BIPOLARIDADE X TDAH

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Autoria de Guilherme Abrantes

Sou casado há 10 anos com uma mulher bipolar e eu tenho TDAH (Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade). Ela teve o diagnóstico de bipolaridade bem cedo. Alguns anos antes de nos casarmos, teve um surto e foi diagnosticada. Eu já sabia desta sua condição e, por ela ter sido sempre parte do meu sonho, resolvi investir. Logo que ficamos juntos, ela parou a medicação, porque engordava, depois por causa das gravidezes e por fim não quis voltar a tomar, porque questionava o seu diagnóstico.

No início do relacionamento, descobri algumas traições virtuais e fiquei bem mal, mas aceitei. Perdoei e resolvi continuar. Nossa vida sempre foi de muitas brigas, gritarias, polícia em casa, momentos em que ela chegou até a me agredir. Eu a amava muito. Ela saiu de casa com as crianças por mais de 20 vezes. Sempre pedia para voltar ou eu ia atrás. Sou muito apaixonado por ela e talvez pelo meu diagnóstico de TDAH, por ter baixa autoestima, aceitei-a de volta.

Aconteceram coisas absurdas. Minha esposa foi embora de casa no dia em que tive alta de um infarto. Não consegui me despedir da minha mãe que faleceu por COVID, porque na hora em que minha mãe estava indo se internar, ela cismou que também estava com COVID e eu tinha que levar-lhe o oxímetro. Depois do nascimento do nosso segundo filho nossa vida sexual diminuiu drasticamente. Eu sempre procurava e quase nunca tinha sucesso. Conversávamos sempre sobre ela voltar ao tratamento e ela sempre negava.

Em novembro do último ano, fazia 6 meses que meus pais tinham morrido, eu ainda estava muito mal. Minha esposa, por um motivo bobo (limpeza da casa), começou a gritar comigo. Desta vez eu não me contive, segurei ela na cabeça e pedi: “Pelo amor de Deus, pare de ferrar minha cabeça”. Nesse momento senti que ela iria me bater. Peguei a mão dela, e no desespero com a mão dela me bati duas vezes dizendo: “Quer me bater, bata logo”. Mais uma vez ela saiu de casa e levou meus filhos. Meu mundo caiu. Tinha perdido meus pais com uma diferença de um mês, há seis meses, e vi minha família indo embora. Tomei uma série de calmantes para apagar e apaguei por quase três dias, não me lembro de nada desses dias.

Vi em uma mensagem que ela queria voltar e eu não deixei. Certo dia ela voltou para casa para deixar meu filho e me viu em um estado deplorável e começou a me filmar. Fui pegar a chave meio tonto ainda dos remédios. Disse-lhe que se ela saiu, não tinha por que ter a chave. Ela partiu para cima de mim, e disputamos a chave, e ela filmando tudo… Os vizinhos chamaram a polícia e ela foi embora. Dois dias descobri que minha mulher tinha me denunciado e havia uma medida restritiva. Eu estava sendo processado criminalmente… Meu mundo caiu…. Fiquei muito mal, desesperado e fui atrás mais uma vez.

Depois de dois meses nós voltamos a nos falar e reatamos nosso casamento, pois eu sou muito apaixonado. Passados quase dois meses da nossa volta, descobri que neste período de separação ela se interessou por diversos caras (garçom de bar, colega de trabalho, etc). Reservou hotel para levá-los, colocando até sua segurança em risco e sem critério nenhum. Voltou a procurar ex namorados, pessoas do passado.

Questionei muito sobre tudo isso. Como ela queria o pai dos filhos dela preso e ainda tinha vontade de se relacionar com outros, se comigo não tinha nenhuma? Mais uma vez meu mundo caiu. Eu me senti e me sinto o pior homem do mundo. Hoje em dia não tenho mais confiança, pois a cada hora descubro uma mentira, e ela ameaça ir embora. Tenho que me humilhar para ela ficar. Não sei mais o que fazer. Hoje fazemos terapia de casal, eu trato meu TDAH com psiquiatra e terapias, e ela voltou ao tratamento, mas vivemos no limite.

Ilustração: O Sonho da Razão Produz Monstros, 1799, Goya

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7 comentaram em “BIPOLARIDADE X TDAH

  1. Maria Cláudia Frazão

    Olá Guilherme, sinta-se acolhido e abraçado!

