Arquivo da categoria: Ditos Populares

A sabedoria popular está presente em todas as línguas, sendo expressa através de várias maneiras: provérbios, adágios, sentenças, aforismos, parêmias, apotegmas, anexins, rifões, ditos e ditados populares.

FARINHA POUCA, MEU PIRÃO PRIMEIRO

Autoria de Lu Dias Carvalho

farinha

Conta-se que antigamente os bandeirantes em suas andanças pelo interior do Brasil, costumavam levar farinha de mandioca para complementar a comida. Era usada principalmente com feijão e no pirão de peixe.  E toda vez que tão importante produto ameaçava acabar, havia sempre os espertos que pensavam com seus botões: Farinha pouca, meu pirão primeiro, ditado que põe às claras o egoísmo do ser humano, principalmente nos tempos de hoje. Primeiro se preocupa em encher o próprio bucho e, se sobrar, dividirá com os outros. Um outro ditado estimula o anterior: “quem parte e reparte e não fica com a melhor parte, ou é tolo ou não tem arte”. Gente que pensa desse modo é certamente imbuída de extremo egoísmo, farinha do mesmo saco.

O ditado Farinha pouca, meu pirão primeiro  perpetuou-se e ainda hoje é falado e posto em prática em várias regiões de nosso país. Os vivaldinos, que existem aos montes nas terras brasileiras, principalmente no seio da política em quaisquer que seja os níveis, pensam primeiro em si mesmos.  Se o quinhão deles estiver garantido, tudo está resolvido, ainda que o Brasil esteja a desmoronar. O resto é que se exploda.

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MANTEIGA DERRETIDA

Autoria de Lu Dias Carvalho

manre

Existe coisa mais chata do que criança excessivamente mimada, que chora por qualquer coisa? As lágrimas já ficam ali, escondidinhas nos cantos dos olhos, prestes a desabar por uma coisinha de nada. Nem que a vaca tussa aceitam a palavra “não” e pensam que tudo e todos estão ao seu dispor. Os responsáveis não movem uma palha para corrigi-las. Esses anjinhos chorões, parecidos com purgantes, vão amargar um futuro desastroso no contato com o mundo real, enchendo as burras dos terapeutas.

A minha priminha Juju é uma manteiga derretida hors concours. Se cisma que alguém olhou para ela de um jeito meio enviesado, corre para os braços da mãe ou do pai, fazendo o maior berreiro, quando não quebra tudo que encontra pela frente. Até os coleguinhas vêm se afastando dela, cansados de sua denguice, pois afinal ninguém é de ferro para aguentar tanto chilique de uma pirralha mal-educada. Tudo mundo diz que a tal será educada pela vida, levando muita pancada.

Dias desses estava a chatomilda brincando com uma amiguinha, quando começou um berreiro de dar medo. Corremos para o quarto da pequena rainha, pensando que algum armário tivesse desabado sobre ela. A cena era patética. A bruxinha estava deitada no chão, batendo pernas e braços, enquanto a amiguinha, encolhida num cantinho do quarto, trazia o rosto molhado por lágrimas silenciosas. A mãe, com cara de quem comeu e não gostou, tomou a birrenta no colo, querendo saber o que lhe acontecera. Entre berros ela se explicou:

– Eu não quero brincar com a minha boneca, quero a dela, e ela não quer me dar!

Imaginei que fosse uma boa hora para que a genitora ensinasse à filha alguns limites, de modo a respeitar as coisas dos outros. Mas não! Para agradar a chorona, disse-lhe:

– Não chore mais, filha, pois a mamãe vai lhe dar uma boneca igualzinha à dela.

A amiguinha foi embora envergonhada, sem receber uma palavra de atenção da mãe da pirracenta. Indignada, meti a colher no angu, ao abrir o bico:

– Cuidado prima, a gente cria filhos para o mundo e não para nós.

Ao que ela prontamente me respondeu:

– Ela é muito pequena ainda, vai chegar o seu tempo de aprender.

