Arquivo da categoria: Mestres da Pintura

Estudo dos grandes mestres mundiais da pintura, assim como de algumas obras dos mesmos.

Gauguin – EU TE SAÚDO MARIA

Autoria de Lu Dias Carvalho guin12

O título desta obra de Gauguin encontra-se na margem esquerda inferior da tela, escrita no idioma dos nativos da Polinésia: Ia Orana Maria, cuja tradução em língua portuguesa é Eu te saúdo Maria.

Nesta alegoria religiosa do pintor francês, um anjo, com enormes asas douradas e cabelos negros e longos, meio escondido entre os arbustos, mostra para os dois nativos haitianos a Virgem e o seu Menino, que se encontram à direita da composição. Somente as auréolas sobre suas cabeças identificam a divindade dos dois personagens, uma vez que eles se vestem como os nativos.

A Virgem, de pé, vestindo uma vestimenta vermelha com motivos florais, típica dos nativos, traz seu filho, nu, escanchado sobre seu ombro esquerdo e segura seu pezinho esquerdo, enquanto ele recosta sua cabeça à da mãe. O Menino está de costas, mas traz o rosto voltado para o observador.

Como não poderia deixar de ser em se tratando de Gauguin, a cena desenrola-se num ambiente tropical, ao ar livre e em meio a árvores e cachos de banana avermelhados e amarelos. Duas mulheres taitianas, com o dorso nu, trazem as mãos juntas em reverência. Contudo, estudiosos dessa cultura alegam que, na verdade, este gestual no Oriente trata-se de um cumprimento, o ato de dar boas-vindas.

Na parte superior esquerda, um arco azul em meio a nuvens brancas cinge o céu. A composição repassa calma, equilíbrio e serenidade. O que aqui vemos é a história cristã, que mostra a Virgem Maria com seu filho Jesus, sendo adaptada por Gauguin para o Pacífico Sul.

Ficha técnica:
Ano: 1891-1892
Técnica: óleo sobre tela
Dimensões: 113,7 x 87,7 cm
Localização: Metropolitan Museum, Nova York, EUA

Fontes de pesquisa
Gauguin/ Coleção Folha
Gauguin/ Abril Coleções
Gauguin/ Art Book
Gauguin/ Taschen

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Zurbarán – APARIÇÃO DO APÓSTOLO SÃO PEDRO…

Autoria de Lu Dias Carvalho

Pedro Nolasco estava muito ansioso para ir a Roma para visitar o túmulo de São Pedro, e seu santo padroeiro lhe apareceu em três noites consecutivas para consolá-lo por não poder ir. Na terceira noite, quando ele estava orando, São Pedro apareceu para ele, crucificado de cabeça para baixo e insistiu com ele para permanecer na Espanha, onde tinha muito a fazer.( Frei Alonso Remón)

O pintor barroco, desenhista e gravador espanhol Francisco de Zurbarán (1598-1664), foi aluno de Pedro Diaz de Villanueva em Sevilha. Fez inúmeras obras para o Convento de Sevilha. Sua fama levou-o a receber o título de pintor honorário dessa cidade. Trabalhou para a corte de Madri no governo de Filipe IV. É tido como um dos mais importantes pintores espanhóis do século XVII, ao lado de Velázquez, Ribera e Murillo. Ele se tornou conhecido sobretudo por suas obras religiosas, que descrevem monges e mártires, e também pelas suas maravilhosas naturezas-mortas. A maioria de suas pinturas era destinada às ordens religiosas espanholas, tendo criado muitas obras religiosas durante a era barroca.

A composição intitulada A Aparição do Apóstolo São Pedro a São Pedro Nolasco é uma obra-prima do artista que havia assinado um contrato com a Ordem das Mercês, através do qual se comprometia a criar 22 cenas da vida de São Pedro Nolasco – fundador de tal ordem.  Durante os preparativos para sua canonização, a Ordem das Mercês gravou uma série de estampas que ilustravam cenas da vida de Nolasco. Zurbarán adaptou uma dessas gravuras para fazer a pintura acima. Trata-se de uma obra do início da carreira do artista, cuja assinatura e data encontram-se no centro da parte inferior, ao lado do hábito do santo.