    Li todo o seu relato, fiquei muito comovida com tudo que passou. Situações de sofrimento, de agressão, de abuso físico e psicológico. E pelo que eu li são cíclicos. Nossa vida é feita de ciclos, quando um ciclo se encerra, outro começa e assim por diante. O que eu vejo pelo seu relato é que você está preso, refém de um ciclo de dor e sofrimento e não consegue sair. E eu sei o quanto é difícil sair de tudo isso! Problemas, discussões, brigas, ameaças, e traumas emocionais profundamente enraizados, precisam de tratamento.

    Você precisa se cuidar, precisa encerrar esse ciclo doloroso, precisa se amar, reconstruir seu amor próprio, retomar as rédeas da sua vida e ser feliz! Sim, você merece ser feliz! Não descuide de você, se olhe com carinho, faça terapia individual (no seu caso é essencial) procure um bom psiquiatra para tratar o TDAH, faça coisas de que gosta, tenha contato com a natureza, procure conhecer o “ho’ponopono”, pois ele limpa traumas, feridas e mágoas. É uma ferramenta poderosa de cura interior! Conecte-se com toda sua essência.

    Deixo aqui o ho’ponopono pra você e a estima de que se liberte de todo sofrimento: “Guilherme abençoado/Eu sinto muito/Por favor me perdoa/Sou grato/Eu te amo”

    Paz e bem!

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  2. Luis Antônio

    Guilherme

    Seu relato traz tantos elementos do desgaste, das particularidades, e dos inúmeros caminhos que cruzaram a sua história e de sua família. Penso que o olhar sobre o que é a doença, e sobre o que é a atitude pessoal são os maiores desafios nesse tipo de relacionamento.

    Queremos somente a parte boa, e a parte ruim se torna um problema quando não suportamos mais tantos desprezos. E isso, na bipolaridade é muito forte. O desprezo, a indiferença e a culpa são tormentos frequentes, nem sempre reconhecidos, mas agressivos. Sobreviver a eles é uma condição de existência.

    Penso que não conseguimos cuidar do outro se não cuidarmos de nós primeiro. A terapia ajuda, mas a decisão pessoal de mudar, de recomeçar, essa precisa ser bem clara a vocês para o que virá. Senão o foco fica no sentimento, e quando a razão cobra, ela despedaça tudo.

    Não desista, invista, mas seja sincero com você, com sua família, e se não der certo, penso que você sairá mais leve desse cenário. Com sofrimentos? Certamente. Não vejo uma forma de não ser assim diante do seu relato, mas o horizonte, agora, não pode ser o momento, e sim um projeto estruturado para o futuro. Sem isso, talvez o buraco atual possa se tornar ainda mais profundo.

    Luz e paz!

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  3. Raul S.

    Guilherme

    Sinto seu desespero e sou solidário com você.

    Eu me vejo em sua narrativa e também percebo nela o que poderia ter sido meu futuro com minha ex. Não tinha noção de que esses eventos poderiam ocorrer num casamento em que os filhos estivessem envolvidos. Ao contrário, acreditava que eles poderiam neutralizar esses altos e baixos. Obrigado por compartilhar seu depoimento. É preciso muita coragem para fazê-lo e tenha certeza de que ele ajudará muitas pessoas na mesma situação.

    Seria muito bom que se orgulhasse de si mesmo. Raramente os transtornos se dão de forma isolada e é muito difícil saber o que vem da doença e o que é da pessoa. Muitas vezes, quando a mulher tem um caso, ela trata o marido mal, cria brigas de modo a evitar ter relações e intimidade. Além disso, se ela tiver transtorno de personalidade narcisista a tendência à manipulação como descarte e a recuperação podem se repetir infinitamente como um padrão, sobretudo se a outra pessoa for codependente emocional.

    Sugiro que dê uma olhada no material do site https://codabrasil.org.br/ e participe de uma reunião. Seu amor e cuidados têm sido direcionados para obter validação de uma fonte que talvez nunca venha a reconhecê-lo. Nesse turbilhão há também a situação dos seus filhos que devem estar sofrendo muito também. Talvez seja a hora de redirecionar seu investimento para eles.

