Arquivo da categoria: Mestres da Pintura

Estudo dos grandes mestres mundiais da pintura, assim como de algumas obras dos mesmos.

Toulouse-Lautrec – NO MOULIN ROUGE: A DANÇA…

Autoria de Lu Dias Carvalho lautrec1

O Moulin Rouge, assim como o Moulin da Galette, ficava no bairro parisiense de Montmartre, sendo o segundo frequentado por pessoas bem populares, como costureiras e operários. Mas, apesar de luxuoso, o Moulin Rouge possuía uma clientela bem diversificada: empregados de grandes lojas, burgueses, artistas, intelectuais e aristocratas. O cancã, tipo de dança, cujo ritmo era bastante animado, no qual as dançarinas lançavam as pernas ao alto, enquanto levantavam suas saias rendadas, mostrando as pernas, era parte rotineira da noite, atraindo turistas de várias partes do mundo.

Esta composição de Toulouse-Lautrec, cujo título é enorme: No Moulin Rouge: Dança – Valentin, o Desossado, Ensaia as Novas Candidatas, representa um ensaio no local.

Valetin, o Desossado, apelido dado em razão de sua magreza, muito famoso à época, ensaia com a voluptuosa Goulue, a Gulosa. Elegantemente vestido, com sua cartola na cabeça, ele dança com uma das mais prestigiadas dançarinas do pincel de Toulouse-Lautrec. Ela pode ser reconhecida através de seu coque e pelo seu jeito provocativo de dançar.

O salão é grande e luxuoso, enfeitado com muitas tapeçarias coloridas. Lampiões descem do alto do teto, iluminando os presentes. O chão, impecavelmente encerado, mostra a sombra dos dançarinos.

O pintor coloca à direita, em segundo plano, em meio a amigos, a figura de seu pai. Em primeiro plano, duas elegantes mulheres acompanham a dança, enquanto um homem atravessa o salão, já quase com o rosto coberto.

Ficha técnica
Ano: 1890
Técnica: óleo sobre tela
Dimensões: 115,6 x 149,9 cm
Localização: Filadelfia Museum of Art, Filadélfia, EUA

Fontes de pesquisa
Toulouse-Lautrec/ Abril Coleções
www.montmartre-paris-france.com

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Mestres da Pintura – TOULOUSE-LAUTREC

Autoria de Lu Dias Carvalho lautrec

Ninguém mais do que Lautrec entendeu que a multidão tem uma alma completamente diferente da soma das almas individuais que a compõem. Sob esse aspecto, as grandes obras de Lautrec são singularmente representativas e sintéticas. (E. Schaub-Koch)

Escolhe pessoas notoriamente vulgares: salões de bailes com decorações miseráveis, corpos de mulheres cansadas ou sem nenhuma graciosidade – não para mostrar-lhes a feiura, mas para descobrir-lhes o frescor que outro olho qualquer não perceberia. Em resumo, Lautrec mostra o contrário daquilo que representa. E é exatamente essa procura pela pureza, essa sua necessidade do absoluto que o levam a buscar uma inspiração cada vez mais distante da sociedade aristocrática e culta, na qual ele nasceu. (Geneviève Dortu)

Henri-Mari-Raimond de Toulouse-Lautrec (1864-1901) foi o primeiro filho do conde Alphonse de Toulouse-Lautrec e da condessa Adèle Tapié de Celeyran, primos em primeiro grau, família abastada e ilustre, nascido na cidade de Albi, no sudoeste francês. Henri cresceu num ambiente requintado. Desde pequeno gostava de desenhar, trazendo os primeiros indícios do que se tornaria no futuro. Quando tinha nove anos de idade, sua família mudou-se para Paris, onde foi matriculado numa das mais importantes instituições europeias.

