Arquivo da categoria: Mestres da Pintura

Estudo dos grandes mestres mundiais da pintura, assim como de algumas obras dos mesmos.

Pontormo – A DEPOSIÇÃO DA CRUZ

Autoria de Lu Dias Carvalho

 O pintor italiano Jacopo Carucci (1494 – 1556) nasceu na cidade de Pontormo, na Toscana, apelido que viria a dotar em sua arte. Teve como mestre Leonardo da Vinci e Piero di Cosimo, vindo depois a entrar para o ateliê de Andrea del Sarto, tendo desenvolvido um estilo maneirista distinto. Em 1522 foi morar no monastério da Ordem dos Cartuchos, onde pintou uma série de afrescos, cujo tema era a Paixão e a Ressurreição de Jesus Cristo. Foi professor de seu filho adotivo Agnolo Bronzino e também colaborador de Michelangelo. Suas últimas obras receberam a influência das gravuras de Albrecht Dürer, por quem nutria grande admiração e seguiu o modelo de Michelangelo. Assim como Rosso Florentino, Pontormo tornou-se o expoente máximo do Maneirismo, com seus trabalhos dramáticos e expressivos.

A obra intitulada A Deposição da Cruz, também conhecida como A Lamentação, tida como uma obra prima de Pontormo e um dos melhores trabalho do estilo maneirista, levando em conta que se afasta audaciosamente das regras da Renascença, foi criada como um dramático altar-mor para a capela Barbadori, de Filippo Bruneleschi, em Florença.

Embora o artista tenha usado um tema cristão comum à arte, sua interpretação foge à regra, tamanha é a dramaticidade nela presente. Mesmo se tratando da deposição da cruz, essa não se encontra presente na obra. Cristo também está ligeiramente afastado do centro da composição. Não há preocupação por parte do artista para representar o espaço tridimensional e a escala tradicional. A imagem é plana e os copos apresentam-se torcidos.

A virgem Maria está desfalecendo e seu braço direito parece buscar apoio em alguém para que não caia. Em volta dela os personagens parecem flutuar, convergindo para o centro da composição, criando efeito espiral que leva o olhar do observador no sentido anti-horário em torno da densa massa de corpos, até alcançar o corpo sem vida de Jesus Cristo.

O artista usou cores fortes, sendo um dos motivos a falta de luz na capela. A cena é cheia de emoção, o que é típico das obras maneiristas. A natureza está presente nas bordas da pintura e em razão do rosa e do azul vibrante da roupagem das figuras, ela parece desbotada.

O corpo retorcido e seminu de Cristo ganhou um tratamento escultural. A Virgem foi apresentada numa escala maior em relação às demais figuras da composição. Sua expressão está marcada por um intenso sofrimento, atingido profundamente o observador que se comove com uma mãe que perdeu seu filho amado.

A mulher à direita, de frente para a Virgem, com suas vestes de cores fortes, atrai o olhar do observador para o seu corpo em movimento, com o objetivo de oferecer apoio à mãe de Jesus. As cores vibrantes de sua vestimenta contribuem para a beleza decorativa da obra e reflete os tons da pele do apóstolo agachado que sustenta parte do corpo de Cristo, equilibrando-se nas pontas dos pés. seu olhar de súplica é direcionado ao observador, como se o convidasse a participar da intensa dor vivida pelo grupo.

Ficha técnica
Ano:  1525 a 1528
Técnica: óleo sobre madeira
Dimensões: 3,13m x 1,92m
Localização: Capela Barbadoni, Florença, Itália.

 Fontes de pesquisa
Tudo sobre arte / Editora Sextante
A história da arte / E.H. Gombrich

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Giovanni Bellini – PIETÀ (III)

Autoria de Lu Dias Carvalho

O pintor italiano Giovanni Bellini (c.1430-1516) nasceu em Veneza numa família de artistas. Era também conhecido pelo apelido de Giambellino. Seu irmão mais velho, Gentile Bellini, era também pintor.  Teve o pai, o respeitado pintor Jacopo Bellini, responsável por levar o Renascimento a Veneza, como primeiro mestre, que se dedicou intensamente a transformar seus dois filhos em importantes pintores. Giovanni tornou-se depois aluno de Andrea Mantegna, seu cunhado, que influenciaria grandemente sua arte. O foco de seu trabalho foi Veneza, onde teve sua própria oficina, sendo nomeado pintor oficial da cidade. Teve como aluno Ticiano, Giorgione, Lorenzo Lotto, entre outros grandes nomes da pintura.