Embora a pintura do artista obedeça fielmente à gravura, ele fez uma mudança que foi responsável por aumentar a dramaticidade da cena.  Enquanto na gravura São Pedro crucificado mostra-se de lado, de maneira que apenas parte de seu corpo torna-se visível, na composição de Zurbarán ele é posicionado frontalmente, aumentando o realismo da cena. Em razão de sua posição invertida – crucificado de ponta-cabeça – o apóstolo tem seu sangue concentrado no crânio. Tal pressão faz com que seus globos oculares e as veias das têmporas dilatem-se, como mostra a pintura.

São Pedro Nolasco e sua visão (São Pedro apóstolo) estão envoltos por uma grande escuridão e abstraídos de todo o entorno material, momento em que acontece uma comunhão espiritual que vai além do tempo e do espaço. Os dois personagens parecem ocupar duas esferas diferentes, estando o corpo do apóstolo martirizado coberto por uma luz incandescente – esfera divina – e o de Nonasco envolto por uma luz mais escura e de grande intensidade – esfera terrena.

Ficha técnica
Ano: 1628
Técnica: óleo sobre tela
Dimensões: 179 x 223 cm
Localização: Museu do Prado, Madri, Espanha

Fontes de pesquisa
Pintura na Espanha/ Cosac e Naify Edições
https://www.museodelprado.es/en/the-collection/art-work/the-apparition-of-saint-peter-to-saint-peter/2bb92358-e20d-464f-8863-acdf0cdb55a9

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Magritte – O IMPÉRIO DAS LUZES

Autoria de Lu Dias Carvalho

O desenhista, ilustrador e pintor belga René François Ghislain Magritte (1898-1967) era filho de Léopold Magritte – alfaiate e comerciante têxtil – e Régina. Ingressou ainda muito novo na Académie Royale des Beaux-Arts/Bruxelas (1916 a 1918), ali permanecendo apenas dois anos, pois achava as aulas improdutivas e pouco inspiradoras. Começou a pintar aos 12 anos de idade. Suas primeiras pinturas, datadas de cerca de 1915, eram de estilo impressionista. Já as que ele criou durante os anos de 1918 a 1924 receberam influência do Futurismo e do Cubismo figurativo de Metzinger. Era um homem agnóstico, taciturno e aparentemente tímido que cultivava opiniões políticas de esquerda. 

O artista fez, entre 1949 e 1954, uma série de pinturas a óleo, usando o título de O Império das Luzes, todas ligeiramente diferentes umas das outras. Na série ele apresenta a imagem de uma rua noturna, iluminada apenas por uma fonte de luz artificial. Completa a tela um belo céu diurno de fundo azul com nuvens brancas esvoaçantes.

A composição acima intitulada O Império das Luzes – possivelmente a obra mais conhecida de René Magritte, apresenta uma cena noturna, mas tendo a cobri-la um céu diurno. Embora à primeira vista possa parecer comum, dentro de um padrão extremamente realista, uma observação mais aguçada mostra que se trata de algo surreal. Como uma paisagem noturna poderia apresentar um céu azul com nuvens brancas? Dia e noite se completam nesta indagadora composição. A justaposição fundindo dia e noite é o único elemento de fantasia presente.

Não é detectado na pintura qualquer tipo de emoção humana. Tudo é retratado impessoalmente. A casa encontra-se na escuridão, tendo uma pequena fração dela iluminada pela luz que vem da lâmpada da rua que divide a composição ao meio. Duas janelas estão iluminadas por uma luz que vem de dentro da residência aparentemente vazia.

O céu, embora luminoso e belo, mostra-se frio e indiferente, apresentando uma luz inquietante. Por sua vez, a escuridão apresentada abaixo dele parece amedrontadora. A pintura não repassa nenhum sentimento, mostrando-se totalmente impessoal, estando em sintonia com o movimento artístico surrealista da época.

Nota: esta pintura figura como uma imagem do filme “O Exorcista” (1973). No filme o padre Merrin aparece debaixo da lâmpada solitária, fora da casa da família MacNeil.

