Autoria de Lu Dias Carvalho
Platão, Aristóteles e a maioria dos autores clássicos acreditavam haver uma relação entre o que ocorria nos céus e aquilo que acontecia na Terra, ou seja, criam que o macrocosmo do Universo interferia no microcosmo terrestre. A existência de tais ideias suscitou um grande interesse pela astrologia que se sedimenta na crença de que planetas e estrelas afetam os acontecimentos de nosso mundo. Os astrólogos do final do século XV e do século XVI presumiam que a Terra era um globo que se encontrava no coração do Universo esférico e em torno dela giravam sete esferas cristalinas, sobre as quais ficavam planetas e estrelas. Apenas um número muito pequeno de pessoas, tidas como cultas, consideravam que a Terra fosse plana — mesmo na Idade Média.
A partir do século XVI e início do XVII os eruditos passaram a rejeitar a tese do mundo antigo que rezava que a Terra estava situada no centro do Universo, convencendo-se de que o Sol encontrava-se no coração do sistema planetário, exercendo a principal influência recebida pela Terra. Embora o astrônomo e matemático polonês Nicolau Copérnico (1473-1543) acreditasse que os planetas eram direcionados por “espíritos” e “inteligências celestiais”, o seu modelo heliocêntrico (tem o Sol como centro) foi muito importante para que o astrônomo, astrólogo e matemático alemão Johannes Kepler (c.1571-1630) e o físico, matemático, astrônomo e filósofo italiano Galileu Galilei (1564-1642) — o primeiro a fazer uso do telescópio para estudar os céus — obtivessem grandes êxitos, sendo o modelo heliocêntrico também muito importante para a ciência da astronomia.
Os eruditos buscavam, desde a Idade Média, a compreensão da alquimia. Nos séculos XV e XVI o surgimento dos textos gregos e hebraicos trouxeram novas informações sobre como transformar o metal “base” em ouro. Segundo tais fontes, o Universo era comandado por forças ocultas, sendo morada de anjos e demônios. Asseveravam que o mago que dominasse o funcionamento de sua estrutura ganharia o poder de controlar suas forças, podendo, portanto, conhecer os segredos da alquimia e em consequência conhecer o destino dos homens. Para que seu estudo não fosse confundido com feitiçaria, os alquimistas e os magos do século XVI usavam símbolos intrincados e descrições alegóricas.
Muitos dos alquimistas acreditavam que, ao encontrar a pedra filosofal (Lapis Philosophorum em latim — essencial para obter ouro a partir de qualquer metal — também encontrariam uma fórmula para a sociedade humana perfeita. A transmutação do ouro, portanto, não estava ligado à usura, mas, sim, à espiritualidade. A pedra filosofal não era algo físico, mas uma substância lendária que eles tentavam recriar em seus laboratórios. Além disso, ela também se encontrava ligada a outro desejo: obter o elixir da vida — substância capaz de prolongar a vida daquele que a bebesse, segundo a concepção dos alquimistas.
A expectativa pelo “fim do mundo” — evento hipotético — é antiga e faz parte da tradição da cultura ocidental. Em priscas eras não foram poucos os que anunciaram o fim do planeta Terra e o mesmo vem acontecendo até os dias de hoje. As previsões dizem respeito a riscos catastróficos globais, causados por alterações climáticas, guerra nuclear, pandemias, armas de nanotecnologia (ciência que permite a divisão ou a criação de corpos em minúsculas partículas), inteligência artificial (similar à humana exibida por sistemas de software) hostil e até mesmo seres de outros planetas (extraterrestres). A primeira previsão de que se tem notícia sobre o fim do mundo aconteceu em 66-70 d.C., quando a seita dos judeus essênios tomou a revolta judaica contra os romanos como o fim dos tempos que traria a chegada do Messias.
No final do século XV o norte da Europa viu-se tomado pela convicção de que estava chegando os fins dos tempos. Publicações apregoavam os malefícios de sua época. Aliado a isso estavam as queixas contra a arrogância dos governantes, a violência propagada por bandos de soldados mercenários, transitando de um país para outro, a corrupção e a riqueza desmedida da Igreja e a ganância dos mercadores. As pessoas acreditavam que Deus andava muito contrariado com a humanidade, como provavam as más colheitas, as revoltas de camponeses, os surtos de epidemias, a violência desenfreada, etc. Tudo isso contribuía para que o terror relativo ao fim do mundo, numa época muito supersticiosa, ficasse extremado, fazendo surgir a piedade popular. Falsos profetas surgiam de todos os lados e eram muitas as maneiras buscadas para asseverar uma vaga no Céu. Isso tudo comprova que, quanto mais se distancia da Ciência, mais a humanidade fica refém das superstições, vivendo sob o jugo dos espertalhões.
A publicação em 1486 de um livro intitulado “O Martelo das Bruxas”, no qual eram descritas cerimônias de bruxaria, aumentou ainda mais o terror baseado na crença de que uma conspiração diabólica encontrava-se em curso para botar o mundo sob o domínio de Lúcifer. Hieronymus Bosch, pertencente ao norte europeu, foi um dos mais destacados artistas a abordar esse campo de fim de mundo, tendo se tornado extremamente famoso por usar suas obras aterrorizantes como uma advertência contra as forças do mal.
Exercício
1. O que pensava Platão, Aristóteles e a maioria dos autores clássicos sobre a Terra?
2. O que buscavam os alquimistas?
3. O que aconteceu no final do século XV no norte da Europa?
Ilustrações: 1. A Terra no Universo / 2. Elementos da alquimia 3 / Fim do Mundo
Fontes de pesquisa:
Renascimento/ Nicholas Mann
https://pt.wikipedia.org/wiki/Lista_de_datas_previstas_para_eventos_apocal%C3%
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