A composição piramidal intitulada Pietà é uma obra do artista Giovanni Bellini que muito prezava  esta temática. Neste trabalho, criado quando tinha 70 anos, ele enfrenta um grande desafio formal no sentido de conter o corpo adulto de Jesus no colo de sua mãe, sentada, de modo que a composição ficasse convincente. Ao postá-la no chão, com traços envelhecidos, o artista dá ênfase à sua humildade e também ao seu grande sofrimento. Ele concentra a cabeça da Virgem no centro da composição, na parte superior, enquanto na parte inferior a união do manto azul com o vestido roxo divide a parte inferior da tela.

Esta pintura tinha como objetivo a devoção pessoal e privada, relembrando a crueza da crucificação de Jesus, representada por marcas de sangue em suas mãos, pés e torso. Aqui o artista concentra toda intensidade da cena em Maria — a mãe sofredora. Ela se despede de seu filho morto, embalando-o em seu colo, momento antes de ser depositado no sepulcro.

A pintura possui proporções pequenas, mas, ainda assim, os personagens, totalmente solitários na imensa paisagem, parecem grandes. Eles se encontram em primeiro plano, separados por uma cerca viva com flores brancas do resto da paisagem que mostra ao fundo uma cidade murada e colinas que se levantam ao longe, como se delimitassem o divino do terreno.

O artista mostrou-se exímio ao criar a cerca viva atrás da Virgem. As plantas obedecem a uma simbologia específica pela relação que têm com a cura. O amaro dente-de-leão remete ao sofrimento ocasionado pela Paixão de Cristo; as flores brancas de morangueiro simbolizam as virtudes; as violetas a humildade; e os espinhos – vistos à esquerda da cabeça de Jesus – simbolizam a dor física e espiritual. A árvore com os ramos cortados à esquerda diz respeito à Árvore da Vida, cuja madeira serviu para fazer a cruz da crucificação. Mas nela ainda se vê um único galho com folhas, simbolizando a esperança. Nas pedras, situadas abaixo da árvore, está a assinatura do artista: “JOANNES BELLINVS”.

Ficha técnica
Ano:  c. 1505
Técnica: óleo sobre painel
Dimensões: 65 cm x 90 cm
Localização: Galeria da Academia, Veneza, Itália

 Fontes de pesquisa
Tudo sobre arte / Editora Sextante
A história da arte / E.H. Gombrich

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Piero della Francesca – POLÍPTICO DE SANTO ANTONIO

Autoria de Lu Dias Carvalho

O pintor italiano Piero Della Francesca (c. 1416 – 1492) foi redescoberto no século 19 por artistas, historiadores, críticos e colecionadores, como aconteceu com Sandro Boticelli e Jan Vermeer, tornando-se hoje um dos artistas mais conhecidos e admirados do Renascimento italiano. O uso que fez da cor, da luz, da perspectiva e da precisão matemática, para obter clareza, calma e qualidade monumental continuam extasiando aqueles que têm acesso às suas obras, que impressionam pela serenidade, grandeza e exatidão matemática.

A composição intitulada Políptico de Santo Antonio é uma obra do artista. Foi encomendada pelas freiras franciscanas do Convento de Santo Antonio em Perúgia/Itália, levando mais de uma década para ficar pronta.

Na parte central da composição encontra-se a Virgem Maria e o seu Menino, tendo dois santos de cada lado. À esquerda estão São João Batista e Santo Antonio de Pádua, enquanto à direita posicionam-se São Francisco de Assis e Santa Isabel da Hungria, protetora dos franciscanos. Eles se encontram sobre um fundo dourado.

Na parte de baixo do retábulo são retratados episódios da vida dos santos. Na parte superior da obra está a cena da Anunciação. Entre a Virgem em pose rígida e o anjo vê-se um túnel de colunas coríntias. Esta parte da obra parece não casar muito bem com a parte central. Alguns estudiosos da arte acreditam que tenha sido adaptada à parte central por ordem do convento.

Na parte superior do políptico está a pomba da Anunciação, centrada numa auréola com raios de luz que convergem em direção à Virgem. As linhas de perspectiva no pórtico de colunas, logo abaixo, convergem em direção a uma parede distante no intuito de criar uma grande sensação de profundidade.

Ao receber o Arcanjo Gabriel com sua imagem sólida e tridimensional, a Virgem abaixa a cabeça e cruza os braços diante do peito, demonstrando sua submissão à vontade de Deus Pai. Ela traz na mão seu livro de orações, entreaberto, demarcando-o com o dedo. O arcanjo também traz os braços cruzados sobre o peito.