Ficha técnica
Ano: 1954
Técnica: óleo sobre tela
Dimensões: 195,4 x 131,2
Localização: Coleção Peggy Guggenheim, Veneza, Itália

Fontes de pesquisa
Magritte/ Editora Taschen
https://www.guggenheim.org/artwork/2594
http://www.rene-magritte.com/empire-of-light/

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Zurbarán – A ADORAÇÃO DOS MAGOS

Autoria de Lu Dias Carvalho

Francisco de Zurbarán (1598-1664), pintor barroco, desenhista e gravador espanhol,  foi aluno de Pedro Diaz de Villanueva na cidade de Sevilha. Ele fez inúmeras obras para o Convento de Sevilha. Sua fama levou-o a receber o título de pintor honorário dessa cidade. Trabalhou para a corte de Madri no governo de Filipe IV. É tido como um dos mais importantes pintores espanhóis do século XVII, ao lado de Velázquez, Ribera e Murillo. Tornou-se conhecido sobretudo por suas obras religiosas que descrevem monges e mártires, e também pelas suas maravilhosas naturezas-mortas. A maioria de suas pinturas era destinada às ordens religiosas espanholas, tendo criado muitas pinturas religiosas durante a era barroca.

A composição intitulada A Adoração dos Magos é uma obra do artista, criada sob a encomenda dos Cartuxos de Jerez, com a finalidade de adornar a igreja da ordem. Fazia parte das quatro principais pinturas de um retábulo que descreviam a infância de Jesus, sendo vistas como inigualáveis tanto na opulência da cor quanto no espetáculo apresentado. A pintura aqui apresentada é uma suntuosa versão da composição com o mesmo título feita por Velázquez, uma variante que foi usada também por Pablo Legot.

As telas de Velázquez, Legot e Zurbarán são bem semelhantes no que diz respeito ao uso de enormes figuras, na eliminação do espaço ilusionista e no clima de grande solenidade. Contudo, os personagens de Zurbarán fazem uso de vestimentas luxuosas e coloridas, enquanto os dos outros dois pintores usam roupas grosseiras. Estão presentes na cena a Virgem com seu Menino ao colo, São José, os três Reis Magos e sua comitiva. O pequeno Jesus fixa o olhar no Mago à sua frente.

Ficha técnica
Ano: 1639/40
Técnica: óleo sobre tela
Dimensões: 264 x 176 cm
Localização: Museu de Pintura e Escultura, Grenoble, França

Fonte de pesquisa
Pintura na Espanha/ Cosac e Naify Edições

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Zurbarán – A TENTAÇÃO DE SÃO JERÔNIMO

Autoria de Lu Dias Carvalho

O pintor barroco, desenhista e gravador espanhol Francisco de Zurbarán (1598-1664) foi aluno de Pedro Diaz de Villanueva em Sevilha. Ele fez inúmeras obras para o Convento de Sevilha. Sua fama levou-o a receber o título de pintor honorário dessa cidade. Trabalhou para a corte de Madri no governo de Filipe IV. É tido como um dos mais importantes pintores espanhóis do século XVII, ao lado de Velázquez, Ribera e Murillo. Ele se tornou conhecido sobretudo por suas obras religiosas que descrevem monges e mártires e também pelas suas maravilhosas naturezas-mortas. A maioria de suas pinturas era destinada às ordens religiosas espanholas, tendo criado muitas pinturas religiosas durante a era barroca.

A composição intitulada A Tentação de São Jerônimo é uma obra do artista que faz parte de um grupo de pinturas feitas para a ordem dos hieronimitas com a finalidade de ornamentar a capela dedica a São Jerônimo em Guadalupe. Trata-se de um trabalho magnífico do pintor e um dos mais famosos. Apresenta São Jerônimo, já bem velho, com grande intensidade de sentimento, sendo posto à prova em sua fé.

Na obra em estudo é empregada a técnica tenebrista, sendo que a escuridão da boca da caverna cria um pano de fundo para que as figuras e a natureza-morta no centro – uma espécie de “Vanitas” – sobressaíam. A magistral interação entre luz e sombra faz com que as áreas iluminadas que mais o interessam ao artista destaquem-se com grande força (o corpo magro do santo, as páginas amareladas dos livros e a pele das mulheres, bem como suas roupas e instrumentos, sendo que estes últimos são tradicionalmente associados à luxúria).

