AS CRIANÇAS, A SECA E O CÃOZINHO

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Autoria de Lu Dias Carvalho rat1234

O Brasil, à época da foto acima, encontrava-se sob a liderança de dom Pedro II, segundo e último monarca que o país teve, tendo aqui reinado por um período de 58 anos, após a volta de seu pai, dom Pedro I, para Portugal.

A fotografia apresenta crianças cearenses, esmolambadas, vitimadas pela seca que já naquela época assolava o Nordeste brasileiro, sem que houvesse interesse político para resolver a situação. O próprio governo de dom Pedro II, em vez de buscar uma solução, estimulava os cearenses a migrarem para outras regiões do país, principalmente para a Amazônia. O Ceará era o estado mais castigado e, portanto, seu povo o mais sofrido. Toda vez que a seca chegava, acontecia um agudo êxodo rural.

Na seca referente à foto morreram mais de 120 mil pessoas, sem enumerar animais e o extermínio das plantações. Um fotógrafo desconhecido documentou a miséria da época, mostrando quatro crianças que, pelo sofrimento visto em seus olhos, parecem adultos. Hoje, é impossível imaginar que em nosso país, alguém pudesse vestir farrapos como esses. Somente o vestido da menina cobre-lhe o corpo. As vestes dos três garotos, descalços e sujos, nada mais são do que farrapos.

É interessante notar o caráter que tinha uma fotografia à época. Embora maltrapilhos, os garotos não escondem certa surpresa e orgulho ao serem fotografados, provavelmente pela primeira vez. Dois dos garotos trazem o chapéu no joelho, enquanto o terceiro descansa-o nas pernas, cruzando as mãos sobre tão valiosa peça. A menina, apesar da miséria, traz no pescoço alguns colares, uma amostragem do gosto pelo enfeite corporal, tão peculiar à mulher brasileira. Nota-se que as crianças são filhas de negros ou descendentes. Sempre foi o pobre a maior vítima da seca.

O mais comovente na foto é a presença de um cãozinho, todo enrolado em trapos, entre a menina e o menino, em primeiro plano. Ali está a carinha do animal, debaixo do braço esquerdo do garoto, também de olho na câmera. A miséria podia ser absoluta, mas o amor ao cão era um traço forte da gente do sertão nordestino. Não havia uma casa onde não se encontrasse um, ainda que tão esquálido quanto seus donos.

Ficha técnica
Ano: 1877-1879
Autor: desconhecido
Localização: Fundação Biblioteca Nacional

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