Henri, em razão de sua saúde frágil, portador de uma doença que afetava o desenvolvimento de seus ossos, era obrigado a parar os estudos, inúmeras vezes, em busca de regiões com um clima melhor, o que o levou a deixar a escola e estudar com professores particulares, sem jamais abrir mão de seus toscos desenhos. Aos 13 anos de idade, caiu de uma cadeira, quebrando o fêmur esquerdo. Aproveitou o período de convalescença para pintar, pois o osso demorou a restaura-se. Cerca de um ano depois, um novo tombo levou-o a quebrar o fêmur direito. Henri não teve um crescimento normal. Só viria a alcançar a altura de 1,52 cm, mesmo quando adulto, embora seu tronco e cabeça apresentassem proporções normais, o que o levou a usar uma bengala durante toda a sua vida.

Aos 15 anos de idade,  já era possível ver que em Toulouse-Lautrec já se encontrava um futuro artista. Passou a receber a influência do pintor surdo-mudo, amigo de sua família, René Princeteau, seu primeiro mestre, sendo depois encaminhado a Léon Bonnat, famoso artista acadêmico, que abominou o desenho do garoto. Ensinou-o a pintar com mais sobriedade e delicadeza. Quando resolveu fechar seu ateliê, Henri passou a estudar com Fernand Cormon, que era aberto às novas tendências da arte, dando mais liberdade a seus alunos. Ali permaneceu cerca de 4 anos, ambiente em que travou muitas amizades. Apesar dos problemas físicos, o jovem era uma pessoa alegre e espirituosa, não se deixando abater facilmente.

O jovem Lautrec gostava de curtir a vida com seus amigos, indo a festas e bailes em Montmartre, observando as pessoas que ali iam, depois de retirarem a máscara da hipocrisia moralista, misturando-se às prostitutas e aos diversos tipos marginais, que frequentavam o lugar.  Aos 18 anos de idade, passou a morar no bairro de Montmartre, deixando a vida luxuosa e farta que levava, para trás, ambientando-se com facilidade à boemia local. Tornou-se frequentador contumaz do Moulin de la Gallete, retratando seus frequentadores e, posteriormente, do Moulin Rouge, casa luxuosa de espetáculos, inaugurada em 1889, onde se reuniam pessoas das mais diferentes classes.

Lautrec passou a sentir-se insatisfeito com os ensinamentos acadêmicos e a arte oficial. Embora admirasse os artistas do impressionismo, sentia que era preciso descobrir seu próprio caminho. Aos 22 anos de idade, ficou conhecendo o pintor Van Gogh, tornando-se amigos, apesar da diferença de idade (o pintor holandês era 10 anos mais velho) e de temperamentos, recebendo dele algumas influências. Ambos eram apaixonados pelas gravuras japonesas. Suas primeiras obras foram assinadas com o pseudônimo de Trechau, obrigado pelo pai, que sentia vergonha de sua profissão e modo de vida.

Toulouse-Lautrec estava com 26 anos de idade, quando foi convidado para criar o novo cartaz do Moulin Rouge. Inspirou-se na gordinha garçonete e dançarina Louise Weber, conhecida como La Goulue (A Gulosa). Daí para frente, o pintor passou a preferir a luz artificial e intimista dos ambientes fechados, que revela com facilidade o semblante humano, mostrando o drama interior de cada um.

Apesar de vir de uma família importante, Lautrec passou a detestar a vida burguesa, com suas pompas e preconceitos. Adorava os bordeis, onde retratava prostitutas, das quais se tornava amigo, o teatro e o circo. Passou a ser convidado para desenhar o programa de inúmeros espetáculos do mundo teatral, onde se tornou figura conhecida e amada. Publicou um álbum de litografias, e  tornou-se alcoólatra, perdendo aos poucos a firmeza de seu traço.

Aos 34 anos de idade, Toulouse-Lautrec já se mostrava velho e debilitado. O álcool e o ópio criaram nele a mania de perseguição. Já não tinha mais comprometimento com seu trabalho, passando tempos sem pintar, e vivendo na boemia.  Aos 35 anos, a sífilis e uma crise de delirium tremens agravaram seu estado de saúde. Sua mãe, vendo seu estado, internou-o num sanatório para desintoxicação. O pai recusou-se a tirá-lo do lugar. Ao conseguir deixar a clínica, depois de 57 dias, Lautrec passou a ficar em liberdade vigiada. Acompanhado de um parente distante, viajou para a Normandia, Havre e Bordéus. Ao ver Dolly, uma dançarina de um bar, sentiu vontade de voltar a pintar, fazendo novos trabalhos.

