Arquivo da categoria: Fotografias

Textos, fotos e endereços de vídeos

O ABRAÇO DE PELÉ E BOBBY MOORE

Autoria de Lu Dias Carvalho

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Na Copa de 1970, realizada no México, quando o Brasil tornou-se tricampeão, a foto do brasileiro Pelé com o inglês Boby Moore, feita pelo inglês John Varley, depois de um abraço e uma troca de camisas entre os dois atletas, mostrando camaradagem e alegria, tornou-se um dos mais belos símbolos do espírito esportivo, que deve prevalecer em todos os jogos, entre quaisquer povos, indiferentemente da cor, cultura e posição social.

Embora em 1931, segundo a FIFA, quando a França ganhou da Inglaterra, o time francês tenha pedido para ficar com as camisas dos adversários como recordação, somente a partir de 1970 é que tal conduta tornou-se comum, inspirada pelo comportamento dos dois atletas acima.

Naquela época, os negros ainda eram tidos como inferiores aos brancos e, portanto, vistos como se tivessem menos força física e inteligência. Mesmo os feitos de Pelé, na Copa de 1958, não foram suficientes para desmistificar essa utopia. Mas esta imagem dos dois grandes ídolos do futebol brasileiro e britânico calou fundo no coração e mente dos que preconizavam a supremacia branca. Bobby Moore chegou a relatar que era a imagem de si mesmo que mais o agradava.

Uma foto vale por mil palavras, diz a sabedoria popular. Mas por quantas palavras valeria esta, capaz de modificar o conceito tacanho que se tinha em relação ao negro? A resposta fica por conta da história da humanidade.

Fonte de pesquisa
Aventuras na História/ Edição 127
postorworse.wordpress.com

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HERÓICO PROTESTO CONTRA O RACISMO

Autoria de Lu Dias Carvalho

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Sabíamos que o que íamos fazer era muito maior do que qualquer façanha atlética. (John Carlos)

Na pista você é Tommie Smith, o homem mais rápido do mundo. Mas nos vestiários você não é nada mais do que um negro sujo. (Tommie Smith)

As Olimpíadas de 1968, realizadas no México, chamou muito mais a atenção do mundo pelo protesto de dois atletas negros contra a segregação racial em seu país, do que pelo número de medalhas ganhas pelos Estados Unidos, ocupando o primeiro lugar. Foi quando Tommie Smith, ganhador da medalha de ouro, e John Carlos, que recebeu a medalha de bronze, ambos nos 200 metros rasos, aproveitaram para dar ciência ao mundo que ainda havia uma criminosa discriminação racial em seu país.

Os dois atletas, usando luvas negras, aproveitaram o momento no pódio, para levantar os braços com o punho cerrado, permanecendo com as cabeças inclinadas para o chão, enquanto era tocado o hino nacional estadunidense. Logo depois, os dois corajosos rapazes foram expulsos da delegação de seu país e até mesmo da vila olímpica, pois o Comitê Olímpico Internacional proibia (e ainda proíbe) qualquer simbologia ligada a facções ou movimento políticos, sendo contrário à mistura de esporte com política.

Tommie Smith mostra o braço direito levantado, enquanto Jonh Carlos levanta o esquerdo, saudação “black power”, numa referência ao grupo “Panteras Negra”, fundado em 1966, que lutava pela causa dos negros. Por sua vez, o segundo colocado, o australiano Peter Norman, medalha de prata, também aderiu ao protesto, usando na parte esquerda de seu uniforme o símbolo OPHR (Olympic Project for Human Rights), organização contrária ao racismo.

Os dois atletas usam luva apenas em uma das mãos, isso porque só havia um par de luvas pretas. A sugestão de que cada um usasse uma mão da luva foi dada pelo colega australiano de pódio, que sempre se orgulhou de ter participado da manifestação, pois em seu país havia a segregação do povo aborígene, à qual ele também era contrário.

Embora Carlos e Smith tenham sido recebidos com muito rancor pelos americanos brancos, e relegados ao ostracismo no esporte, dirigido também por brancos, esta imagem atravessou décadas, transformando-se em um dos momentos mais inesquecíveis das Olimpíadas, disputadas na era moderna, além de contribuir para a autoafirmação da população negra naquele país, que os transformou em heróis da história contra a segregação racial.

