Minha madrinha Gena de Zeca Batista – que Deus a tenha – falava tanto que deixava qualquer um atordoado. Lembro-me dela com seu crochê na mão, com os óculos na ponta do nariz e os cabelos prateados caindo como uma cortina sobre seus trabalhos manuais. Era um ponto no crochê, um levantamento dos óculos e uma palavra verbalizada. E isso quando se encontrava extremamente silenciosa, pois, na maioria das vezes, era um ponto no crochê e uma enxurrada de arenga. Além do mais, a minha madrinha era dona de uma presença de espírito de fazer inveja a muito letrado. Para a mais inusitada das perguntas ou indiretas, tinha a resposta sempre na ponta da língua.
Um dos seus últimos diálogos com uma de suas noras, ainda me faz dar boas risadas. Acontece que Nilceia, já em fase de separação do filho de madrinha Gena de Zeca Batista, achando que a sogra só pendia para o lado do filho – o que quase toda mãe acaba fazendo –, tentou alfinetá-la:
– A senhora fala tanto, que se esquece de cuidar de sua vida e de sua casa que mais se parece com um chiqueiro.
Minha madrinha soltou o crochê das mãos, levantou o rosto branco feito cera, escorou os óculos no nariz e, encarando a atrevida, respondeu-lhe na fuça:
– Mas foi neste chiqueiro que você encontrou seu porco. E quem vive com porco, leitoa é. Melhor seria se você cuidasse de sua porquinha e de seu leitãozinho que andam de déu em déu, chafurdando com outros porquinhos, sem ter mãe para tomar conta.
E olhando para mim, que nada tinha a ver com aquela história, senão pelo fato de ali estar presente, fez um arremate enviesado:
– Eu já fiz muito para quem não merece. E nada teve valor, pois como dizem, o comido é cagado e esquecido. Mas deixe estar, jacaré, que a lagoa está secando!
Nilceia saiu batendo a porta, gritando em alto e bom som:
– Esta mulher fala pelos cotovelos! Vão para os quintos dos infernos ela e o filho!
Foi a deixa para que eu desviasse minha atenção da quizila e ficasse imaginando como teria nascido a expressão falar pelos cotovelos.
Bem, dizem que antigamente falar pelos cotovelos referia-se aos faladores incansáveis que, para exigir a atenção do ouvinte, tocava-o com um dos cotovelos, o que não deixa de ter sentido. Mas hoje significa falar exageradamente, sem dar tréguas à vítima que só faz ouvir, sendo incapaz de participar da conversa, cabendo-lhe apenas ouvir e ouvir… Aposto que você conhece alguém que fala pelos cotovelos! Muitos o fazem por se sentirem os tais, relegando ao outro o papel de submisso.
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