O pintor e litógrafo Toulouse-Lautrec morreu aos 37 anos, nos braços de sua querida mãe, incompreendido e criticado pelos moralistas da época, que se valeram de sua deficiência física para criticar sua arte, como escreveu o periódico Lyon Républician: “… ser bizarro e deformado que vê tudo através de suas deficiências físicas…”. Ele não formou família, mas teve inúmeras amantes entre suas modelos.

A memória de Lautrec somente foi reabilitada 21 anos depois de sua morte,  quando sua arte recebeu o devido respeito, após a abertura do museu Toulouse-Lautrec, em 1922, na cidade de Albi,  onde nasceu. A obra do artista, exercida apenas durante 20 anos, corresponde a 737 telas, 275 aquarelas, 369 litografias (incluindo cartazes) e cerca de 5.000 desenhos.

Curiosidade:
Seu papel é interpretado por John Leguizamo no filme Moulin Rouge.

Fontes de pesquisa:
Toulouse-Lautrec/ Abril Coleções
www.montmartre-paris-france.com

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Manet – OLÍMPIA

Autoria de Lu Dias Carvalho

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Manet tem um grande talento, um talento que resistirá. Mas ele é frágil. Pareceu desolado e atordoado pelo choque. O que me impressiona é a alegria de todos os idiotas que acreditam que ele foi vencido. (Baudelaire)

Basta ser diferente dos outros, pensar com a própria cabeça, para se tornar um monstro. Você é acusado de ignorar a sua arte, fugir do senso comum, precisamente porque a ciência de seus olhos, o impulso de seu temperamento, levam-no a efeitos especiais. É só não seguir o córrego largo da mediocridade que os tolos apedrejam-no, tratando-o como um louco. (Émile Zola)

Nenhuma obra de arte causou tanto furor ao ser apresentada no Salão de Paris em 1865 como a Olímpia de Manet, numa reinterpretação de Vênus de Urbino do mestre Ticiano, em que a modelo é claramente vista como uma meretriz parisiense, embora adote uma pose semelhante à de Vênus no quadro citado. Seria Olímpia uma prostitua ou uma Vênus de sua época? O que choca a sociedade moralista e hipócrita é a falta de idealização do pintor, ao retratar a personagem nua, pois a Vênus moderna mostra-se dentro de um quarto de bordel.

Olímpia encontra-se num ambiente pequeno e contemporâneo, ao contrário da idealizada Vênus de Urbino (texto presente no nosso blogue) , deitada sobre um xale de seda decorado com flores em suas margens. Ela pousa o braço direito sobre uma almofada branca e traz a cabeça levantada, olhando para o observador desdenhosamente. O painel rosado e as cortinas escuras impedem de ver o que há por trás, obrigando o observador a direcionar seu olhar  para a mulher nua e sua cama desarrumada. Pode-se imaginar que algum cliente esteja à espera dos prazeres oferecidos pela Vênus mundana de Manet.

Críticos e público sentiram-se ofendidos com a tela do pintor. Ele foi julgado impiedosamente por sua irreverência, ao mostrar uma mortal comum e não uma ninfa clássica ou uma figura divina nua. Manet pagou um alto preço por confrontar a hipocrisia da época. A pintura também não agradou às mulheres presentes no Salão de Paris de 1865 que a consideraram imoral e uma afronta à sociedade. E pior, a composição não seguia os cânones do Salão, sendo vista apenas como a apresentação de uma mulher despida.

Não significa que a tela de Manet fosse incomum à época. Nada disso! Composições mostrando ninfas e deusas antigas nuas permeavam as exposições do Salão de Paris, sendo vistas com grande admiração pelos críticos e público. Contudo, Olímpia fugia à regra, pois era moderna, real e não trazia a beleza clássica tão inacessível e admirada por críticos e público de então. Seu corpo não era escultórico como as anteriormente mostradas e nem tinha as formas arredondadas idealizadas pelas convenções da época. Até o tom de sua pele foi criticado.

