Arquivo da categoria: Depoimentos/Saúde Mental

Depoimentos de portadores de Transtornos Mentais.

TAB, FILHO E SEPARAÇÃO

Autoria de Rodrigo Morais

Na nossa sociedade, infelizmente, a confusão entre diagnóstico (que identifica uma situação para indicar os tratamentos, buscando melhor qualidade de vida) e “rótulo” (ideia de julgamento social, baseada nos preconceitos e estereótipos) tem lançado uma neblina na compreensão de muitas pessoas, que ao invés de popularizar as informações sobre os transtornos (aumentando sua aceitação e reduzindo a invisibilidade social), incita-as ao entendimento de diagnóstico como rótulo, como indutor de estigma social; levando-as à tentativas constantes de relativização do diagnóstico, minimização e manipulação de informações. Como se, para alguém que tem um transtorno psicológico real, o fato de transmitir a outra pessoa a percepção de que não possui aquela condição, e perceber nessa pessoa algum acolhimento, pudesse em si livrá-la de todos os sintomas e dificuldades decorrentes de sua situação real, de forma quase mágica.

Eu lido com uma situação dessa. Tenho uma companheira que foi diagnosticada com TAB (Transtorno Afetivo Bipolar) aos 14 anos (seu pai possui TAB, depressão, esquizofrenia e mais recentemente, desenvolveu Alzheimer). Foi atendida regularmente por psiquiatra e medicada durante mais de 14 anos com estabilizante de humor e antidepressivo. Devido ao comportamento do pai, seu ambiente familiar foi instável, traumático, conturbado e abusivo em todos os níveis. A mãe, impotente diante do desequilíbrio do pai, possivelmente entendia que era uma forma de “compensá-los” deixando-os fazer o que queriam e mentindo, encobrindo diversas situações do pai, sem enxergar os outros problemas que isso iria gerar.

Até onde conheço, não é indicado o uso de cannabis para pessoas que tem TAB, porém ela fuma maconha desde a adolescência, como infelizmente é comum em muitos círculos sociais, fazendo uso quase diário, durante alguns períodos, intercalando com ciclos de maior intervalo. Durante o nosso namoro, eu não tinha conhecimento da situação, achava estranho que, nalguns dias, ela ficava o dia inteiro na cama. Falava que era depressão, que ia passar. Dizia que tomava medicamentos, mas que seu objetivo era reduzir a utilização, até não precisar mais. Após idas e vindas, tivemos um filho e iniciamos uma vida em conjunto na tentativa de criá-lo da melhor forma.

Foram 3 anos de muitos abusos emocionais, desequilíbrio, agressões verbais constantes, insegurança psicológica, e oscilações no comportamento (pontuados, sim, por alguns momentos bons), culminando em um episódio em que ela decidiu (por conta própria, contra todos os meus pedidos) amamentar nosso filho, horas depois de ter fumado maconha. Minha preocupação não é moral (ela é adulta e já está lidando com as consequências), e sim com a saúde do meu filho.

Eu havia enviado estudos de diversas fontes, todos desaconselhando uso de maconha em situação de amamentação, e já havia pedido que não fizesse isso. Ela havia dito que concordava, mas na hora mudou e disse que nunca tinha concordado (gaslighting) e que aquilo era questão de opinião e ela pensava diferente. Precisei dizer a ela que caso continuasse, eu chamaria a mãe dela ou a polícia – isso a fez parar de amamentar, mas imediatamente começou a relativizar a situação, dizendo que eu estava falando de forma agressiva, e isso também afetava o nosso filho. Naquele momento, acho que perdi qualquer admiração e amor que ainda restava por ela, ao ver quão irresponsável estava sendo, relativizando a situação e tentando me colocar como responsável.

O relacionamento agora está caminhando para uma separação (detalhei um pouco das situações em outras postagens que fiz aqui neste fórum). Hoje em dia, uma separação geralmente se encaminha para uma guarda compartilhada, mas confesso que tenho muita dúvida sobre a condição dela de criar um filho. Preparar refeições, dar banho, e colocar para dormir são coisas que dividimos e ela faz sem dificuldades, até aí sem problemas, a questão é pensar na formação de personalidade, caráter, princípios e valores ao longo dos anos.

