Autoria de Lu Dias Carvalho

Segundo o Aurélio, “Conto do Vigário” significa: 1.Embuste para apanhar dinheiro, em que o embusteiro, o vigarista, procura aproveitar-se da boa-fé da vítima, contando uma história meio complicada, mas com certa verossimilhança/ 2. P. ext. Qualquer embuste para tirar dinheiro ou bem material alheio. No vocabulário jurídico o termo usado para o conto do vigário é “estelionato”,
Quanto mais crescem os recursos de comunicação mais a trapaça encontra um campo fértil. Ainda que vivamos em pleno século XXI, os embusteiros encontram uma rica clientela, pois, segundo afirmou P. T. Barnum – ilusionista e dirigente de um circo de variedades – “nasce um trouxa a cada minuto”. Engana-se quem pensa que são apenas as pessoas simplórias a cair em tais engodos. Em certos embustes, enganador e enganado tornam-se cúmplices, ainda que indiretamente, pois ambos estão em busca de vantagens fáceis, ou seja, o enganado também está à procura de vantagens.
Os trapaceiros encontram-se encarapitados até nos púlpitos dos templos, vendendo a salvação eterna aos panacas. Trocando em miúdos, para o fiel crédulo é muito mais fácil comprar a sua salvação do que levar uma vida regrada no mundo dos vivos, ou seja, ele é tão vivaz quanto o trambiqueiro. E assim, vão proliferando as mentiras mundo afora como se verdades fossem. De ambos os lados não há santos.
Se não houvesse a predisposição para levar proveito por parte da vítima, os vigaristas não lograriam êxito em suas empreitadas. O embusteiro ainda conta com um ponto a seu favor: o silêncio do lesado, envergonhado por ter caído num golpe em que também estava à cata de ganhos fáceis. Enquanto o primeiro desaparece do cenário, o iludido é projetado, servindo-se de motivo de chacota. Mas em sã consciência muitos poucos de nós poderiam se orgulhar de nunca ter caído num conto do vigário.
Ao que se sabe, apenas na língua portuguesa este tipo de trapaça é associada ao “vigário”, tendo aparecido tal locução primeiramente em Portugal e no Brasil. O que se presume é que no passado, certos trapaceiros passavam-se por figuras eclesiásticas (merecedoras de grande confiabilidade, à época) para urdirem suas trapaças. E sendo os dois países citados muito católicos, o fato de tratar-se de um “vigário” dava mais credibilidade à trama, levando os espertalhões a deitarem e rolarem.
Segundo Vicente Reis, autor de Os Ladrões do Rio, havia uma quadrilha internacional, principalmente na Espanha, preparada para aplicar golpes nos países escolhidos. Enquanto uns meliantes ficavam no país de origem, outros partiam para terras estrangeiras (Portugal, França, Brasil, Itália, Argentina, etc.) em busca das possíveis vítimas, normalmente pessoas ricas e respeitáveis e cheias de boa-fé, é claro. Quando o escolhido para ser ludibriado menos esperava, chegava-lhe uma carta do exterior, de indiscutível autenticidade (selos, carimbos, chancelas…) de um religioso, com a história de uma órfã, grande herança e coisa e tal.
Segundo alguns, o conto do vigário é tão antigo, que já se encontra no Antigo Testamento, Gênesis, cap. 30, versículos: 31 a 45 , quando Jacó enganou Labão. E não é que é verdade! Para José Augusto Dias Júnior, “O conto do vigário aparece como um retrato invertido da vida e da cultura de uma comunidade em um período de sua história”. Já Vicente Reis explica que “É um laço armado com habilidade e boa fé do próximo ambicioso. É o caso em que os espertos fazem tolos e o tolo quer ser esperto”.
O escritor português Fernando Pessoa, contudo, tem outra explicação para a origem da expressão “conto do vigário” que, segundo ele, foi nascida em Portugal. Atesta que certo proprietário rural e negociante de gado, de nome Manuel Peres Vigário foi o responsável pela origem da expressão. Para conhecer a história, leiam o artigo O CONTO DO VIGÁRIO
Fonte de pesquisa:
Os Contos e Os Vigaristas/José Augusto Dias Junior
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