A única veste usada por Olímpia é uma fita preta em volta do pescoço em forma de laço com uma pedra no meio, o que torna sua nudez ainda mais aparente. Ostenta um penteado da época, arrematado por uma enorme orquídea rosa, símbolo de sexualidade. Traz brincos de pedras nas orelhas, uma pulseira no braço direito e chinelos de fio de seda nos pés que atestam a sua condição de prostituta elegante. O chinelo caído do pé direito, embora seja um mero detalhe no quadro, simbolizava a perda da inocência, segundo a simbologia convencional da época, atiçando ainda mais as críticas à obra.

A mão esquerda cobrindo a genitália também não agradou à crítica e ao público, pois, embora esta posição fosse comum nas composições clássicas, onde o gesto era visto como um símbolo do recato, na obra de Manet o olhar direto e franco de Olímpia não traduz retraimento ou decoro, mas indica desafio, indiferença. Sua figura expele luminosidade e sua pele branca sobressai diante do fundo escuro que também ressalta o rosa pálido do vestido da criada negra, usando um lenço avermelhado e brincos pendentes da mesma cor.

A criada, de pé, à esquerda de Olímpia, aguarda o momento preciso para lhe entregar um buquê de flores embrulhado em papel de seda. Possivelmente trata-se de um mimo de algum admirador que aguarda seus favores, segundo a interpretação da crítica. Em relação à escrava negra que se apresenta totalmente vestida, o que acentua ainda mais a nudez da patroa, discute-se ainda, nos meios acadêmicos, como sendo ela a personagem principal da composição.

Olímpia mostra-se indiferente à presença da mulher, sendo o distanciamento físico entre as duas personagens visto como um sinal da distância afetiva entre ambas. E o buquê de flores, símbolo clássico da sexualidade feminina naquele tempo, enfatiza a carga erótica da cena, como queriam alguns. A colcha (ou xale) de seda sobre o divã também é adornada com flores. Pode ser que o pintor, que lutava para romper com o convencional, não pensou em nada do que foi apregoado pelos críticos. Mas quem pode refrear a maldade presente na imaginação humana?

Enquanto Ticiano apresenta na sua composição um cãozinho dormindo,  Manet coloca um gatinho preto aos pés de Olímpia, que se transforma no principal motivo de chacotas, aparecendo nas caricaturas que zombam do pintor. Manet, porém, transforma o bichinho num talismã, apresentando-o em inúmeras telas. O artista foi apelidado sarcasticamente de “o pintor dos gatos”. Alguns críticos acham que a  presença do bichinho, fonte de superstição, “pode” indicar que a cena era vista como tabu. O que pode ser imaginado mas não provado.

Para compor sua tela Olímpia, Manet inspirou-se em duas obras conhecidas: a Vênus de Urbino, obra de Ticiano (Ticiano – A VÊNUS DE URBINO), e a Maja Desnuda (Goya – A MAJA NUA), obra do pintor Goya. Ele levou dois anos para pintar sua tela e tinha o seu trabalho em alto preço, por isso, ficou arrasado com as críticas feitas a ela, tanto é que a tela permaneceu em seu ateliê até sua morte.

O impressionista Claude Monet foi responsável em 1890 por comandar uma campanha para que a tela Olímpia fosse comprada e doada para coleções públicas. Após 17 anos de luta a composição ganhou um lugar no Louvre, ao lado do quadro Grande Odalisca de Ingres.

Curiosidades

  • Victorine-Louise Meurent, modelo favorita de Manet, é a mesma modelo de Almoço na Relva ( Manet – O ALMOÇO NA RELVA ), tela do pintor que também foi alvo de críticas, na qual ela também se apresenta nua. Foi justamente seu olhar penetrante e firme que chocou o público, achando que se tratava de uma prostituta despudorada e fria.
  • Victorine também era pintora e muitas de suas obras foram mostradas no Salão.