Na atual situação (vivendo juntos e dividindo as tarefas), por diversas vezes perde a hora, dorme demais, desiste das coisas. Esquece coisas importantes. Acorda tarde e trabalha com a roupa com que dormiu. Imagino como seria numa situação de morar sozinha e ter de cuidar de si e do nosso filho. Sem falar de outros hábitos familiares/culturais, como críticas em excesso, inveja, desmerecer as conquistas dos outros, reclamações e pessimismo constante. Não quero que meu filho seja mais um a fazer parte dessa espiral descendente.

Ela não tem dialogo comigo, quando temos qualquer desentendimento banal que um casal resolveria facilmente. Habitualmente leva essas situações nossas para “desabafar” com outras pessoas (obviamente, contando a versão dela), expondo nossa vida. O maior problema é que a partir do nascimento de nosso filho, ela passou a consultar-se com uma psiquiatra online que, segundo ela, “removeu” seu diagnóstico de TAB, dizendo que ela tem TDH. É triste dizer, convivo com ela faz 6 anos, morando juntos a mais de 3 anos e posso afirmar pelo convívio e pelas inúmeras situações que vivemos, que ela tem todos os sintomas de TAB e que está piorando a cada dia.

Minha esposa tem uma grande capacidade de convencimento, manipulação, terceirização de responsabilidade… Eu não sei o que ela falava para a psiquiatra dela, pois nunca deixou que eu participasse de uma sessão sequer (ela se trancava no quarto para ninguém ouvir), sendo que é altamente recomendado que alguém acompanhe, pelo menos, alguns minutos, pois a percepção da pessoa pode ser muito diferente da realidade. A psiquiatra é de outra cidade, atende pela internet no horário marcado, não consegue enxergar o conjunto de evidências da vida dela que não condiz com o que ela supostamente falou. Desconfio que tenha induzido a psiquiatra a remover esse diagnóstico (até onde sei, não realizaram nenhuma tomografia de crânio, ou seja as evidências que a psiquiatra tem, são unicamente as coisas que ela falava).

Confesso que estou em grande dúvida a respeito de seguir com uma separação amigável (guarda compartilhada) ou avançar para um pedido de guarda unilateral do meu filho. Sei que isso traria outros problemas também….

Agradeço se alguém tiver algum insight sobre a situação.

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BIPOLARIDADE – ATÉ ONDE É POSSÍVEL SER COMPANHEIRO(A)?

Autoria de Rodrigo Morais

Conviver com a minha companheira tem sido muito difícil para mim.  Ela tem TAB (Transtorno Afetivo Bipolar) e depressão. Estamos tentando tratamento já faz algum tempo. Temos uma filha e tenho receio de que, à medida que ela cresça, esses problemas se tornem mais aparentes e a influenciem da mesma forma que aconteceu com a minha companheira que viveu uma relação familiar bastante disfuncional, pois seu pai também tinha TAB e depressão e, na idade avançada, desenvolveu Alzheimer. Era desequilibrado e agressivo com a mãe e a filha.

Antes de qualquer coisa, não quero me colocar como “o certo” da história, porque também tenho os meus desafios e pontos a melhorar. Passei a ler, a me informar, e a integrar grupos de apoio sobre TAB. Sei que muitas coisas não são escolhas da pessoa com transtornos mentais, e sim, impostas por sua própria condição. Entre namoro e união estável nós estamos juntos há cinco anos. Ela possui dificuldade (ou talvez seja impossibilidade) de fazer autocrítica, de admitir suas falhas ou erros, de se desculpar e de agradecer.

Descobrimos a gravidez quando tínhamos terminado o namoro, numa dessas suas fases de fantasia/idealismo. Ela estava flertando com a ideia de ter um relacionamento aberto – o que eu não critico no aspecto moral, embora não seja o que busco para mim. Acho bem delicado que alguém que tem dificuldades em lidar consigo mesma ou com uma segunda pessoa possa se estabilizar num tipo de relacionamento muito mais complexo. Após um processo delicado de conversas e entendimentos, combinamos que ela viria morar comigo (ela morava com os pais e fazia alguns bicos na sua área de atuação). Iríamos nos esforçar, reatar o relacionamento e criar a nossa filha juntos. Estabelecemos uma união estável.

