Autoria de Lu Dias Carvalho

Existe coisa mais chata do que criança excessivamente mimada, que chora por qualquer coisa? As lágrimas já ficam ali, escondidinhas nos cantos dos olhos, prestes a desabar por uma coisinha de nada. Nem que a vaca tussa aceitam a palavra “não” e pensam que tudo e todos estão ao seu dispor. Os responsáveis não movem uma palha para corrigi-las. Esses anjinhos chorões, parecidos com purgantes, vão amargar um futuro desastroso no contato com o mundo real, enchendo as burras dos terapeutas.
A minha priminha Juju é uma manteiga derretida hors concours. Se cisma que alguém olhou para ela de um jeito meio enviesado, corre para os braços da mãe ou do pai, fazendo o maior berreiro, quando não quebra tudo que encontra pela frente. Até os coleguinhas vêm se afastando dela, cansados de sua denguice, pois afinal ninguém é de ferro para aguentar tanto chilique de uma pirralha mal-educada. Tudo mundo diz que a tal será educada pela vida, levando muita pancada.
Dias desses estava a chatomilda brincando com uma amiguinha, quando começou um berreiro de dar medo. Corremos para o quarto da pequena rainha, pensando que algum armário tivesse desabado sobre ela. A cena era patética. A bruxinha estava deitada no chão, batendo pernas e braços, enquanto a amiguinha, encolhida num cantinho do quarto, trazia o rosto molhado por lágrimas silenciosas. A mãe, com cara de quem comeu e não gostou, tomou a birrenta no colo, querendo saber o que lhe acontecera. Entre berros ela se explicou:
– Eu não quero brincar com a minha boneca, quero a dela, e ela não quer me dar!
Imaginei que fosse uma boa hora para que a genitora ensinasse à filha alguns limites, de modo a respeitar as coisas dos outros. Mas não! Para agradar a chorona, disse-lhe:
– Não chore mais, filha, pois a mamãe vai lhe dar uma boneca igualzinha à dela.
A amiguinha foi embora envergonhada, sem receber uma palavra de atenção da mãe da pirracenta. Indignada, meti a colher no angu, ao abrir o bico:
– Cuidado prima, a gente cria filhos para o mundo e não para nós.
Ao que ela prontamente me respondeu:
– Ela é muito pequena ainda, vai chegar o seu tempo de aprender.
Dias desses fiquei sabendo que a manteiga derretida deu o maior show no aniversário de uma de suas coleguinhas. Queria desesperadamente um pedaço do bolo da aniversariante, antes da hora, sem esperar pelos parabéns. Não sendo atendida, puxou a toalha da mesa, espatifando tudo no chão. Envergonhados, os pais não sabiam onde enfiar a cara, com mil e um pedidos de desculpas. Bem feito! Quem planta urtiga jamais colherá miosótis, diz um dito popular, pois é de pequenino que se torce o pepino!
Já ia me esquecendo de falar sobre a expressão “manteiga derretida”, uai. Trata-se de uma alusão ao chiado da manteiga, quando é levada ao fogo.
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