Ficha técnica
Ano: 1863
Técnica: óleo em tela
Dimensões: 130,5 x 190 cm
Localização: Museu d`Orsay, Paris, França

Fontes de pesquisa
Manet/ Abril Coleções
Tudo sobre arte/ Editora Sextante
Grandes pinturas/ Publifolha
Enciclopédia dos Museus/ Mirador

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Manet – O BAR NO FOLIES-BERGÈRE

Autoria de Lu Dias Carvalho

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A composição O Bar no Folie-Bergère tem como figura central uma garçonete no balcão do café-concerto parisiense, um dos bares mais famosos da Europa, com suas luzes, espelhos, mulheres e galantes frequentadores. O Folies-Bergère foi também o principal local de prostituição de luxo em Paris, para onde convergiam turistas de toda a Europa, reforçando o mito de uma Paris “capital do mundo”.

A modelo é realmente uma garçonete do referido café-concerto, mas todo o cenário foi composto no ateliê de Manet. Seu olhar possivelmente se dirige a um cliente à sua frente, conforme mostra o reflexo no espelho, ao fundo. Ela veste o uniforme do local. Sua pele é branca e rosada. Não há emoção no rosto da jovem, que parece distante e cansada, ao se escorar no balcão, o que reforça a sensação de solidão e de anonimato, típicos das grandes metrópoles. Ela traz no decote um ramalhete de flores.

Atrás da garçonete, um imenso espelho cobre o fundo do local, sendo possível observar, através do mesmo, o reflexo de um número de dança, um homem com chapéu e grande bigode olhando para a garçonete e uma sala cheia de clientes e luzes. À esquerda da tela, na extremidade superior, um acrobata tem parte de sua imagem refletida no espelho, com suas sapatilhas verdes.

Atrás do balcão, através do espelho, é possível ver os clientes do local. Alguns assistem ao show, enquanto outros conversam entre si. A maioria dos homens e mulheres usam roupas escuras, acompanhadas de luvas e chapéus. Manet encontra-se ao lado da moça de branco, Méry Laurent.

O balcão, cujo tampo é de mármore, tem à esquerda algumas garrafas de champanhe com a tampa envolta em papel dourado, e cerveja. À direita, encontram-se garrafas de vinho e licores. À esquerda da garçonete, há uma fruteira de vidro com tangerinas brilhantes e um copo de cristal com flores. Segundo os críticos, esta é uma das mais belas representações de uma natureza-morta.

Manet não estava interessado na reprodução exata do local, interessando-se mais pelo efeito pictórico, por isso, quase tudo no quadro é aparência, ilusão, como é a vida em tais locais. A figura central é a garçonete.

Esta tela é considerada pelos críticos como um dos trabalhos mais completos do artista e foi pintada um ano antes de sua morte, quando ele já se encontrava gravemente doente.

Fontes de pesquisa:
Manet/ Abril Coleções
Os pintores mais influentes do mundo/ Girasssol
Los secretos de las obras de arte/ Taschen

Ficha técnica
Ano: 1881/1882
Técnica: óleo sobre tela
Dimensões: 96 x 130 cm
Localização: Courtland Institute, Londres, Inglaterra

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Grünewald – O RETÁBULO DE ISENHEIM

Autoria de Lu Dias Carvalhocruz1234

Esta obra figura num seleto grupo de realizações criativas nas artes, cujo impacto e inspiração a elevam a um nível especial de distinção. (David Gariff)

O Retábulo de Isenheim, de Grünewald, foi pintado para os moribundos. (Dr, Jeffrey C. Smith, historiador de arte)

 E quando chegou a sexta hora, houve escuridão sobre toda a terra até a nona hora. (Marcos, 15:33)

O Retábulo de Isenheim, a mais famosa obra do pintor alemão Matthias Grünewald, é uma obra gigantesca, composta por nove painéis, que se encaixam e cobrem o altar. Foi encomendado para ornamentar o altar-mor da igreja do monastério do hospital de Santo Antônio, situada próxima à cidade de Isenheim, na Alsácia. Na sua primeira parte,  apresenta São Sebastião (era invocado como protetor contra a peste) e Santo Antônio (padroeiro da ordem religiosa que dirigia o hospital e mosteiro) nas laterais, a crucificação está no centro e Cristo morto, embaixo.

