Arquivo da categoria: Ditos Populares

A sabedoria popular está presente em todas as línguas, sendo expressa através de várias maneiras: provérbios, adágios, sentenças, aforismos, parêmias, apotegmas, anexins, rifões, ditos e ditados populares.

O FATALISMO NOS PROVÉRBIOS

Autoria de Lu Dias Carvalho

roju

O que deve ser, será. (Shakespeare em Romeu e Julieta)

Os provérbios trazem em seu cerne traços marcantes da cultura da qual brotaram. E não poderia deixar de sê-lo, pois a linguagem reflete a nossa maneira de pensar e o modo como vemos o mundo, normalmente dentro do contexto em que nos encontramos inseridos. Nos provérbios, pequenas frases amontoam em si uma enormidade de conceitos, tendo o ouvinte que os destrinchar para compreendê-los melhor. E como a vida não é apenas isto ou aquilo, eles se apresentam das mais diferentes maneiras: irônicos, humorísticos, maliciosos, cáusticos, benevolentes, fatalistas…

Filosoficamente falando, o Aurélio define o fatalismo como: Atitude ou doutrina que admite que o curso dos acontecimentos está previamente fixado, nada podendo alterá-lo. Sendo o fatalista aquele que acredita que existe um destino e que tudo já está predeterminado para acontecer, por mais que se tente mudar o rumo das coisas. As ações humanas e as decisões da vontade não possuem peso nenhum diante da sorte inevitável para os adeptos das fatalidades.  Tudo acontece como tem de ser e ponto final, pensam eles. Mas, se todos cressem no fatalismo, a humanidade ainda estaria vivendo nas cavernas. Como o sentimento de destino está mais ligado às pessoas supersticiosas e ao pouco conhecimento científico que elas possuem sobre o mundo, os provérbios fatalistas são mais encontrados entre os ditos populares.

Provérbios fatalistas:

  1. O que tem de ser será.
  2. O que é bom dura pouco.
  3. Tanto faz como tanto fez.
  4. O que tem de ser traz força.
  5. Ninguém morre de véspera.
  6. O homem põe e Deus dispõe.
  7. Vida gemida, vida comprida.
  8. O que tem de ser, não precisa empurrar.
  9. Desgraça é como banana, só dá em penca.
  10. Se correr o bicho pega, se ficar o bicho come.
  11. A corda sempre arrebenta do lado do mais fraco.
  12. Espinho que tem de fincar, de pequeno traz a ponta.

Deixe nos comentários alguns que você conhece e que não foram citados aqui.

Fonte de pesquisa:
Provérbios e ditos populares/ Pe. Paschoal Rangel

Views: 2

A SABEDORIA POPULAR

Autoria de Lu Dias Carvalho

 

jaja

Os provérbios são os cavalos da fala. (Prov. Ioruba)

Os provérbios são as filhas da experiência cotidiana. (Prov. Holandês)

Provérbios são frases curtas extraídas de longa experiência. (Prov. Cervantes)

A sabedoria popular está presente em todas as línguas, sendo expressa através de vários nomes: provérbios, adágios, sentenças, aforismos, parêmias, apotegmas, anexins, rifões, ditos e ditados populares. O provérbio apareceu bem antes da história da escrita, sendo transmitido, ao longo dos séculos através das tradições orais dos mais diferentes povos. A sua existência é tão remota que exemplos de sua presença datam de 2600-2550 a.C. É interessante notar como os provérbios foram difundidos através dos tempos, abrangendo formas diversas:

  • forma oral
  • forma escrita
  • no espaço local
  • no espaço nacional
  • no espaço internacional

Segundo pesquisas, o humanista Erasmo de Rotterdam foi um dos mais conhecidos colecionadores de provérbios. E ele, por sua vez, dizia que Aristóteles foi o primeiro a  entregar-se a tal tarefa. O filósofo levava sempre um caderno consigo, no qual recolhia os ditos populares. Já mais próximos de nós, Shakespeare e Cervantes também tinham grande admiração pelos provérbios, como comprovam a leitura de suas obras.

Os provérbios expressam, com poucas palavras, conhecimentos adquiridos pela sabedoria popular ao longo dos tempos, através da observação. Eles devem ser analisados sempre dentro de um contexto, para que sejam mais bem compreendidos, pois possuem um uso instantâneo em ocasiões propícias. Trazem em si diversas funções: solucionar um mal-entendido, dar conselhos, ensinar regras de vivência, pôr um ponto final numa discussão, usar de ironia, dar prosseguimento a um diálogo, ou dizer uma verdade que o emissor não quer dizer diretamente ao receptor, mas deseja levá-lo à reflexão. Num provérbio pode estar embutido:

  • um conselho: Em vez de dar o peixe, ensine a pescar;
  • um aviso ou previsão: Quem não ouve conselho, ouve coitado;
  • uma observação: Em boca fechada, não entra mosca;
  • uma afirmação abstrata: A união faz a força;
  • uma experiência concreta: Quem planta e cria, tem alegria.