Na parte de baixo, onde são retratadas passagens da vida dos santos, São Francisco de joelhos mostra suas mãos chagadas. A imagem de Cristo crucificado é vista pairando na escuridão do céu. Santo Antonio de Pádua, situado na parte central, tem o contorno de sua cabeça raspada bem delineado, refletindo-se na sua auréola, o que mostra a habilidade do maravilhoso artista que foi Piero della Francesca.

Ficha técnica
Ano:  c. 1467/1469
Técnica: óleo sobre painel
Dimensões: 3,38 m x 2,30 m
Localização: Galleria Nazionalle dell’Umbria, Perúgia/Itália

 Fontes de pesquisa
Tudo sobre arte / Editora Sextante
A história da arte / E.H. Gombrich

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Murillo – O NASCIMENTO DA VIRGEM

Autoria de Lu Dias Carvalho


O pintor espanhol Bartolomé Esteban Murillo (1618 – 1682) nasceu na cidade de Sevilha, uma das mais importantes da Andaluzia. Seus pais eram muito pobres, mas ainda assim queriam que o filho tivesse uma vida melhor do que a deles, embora o país passasse por uma decadência política e econômica, contrastando com sua grandeza artística e cultural. Antes que o garoto completasse 11 anos seus genitores faleceram, ficando o pequeno aos cuidados de um tio que, ao notar sua queda pelo desenho, levou-o ao estúdio do pintor Juan del Castillo, com quem ele estudou e trabalhou durante 10 anos, até que esse se mudou para Cádiz. O futuro pintor viria a participar do clima cultural e conservador de Sevilha, imbuído de profundas raízes populares.

A composição religiosa intitulada Nascimento da Virgem é uma obra barroca do artista que aqui faz uso de pinceladas ligeiras e livres para narrar ternamente o acontecimento, criando figuras graciosas e naturais. Trata-se de uma cena cheia de humanidade. Esta pintura tinha a finalidade de decorar a capela da Imaculada Conceição, localizada na catedral de Sevilha/Espanha. Quando a Catedral de Sevilha foi saqueada pelas tropas francesas, lideradas pelo marechal Jean Dieu Soult, a obra foi saqueada e levada para a França.

A Virgem Maria acabou de nascer. Várias figuras espalham-se pelo ambiente iluminado por uma luz suave que dá a impressão de dissolvê-las. Santa Ana em meio a sombras, no fundo à esquerda, tendo seu esposo Joaquim ao lado, encontra-se descansando numa cama com dossel vermelho, enquanto sua filhinha está sendo banhada pelas mulheres presentes que alguns acham que sejam as criadas do casal.

O bebê, após tomar o banho, está sendo repassado para uma segunda mulher. Dois putti retiram uma toalha de um cesto de vime que será entregue a ela para que enxugue a criança. Uma das mulheres presentes na cena carrega roupas nos braços. Dois anjos, vistos em segundo plano, inclinam-se com reverência diante da recém-nascida que se mostra radiante, com um halo dourado na sua cabecinha — prova de sua divindade. Uma nuvem de anjos desce do céu em direção à criança. Ao fundo, à direita, também entre sombras, duas mulheres secam panos numa lareira.

Ficha técnica
Ano: 1661
Técnica: óleo sobre tela
Dimensões: 184 x 260 cm
Localização: Museu do Louvre, Paris, França

Fontes de pesquisa
Pintura na Espanha/ Cosac e Naify Edições
https://translate.google.com/translate?hl=pt-BR&sl=en&u=https://www.louvre.fr

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Murillo – SÃO FRANCISCO ABRAÇANDO…

Autoria de Lu Dias Carvalho

O pintor espanhol Bartolomé Esteban Murillo (1618 – 1682) nasceu na cidade de Sevilha, uma das mais importantes da Andaluzia. Seus pais eram muito pobres, mas ainda assim queriam que o filho tivesse uma vida melhor do que a deles, embora o país passasse por uma decadência política e econômica, contrastando com sua grandeza artística e cultural. Antes que o garoto completasse 11 anos seus genitores faleceram, ficando o pequeno aos cuidados de um tio que, ao notar sua queda pelo desenho, levou-o ao estúdio do pintor Juan del Castillo, com quem ele estudou e trabalhou durante 10 anos, até que esse se mudasse para Cádiz. O futuro pintor, cuja arte foi moldada em pintores e influências estrangeiras, viria a participar do clima cultural e conservador de Sevilha, imbuído de profundas raízes populares.