Os monges do mosteiro cuidavam dos doentes com peste e doenças de pele, como o ergotismo. E o quadro de Grünewald, cuja obra e tema foram direcionados para os doentes, tinha como objetivo conformá-los, mostrando-lhes o corpo de Jesus, também consumido por feridas. Pensavam que ao verem o corpo de Cristo cheio de ulcerações e retorcido pela dor, os enfermos seriam consolados, pois assim como Jesus, que ressuscitou, eles também ganhariam uma nova vida.

O painel central do retábulo mostra os horrores pelos quais Jesus passou, ao ser crucificado. Trata-se de uma cena lancinante, jamais mostrada por um artista, antes ou depois de Grünewald. Cristo agonizante, desfigurado, com seu corpo torturado e a cabeça pendente, está ladeado por Maria, sua mãe, Maria Madalena, São João Evangelista, São João Batista e um cordeirinho.

O mártir traz na cabeça a coroa de espinhos, cujas garras rasgam a sua pele, numa indescritível tortura . Sua pele é de uma palidez quase cinza, contrastando com o sangue vermelho que jorra das feridas. Seus músculos e tendões estão entesados, como se estivessem deslocados, e os dedos rígidos. Os pés estão quebrados. Suas mãos, pregadas na madeira com grossos pregos, crispam em agonia, exprimindo a sua profunda dor física e anseio espiritual. Há uma ligeira curvatura nos braços da cruz, que passa a impressão de que se deu em razão do corpo decaído de Jesus.

Uma placa com inscrição latina identifica o personagem que se encontra na cruz. Como Jesus não tinha crime algum, escreveram INRI que significa: “Jesus de Nazaré, o rei dos judeus

Maria, com trajes brancos de viúva, é amparada por  São João Evangelista, a quem Jesus pediu para cuidar de sua mãe. Apesar de seu intenso sofrimento, ela parece aceitar a doação de seu filho amado à humanidade. O santo tem a sua cabeça  semelhante a de Cristo. Ambos estão com a boca entreaberta e a cabeça baixa e pendida para a direita.

Maria Madalena, ajoelhada diante da cruz, tem as mãos contorcidas e os dedos levantados, em atitude de súplica, numa grande semelhança com os dedos de Cristo. Está revoltada com que fizeram a Jesus. À frente dela está um pequeno pote de unguento para passar no corpo torturado do Mestre.

São João Batista está de pé, à esquerda de Jesus crucificado. Ele tem na mão esquerda o livro das Escrituras, que se cumprirão com a morte do Salvador. E com a direita aponta para Jesus com um gesto firme e imperativo. O santo diz (texto acima de seu braço direito): “Convém que Ele cresça e que eu diminua” (Evangelho de S. João, III, 30)

Um cordeirinho, entre Cristo e o santo, carrega uma pequenina cruz, e derrama seu sangue dentro do Cálice da Comunhão. Ele simboliza o Cristo que é sacrificado para salvar a humanidade, o Cordeiro de Deus, imolado pelos pecados do homem.

A paisagem noturna reforça o sofrimento dos personagens, aliando-se à força expressiva das atitudes e gestos, e a força penetrante da cor e dos contrastes cromáticos. O painel é único, segundo a avaliação dos mais renomados críticos de arte. As figuras diferem em tamanho, variando de acordo com a importância de cada uma na composição.

O Retábulo de Isenheim tem três faces. A primeira apresenta a Crucificação, estando Cristo ladeado por Santo Antônio e São Sebastião e abaixo  mostra o sepultamento de Cristo. Os painéis eram deixados abertos de acordo com o ano litúrgico.

Ficha técnica:
Data: 152 – 1516
Técnica: têmpera e óleo sobre tábua
Dimensões: 269  x 307 cm
Localização: Museu de Unterlinden de Colmar, Alsácia, França

Curiosidades:

  • Retábulo é uma construção de madeira, de mármore, ou de outro material, com lavores, que fica por trás e/ou acima do altar e que, normalmente, encerra um ou mais painéis pintados ou em baixo-relevo.
  • Os retábulos eram, em geral, obras criadas com muitas cenas e o ponto principal de devoção, em locais de culto espiritual.

