodo e inconsciente a esta sociedade na qual estamos inseridos. O que nos protege não é exatamente sermos normais. E preferível muitas vezes o desajuste do que a acomodação cega ao ambiente. Ser diferente é profilaxia contra a normalidade doentia.

No plano do corpo, o conceito de normalidade é mais preciso e mais simples do que no plano psíquico. Quando as funções orgânicas se realizam em harmonia, cada órgão perfazendo a contento seu papel específico na economia orgânica, isto é, enquanto funcione bem a capacidade autorreguladora, autocurativa, auto energizante do corpo, o organismo estará reagindo ao meio interno e ao meio externo de maneira normal, e isto é saúde.

Na verdade, porém, não podemos falar separadamente em saúde mental e saúde orgânica. A divisão do homem em corpo e alma é hoje, já o sabemos, uma noção obsoleta. A ciência está dizendo que mente e corpo, matéria e espírito, constituem unidade. Reafirmo a conveniência de que você pense um pouco antes de cair presa da ânsia de ficar bom, de tornar-se normal, de superar logo suas imperfeições e fraquezas. Não seja intransigente com ninguém e principalmente consigo mesmo. Deixe de se horrorizar com suas quedas e crises. Lembre-se de que muita gente por você tida como curada, normal e mesmo perfeita também carrega uma cruz, também cai e levanta-se e novamente tropeça…

*Esse livro é encontrado em PDF no Google.

Nota: A Siesta, obra de Van Gogh

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