Minha companheira desejava um parto natural. Fui atrás, fiz tudo o que era necessário, acompanhei todas as idas ao médico, montamos um quarto lindo para nossa filha, arquei com psiquiatra, terapias, agrados… Trabalhei duro durante os nove meses da gravidez para que absolutamente nada lhe faltasse. Hoje nossa filha tem um ano e meio, é linda e saudável. Minha mulher ficou esse período todo em casa cuidando da nenê, amamentando… Combinamos que ela cuidaria disso por agora e eu trabalharia fora durante essa primeira etapa. Financeiramente eu arco com tudo, cubro todas as despesas.  Não nos falta nada, moramos num ótimo lugar.

A família de minha mulher tem um histórico de não saber lidar com dinheiro. O pai era inconstante, ganhava bem, mas afundou a família em dívidas e a mãe não tem controle de gastos. Minha esposa tem questões não resolvidas em relação ao trabalho. Costuma entrar em devaneios, dizendo que deveria ganhar bem para cuidar da filha, ora me crítica porque tenho independência financeira e ela não, sendo que toda a minha vida profissional foi construída antes de conhecê-la. Ela exige bastante de mim. Nunca teve bons exemplos de relacionamento entre os pais e da gestão financeira de um lar. Vive em conflito comigo e credita tudo ao “machismo”. Sei que vivemos num mundo machista e isso requer algumas desconstruções, mas não importa o que eu faça para mudar, ela diz que não é suficiente.

No que diz respeito ao nosso relacionamento, ela se esquece de muitas coisas, e cria outras completamente diferentes. Por diversas vezes, no seu nervosismo, fala ou faz algo e depois nega, até o ponto de ironizar, dizendo que eu que preciso de tratamento, que estou inventando coisas. Para os outros (vizinhos, parentes) coloca-se como uma pessoa razoável e controlada, mas dentro de casa vive no limite, ofende-se e se irrita por qualquer coisa.

Vida sexual praticamente não temos, raramente percebo algum interesse. Ela já chegou a admitir que tem baixa libido. Não era assim no namoro. Eu compreendo que os remédios controlados têm efeitos colaterais, mas passam semanas e nada de intimidade, zero iniciativa por parte dela. E em todos esses pontos ela busca comparações, equivalências distorcidas para sustentar a ideia de que o comportamento dela é normal… Ela vai atrás de casos de exceções para citar como exemplos e dizer “olha, fulana, sicrana também é assim”. E desse jeito vai tentando ajustar o mundo e as coisas numa leitura distorcida para não ser confrontada.

Minha vida profissional já está sendo afetada. Coordeno uma equipe e preciso me motivar, para motivar os outros. Ultimamente está bem difícil, pois chego em casa e não carrego minhas baterias, pois as discussões por motivos banais sugam minha energia… É como se eu tivesse de ser forte o tempo inteiro, porque ela nunca tem condição de “segurar a onda” num dia ruim.

Iniciamos uma terapia de casal, mas bastou a terapeuta dizer que o trabalho de cuidar de uma criança era mais prazeroso do que trabalhar “fora” numa empresa, para que ela a rotulasse  de machista e não quisesse mais voltar.

Está bem difícil. As oscilações acontecem com frequência. Eu gosto muito dela, mas não estou conseguindo mais viver assim. Seu pai, os tios, a mãe, a família, todos têm algum problema psicológico. É inútil pedir ajuda, pois são passionais, acham que eu estou criticando minha esposa. E ela não admite que possui um problema, na verdade finge não ter e, quando eu toco no assunto, vem na ofensiva. Não sei mais o que fazer, mas não quero ver a minha família se esfacelar diante dos meus olhos. Tenho receio, principalmente, em relação à criação da minha filha. Vamos novamente para mais uma tentativa juntos…

Agradeço o conteúdo que este site sempre publica.

Ilustração: Mulher com Gato, 1953, obra de Di Cavalcanti

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BIPOLARIDADE X BODERLINE

Autoria de Melissa Silva

Sou sozinha, tornei-me antissocial em razão dos problemas que carrego. Procurei no Google sobre “marido bipolar” e encontrei este site. Eu sou borderline e meu marido é bipolar. Os meus pensamentos, ao escrever, fogem um pouco e talvez esteja meio desconexo o texto, espero que entendam.