Peter Norman, o atleta branco, também foi vítima da intolerância branca. Foi jogado no ostracismo, ao voltar para a Austrália, também detentora do racismo contra o povo aborígene. Sua vida transformou-se num caos, partindo o atleta para a bebida. Mas nunca se arrependeu do que fez e jamais perdeu a amizade dos amigos de pódio. Ao morrer, em 2006, seu caixão foi carregado pelos dois amigos negros.

Fontes de pesquisa:
Aventuras na História/ Edição 126
http://www.diariodocentrodomundo.com.br

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SÚPLICA DO SERTANEJO ANTE A SECA

Autoria de Lu Dias Carvalho rat1

Que vergonheira, meu bom Deus,
tanto pra mim e para vossa mercê,
tô mendigando ua cuia de comida,
pra poder matar a chibateira fome
neste meu agourento e cruel viver.

Eu, moço, com as mãos calejadas
de tanto trabalhar naquele roçado,
agora, forçado, estou cá na cidade,
lembrando que já fui bom homem,
dono de muita força e de muita fé.

Perto de mim, meus companheiros
de tão cainha e miseranda fortuna
erguendo cuia, tigela e lata na mão,
afilhados da mesmíssima desgraça,
camaradas do mesmíssimo sertão.

Meu pai, ao lado, velho e cansado,
estende vergonhoso sua lata, e coa
outra mão, tapa o rosto descarnado,
abastado de vergonha e desalento,
nesta vida ignara de tanta vexação.

Peço ao Deus, Pai dos miseráveis,
que tudo sabe, que tudo sente e vê,
que olhe pra nossos pés chagados,
pela terra urente tisnados, imolados,
na falta de uma alpercata, sequer.

De tudo que tinha sobrou a enxada,
a boa companheira de cada dia, meu
puído chapéu e a vestidura rasgada.
Todo o resto queimou-se na fogueira
do descaso dos donos deste Estado.

Deus, senhor de tudo, tende piedade!
será que nossa indigência é tamanha
que vossa mercê nem mesmo nos vê?
Se delongar muito inda fica mais difícil
de ter fé e de acreditar em Vosmicê.

Ficha técnica
Foto: Pierre Verger
Ano: 1950
Localização: Fundação Pierre Verger

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A POBREZA E A REVOLTA CIVIL

Autoria de Lu Dias Carvalho rat123

A miséria quase sempre está no comando das revoltas civis que acontecem em todo o mundo. E não foi diferente no Brasil, embora nosso país tenha passado por poucas guerras civis, a exemplo da Guerra de Canudos, Guerra do Contestado, Revolta da Armada, Revolução Constitucionalistas, Revolução Federalista, Revolução de 1930, etc.

Dentre as guerras civis no Brasil, capitaneadas pela miséria, está a Guerra de Canudos, que aconteceu numa das regiões mais pobres do país, em que tudo faltava à gente do lugar e onde poucos tinham um mínimo de escolaridade, deixando-se levar pelo discurso religioso e social do peregrino Antônio Conselheiro. O conflito na comunidade de Canudos, no interior do estado baiano, durou um ano. Na região imperava os grandes latifúndios improdutivos e, quando a seca chegava, os sertanejos e ex-escravos nada tinham para beber e comer, ao contrário dos graúdos que tinham suas casas em lugares distantes do flagelo.

O que aquela gente queria era ser salva das garras da seca e da humilhação que ela trazia às suas famílias. Queria participar da vida econômica e social de seu país. Portanto, ao encontrar alguém que lhes trazia esperança, não hesitaram a ele se juntar.

A foto acima, tirada pelo fotógrafo Flávio de Barros, que documentou a Guerra de Canudos, mostra um ex-escravo, com suas vestes de ir à igreja, diante da choça onde vive, edificada com barro e palha. Ao fundo, podemos observar outras moradias semelhantes, sendo possível captarmos a extrema miséria em que vivia aquela gente.

Ficha técnica
Ano:1896
Autor: Flávio Barros
Localização: Arquivo Histórico do Museu República

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AS CRIANÇAS, A SECA E O CÃOZINHO

Autoria de Lu Dias Carvalho rat1234

O Brasil, à época da foto acima, encontrava-se sob a liderança de dom Pedro II, segundo e último monarca que o país teve, tendo aqui reinado por um período de 58 anos, após a volta de seu pai, dom Pedro I, para Portugal.