A cena acontece no deserto, diante da caverna onde o santo havia se isolado para fazer penitência e meditar, depois de abandonar os prazeres mundanos. Ele se encontra ajoelhado, com o tronco nu, coberto da cintura para baixo com um manto vermelho, parte de suas vestes de cardeal. Seu corpo é magérrimo e suas feições francas. À sua frente encontra-se um grupo de mulheres, carregando instrumentos musicais, que ali se encontram para tentá-lo. Ele faz um largo gesto de repulsa diante da insinuação das visitantes. Na pedra à sua frente estão os seus objetos de oração e penitência, os livros simbolizando o conhecimento e o crânio como símbolo da morte.

Ficha técnica
Ano: c.1640
Técnica: óleo sobre tela
Dimensões: 235 x 290 cm
Localização: Mosteiro de Guadalupe, Espanha

Fonte de pesquisa
Pintura na Espanha/ Cosac e Naify Edições

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Daumier – OS EMIGRANTES

Autoria de Lu Dias Carvalho

O pintor realista francês Honoré Daumier (1808-1879) entrou aos 14 anos de idade para o atelier de Alexandre Lenoir, um antigo aluno de Jacques-Louis David. Também estudou escultura antiga no Louvre e as obras de Ticiano e Rubens. A liberdade de expressão chegou à França após a Revolução de 1830, o que sinalizou para que a arte da caricatura política se tornasse livre e ganhasse grande importância. Como era um grande admirador da República, Daumier passou a trabalhar com esse tipo de caricatura, principalmente com as que satirizavam o rei Luís Felipe. Ficou seis meses na prisão por causa de uma delas.

Daumier iniciou a pintura de quadros aos 37 anos de idade, vindo a transformar-se no maior representante do Realismo Social na pintura. Sua capacidade de síntese era tamanha que nenhum outro pintor do século XIX conseguiu igualá-lo. Morreu na miséria e quase cego numa casa que lhe foi dada por Jean-Baptiste Camille Corot. Apesar de ser visto como um exímio gravurista, foi também um dos mais importantes pintores do século XIX.

A composição intitulada Os Emigrantes, também conhecida como Os Fugitivos, é uma obra do artista que apresenta um grupo de esmolambados numa paisagem isolada, árida e com altas dunas. O grupo caminha debaixo de um céu pesado de nuvens criadas em sombreados de castanho. Tudo ali remete ao isolamento, desamparo e desespero. Não se sabe quem são ou para onde vão aquelas pessoas. A marcha inicia-se à direita em diagonal, passando pelo meio e atingindo a lateral esquerda da composição, repassando a impressão de que se estenderá para muito longe, bem além da moldura do quadro. O que o observador sente é que existe naquele grupo um profundo sentimento de abandono e inquietação.

Daumier, minimalista como sempre, elimina todas as convenções artísticas em sua obra. Busca apenas o estritamente necessário para se fazer entendido. Suas figuras se reduzem a nevoentas e toscas massas sem formas definidas, parecidas com o barro da paisagem onde se inserem. O observador depara-se apenas com o grosso perfil preto e o contraste de luz e sombra, tornando irreconhecível e anônimo cada membro do grupo. A coluna de figuras recurvadas, toscamente desenhadas, atravessa a paisagem de dunas. Na composição predominam os tons de amarelo e castanho. O claro-escuro aguça a dramaticidade da cena.

A origem deste quadro pungente, juntamente com Os Refugiados e Os Prisioneiros, está na crueldade com que o monarca francês Luís Filipe esmigalhou a rebelião de trabalhadores em junho de 1848, levando à morte milhares de pessoas e fazendo outras tantas prisioneiras. Cerca de quatro mil indivíduos foram deportados para Argélia.

Ficha técnica
Ano: 1852/1855
Técnica: óleo sobre painel
Dimensões: 16,2 cm x 28,7 cm
Localização: Museu Nacional do Louvre, Paris, França

Fonte de pesquisa
Obras-primas da pintura ocidental/ Taschen
https://www-artble-com.translate.goog/artists/honore_daumier/paintings/don_quixote?_x_tr_sl=en&_x_tr

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