Ninguém mais do que Lautrec entendeu que a multidão tem uma alma completamente diferente da soma das almas individuais que a compõem. Sob esse aspecto, as grandes obras de Lautrec são singularmente representativas e sintéticas. (E. Schaub-Koch)
Escolhe pessoas notoriamente vulgares: salões de bailes com decorações miseráveis, corpos de mulheres cansadas ou sem nenhuma graciosidade – não para mostrar-lhes a feiura, mas para descobrir-lhes o frescor que outro olho qualquer não perceberia. Em resumo, Lautrec mostra o contrário daquilo que representa. E é exatamente essa procura pela pureza, essa sua necessidade do absoluto que o levam a buscar uma inspiração cada vez mais distante da sociedade aristocrática e culta, na qual ele nasceu. (Geneviève Dortu)
Henri-Mari-Raimond de Toulouse-Lautrec (1864-1901) foi o primeiro filho do conde Alphonse de Toulouse-Lautrec e da condessa Adèle Tapié de Celeyran, primos em primeiro grau, família abastada e ilustre, nascido na cidade de Albi, no sudoeste francês. Henri cresceu num ambiente requintado. Desde pequeno gostava de desenhar, trazendo os primeiros indícios do que se tornaria no futuro. Quando tinha nove anos de idade, sua família mudou-se para Paris, onde foi matriculado numa das mais importantes instituições europeias.
Henri, em razão de sua saúde frágil, portador de uma doença que afetava o desenvolvimento de seus ossos, era obrigado a parar os estudos, inúmeras vezes, em busca de regiões com um clima melhor, o que o levou a deixar a escola e estudar com professores particulares, sem jamais abrir mão de seus toscos desenhos. Aos 13 anos de idade, caiu de uma cadeira, quebrando o fêmur esquerdo. Aproveitou o período de convalescença para pintar, pois o osso demorou a restaura-se. Cerca de um ano depois, um novo tombo levou-o a quebrar o fêmur direito. Henri não teve um crescimento normal. Só viria a alcançar a altura de 1,52 cm, mesmo quando adulto, embora seu tronco e cabeça apresentassem proporções normais, o que o levou a usar uma bengala durante toda a sua vida.
Aos 15 anos de idade, já era possível ver que em Toulouse-Lautrec já se encontrava um futuro artista. Passou a receber a influência do pintor surdo-mudo, amigo de sua família, René Princeteau, seu primeiro mestre, sendo depois encaminhado a Léon Bonnat, famoso artista acadêmico, que abominou o desenho do garoto. Ensinou-o a pintar com mais sobriedade e delicadeza. Quando resolveu fechar seu ateliê, Henri passou a estudar com Fernand Cormon, que era aberto às novas tendências da arte, dando mais liberdade a seus alunos. Ali permaneceu cerca de 4 anos, ambiente em que travou muitas amizades. Apesar dos problemas físicos, o jovem era uma pessoa alegre e espirituosa, não se deixando abater facilmente.
O jovem Lautrec gostava de curtir a vida com seus amigos, indo a festas e bailes em Montmartre, observando as pessoas que ali iam, depois de retirarem a máscara da hipocrisia moralista, misturando-se às prostitutas e aos diversos tipos marginais, que frequentavam o lugar. Aos 18 anos de idade, passou a morar no bairro de Montmartre, deixando a vida luxuosa e farta que levava, para trás, ambientando-se com facilidade à boemia local. Tornou-se frequentador contumaz do Moulin de la Gallete, retratando seus frequentadores e, posteriormente, do Moulin Rouge, casa luxuosa de espetáculos, inaugurada em 1889, onde se reuniam pessoas das mais diferentes classes.
Lautrec passou a sentir-se insatisfeito com os ensinamentos acadêmicos e a arte oficial. Embora admirasse os artistas do impressionismo, sentia que era preciso descobrir seu próprio caminho. Aos 22 anos de idade, ficou conhecendo o pintor Van Gogh, tornando-se amigos, apesar da diferença de idade (o pintor holandês era 10 anos mais velho) e de temperamentos, recebendo dele algumas influências. Ambos eram apaixonados pelas gravuras japonesas. Suas primeiras obras foram assinadas com o pseudônimo de Trechau, obrigado pelo pai, que sentia vergonha de sua profissão e modo de vida.
Toulouse-Lautrec estava com 26 anos de idade, quando foi convidado para criar o novo cartaz do Moulin Rouge. Inspirou-se na gordinha garçonete e dançarina Louise Weber, conhecida como La Goulue (A Gulosa). Daí para frente, o pintor passou a preferir a luz artificial e intimista dos ambientes fechados, que revela com facilidade o semblante humano, mostrando o drama interior de cada um.
Apesar de vir de uma família importante, Lautrec passou a detestar a vida burguesa, com suas pompas e preconceitos. Adorava os bordeis, onde retratava prostitutas, das quais se tornava amigo, o teatro e o circo. Passou a ser convidado para desenhar o programa de inúmeros espetáculos do mundo teatral, onde se tornou figura conhecida e amada. Publicou um álbum de litografias, e tornou-se alcoólatra, perdendo aos poucos a firmeza de seu traço.
Aos 34 anos de idade, Toulouse-Lautrec já se mostrava velho e debilitado. O álcool e o ópio criaram nele a mania de perseguição. Já não tinha mais comprometimento com seu trabalho, passando tempos sem pintar, e vivendo na boemia. Aos 35 anos, a sífilis e uma crise de delirium tremens agravaram seu estado de saúde. Sua mãe, vendo seu estado, internou-o num sanatório para desintoxicação. O pai recusou-se a tirá-lo do lugar. Ao conseguir deixar a clínica, depois de 57 dias, Lautrec passou a ficar em liberdade vigiada. Acompanhado de um parente distante, viajou para a Normandia, Havre e Bordéus. Ao ver Dolly, uma dançarina de um bar, sentiu vontade de voltar a pintar, fazendo novos trabalhos.
O pintor e litógrafo Toulouse-Lautrec morreu aos 37 anos, nos braços de sua querida mãe, incompreendido e criticado pelos moralistas da época, que se valeram de sua deficiência física para criticar sua arte, como escreveu o periódico Lyon Républician: “… ser bizarro e deformado que vê tudo através de suas deficiências físicas…”. Ele não formou família, mas teve inúmeras amantes entre suas modelos.
A memória de Lautrec somente foi reabilitada 21 anos depois de sua morte, quando sua arte recebeu o devido respeito, após a abertura do museu Toulouse-Lautrec, em 1922, na cidade de Albi, onde nasceu. A obra do artista, exercida apenas durante 20 anos, corresponde a 737 telas, 275 aquarelas, 369 litografias (incluindo cartazes) e cerca de 5.000 desenhos.
Curiosidade:
Seu papel é interpretado por John Leguizamo no filme Moulin Rouge.
Fontes de pesquisa:
Toulouse-Lautrec/ Abril Coleções
www.montmartre-paris-france.com
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Lu
Fiquei comovido com a vida de Toulouse-Lautrec. Seus cartazes estão presentes em vários lugares de Paris.
Abraços
Nel
Nel
Fico imaginando o que ele não deve ter passado, diante do preconceito, existente até hoje.
Abraços,
Lu