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    1. Guilherme

      Raul

      Muito obrigado pelo seu comentário. Tenho pensado muito em buscar ajuda no CODA, mas me sinto envergonhado. Às vezes penso se não sou eu que estou sendo exigente demais, se não estou idealizando algo que nunca vou ter. Recentemente questionei como ela como podia ser carinhosa, elogiar, ter atenção com nosso filhos ou com outras pessoas e comigo não, já que sempre diz que não é carinhosa com ninguém… É muito humilhante ter que pedir isto.

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  4. Renato

    Boa tarde, Guilherme!

    Eu li seu depoimento e notei diversos pontos parecidos com o que tive no meu casamento. Fui casado por 4 anos e meio com uma pessoa bipolar que não levava a sério o tratamento, mesmo com incentivo meu, da família de ambos os lados e o apoio em outras questões.

    É uma doença que se não for tratada seriamente, deixa impossível a convivência. Veja o quanto ela o destrói como pessoa. Sei que muitas vezes ficamos com a pessoa, pois ela tem um lado bom. Realmente não é um monstro. Pessoas com bipolaridade são seres humanos que precisam se medicar e fazer terapia. Mas devo pontuar algumas questões, pois já passei por isso e hoje não estou mais com a pessoa. Então, posso falar um pouco sobre essa transição, conforme abaixo:

    – Sobre se sentir o pior homem do mundo é comum, visto que ela joga tudo que é frustração sobre você e usa tudo o que tiver dito contra, então sempre pensamos que somos os culpados;
    – Sobre o amor que tem por ela, muito cuidado, pois pode ser dependência emocional, pois eu tive isso. Essa coisa de estar bem um tempo e ficar mal diversas vezes gera uma espécie de jogo “perde x ganha” constante;
    – Sinceramente, sei que deve ter medo do futuro longe dessa pessoa. Mas peço que constantemente avalie se está com vontade de passar isso a sua vida toda. Normalmente a gente sabe a resposta, só não quer aceitar;
    – Por último, vejo que estão fazendo terapia juntos e espero que dê certo. Mas jamais se anule por outra pessoa. Relacionamento é parceria. Qualquer coisa fora disso, não vale o desgaste.

    Pense bem sobre esses pontos e coloque numa folha todos os pontos negativos e positivos de estar nesse relacionamento. Boa sorte!

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    1. Guilherme

      Renato,
      muito obrigado pelos seu incentivo. Com certeza tenho que levar muita coisa em consideração. Como perdi meus pais há pouco tempo, tenho tido muita dependência emocional, pois me vejo sozinho no mundo, mas isso precisa mudar.

      Grande abraço!

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  5. Lu Dias Carvalho Autor do post

    Guilherme

    Através dos depoimentos de outras pessoas, você pode ver que se trata de uma doença que machuca muito, principalmente as pessoas que vivem em volta do doente. Viver com um indivíduo bipolar exige muita paciência e abnegação. Quando a pessoa não aceita a medicação, aí se torna impossível a convivência, sendo melhor cada um ir para o seu lado, pois a vida é curta e todos têm o direito de buscar ser minimamente feliz.

    Amigo, não há motivo para se sentir “o pior homem do mundo”. Lembre-se de que o doente bipolar é sua esposa e não você, que é apenas uma vítima das consequências dessa doença tão arrasadora. Não transfira para si os problemas inerentes a ela. Veja-se como alguém maravilhoso, compreensivo, que vem abrindo mão da própria felicidade para ficar ao lado dela.

    É muito bom saber que estão fazendo terapia de casal. Isso irá ajudar muito, o mais importante, porém, é a medicação dela e a sua. Ambos devem tomá-las diariamente. Procure não se humilhar mais, pois o efeito poderá ser contrário. Primeiro ame a si mesmo, depois os que estão à sua volta. Saiba que ao se humilhar, estará se diminuindo diante dela. Tenha consciência de seu valor. Ela poderá usar essa sua fraqueza para fazer joguinho. Deixe claro para ela que, se quiser ir embora, a decisão é dela e que não mais irá impedi-la. Viver nesse limite é por demais estressante e perigoso. Você tem o direito de ser feliz. Não ponha a sua felicidade na mão de ninguém. Jamais faça dela uma moeda de troca. Posicione-se. E se ela for embora, toque a sua vida para frente. O mundo está cheio de mulheres em busca de um homem bom como você.

    Amiguinho, não se sinta só. Conte com este cantinho, sempre que precisar desabafar.

    Abraços,

    Lu

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