A fotografia apresenta crianças cearenses, esmolambadas, vitimadas pela seca que já naquela época assolava o Nordeste brasileiro, sem que houvesse interesse político para resolver a situação. O próprio governo de dom Pedro II, em vez de buscar uma solução, estimulava os cearenses a migrarem para outras regiões do país, principalmente para a Amazônia. O Ceará era o estado mais castigado e, portanto, seu povo o mais sofrido. Toda vez que a seca chegava, acontecia um agudo êxodo rural.

Na seca referente à foto morreram mais de 120 mil pessoas, sem enumerar animais e o extermínio das plantações. Um fotógrafo desconhecido documentou a miséria da época, mostrando quatro crianças que, pelo sofrimento visto em seus olhos, parecem adultos. Hoje, é impossível imaginar que em nosso país, alguém pudesse vestir farrapos como esses. Somente o vestido da menina cobre-lhe o corpo. As vestes dos três garotos, descalços e sujos, nada mais são do que farrapos.

É interessante notar o caráter que tinha uma fotografia à época. Embora maltrapilhos, os garotos não escondem certa surpresa e orgulho ao serem fotografados, provavelmente pela primeira vez. Dois dos garotos trazem o chapéu no joelho, enquanto o terceiro descansa-o nas pernas, cruzando as mãos sobre tão valiosa peça. A menina, apesar da miséria, traz no pescoço alguns colares, uma amostragem do gosto pelo enfeite corporal, tão peculiar à mulher brasileira. Nota-se que as crianças são filhas de negros ou descendentes. Sempre foi o pobre a maior vítima da seca.

O mais comovente na foto é a presença de um cãozinho, todo enrolado em trapos, entre a menina e o menino, em primeiro plano. Ali está a carinha do animal, debaixo do braço esquerdo do garoto, também de olho na câmera. A miséria podia ser absoluta, mas o amor ao cão era um traço forte da gente do sertão nordestino. Não havia uma casa onde não se encontrasse um, ainda que tão esquálido quanto seus donos.

Ficha técnica
Ano: 1877-1879
Autor: desconhecido
Localização: Fundação Biblioteca Nacional

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LOUCOS E SANTOS NO SERTÃO

Autoria de Lu Dias Carvalho rat12

E, que outro parecer poderia receber o sertanejo que, à semelhança dos tuaregues, atravessa o deserto escavado pela seca, senão que é um forte? Para conhecer melhor a agrura dessa gente, basta ler Vidas Secas (em LIVROS, aqui no site) de Graciliano Ramos, se o coração não for fraco.

O etnólogo francês, Pierre Verger, documentou a cena acima, em 1947. Os sertanejos levam tudo o que tem, na tentativa de fugir do inferno ardente. A mesma terra que os acolhe e que tanto amam, também os expulsa. Vida dura cheia de sofrimento e labuta.

Todos ali eram pobríssimos, mas
não havia desespero ou humilhação
nos rostos curtidos pelo sol ardente
alumiando a terra árida e sedenta,
na mais penosa das estações.

Os casebres tinham paredes de taipa,
e o piso batido de terra avermelhada
estava trincado e cheio de ondulação.
Eram nichos singelos e ressequidos,
incrustados naquela densa solidão.

Lá fora, a quentura ardia feito tição,
sendo capaz de queimar os miolos
de quem a desafiasse em seu reino.
Vertia brasume por todos os cantos
daquele desalentado sertão.

A poeira avermelhada dos caminhos
subia em nuvens de redemoinhos, pra
depois entocar nos furos das paredes,
e se assentar sobre esteiras rasgadas,
espalhadas aos montes pelo chão.

Os animais esparramados na poeira,
traziam uma expressão de melancolia,
jamais vista em bicho de terra alguma.
A agonia daquela gente amara ofendia
os olhos e vazava qualquer coração.

Podia-se ouvir gotas de suor caindo,
escorrendo daqueles rostos acabados,
quando o sol grudava no meio do céu.
Ninguém, a não ser os loucos e santos
viveriam naquela  cruel situação.

O miserê varria tudo. Olhos de lince
assuntando a vida bronca do sertão.
Gente e bicho tristes com a desgraça,
varavam o céu com um olhar aflitivo,
em busca de uma milagrosa viração.

Havia no rosto de cada gente um dó,
uma piedade explícita ou punição.
As enxadas arriadas esperavam o sol
queimante amainar e a chuvada cair,
pra plantar esperança no sertão.

Ficha técnica
Ano: 1947
Autor: Pierre Verger
Localização: Fundação Pierre Verger

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