A comovente composição intitulada São Francisco Abraçando o Crucificado é uma das obras mais eloquentes e líricas do artista em que ele transmite a expressão sincera do sentimento de amor a Cristo — base da espiritualidade franciscana — com grande delicadeza e piedade. Esta obra aparentemente simples foi planejada por Murillo em dois estudos preparatórios, acontecidos em Londres e Hamburgo.

São Francisco abraça ternamente o Cristo Crucificado e fita-o com seus olhos cheios de amor. Jesus Cristo desprende o braço direito do madeiro e também o abraça, reconfortando-o e retribuindo seu olhar. O santo traz seu pé direito sobre o globo terrestre, distanciando-o de si. Tal gesto simboliza sua renúncia a todas as coisas materiais — representadas pelo globo — para se consagrar a Cristo e ao próximo.

Este episódio diz respeito à passagem bíblica (Lucas 14: 33) do livro que os dois anjos à direita seguram: “Aqueles que não desistem de tudo que tem não podem ser meus discípulos”.

Ficha técnica
Ano: 1668/70
Técnica: óleo sobre tela
Dimensões: 283 x 188 cm
Localização: Museu de Belas Artes, Sevilha, Espanha

Fontes de pesquisa
Pintura na Espanha/ Cosac e Naify Edições
https://artsandculture.google.com/asset/saint-francis-embracing-christ/VgGd-

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Murillo – A VOLTA DO FILHO PRÓDIGO

Autoria de Lu Dias Carvalho

O pintor espanhol Bartolomé Esteban Murillo (1618 -1682) nasceu na cidade de Sevilha, uma das mais importantes da Andaluzia. Seus pais eram muito pobres, mas ainda assim queriam que o filho tivesse uma vida melhor do que a deles, embora o país passasse por uma decadência política e econômica, contrastando com sua grandeza artística e cultural. Antes que o garoto completasse 11 anos seus genitores faleceram, ficando o pequeno aos cuidados de um tio que, ao notar sua queda pelo desenho, levou-o ao estúdio do pintor Juan del Castillo, com quem ele estudou e trabalhou durante 10 anos, até que esse se mudou para Cádiz. O futuro pintor, cuja arte foi moldada em pintores e influências estrangeiras, viria a participar do clima cultural e conservador de Sevilha, imbuído de profundas raízes populares.

A composição religiosa intitulada A Volta do Filho Pródigo é uma das obras do artista sobre os atos de misericórdia, encomendadas pela irmandade da Caridad — uma das maiores confrarias da cidade de Sevilha — que tinha por objetivo ornamentar a capela do Hospital de São Jorge em Sevilha — asilo para os sem-teto e famintos, pertencente à irmandade. Eram sete os atos de misericórdia, sendo que Murillo pintou seis deles. Tais pinturas são tidas por muitos como suas mais importantes obras. Cada um dos atos é desempenhado por Cristo ou por uma personagem bíblica.

O artista mostra seu grande talento para a pintura dramática nesta representação monumental da conhecida parábola do filho pródigo. A pintura acima diz respeito ao ato de vestir o nu. O filho pródigo maltrapilho volta à casa do velho pai que o abraça e perdoa-o. Atrás de seu pai um criado segura uma pilha de roupas limpas e sandálias que serão entregues a ele. O fato de o criado trazer a roupa de cor mais rica tem o objetivo de enfatizar o ato de misericórdia: vestir o nu.

Murillo apresenta em sua obra os elementos essenciais da história: o filho pródigo, sendo recebido pelo pai; as vestes ricas e o anel carregados pelo criado que significam o retorno do filho ausente à posição que ocupava antes na família; o inocente bezerro sendo levado à morte a fim de banquetear a família. A pintura tem uma forma piramidal, estando o pai e o filho no centro. Os toques humanos dão mais intensidade ao drama: os pés sujos do filho pródigo; o cãozinho pulando de alegria com o retorno de seu dono; o sorriso ingênuo do meninote que puxa o bezerro e o olhar carinhoso de seu pai que traz um machado no ombro.

Ficha técnica
Ano: 1667/70
Técnica: óleo sobre tela
Dimensões: 236 x 262 cm
Localização: Galeria Nacional de Arte, Washington, EUA

Fontes de pesquisa
Pintura na Espanha/ Cosac e Naify Edições
https://www.nga.gov/collection/art-object-page.34956.html

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