No início do namoro foi tudo muito impulsivo e apaixonante. Nenhum dos dois nada sabia sobre esse amor tóxico. Seu pai morava em Londres, achou uma oportunidade de emprego boa para nós e fomos para Camden. Tudo era lindo até a primeira briga, quando ele quebrou alguns móveis. Relevei. Depois teve um devaneio. Já que trabalhamos com internet, e nada impede o local físico de trabalho, fomos para Liberec. Maravilha! Foi lindo. Foi horrível também. Pouco antes da pandemia explodir, voltamos para o Brasil.

Em 2010 fui a um psiquiatra. O tratamento à base de clonazepam durou um bom tempo. Respondia bem, aí meu marido achou melhor diminuir a dose e parar. Em 2015 a depressão chegou e novamente fui a outro psiquiatra, desta vez diagnosticada com Transtorno Borderline devido a outros sintomas e histórico. Novo tratamento, tudo à risca e anotado em um bloco de papel os horários do medicamento. Conseguia executar as tarefas domésticas e ainda trabalhar com ânimo na empresa. Tudo correndo perfeitamente. Mas nada dura muito. Os psicotrópicos me maltratam, amortecem o corpo e dão alucinações.

Meu marido acha melhor parar com o tratamento. Diz que passeios, sol, foco e carinho são a cura. Desisti. Mas permaneço centrada e atualmente as crises são poucas, mas quando chegam são severas. Eu tentei de todas as formas voltar ao psiquiatra e fazer o tratamento até me estabilizar. Ele me bloqueia, dizendo que eu não tenho nada e médicos são comerciantes. Minha família acha que ele cuida de mim e “tá tudo certo”, pois sempre fui assim, segundo ela. Todas as vezes em que eu tento retornar ao tratamento, esse funciona por meses e logo após tudo vira uma bagunça e ele me impede de prosseguir. Eu aceito, pois acho melhor parar a virar um inferno. Ele não acha que preciso medicação, pois tudo é uma cura pela natureza e preciso somente de água, luz solar e ocupar minha cabeça para não deixar minha doença me atacar. Eu caio na dele novamente e entre surtos me machuco.

O meu marido sofre de bipolaridade desde jovem, mas não aceita medicação nem terapia. Diz que não existe transtorno mental, que é invenção para os médicos “roubarem” dinheiro, puro comércio. A família dele em seu último surto alegou que ele não tem nada e fui eu quem o droguei com alguma medicação minha, resultando daí o “show da bipolaridade”. Em certas crises ele se torna compulsivo e deslumbrado. Realiza compras, faz planos, vemos apartamentos fora de nosso Estado como a chance para uma nova vida. Eu me iludo, entro na dele e pesquiso, faço compras e idealizo diversas coisas. De repente tudo muda. As compras já não fazem mais sentido e ficam entulhando cantos da casa, os apartamentos pesquisados viram lixo eletrônico no computador. Quantas vezes planejamos as coisas e de véspera ele cancela tudo, dizendo que não dará certo, ou que não é o momento. Quantos empregos desistidos. Se não fosse o meu salário não teríamos mais nada.

O relacionamento já não presta mais e o sexo é raro. Tudo muda da água pro vinho. Juras de amor tornam-se brigas. Abro o celular ou notebook dele, geralmente encontro pornografia escancarada ou conversas com mulheres aleatórias de chats de relacionamento. Mas o sexo não existe entre nós. Como sou borderline, isso é uma linha tênue. Nosso casamento é tóxico. Há dias em que ele me diz que sou a mulher mais linda do mundo, noutro a pornografia toma conta de seu computador e sou um lixo. Mas eu insisto em levar nosso casamento para a frente. Quando ele surta, fica jogado na cama vendo TV a semana toda, ou faz compras e planejamentos fantásticos. Quando surto, fico louca, gritando e esbravejando, quebrando as coisas. Como viver assim?

Filhos é impossível devido a minha condição e a falta de libido dele. É um devaneio após outro. Eu mergulho em seus planos e assim vivemos, mas depois tudo muda. É uma montanha russa. Separação? Improvável, morreremos assim. Inúmeros papéis de advogados desfeitos ou rasgados na minha frente. Assinados, depois cancelados. Viagens e passaportes rasgados. Apartamentos com a obra pela metade, depois vendidos por não conseguir morar na própria obra.  Ofertas em trabalhos de multinacionais abandonados por ele dizer que “não está preparado ainda”. Nossa vida é feita de diversos percalços, devaneios, surtos, vislumbres, altos, baixos, minha agressividade, a impulsividade dele, o amor doentio, o ódio supremo.