Nos tempos atuais não resta dúvida de que a importância dos provérbios foi reduzida nas culturas nas quais predomina a escrita, mas eles ainda persistem com força. Estão na Bíblia, no Corão, no Talmude, nos Vedas, nos textos poéticos, políticos ou religiosos. Nas culturas orais os provérbios encontram-se nas citações dos chefes e anciãos que citam seus ancestrais como seus representantes. Eles sempre iniciam com as palavras: “Como diziam nossos antecipados…”. Essas pessoas são respeitadas e admiradas pelo vasto conhecimento de provérbios que detêm, sabendo utilizá-los no momento necessário. Saber usar bem os provérbios é uma arte.

Fontes de pesquisa
A Sabedoria Condensada em Provérbios/ Nelson Carlos Teixeira
Provérbios e Ditos Populares/ Pe. Paschoal Rangel
Nunca se Case com uma Mulher de Pés Grandes/ Mineke Shipper

Views: 2

A ESPERTEZA QUANDO É GRANDE…

Autoria de Lu Dias Carvalho

Conta uma fábula que certa raposa chegou à conclusão de que algumas aves estavam sempre em busca de corpos sem vida para bicá-los, à procura dos insetos que neles pousavam. Espertalhona como sempre, achou que deveria tirar proveito de tal ladinagem. Não precisou matutar muito para saber o que fazer para levar vantagem. Quando a matreira sentia-se faminta, deitava de barriga para cima, abria a boca e ali ficava inerte, como se morta estivesse, pronta para abocanhar as ingênuas avezinhas.

De tanto persistir em seu comportamento interesseiro, a raposa nem mesmo se deu conta de que, uma vez com a pança cheia, acabava dormindo em tal posição, o que a deixava indefesa diante de seus predadores. As facilidades exageradas sempre apresentam um perigo, pois a capacidade de reflexão escafede-se.

De uma feita, a comilança da espertalhona raposa foi à beira do rio Amazonas, onde acabou toscanejando, pois o hábito de observar tudo em volta não mais lhe incutia cuidado algum. O receio há muito fora embora em razão da facilidade com que atingia seus objetivos. A velhaca estava cada vez mais senhora de si e de sua impunidade em relação ao meio em que vivia. E foi assim que a finória acabou esmagada sob o abraço efusivo de uma gigantesca jiboia, fazendo valer o ditado de que a esperteza quando é grande demais come o dono.

Neste nosso Brasil do salve-se quem puder, a esperteza tem sido uma finória raposa (que me perdoe o inocente animal) a transitar por todos os nossos  “podres poderes” federais, estaduais e municipais. É fato que tais  Vulpe vulpes em sua grande maioria continuam encasteladas em confortáveis poltronas, contabilizando o valor do saque feito à nação, enquanto o povo servil, subestimado e desdenhado paga a conta do butim, sem ter usufruído das benesses da vergonhosa, obscena e infame pilhagem. À gentaça resta apenas esperar que a “esperteza” coma REALMENTE os velhacos, astutos e finórios ladravazes da nação, pois somente assim haverá um país em que a decência seja a principal bandeira. Por enquanto, a lama está mais para porcos (peço desculpas aos inteligentes animais) do que para sucuri.

Views: 12

VÁ PROS QUINTOS DO INFERNO!

Autoria de Lu Dias Carvalho

inferno2

É preciso estar com extremada raiva para mandar – normalmente aos berros – alguém partir para os quintos do inferno, lugar que ninguém sabe onde fica.  Quando se é brindado com um convite desse, o melhor é não perguntar pela passagem ou pelos gastos da viagem e ficar o mais longe possível do sujeito raivoso que fez a oferta, pois certamente se trata do atrevido comandante da viagem.

Como surgiu a expressão vá pros quintos do inferno, já que ninguém até agora conseguiu o roteiro da viagem? Voltemos ao tempo em que o Brasil era colonizado por Portugal, lá pelo século XVIII, quando o nosso ouro, principalmente, aguçava a cobiça dos portugueses da época, deixando sua Corte de olho grande no precioso metal. E ainda havia a cobrança de impostos: 20% (1/5 da produção) do ouro extraído, também conhecido como “Quinto”.

Todo o ouro retirado do solo brasileiro era encaminhado para as Casas de Fundição. Ali era derretido e transformado em barras, nas quais se colocava o selo da Coroa Portuguesa. Era quando se cobrava um imposto: o “quinto”, referindo-se à quinta parte de todo o ouro encontrado.

O ouro arrecadado em nossas terras era levado para Portugal através do mar. E como os portugueses consideravam o Brasil o “fim do mundo” – tamanha era a distância entre a colônia e a metrópole, resultando em meses e meses a fio de navegação –, assim que as naus portuguesas, levando as riquezas brasileiras, apontavam, os portugueses em terra comentavam festivamente:

– Lá vem a nau dos quintos do inferno!