Dias desses fiquei sabendo que a manteiga derretida deu o maior show no aniversário de uma de suas coleguinhas. Queria desesperadamente um pedaço do bolo da aniversariante, antes da hora, sem esperar pelos parabéns. Não sendo atendida, puxou a toalha da mesa, espatifando tudo no chão. Envergonhados, os pais não sabiam onde enfiar a cara, com mil e um pedidos de desculpas. Bem feito! Quem planta urtiga jamais colherá miosótis, diz um dito popular, pois é de pequenino que se torce o pepino!

Já ia me esquecendo de falar sobre a expressão “manteiga derretida”, uai. Trata-se de uma alusão ao chiado da manteiga, quando é levada ao fogo.

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A CASA DA MÃE JOANA

Autoria de Lu Dias Carvalhocajon

Joana I, rainha de Nápoles e condessa de Provença, era uma mulher bonita e muito inteligente, sendo sua residência aberta aos intelectuais e artistas da época. Segundo algumas fontes, enquanto reinava na cidade francesa de Avignon, a poderosa e permissiva mulher regulamentou os bordéis da cidade, ordenando que todos teriam uma porta através da qual os interessados adentrariam, ou seja, o local estava aberto a qualquer um que ali quisesse entrar em busca das paixões da carne. Talvez seja por isso que em seu reinado tenha havido tantas colisões com a Igreja Católica da época. Uma das normas de regulamentação dizia:

“O lugar terá uma porta por onde todos possam entrar.”

Quando a expressão de origem francesa ganhou as terras portuguesas, passou a significar “o paço da mãe Joana”, ou seja, “prostíbulo”. Ao atravessar o Atlântico, vindo para as bandas de cá, a palavra “paço”, pouco conhecida de nós brasileiros, foi imediatamente substituída por “casa”. Atualmente a expressão “a casa da mãe Joana” passou a significar “um lugar onde todo mundo entra e sai, local em que todos mandam e cada um faz o que quer”,  conhecida também como “casa da sogra”.

Fontes de pesquisa
Casa da Mãe Joana/ Reinaldo Pimenta
Dicionário de expressões populares/ João Gomes da Silva

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A EMENDA FOI PIOR QUE O SONETO

Autoria de Lu Dias Carvalho

bocage

Nós humanos — excetuando os santos, se os há — já perdemos as rédeas do bom senso, ignorando a sabedoria popular que reza que “o melhor caminho é o do meio”, ou seja, o do equilíbrio. Muitas vezes acabamos falando mais do que devíamos, ou cometemos uma ação impensada, vindo depois aquele peso na consciência. Sentimos que é preciso consertar o malfeito. Contudo, é preciso muito cuidado no agir, pois uma emenda esfarrapada deixa-nos numa posição ainda pior, pois, como dizia Sá Jovena “a merda, quanto mais se mexe nela, mais fede”.

A expressão “A emenda saiu pior do que o soneto” nasceu, contam alguns, quando o poeta português Manuel Maria Barbosa de Bocage recebeu um soneto de um jovem que lhe pediu que marcasse seus erros com cruzes. Contudo, havia tantas incorreções na escrita do mancebo que o poeta, depois de ler o soneto, devolveu-o tal e qual o recebera, ou seja, sem nenhuma cruzinha a enfeitar-lhe a página. Incrédulo, imaginando-se o suprassumo da última flor do Lácio, o moço questionou o velho poeta sobre o porquê, pois queria ser incensado com suas palavras. Como não se deve cutucar a fera com vara curta,  não tardou  a receber a justificativa de que as cruzes seriam tantas, se ali postadas, que “a emenda ficaria pior do que o soneto”.

Manuel Maria Barbosa de Bocage era um exímio sonetista e fazia-os como ninguém, o que o tornou muito popular, principalmente quando usava sua veia satírica e espirituosa, daí a sua exigência para com o soneto do frustrado lusitano. O fato é que a expressão “a emenda ficaria pior do que o soneto” viajou no tempo, caiu na boca do mundo, chegando aos dias de hoje com força total. Chama-nos a atenção para o fato de que muitas vezes é preciso não tentar remediar certas situações, pois o remendo pode acabar ficando ainda pior, uma vez que a desculpa esfarrapada só faz piorar a situação. O melhor mesmo é tomar coragem e munir-se de um pedido sincero de desculpas.