Estou criando coragem para sumir disso tudo e viver minha vida, meu tratamento. Tenho total consciência de que se eu voltasse à terapia e à medicação eu seria “normal”. Mas tenho pena de largá-lo, pois sei que ele não consegue seguir sozinho, sua vida é uma bagunça.

Ao ler meu relato, vocês podem pensar que isso é só ficção. Quem me dera fosse. É o relato de uma mulher de 38 anos com o coração quebrado e que já não suporta mais tudo isso! Fica meu recado para que jamais se envolvam com um homem assim. E se envolver por acaso, por favor insista no tratamento, pois será impossível do contrário viver. Nunca assinem contrato compartilhado, sociedade juntos ou algo do gênero. Tudo muda no mês seguinte, quando a fase da doença mental dele muda e isso pode causar danos financeiros e emocionais seríssimos.

Ilustração: A Banheira, 1886, obra de Edgar Degas

 

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BIPOLARIDADE X ABANDONO DA FAMÍLIA

Autoria de Alex Mendes

Tenho um relacionamento de quase 10 anos com minha esposa e tivemos dois filhos, sendo uma de 9 anos e um de 2 anos. Desde o início o nosso relacionamento foi complicado pelo seu temperamento difícil e depressão. Nunca entendi o que estava acontecendo. Com o tempo a bebida se tornou minha fuga (meu maior erro) e tivemos muitas brigas.

No início da pandemia e já com dois filhos, as coisas vieram a piorar muito, com crises de “desmaios”. Ela simplesmente apagava e caia no chão, voltando a si após algum tempo. Sempre manteve acompanhamento com profissionais de psiquiatria, porém eram profissionais amigos da família. Ela sempre era descontrolada com os remédios. Nesse ano procuramos ajuda com outros profissionais, sendo detectado o TAB.

Minha esposa ficou internada por 15 dias em uma conceituada clínica psiquiatra, mas após essa internação voltou para casa no mesmo estado em que foi. Voltou de lá por opção e não deu resultado esperado. Passado algum tempo os médicos optaram por uma nova internação, só que dessa vez teria que ficar 30 dias. Sempre a apoiei para que voltasse curada para mim e parra nossos dois filhos. Mas foi aí que meu pesadelo começou. No início ela me ligava praticamente todos os, dias dizia que me amava e que estava com muita saudade. Após uns 10 a 15 dias as coisas mudaram. Era bem rápida e sucinta ao telefone e sempre desligava antes de me despedir. Ligava cada vez menos e não falava mais de forma carinhosa comigo. Achei estranho, mas imagineis que seria pelo estado dela.

Os 30 dias se passaram e ela retornou para casa. Para minha surpresa, ao vê-la, nem um abraço eu ganhei. Foi seca e fria. Perguntei-lhe se estava tudo bem e disse que sim. Ao conversamos no dia seguinte, ela me disse que estava apaixonada por um paciente que conheceu na clínica. Já estava de namoro com aliança e tudo no dedo. Hoje completa 6 dias que ela retornou da clínica, a vida dela parece estar para lá. As pessoas ligam para ela falando sobre as coisas que ocorrem lá. Até para os filhos ela parece não ligar. Duas horas foi o máximo nesses dias que ficou com a filha.

Estou sofrendo muito pela perda da pessoa que amo e resolvi ler aqui sobre o assunto e me informar sobre a situação dela. Enfim, todo o relato de gastos excessivos, libido dentre outros, ela apresenta. Hoje entendi que está na fase de mania e já me preocupo com a fase depressiva que virá, já que esse tal namorado sofre do mesmo problema que ela.

Estou sofrendo muito, pois ainda a amo e espero um dia que tudo isso possa passar e ela veja o quanto errou. Enquanto isso estou cuidando de nossos filhos e tentando me levantar. Tenho a ajuda da mãe dela e de uma funcionária que fica com o nosso filho mais novo, pois minha esposa não fica em casa, e quando está fica dormindo, ou na companhia do namorado. Rezo para tudo isso passar o quanto antes e restabelecer minha vida novamente. Não sei o que faço, além de procurar por artigos como esse. Estou com nossos dois filhos e em fase de sofrimento, pois a amo muito.