Que inferno danado de bom era o nosso Brasil que enviava tamanha riqueza para além-mar! Mas outras fontes dizem que a expressão nasceu do ódio que o povo brasileiro sentia ao ter que pagar o malfadado “Quinto” e, por isso, apelidou-o de “O Quinto dos Infernos”. Os brasileiros suando, comendo o pão que o diabo amassou, revoltavam-se ao ver seu tesouro partindo para um lugar que nem conheciam.

Uma terceira versão é conhecida. É a de que a dona Carlota Joaquina, esposa de Dom João VI, não morria de amores por nossa terra, cheia de pernilongos e silvícolas, além de morrer de raiva por viver distante da corte e de seus luxos. Por isso, a não tão bela referia-se ao Brasil como o “quinto dos infernos”.

Seja de uma forma ou de outra, o fato é que “o quinto dos infernos” não é um lugar nem um pouco apreciado desde aqueles tempos, não constando no roteiro de nenhuma companhia de turismo, embora esteja sempre em evidência na boca do povo. Se lhe oferecerem uma passagem de graça para tal lugar, o melhor mesmo é agradecer e pedir ao doador que faça tal viagem na companhia de sua família.

Views: 9

UM CONTRATO LEONINO

Autoria de Lu Dias Carvalho

leo

A nossa cultura é adepta da Lei de Gérson. Aqui as pessoas querem levar vantagem em tudo, o que significa, sem usar de rodeios, passar o outro para trás. Em se tratando de negócios, a verdade é que ninguém leva vantagem sem que essa seja retirada do balaio da outra parte. Deveria ser considerado um bom negócio, quando esse fosse satisfatório para ambas as partes, mas não quando apenas uma delas angariasse maiores ganhos. Mas não é assim que funciona o mundo capitalista.

O “contrato leonino” é ainda pior do que a Lei de Gérson, pois ludibria principalmente as camadas mais pobres e incultas, incapazes de ler nas entrelinhas ou de pagar por consultorias. Este tipo de contrato vem acontecendo muito nos dias de hoje, a começar pelas letras minúsculas, impossíveis de serem lidas, presentes nos contratos de empréstimos, adesão aos planos de saúde, TV a cabo, aluguéis e coisa e tal.

A expressão “contrato leonino” tem sua origem numa fábula de Esopo que depois foi recontada por Fedro, La Fontaine e outros, com algumas modificações, tendo como personagens a raposa, o leão, o chacal e o lobo (fábula presente no livro HISTORIANDO FÁBULAS de minha autoria).

Na fábula os quatro animais associam-se durante uma caçada. A presa que tal sociedade pegasse seria irmãmente dividida entre seus membros. Após matarem um inocente viadinho, puseram-se a fazer a partilha, tendo o leão no comando. E no parte e reparte, o rei da selva acabou ficando com o animal inteiro, enquanto os demais ficaram a ver navios?

Portanto, caro leitor, abra bem os olhos quando for fazer algum contrato, ou vender algo. Numa sociedade capitalista como a nossa, os leões andam cada vez mais vorazes, pouco lhes importando se a presa é frágil ou robusta, o importante é levar a melhor.

Views: 1

VIAJANDO COM UMA PÃO-DURO

Autoria de Lu Dias Carvalho

PAODURO

Nada mais desagradável do que conviver com pessoas mesquinhas que brigam por qualquer bobagem que julgam caber a elas. Normalmente são desagradáveis e afeitas a brigas. Fazem de qualquer diversão, quando no meio de uma turma, momentos bem constrangedores, pois deixam a mesquinharia falar mais alto.

Tempos atrás viajei com um grupo em que uma determinada pessoa destoava totalmente da turma. Quando dividíamos as despesas, tínhamos que sair catando moedinhas para lhe dar o troco total, ainda que fossem uns míseros centavos. Quando a divisão dava uma dízima periódica, sempre tínhamos que arredondar para mais a parte dela. Foi uma viagem maravilhosa, excetuando os chiliques da pão-duro, caso que, com o passar dos tempos, virou uma piada inesquecível.

Conta-se que a expressão pão-duro nasceu na cidade do Rio de Janeiro, nas primeiras décadas do século XX. Havia na cidade, segundo dizem, um mendigo que sempre pedia algo para comer, nem que fosse um pão duro, o que ainda ouvimos nos dias de hoje, embora pão velho seja mais comum, principalmente em tempos de vacas magras, como os que agora vivemos, com uma mendicância que cresce a cada dia, principalmente nos grandes centros de nosso país, lamentavelmente.

O mais interessante foi que, com o passar dos anos, o tal mendigo virou pedinte profissional, segundo dizem. Contam alguns que, ao morrer, descobriu-se que ele era dono de muitos bens. Tomando como base essa história foi encenada uma peça sobre tal personagem que recebeu o nome de “Pão-duro”, expressão que ganhou vida e passou a significar pessoa mesquinha, sovina, mão de vaca, avaro, munheca de samambaia, que faz conta de uma ninharia e sempre quer levar vantagem.

Obs.:
Não existe feminino para tal expressão. Trata-se de um adjetivo ou substantivo de dois gêneros, de acordo com o Aurélio. Fala-se o pão-duro (masculino) ou a pão-duro (feminino).

Views: 2