Fontes de pesquisa:
A história da arte/ E.H. Gombrich
Os pintores mais influentes…/ Girassol
501 grandes artistas/ Sextante
Renascimento/ Taschen
Arte em detalhes/ Publifolha
Arte/ Publifolha

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Manet – MÚSICA NAS TULHERIAS

Autoria de Lu Dias Carvalho jt

Se se quer saber se um quadro é melódico, deve ser visto de uma distância que não permita ver nem temas nem contornos. E se é melódico, já tem um significado. (Baudelaire)

Não podem imaginar tudo o que eu aprendi ao contemplar esse quadro. Uma só visita assim equivale ao trabalho de um mês. (Frédéric Bazille)

Manet era um assíduo frequentador do Jardim das Tulherias, ao lado de seu amigo Charles Baudelaire, com quem conversava sobre os rumos que tomaria a arte no final daquele século (XIX). Duas vezes por semana, o pintor dirigia-se àquele local para assistir aos consertos musicais de uma orquestra militar, tendo criado vários desenhos e esboços do lugar. Era também no Jardim das Tulherias que Napoleão III reunia a sua corte: a aristocracia e a alta burguesia. Portanto, o público que frequentava o local era muito elegante, cheio de ostentação, vestindo a última moda de Paris. Segundo o compositor Daniel François Auber “Os dândis se sentiam tão fascinados por si mesmos e seus pares que nem mesmo levantavam os olhos para verem as árvores.”.

Em Música nas Tulherias, Manet representa um grande número de artistas e intelectuais parisienses da época, todos seus amigos. Dentre os representados estão Charles Baudelaire, Théophile Gautier, Jacques Offenbach, Charles Monginot e o próprio pintor, que aparece no primeiro plano da composição, da esquerda para a direita, empunhando uma bengala.

Os impressionistas consideraram que com esta tela, Manet rompia com o passado, pois na sua composição já se encontra visível a estética dos impressionistas. Enquanto isso, os tradicionalistas massacravam a obra, pois Música nas Tulherias era radicalmente contrária, tanto no tema quanto nas técnicas de pintura empregadas pelo pintor, às regras defendidas pela Academia. Crítica e público detestaram a obra. Um crítico raivoso chegou a vociferar: “Esta arte não é saudável!”. O quadro foi retirado da galeria de exposições.

A tela não fora feita para ser vista de perto, conforme explicou Émile Zola:

Imagine um grande número de pessoas, talvez uma centena, que se move sob o sol e sob as árvores das Tulherias. Cada pessoa é um mero borrão, quase indefinidamente, nele os detalhes são reduzidos a traços ou pontos negros, se o observador se colocara uma distância respeitável do quadro (algo que nenhum artista havia exigido até então), esses borrões de cores chegam a materializar-se e compõem uma cena de Paris daquela época: os senhores arejam seu chapéu e as mulheres exibem a nova maquiagem de verão, além de chapéus e sombrinhas. Conversam à sombra de altas árvores, como se estivessem em um grande salão.”.

Um feixe de luz, vindo do céu azul, divide ao meio a superfície de Música nas Tulherias. Vários elementos completamente verticais, tais como troncos de árvores e cartolas, contrastam com as curvas das cadeiras, sombrinhas, aros e as crinolinas (armação das saias).

Curiosidades:

  • O antigo e ostentoso palácio das Tulherias era o centro do jardim. Em 1871, no final do Segundo Império, os moradores atacaram-no e o queimaram. Os parlamentares republicanos decidiram, em 1882, pela destruição total do edifício.
  • O palácio foi construído por Catarina de Médice, em estilo renascentista, no século XVI. Mas as soberanas que a sucederam não tiveram um final feliz: a rainha Maria Antonieta foi para a cadeia do palácio; as imperatrizes Josephine, Maria Luisa e Eugenia acabaram no exílio.

Ficha técnica
Ano: 1862
Técnica: óleo sobre tela
Dimensões: 76 x 118 cm
Localização: National Gallery, Londres

Fontes de pesquisa:
Manet/ Abril Coleções
Los secretos de las obras de arte/ Taschen

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