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BIPOLARIDADE X TDAH

Autoria de Guilherme Abrantes

Sou casado há 10 anos com uma mulher bipolar e eu tenho TDAH (Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade). Ela teve o diagnóstico de bipolaridade bem cedo. Alguns anos antes de nos casarmos, teve um surto e foi diagnosticada. Eu já sabia desta sua condição e, por ela ter sido sempre parte do meu sonho, resolvi investir. Logo que ficamos juntos, ela parou a medicação, porque engordava, depois por causa das gravidezes e por fim não quis voltar a tomar, porque questionava o seu diagnóstico.

No início do relacionamento, descobri algumas traições virtuais e fiquei bem mal, mas aceitei. Perdoei e resolvi continuar. Nossa vida sempre foi de muitas brigas, gritarias, polícia em casa, momentos em que ela chegou até a me agredir. Eu a amava muito. Ela saiu de casa com as crianças por mais de 20 vezes. Sempre pedia para voltar ou eu ia atrás. Sou muito apaixonado por ela e talvez pelo meu diagnóstico de TDAH, por ter baixa autoestima, aceitei-a de volta.

Aconteceram coisas absurdas. Minha esposa foi embora de casa no dia em que tive alta de um infarto. Não consegui me despedir da minha mãe que faleceu por COVID, porque na hora em que minha mãe estava indo se internar, ela cismou que também estava com COVID e eu tinha que levar-lhe o oxímetro. Depois do nascimento do nosso segundo filho nossa vida sexual diminuiu drasticamente. Eu sempre procurava e quase nunca tinha sucesso. Conversávamos sempre sobre ela voltar ao tratamento e ela sempre negava.

Em novembro do último ano, fazia 6 meses que meus pais tinham morrido, eu ainda estava muito mal. Minha esposa, por um motivo bobo (limpeza da casa), começou a gritar comigo. Desta vez eu não me contive, segurei ela na cabeça e pedi: “Pelo amor de Deus, pare de ferrar minha cabeça”. Nesse momento senti que ela iria me bater. Peguei a mão dela, e no desespero com a mão dela me bati duas vezes dizendo: “Quer me bater, bata logo”. Mais uma vez ela saiu de casa e levou meus filhos. Meu mundo caiu. Tinha perdido meus pais com uma diferença de um mês, há seis meses, e vi minha família indo embora. Tomei uma série de calmantes para apagar e apaguei por quase três dias, não me lembro de nada desses dias.

Vi em uma mensagem que ela queria voltar e eu não deixei. Certo dia ela voltou para casa para deixar meu filho e me viu em um estado deplorável e começou a me filmar. Fui pegar a chave meio tonto ainda dos remédios. Disse-lhe que se ela saiu, não tinha por que ter a chave. Ela partiu para cima de mim, e disputamos a chave, e ela filmando tudo… Os vizinhos chamaram a polícia e ela foi embora. Dois dias descobri que minha mulher tinha me denunciado e havia uma medida restritiva. Eu estava sendo processado criminalmente… Meu mundo caiu…. Fiquei muito mal, desesperado e fui atrás mais uma vez.

Depois de dois meses nós voltamos a nos falar e reatamos nosso casamento, pois eu sou muito apaixonado. Passados quase dois meses da nossa volta, descobri que neste período de separação ela se interessou por diversos caras (garçom de bar, colega de trabalho, etc). Reservou hotel para levá-los, colocando até sua segurança em risco e sem critério nenhum. Voltou a procurar ex namorados, pessoas do passado.

Questionei muito sobre tudo isso. Como ela queria o pai dos filhos dela preso e ainda tinha vontade de se relacionar com outros, se comigo não tinha nenhuma? Mais uma vez meu mundo caiu. Eu me senti e me sinto o pior homem do mundo. Hoje em dia não tenho mais confiança, pois a cada hora descubro uma mentira, e ela ameaça ir embora. Tenho que me humilhar para ela ficar. Não sei mais o que fazer. Hoje fazemos terapia de casal, eu trato meu TDAH com psiquiatra e terapias, e ela voltou ao tratamento, mas vivemos no limite.

Ilustração: O Sonho da Razão Produz Monstros, 1799, Goya

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BIPOLARIDADE – S.O.S. ESTOU QUASE DESISTINDO!