 

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GUARDADO A SETE CHAVES

Autoria de Lu Dias Carvalho

arca

Dizem que um segredo deve ser guardado a sete chaves, pois uma vez que alguém toma conhecimento do mesmo, o sigilo acaba caindo na boca do mundo, espalhando-se como penas ao vento. Benjamin Franklin, cientista e filósofo norte-americano, dizia que “somente três pessoas são capazes de guardar um segredo, caso duas delas estejam mortas”, mas, como o planeta encontra-se cada vez mais globalizado, com o WhatsApp a todo vapor, guardar confidências tornou-se cada vez mais difícil, ainda mais para os de língua solta. A confissão acaba virando segredo de polichinelo.

É muito comum alguém nos contar algo e pedir segredo absoluto, que façamos boca de siri. Engraçado, se o sujeito, senhor daquilo que não pode ser revelado, não consegue guardá-lo para si, como pode querer que outrem o faça? E como diz o meu amigo Alfredo Domingos, ainda vem acompanhado do  “só contei pra você, hein?!”. Se a língua do depositário de tamanha confiança coça, lá está a confidência espalhada pelos quatro cantos do mundo. Sem falar que quem guarda um segredo precisa ter memória de elefante, ou seja, lembrar-se sempre de que é preciso manter sigilo sobre o assunto a si confiado, trancando-o a sete chaves. Quanta responsabilidade! Dizem alguns mexeriqueiros que quem guarda segredo é padre e terapeuta.

O que viria a ser a expressão “a sete chaves”? Que mistérios são esses? Onde se encontram as tais chaves? Em tempos idos, quando algo era muito valioso nas terras portuguesas, o tesouro era guardado em arcas de madeira. Mas não se tratava de qualquer arca. Deveria ter quatro fechaduras. E daí — poderá indagar o leitor —, se é possível abri-las ao mesmo tempo? Calminha, amigo, vamos devagar que o santo é de barro. Não abusemos da inteligência do dono das preciosidades.

Após fechada a arca em questão, quatro pessoas da maior confiança do dono recebiam a incumbência de guardar as quatro chaves, ficando cada uma delas com uma das tais. Muitas vezes o rei era o guarda de uma delas. A arca só poderia ser aberta com a presença dos quatro portadores das chaves, juntos. Mas, com o passar do tempo, o número “quatro” perdeu o seu status, entrando o “sete” no lugar, pois se trata de um número místico e, segundo alguns, muito poderoso. Se um tesouro guardado  a quatro chaves já era seguro, imagine a sete… Vixe Maria!

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O PUXA-SACO

Autoria de Lu Dias Carvalho

saco

O puxa-saco sempre age em benefício próprio. É um bajulador por excelência, cônscio dos ganhos que virão em razão de sua sabujice. E pior, ele só exerce tal “profissão” enquanto possui uma ligação com o sujeito de sua adulação. Uma vez não mais sob as suas asas, parte para um novo ninho. Nasce daí a raiva que muitos dedicam ao puxa-saco, também conhecido como lambe-botas ou baba-ovo.

É comum alguns acharem que o puxa-saco é uma pessoa ingênua, subserviente, com a autoestima baixa, à cata de admiração. Eu, particularmente, não penso assim.  Acho que se trata de um espertalhão mal-intencionado que segue todo um cronograma para alcançar seus objetivos. Todo o servilismo que demonstra não passa de um álibi para enganar os tolos. Não passa de uma pessoa perigosíssima que remove tudo que estiver em seu caminho para atingir seus objetivos. É um sem escrúpulos. Não há meio que tenha mais puxa-sacos do que o político. Haja estômago!

Certa vez, ao ouvir a mãe chamar um dos colegas de “puxa-saco”, o filhinho de minha amiga Lúcia esbugalhou os olhos e perguntou:

— Mãe, não dói?

A criança levou a sentença ao pé da letra. Mas como nasceu tal expressão? Conta-se que ganhou vida no meio militares. Os soldados que levavam os sacos de roupas dos oficiais em viagem eram chamados de “puxa-sacos”. Daí para “bajulador” foi um pulo.

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