Autoria de Nath Braga

Eu tenho 32 anos e estou com meu marido desde os 17. O nosso relacionamento beirava à perfeição! Era tanta parceria, tanto carinho, cuidado e amor que eu sempre ficava imaginando como isso seria possível e o quão grata eu era por ter algo tão especial! As nossas famílias eram extremamente desestruturadas e nós dois, juntos, arrumávamos forças para lidar com tudo. Assim foi por vários anos. Era sempre nós dois juntos. Realmente tínhamos algo especial.

Após aproximadamente 6 anos de relacionamento, meu marido teve que lidar com o encerramento da empresa em que ele trabalhava, e isso foi o suficiente para vê-lo se tornar outra pessoa. A empresa era da tia dele (até então sócia majoritária), encontrando-se muito bem financeiramente. O setor ia encerrar, pois atuavam na área social, pois o governo cortou o orçamento para isso, mas não estava falindo, pois a empresa já tinha feito muito dinheiro no decorrer de outros anos, com o meu marido sempre diversificando os negócios.

O meu esposo começou a apresentar falas exageradas de que ia parar debaixo da ponte, passar fome e que a vida havia acabado. Em algum momento essas falas começaram a serem redirecionadas a mim. Dizia que eu era uma parasita, que se eu tivesse dinheiro e a minha família não fosse “fodida” não haveria preocupação, que todos nós éramos uns encostados, que eu vivia fora da realidade. Eu tentava acalmá-lo, dizendo-lhe que ele não iria parar debaixo da ponte, que a gente daria um jeito. Dizia que ele era super inteligente, com várias especializações e tudo se resolveria. Estava claro para mim que ele não estava normal.

Aquilo foi tão surreal, pois namoramos durante 7 anos antes disso e nunca brigávamos, nem nos tratávamos assim, e do nada ele passou a ser cada vez mais agressivo. No começo eu só conseguia sentir que ele estava doente, mas depois de um tempo passei a internalizar tudo o que falava e realmente isso me afetou.

Várias coisas aconteceram, começando por sua tia manipuladora que fechou a empresa e não lhe pagou o que era justo. Sua família sempre exerceu controle sobre ele, através do dinheiro, e não queria fazer um acerto, mas, sim, mantê-lo como seu dependente. Ele tinha muita dificuldade em se posicionar e não saiu com nada que lhe favorecesse. Mas parecia que ele descontava tudo em mim, pois era a única pessoa com quem tinha liberdade para falar, porque fazia tudo que a família queria nas situações mais absurdas.

Acabamos fazendo um mau negócio ao iniciarmos uma operação industrial na área alimentícia, e as coisas só pioraram. Com uma operação que já era ruim e caótica, meu marido entrou numa segunda indústria e arrastou-me para essa loucura com ele. Ninguém em sã consciência faria o que fez. Saiu para almoçar num sábado e voltou com essa empresa comprada. Ela foi nos passada com números forjados (estava falida), os funcionários eram praticamente uma quadrilha, eu tinha medo até de ficar lá só, a operação funcionava 24h e todos os dias do ano, sendo a madrugada a parte mais puxada. Meu marido cuidava do operacional. Passava noites sem dormir. Não havia rotina, virava dias e mais dias sob extremo estresse, além de estarmos dormindo e alguém ligar na madrugada e termos que sair correndo para a fábrica, já caindo no olho do furacão. Isso piorou a situação dele.

Ele sempre fez terapia, mas eu cheguei a brigar com a psicóloga dele por puro desespero, pois sabia que ele tinha alguma condição grave emocional, e ela continuava tratando-o sem qualquer indicação de acompanhamento psiquiátrico ou de diagnóstico de qualquer doença. Em uma das crises dele e de extrema confusão, entrei em contato com ela aos berros e choro, chamando-a de incompetente. Ela o tratou durante anos e eu nunca fui ouvida, agora desabava tudo, e ele ainda saía de lá com a validação de que eu era quem estava errada. Esse foi a data em que eu tentei suicídio.

Eu não sabia se ele mentia na terapia ou se não tinha noção da gravidade das coisas que fazia, mas tinha a certeza de que algo não estava bem. Afinal, eu namorei com ele durante 7 anos, antes de começar com essas crises e o conhecia bem. Fui até em algumas consultas com ele, quando a nossa situação quase estava saindo do controle. Ele também ia à minha terapia (além da terapia de casal que fizemos). Eu tinha a impressão de que lá ele conseguia o respaldo de que eu era infantil e ele o certo. Na sua cabeça, nas distorções horrorosas, eu sempre estava fazendo cagadas, quando na verdade era puro surto dele. Em algum momento meu emocional ficou muito frágil.

Após uma situação grave que passamos, ele foi ao psiquiatra e foi medicado apenas como ansioso. Ele não era só ansioso, era bipolar! Eu sei dizer se ele está em crise só pelo seu olhar. Eu sofria noite e dia na mão dele. Qualquer coisa virava brigas homéricas com uma baixaria sem fim. Eu virava a puta, vagabunda, parasita, a que tinha caso com seu melhor amigo e daí para pior. Paranoia pura! Ele passava a me odiar naquele momento. Tudo virava ódio do nada. Há mensagens no meu celular em que ele manda “eu te amo” em cima e do nada, embaixo, ele me xinga por alguma situação inventada.

Quando está em mania, meu marido parece que quer ver o meu fim. Numa dessas nossas brigas eu tomei uma quantidade grande de remédios e tentei suicídio. Quando ele chegou no banheiro e me viu mal, só falou que nem pra morrer eu prestava. Perdi a consciência, mas tenho certeza que demorou muito para me socorrer. Que pessoa que vê a outra assim e não recua?  Do nada ele voltava a ser aquela mesma pessoa que eu amava e com quem tinha tanto alinhamento, mas bastava uma situação de estresse para que buscasse motivo para brigar comigo: um papel deixado na mesa ou resgatando algo do passado, tudo distorcido.

Fechamos a empresa e recentemente, após novas brigas (até vizinhos chamarem a polícia com medo de algo nos acontecer), ele voltou ao psiquiatra. Pediu para que eu entrasse junto e a partir daí foi diagnosticado com bipolaridade, finalmente. Tenho a impressão que, no seu caso, vive mais em períodos de mania, com o ego elevadíssimo. Tudo sabe fazer e eu nada sei. Sua confiança fica absurda e me reduz a merda. O objetivo dele é claro: destruir o meu emocional. Até mesmo o abuso sexual infantil que eu sofri na mão de um primo, ele usa para me atingir. Seu objetivo é unicamente me machucar. Quando está no seu estado normal é o meu melhor amigo e sua companhia é a melhor do mundo. Ele me assusta, pois vive distorcendo minhas falas, criando situações horrorosas que são pura insanidade. Parece que só fica feliz quando briga e se esforça bastante para isso.

Faz uns 3 meses que ele iniciou o tratamento com estabilizador de humor e tudo parecia estar indo tão bem, mas agora precisou lidar novamente com a tia para sanar a questão financeira, pois ela não lhe pagou como deveria e isso está nitidamente o desestruturando. Eu sentia que estava para entrar em crise, há dias! Agora criou uma nova briga entre nós, passou a me acusar de ladra (eu sempre cuidei das finanças da família) e está realmente muito agressivo, a ponto de ameaçar partir para a agressão física.

Eu não sei mais o que eu faço.  Já fui ao fundo do poço várias vezes por causa dele que acabou com a minha autoestima. Já tentei me suicidar, já briguei com psicóloga, fui a chata todas as vezes em que fomos em algum psiquiatra e ele voltava com remédio para ansiedade ou depressão… Já batalhei muito por ele e por nós, mas me vejo extremamente frustrada. Sua fisionomia fechando é um gatilho pra mim.  Já começo a ter crise de ansiedade, esperando pela próxima briga. Passei a ter convulsões por conta do emocional.

Ele passou a “jurar-me”, falar que vai me bater, que vai me arrebentar, que vai isso e aquilo, que vai se separar e me deixar na merda, porque sempre foi quem proveu dinheiro e eu nada fiz. Sei que isso é parte da doença, mas me machuca. Eu não consigo lidar com o problema. E nem ele me permite! Se estou tentando não entrar na briga, fica me perseguindo. Passa o dia digitando absurdos para mim, é algo lunático mesmo…  Estou quase desistindo, não sei se dele ou de mim. Essa doença arrancou o que eu tinha de maior felicidade.

Ilustração: Cinzas, Edvar Munch, 1894

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